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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (5-a)

Dos bailes no Largo da Coroação aos patuscos da Dorotéia. E depois?...
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Em fevereiro de 1990, o jornal Diário Oficial - D.O.Urgente publicou um encarte especial com a história do Carnaval santista, que incluiu estas matérias:
 


Waldemar Esteves da Cunha, o mais velho Rei Momo brasileiro, é uma espécie de patrimônio do Carnaval santista
Foto de Arnaldo Giaxa, publicada com a matéria

Rei Momo, dono e senhor dos três dias de folia

Momo era um deus galhofeiro, da sátira, da alegria, do riso, da pilhéria, da crítica maliciosa e dos ditos espirituosos. Acabou sendo expulso da morada divina por ter bagunçado a seriedade dos outros deuses com suas galhofas, chocalhos e guizos e, desde então, desceu à terra.

Em 1930, o vespertino A Noite, do Rio de Janeiro, resolveu dar ao deus Momo uma forma plástica, através de um boneco, corporificando-o em carne e osso a partir do Carnaval de 1931, na interpretação do cronista Moraes Cardoso. A exemplo da antiga Capital Federal, aquela figura alegre de Sua Majestade o Rei Momo acabou se transformando no símbolo do Carnaval, adotada de Norte a Sul do País.

Santos passou a contar com o seu Rei Momo a partir de 1935, tendo como intérprete o folião Eugênio de Almeida, conhecido popularmente por Tosca; Eugênio Tosca reinou até o tríduo carnavalesco do ano seguinte, 1936. Somente em 1950 é que os foliões santistas voltariam a contar com um novo rei, graças a um concurso promovido pelo jornal O Diário (Diários Associados), que teve como vencedor o folião Waldemar Esteves da Cunha, o intérprete da matrona Dona Dorotéia, do desfile pré-carnavalesco Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?, durante toda a década de 40.

Após a oficialização do carnaval santista, em meados dos anos 50, a figura de SM Rei Momo, Primeiro e Único, tornou-se uma tradição, juntamente com a Rainha do Carnaval, eleita todos os anos em concurso promovido pela secretaria de Turismo (este ano, a eleita foi Kátia Felipe de Almeida Bonifácio, do Grêmio Escola de Samba Brasil).


Waldemar Esteves da Cunha, interpretando Dona Dorotéia,
em desfile pelo bloco Dengosas do Marapé em 1948
Foto de José Herrera, publicada com a matéria

Waldemar é considerado o Rei Momo mais antigo do País. De 1950 a 56, ele reinou tranqüilamente. No carnaval de 57, veio a sofrer um golpe de Estado e foi deposto, sendo coroado um rei oriundo do Rio de Janeiro. Embora deposto, mágoa que guarda até hoje, Waldemar reinou nas ruas, ao lado de seus leais súditos, apoiado ainda pelos cronistas carnavalescos que o levaram de volta ao trono no carnaval de 1958, diante da renúncia do rei Eduardo Weisel.

Embora sempre tenham surgido conspiradores querendo tirá-lo do poder, Waldemar continua soberano e com muita nobreza, ao lado de encantadoras rainhas, sempre saudado e respeitado pelos verdadeiros lordes e ladies, enfim, por todos os súditos da corte da folia.

O rei Momo santista não se importa de perder até seis quilos durante o carnaval (normalmente pesa 120 quilos), porque acha que vale muito a pena. "Antes, quando o carnaval exigia mais das pessoas, mais preparo físico, eu perdia até 10 quilos. O carnaval antigo era de mais fôlego e mais espontâneo. Atualmente, é tudo muito esquematizado; tem hora pra tudo, corre mais dinheiro. Eu não ganhei um tostão com o carnaval; o que é maravilhoso é ser rei da folia, ser bem recebido em todos os lugares, sentir-se como um verdadeiro monarca".

Este ano (N.E.: 1990), Waldemar, com 70 anos de idade, quatro filhos e seis netos, garante que será seu último reinado; como já vem afirmando há vários anos: "Quero deixar a coroa ainda no auge". Fora da folia, Waldemar Esteves da Cunha é um pacato comerciante de artigos dentários, tocando com os irmãos a firma fundada por seu pai há quase 50 anos.


Dráuzio da Cruz, mais antigo sambista de Santos, foi coroado para reinar no carnaval paulistano
Foto publicada com a matéria

Dráuzio

Cleide Quintas

Cercado, em sua casa, de mais de 150 troféus e centenas de fotos, algumas ao lado de figuras como Pelé, Jorginho do Império, Jece Valadão, Natal da Portela e outros, Dráuzio da Cruz, 60 anos, sambista vivo mais antigo de Santos, não estará este ano (N.E.: 1990) no carnaval da cidade. Ele ganhou um concurso da Prefeitura de São Paulo, entre 12 candidatos, e será o Rei Momo da Capital. Considerado o mais fiel representante do samba na região, desde 1947, é a primeira vez que estará fora de Santos durante o período carnavalesco, privando os sambistas daqui de um apaixonado incentivador.

Como afirma, Dráuzio colocou o samba no pé de muita gente. Fundou, junto com outros adeptos, a agremiação Império do Samba, em 1955, à qual deu o título de pentacampeã do Estado de São Paulo, pelo primeiro grupo. "À Império dediquei a maior parte da minha vida - 34 anos. Por uma série de razões, a escola deixou de participar do campeonato em 88; é ponto de honra para mim colocá-la na avenida, novamente, em 1991, com 1.200 componentes". Dráuzio também foi um dos fundadores da Escola de Samba Brasil (1949), ainda em atividade, e da Príncipe Negro (1954), já extinta.

Organizou o primeiro Sambão em Santos, na Rua Campos Melo, que funcionou de 1970 a 1974. A partir daí, os sambões passaram a se realizar nas quadras das escolas. Como mestre do samba, Dráuzio da Cruz ensina: "O verdadeiro sambista deve ser completo: precisa dançar, cantar e formar outros sambistas". Esse é um dos seus ressentimentos, quando constata que a juventude de hoje não está preocupada em se aprimorar, e responsabiliza, de certa forma, os dirigentes: "O samba não acabou; falta é empenho dos que estão à frente das agremiações em se aprofundarem mais nos ensinamentos, exigirem mais. Eles acham que a sua posição já é o bastante". E cita os "grandes professores", passistas de primeira linha: Nêgo Wilson, Cassius Clay, Pachequinho, Escurinho, João Grande, J. Muniz, Carlinhos (X-9), Jean Herrero (Padre Paulo), D. Isaurinha (Brasil), Paulinho (mestre-de-bateria da Brasil).

Para que o samba não se perca e continue a ser cultivado, Dráuzio sugere uma participação mais efetiva da Secretaria Municipal de Cultura, no sentido de chamar os "professores" para darem aulas à garotada e formar uma nova geração de bons sambistas. "Quem sabe assim voltaremos a ser o segundo carnaval do Brasil, como éramos em outros tempos, quando ganhamos espaço na imprensa e nas televisões?" Seu sonho do carnaval de Santos voltar a ser valorizado inclui a colocação das escolas do segundo grupo para desfilarem no sábado e as do primeiro grupo no domingo, com início às 17 horas.


Kátia Felipe de Almeida Bonifácio, a rainha do Carnaval santista de 1990
Foto publicada com a matéria

O reinado de Kátia Felipe

Cleide Quintas

Kátia Felipe de Almeida Bonifácio, representante do Grêmio Escola de Samba Brasil, é a Rainha do Carnaval/90, integrando a Corte Carnavalesca do lado do Rei Momo, Waldemar Esteves da Cunha, do Cidadão Samba, Cabo Jonas e da Cidadã Samba, Celeste. Kátia, de 21 anos, venceu o concurso promovido pela secretaria de Turismo e Liga Independente das Escolas de Samba da Baixada, no dia 13 de janeiro passado. Recebeu, além da coro e da faixa, um prêmio de NCz$ 10 mil, troféu e traje completo para suas apresentações.

Com muita disposição para enfrentar os dias de folia, Kátia conta que a primeira vez que saiu em escola de samba foi aos cinco anos de idade, na Padre Paulo, onde permanece até hoje. Desfila também pela Brasil e pela Nenê de Vila Matilde (Capital); seu maior sonho é desfilar pela escola de samba carioca Beija-Flor. Como sambista, já percorreu países da África, a Espanha e a Holanda.


João Góes, o cabo Jonas, Cidadão-Samba em 1990
Foto publicada com a matéria

Os cidadãos-samba deste ano

Cleide Quintas

O cabo Jonas e a Celeste farão parte, este ano (N.E.: 1990), da Corte Carnavalesca do reinado de Momo, como Cidadão e Cidadã-Samba. Eleitos pela Ordem dos Sambistas da Velha Guarda, numa promoção da secretaria de Turismo, eles visitam (junto com a Corte) as quadras das principais escolas de samba.

O conhecido cabo Jonas é João Góes, que está no mundo do samba há 45 anos. Carnavalesco autêntico, começou no Bloco Viúvas Divertidas do Itapema e, em 1952, passou a integrar a Escola de Samba Brasil, figurando, ainda, em várias bandas, blocos - entre eles o Agora Vai - e na Escola de Samba Independência do Casqueiro.

Celeste Ferreira Pimenta nasceu para o samba em 1956, na X-9, na condição de pastora (coro de canto), sendo depois princesa (corte do samba) e baiana. A participação de Celeste inclui apresentações em programas da antiga Organização Vitor Costa (TV), na Rádio Clube de Santos, shows em clubes e casas noturnas e em espetáculos públicos promovidos pelo Conselho Municipal de Turismo, atual Secretaria de Turismo.

A Cidadã-Samba/90 participou de vários concursos de passista, inclusive na Capital, após consagrar-se na Escola Império do Samba, no estilo partido alto, sob o comando de Lord Brilhantina (Dráusio da Cruz). Integrou por algum tempo as escolas Império do Cambuci (Capital) e Império Serrano (Rio de Janeiro).


Celeste Ferreira Pimenta, recebendo a faixa de Cidadã-Samba do Carnaval de 1990
Foto publicada com a matéria

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