O solitário Carlitos dos carnavais

O gênio do cinema mudo Charles Chaplin e seu personagem Carlitos nunca poderiam ser imitados. Mas, como no Carnaval - dizem - vale tudo, e havia em Santos um jovem que não perdia nenhum daqueles filmes, em 1948 surgiu nas ruas da cidade o nosso Carlitos, caracterizado por Mário Rodrigues Filho, o Rouxinol, então com 14 anos de idade. Por onde ele passava provocava risos e aplausos da platéia que, nos dias de carnaval, ia às ruas assistir aos desfiles; os bondes paravam fora dos pontos só para que seus passageiros acompanhassem suas estripulias, seus sapatos trocados, os passos rápidos, a bengala rodopiando no ar, a fisionomia engraçada e expressiva.

Durante 20 anos consecutivos, Mário Rodrigues virou Carlitos (reavivou a figura nos anos 80). Dançando com uma boneca amarrada aos pés ou puxando um carrinho de lixo sem fundo, desfilava como avulso junto aos blocos da D. Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?, ou à frente da Escola de Samba Brasil. Na categoria de patusco, recebeu vários prêmios com a fantasia mais original e o folião mais divertido, assim como reportagens em jornais locais e mesmo na televisão, "quando Santos tinha o melhor carnaval de rua do Pais, por volta de 1955", recorda-se. Em 1954, quando a Brasil foi campeã do IV Centenário de São Paulo, também recebeu um troféu.

"Foi um trabalho gratificante, por duas razões: por poder personalizar um gênio e por fazer rir as pessoas, especialmente as crianças". Com 56 anos (N.E.: em 1990) e três filhos, Mário guarda em seu laboratório de protético dentário muitas fotos dos bons tempos e um imenso poster de Charles Chaplin, sua maior inspiração.