HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Miau!
Para acabar com os ratos, gatos. Para acabar com os gatos...?
No dia 29 de janeiro de 2004, o jornal santista A Tribuna publicou
esta matéria, sobre o que parecia uma idéia simples, tipo "ovo de Colombo", do então prefeito municipal Oswaldo Justo, que
era conhecido por seu jeito zen; por realizar reuniões administrativas abertas ao público, mas durante as madrugadas, e
por sua preocupação ecológica:
Chamada da notícia, na primeira página do jornal
EXCESSO
Quantidade de gatos na orla preocupa
Da Reportagem
O jardim da orla tem entre 250 e 300 gatos, segundo
estimativa da Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses de Santos, Para controlar a proliferação da larva migras, que transmite o bicho
geográfico, além do recolhimento dos animais, o órgão público faz a vermifugação - que consiste na aplicação de um remédio que impede a
transmissão do verme. A Prefeitura promete inaugurar até abril um centro cirúrgico de castração gratuita de cães e gatos.
A alta incidência de gatos na praia é apontada pelo coordenador da Seção, Júlio César
Fernandes Azevedo, como a maior dificuldade para se fazer o controle e a captura destes animais. "Além disso, eles são muito velozes e se escondem
nos canteiros", explica.
Para o veterinário, a presença destes gatos na orla pode trazer riscos para a saúde e
o meio-ambiente, já que ficam expostos a diversos tipos de clima. "Esses animais têm o costume de defecar na areia, justamente onde brincam as
crianças na praia", observa o especialista.
De acordo com a Lei Municipal 3.531, cães e gatos não podem permanecer soltos em
logradouros públicos sem a presença do dono. Quando isso ocorre, os animais são recolhidos para o canil da Seção de Controle de Zoonoses, onde ficam
à disposição do responsável durante uma semana. Para ter o bicho de volta, o dono tem de pagar uma multa, que aumenta gradativamente, conforme o
tempo em que o animal estiver apreendido. Passado o prazo, o animal passa a ficar sob a responsabilidade da Prefeitura.
Voluntariado - Com o objetivo de cuidar dos gatos da orla, um grupo de
voluntárias se dedica há cerca de 10 anos a levar alimentos e encaminhar estes animais para o veterinário. "Gastamos quase R$ 2 mil por mês na
castração, eutanásia, fora a alimentação. E não contamos com nenhum apoio", diz a administradora de empresas Eliani di Jorge, voluntária do grupo.
Pelo fato de o número de gatos ser alto, Eliane ressalta que o grupo não dispõe de
meios para recolhê-los. "O ideal seria a Prefeitura castrar os bichos e, em seguida, encaminhá-los para a adoção", sugere.
Na Cidade, o poder público realiza um programa de castração com algumas clínicas
veterinárias. O dono que quiser participar paga um preço que varia entre R$ 48,00 e R$ 85,00, de acordo com o peso do animal.
Segundo Azevedo, já no primeiro semestre deste ano estará pronto um centro cirúrgico
destinado à castração de cães e gatos, que, inclusive, dará atendimento gratuito. Em abril, terá início a campanha de castração de animais.
Desratização - O veterinário explica ainda que a Seção de Controle de Zoonoses
faz a desratização no jardim da prsia duas vezes por ano. "Para controlar toda a área, o trabalho é feito do Emissário Submarino à Ponta da Praia".
Azevedo acredita que, pelo fato de haver quiosques próximo ao jardim e os canais, com
redes clandestinas de esgoto, a proliferação de ratos também será difícil de ser erradicada. E finaliza: "Combater a presença de ratos é possível,
erradicar não. Por isdo, não vai ser despejando gatos que iremos solucionar o problema".
Animais ocupam todos os lugares e tomam o espaço até daqueles que desejam usar os
bancos
Foto de José Moraes, publicada com a matéria
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A Tribuna não esquece
17 de maio de 1988
Durante sua gestão como prefeito, de 1984 a 1988, Oswaldo Justo incentivou a colocação de
gatos no José Menino, na tentativa de eliminar os ratos. Ele argumentou que preferia optar por um meio natural para extermínio, que traria menos
riscos para crianças e adultos, em vez de recorrer aos venenos utilizados nas desratizações.
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Gatos já tomam conta dos jardins
Freqüentadores preferem felinos em vez de raticida (Foto de Anésio Borges)
"Nenhum rato". Essa era a resposta dada por diversas pessoas que passeavam na manhã de
ontem pelo jardim da praia no trecho entre os canais 1 e 2, quando indagadas a respeito de terem visto, ou não, ratos nos jardins. Todas foram
unânimes em afirmar que "é muito melhor colocar gatos ao invés de raticidas no local". A iniciativa do prefeito Oswaldo Justo em substituir o veneno
para ratos por gatos - dentro da lógica da utilização da cadeia natural para manter o equilíbrio ecológico - é encarada com bom humor pelos
freqüentadores da área.
Com uma gargalhada, Olívia Scaziots, de 65 anos, repetiu o que o prefeito disse na
tevê: "Os gatos não pagam INPS e nem recebem salários". Em seguida, afirmou que os gatos fazem companhia aos freqüentadores dos jardins. Olívia
Georgina Mota Lima, de 64 anos; Olga Silvestre, 76; e Iracema Santos Nascimento, 76, formam um grupo de amigas que estão todas as manhãs passeando
pelos jardins da praia. Elas entendem que a utilização dos gatos para erradicar pode não ser uma solução definitiva, mas é, "sem dúvida, muito
melhor que o uso de raticidas".
Mas, nem tudo são flores no combate aos ratos. Olívia se reporta ao último sábado para
pedir providência no tratamento dos gatos: "Naquele dia, um filhote estava conosco no banco do jardim e de repente correu na direção da avenida e
quase foi atropelado. A alternativa que encontramos foi largá-lo próximo ao trecho da areia".
Há cinco anos - A iniciativa oficial do uso de felinos para o extermínio de
ratos é recente. Entretanto, a existência de gatos entre os canais 1 e 2 é um pouco antiga: tem cerca de cinco anos. Quem afirma isso é Maria
Aparecida Costa, 78 anos, moradora na Rua Rio Grande do Norte. Segundo disse, desde 1983 gasta todo salário de pensionista do INPS (atualmente Cz$
3.800,00) em alimentos para os gatos. Todas as manhãs prepara uma panela de comida e espalha em alguns pontos daquele trecho de praia.
Maria Aparecida Costa é tão conhecida no local que até obteve uma permissão da
Prefeitura para pisar no gramado enquanto estiver cuidando dos animais. "Até a semana passada tínhamos uns quinze gatos. Hoje já não sei mais". Isso
se deve ao fato de que muitas pessoas estão abandonando seus gatos na praia, alertadas pela iniciativa de Oswaldo Justo anunciada por intermédio da
imprensa.
Todos os gatos têm nome próprio. Maria Aparecida batizou todos eles e identifica cada
um. Com o aumento da população de felinos nas praias, alimentar todos já está se tornando um problema. Para tentar solucionar isso, Maria Aparecida
pretende participar da reunião da madrugada, na Prefeitura, quando pedirá subsídios para a alimentação. "Está na hora do prefeito arcar com a sua
parte no cuidado aos gatos. Ele ganhou a fama com a divulgação do combate aos ratos. Agora é preciso manter a idéia que teve", sentencia.
Afogados - A utilização dos gatos no combate aos ratos poderá, a curto prazo,
trazer um problema maior: a concentração exagerada de felinos nas praias. Diariamente estão sendo jogados novos espécimes nos jardins. A denúncia é
de Jane Matilde, gaúcha, moradora na Av. Presidente Wilson. Ela costuma fazer cooper diariamente e já faz parte do grupo de pessoas que leva
alimentos para os gatos.
Segundo Jane, muitas pessoas estão deixando filhotes de gatos no jardim. Este fato
está acarretando um outro problema: "Os idosos respeitam os animais. Entretanto, muitos jovens não têm consciência e pegam os filhotes e os jogam no
canal. Na sexta-feira (dia 13) vi alguns garotos atirando três gatinhos na água. Ainda consegui salvar um deles e o levei para casa. Mas, os outros
dois morreram afogados".
Para resolver o problema, Jane só vê uma maneira: a construção de abrigos de alvenaria
para os gatos: "Ao lado poderiam ser construídos alguns cochos para alimentos e água". Jane lembra que há duas fêmeas prenhes e que não terão lugar
para o parto. "Imagine se isso acontece num dia de chuva com o jardim todo alagado". |
Atração turística, na praia do José Menino...
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 8 de junho de 2007
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