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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - COLISEU
Coliseu: teatro, cinema e elefante branco (1)

E já foi um ginásio para corridas de bicicletas
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Espera-se para 2004 o término das prolongadas obras de reforma do Cine-Teatro Coliseu, que devem fazer com que as centenárias instalações ao lado da Catedral retornem ao antigo esplendor, voltando a Cidade a contar com essa tradicional casa de espetáculos. Depois de ser (em 1897) um ginásio com arquibancadas para corridas de bicicletas, foi um dos primeiros teatros santistas (inaugurado por Francisco Serrador em 1909), recebeu personalidades ilustres das artes (até mesmo o Barão de Itararé ali se apresentou), e espetáculos de categoria internacional.

Em seguida, virou cassino, cinema, teve parte das instalações demolidas ou adaptadas para um posto de gasolina, acabou exibindo filmes pornográficos e enfim foi fechado, quase sendo demolido também. Tombado pelo Patrimônio Histórico, passou a ser restaurado na última década do século XX, em obras que já se prolongaram por mais dez anos além do término previsto, devido à crônica falta de verbas.

A matéria a seguir, publicada pelo semanário santista 1ª Página, edição de 23 a 29 de agosto de 1991, mostra como era encarado o problema na fase mais aguda da degradação daquelas instalações, quando era considerado como um elefante branco:

"S.O.S. COLISEU - O 1ª Página começa, a partir desta edição,
uma campanha pela solução do problema que se tornou o Cine Coliseu,
com uma série de reportagens sobre o desenrolar dos fatos"
Foto: Eron Maria - publicada com a matéria

METRÓPOLE
Coliseu é um elefante branco

José Luiz Rodrigues

Santos, com sua grande vocação para desempenhar o papel de um elefante folclórico, em que se diz o animal ter memória fotográfica, criou um pequeno exemplar de paquiderme chamado Cine Teatro Coliseu. Com uma história de glórias passadas e ulcerações modernas (veja quadro), esse pequeno elefante branco foi salvo do extermínio pela ação preservacionista contra o furor comercial da família Freixo - proprietária do Coliseu.

Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico (Condephaat) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), o então octogenário Coliseu sobreviveu à velhice isolada no interior de uma redoma formada por leis que proíbem qualquer retoque às suas características originais. Absolutamente retalhado, o elefante Coliseu não apresenta mais espetáculos aristocráticos: é, por si só, um espetáculo deprimente.

Útero - Destruído o palco e os camarins, esfacelado pela inserção de uma farmácia, um tabelionato (ambos ao lado), um restaurante de refeições por quilo (no alto), um posto de gasolina (atrás), vidros quebrados, reboco da fachada caindo e manchado, o Coliseu dorme em um berço pouco esplêndido, cercado por moradias de famílias sem privilégios financeiros e as mazelas conseqüentes da pobreza.

Seu interior escuro e remendado por tapumes é como a entrada complacente de um genital feminino. A chegada ao útero é simbolicamente representada pela caminhada a partir da borboleta - uma espécie de clitóris sensível ao ingresso de Cr$ 500,00 - até o recinto oval do palco, das paredes onde homens espermatozóides tentam se ver reproduzidos nos filmes e shows eróticos. Ali dentro, o esperma se dilui no ambiente trevoso e privativo.

Voltar ao corredor amplo antes da sala é encontrar rusgas: banheiros malcheirosos com água vazada e, esquecido em um canto, um busto sem placas do comendador Manuel Lins Freixo, a última pessoa a promover uma reforma no Coliseu.

Cultura - O diretor comercial da empresa Freixo, Luís Fernando Freixo, há anos deixou de ser um habituée da casa. Hoje, limita-se a uma visita anual em companhia de um engenheiro para inspecionar as condições de segurança. "Não tenho mais nenhum motivo para freqüentar o Coliseu", diz. Ele nem sabia que o busto de seu avô ainda está lá.

Luís Freixo só quer livrar-se da embrulhada em que está o Coliseu. Sem poder reformar, derrubar, vender, o resultado é um elefante branco deitado e doente. Em 1989, a prefeita Telma de Souza mostrou vontade política para a desapropriação do imóvel. Luís Freixo gostou. "Temos muito interesse em negociar com a prefeitura", diz.

No caso de ocorrer a desapropriação, o local teria outros fins, que não os atuais. "Não cumpre à prefeitura incentivar e manter uma atividade comercial e lucrativa como a exibição de filmes pornôs", diz o secretário de Cultura, Reinaldo Martins. Ele defende o conceito de cultura como tudo aquilo feito pelo Homem. Há, porém, outras coisas a serem feitas pela humanidade. No caso do Coliseu, pode ser a instalação da Câmara Municipal ou a entrega do local a outros setores culturais como, por exemplo, aos grupos de teatro amador - uma proposta feita pelo vereador Alcindo Gonçalves, do PMDB, em 1983, hoje presidente da Prodesan e filiado ao PT.

Detalhe do saguão do Cine Coliseu: arquitetura sobrevivente e sexo explícito
Foto: Eron Maria - publicada com a matéria

Cronologia da decadência

1897 - José Luís de Almeida Nogueira, Heitor Peixoto, Ricardo Travessedo e Henrique Porchat de Assis inauguram a Cia. Coliseu Santista, um ginásio com pista para corrida de bicicletas, arquibancadas e um botequim.

1909 - Francisco Serrador inaugura a primeira versão do teatro. Em seguida, o comendador Manuel Lins Freixo arrenda o prédio e promove sua reconstrução.

1924 - Inauguração do suntuoso Coliseu. Apresentação da peça "A Bela Adormecida".

Década de 30 - A Cine Teatral Freixo Ltda. compra o prédio de Francisco Serrador. Passa a ter cinema e cassino, além de teatro.

1967 - Demolição de parte do Coliseu, para abrigar um posto de gasolina, uma farmácia e um tabelionato.

Década de 70 - Destruído o palco e os camarins, erguida uma parede entre o palco e a platéia, o Coliseu passa a exibir filmes e shows pornográficos.

Década de 80 - Tombamento do Coliseu pelo Condephaat e Condepasa, que impedem a demolição para a construção de um mini-shopping. A empresa Freixo processa o Estado pelo embargo, ganha a causa e é indenizada. A Prefeitura negocia a desapropriação do prédio com a proprietária.

Década de 90 - Perduram as negociações, sem nada concreto. A esperança das partes é fechar negócio antes do fim do mandato da prefeita Telma de Souza, previsto para março de 1993.


Bico-de-pena do artista Lauro Ribeiro da Silva (Ribs), mostrando o casario da Praça José Bonifácio e, ao fundo, o Coliseu, ainda como ginásio com arquibancadas, 
vizinho do então inaugurado (12/4/1907) Redondeu de Touros

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