Depois de se aposentar, há oito anos, professora Marlene Mazzei
decidiu monitorar as visitas às igrejas
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
PATRIMÔNIO
Conjunto religioso do Carmo guarda história
Localizado no Centro, complexo começou a ser erguido em 1599
Da Reportagem
O conjunto religioso do Carmo, no Centro de Santos,
guarda em seu interior uma diversidade cultural, histórica e artística que nem todos conhecem. A visita monitorada no local mostra um pouco das
origens da Cidade e das influências de outras culturas na formação da identidade brasileira.
A idéia de detalhar aos visitantes a importância das igrejas do Carmo teve início
quando a professora de Metodologia e Didática Marlene Mazzei, de 68 anos, aposentou-se. "Senti a necessidade de fazer algo útil e há oito anos
realizo a monitoria das visitas nas igrejas".
Lembrando que no complexo encontra-se a base da história de Santos, em função da forte
ligação de Braz Cubas com os carmelitas, Marlene contou que o conjunto começou a ser construído a partir de 1599.
As paredes no interior da Igreja da Ordem Primeira do Carmo têm cerca de um metro de
espessura e foram erguidas com óleo de baleia, cascalho, sambaqui e pedras irregulares. "Dá pra ver até as
conchas que foram usadas", disse, mostrando uma parte exposta.
Num dos altares do lado direito encontra-se a imagem de São Judas Tadeu que deu início
à criação da igreja instalada no Marapé. "Os devotos que ficavam ao pé do santo aumentaram e daí nasceu a igreja".
A imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, padroeira de
Santos, disposta no lado esquerdo, se destaca das demais. Segundo Marlene, a peça é uma réplica da imagem original da santa espanhola, apelidada de
La Morenita. "Foi presente de um casal espanhol".
O estilo etrusco da criação, como analisou ela, revela o tipo de arte mais antiga que
se tem conhecimento. "Diz a lenda que a imagem original, que está na Espanha, foi feita por São José e, durante a
perseguição, São Pedro a escondeu numa montanha com formato de serrote. Daí, Monte Serrat".
Nos balaústres, ideogramas chineses evidenciam o trabalho de um artista de Macau, que
transformou sua criação numa dúvida. "Será que há alguma mensagem nas inscrições ou é apenas decorativo?"
O simbolismo, aliás, está muito presente em toda a construção, mas tinha a finalidade
de transmitir a mensagem da religião também para os analfabetos. "As uvas representam o sangue de Cristo, o girassol também simboliza Cristo, a pêra
é a perfeição. A igreja se utilizou da arte para chegar a todos", detalhou.
Já próximo ao altar, as duas imagens mais antigas, de Sant'Ana e São Joaquim, são as
mais valiosas da igreja e datam do final do século 18. "O estilo barroco fica claro pelo excesso de panos e movimento".
As telas de Santo Elias, Santo Alberto, Santo Eliseu e Beato Nonius, presentes do
pintor Benedicto Calixto, enriquecem ainda mais o altar onde a imagem de Nossa Senhora do Carmo fica exposta.
No sacrário, o artista se inspirou na origem da espiritualidade carmelita para
imprimir simbolismos como ondas, conchas e cavalos marinhos. "Tudo tem um significado".
Num pedaço da parede descascada, o revestimento original da igreja traz à tona a
recente preocupação com a preservação do patrimônio histórico. "Antigamente ninguém se preocupava em manter a originalidade das construções".
Para Marlene, é importante que a comunidade conheça o complexo para se conscientizar
da necessidade de preservação. "A manutenção é muito cara e a população precisa valorizar esse patrimônio que é dela".
As visitas monitoradas ao complexo podem ser feitas em horário comercial às terças e
sextas-feiras. Já aos sábados, são realizadas das 13 às 17 horas e aos domingos, do meio-dia às 17 horas. Informações no telefone 3234-5566.
As visitas monitoradas podem ser feitas de terça a domingo
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
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