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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS
O Patriarca e o forno de microondas

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Matéria publicada no caderno Ciência & Tecnologia, do jornal santista A Tribuna, em 11 de agosto de 2008, páginas 1 e 3, versões impressa e eletrônica:
 

Foto: Matt & The Camera, publicada com a matéria

 

Segunda-feira, 11 de Agosto de 2008, 11:56

O dia em que José Bonifácio revolucionou o microondas

Da Redação

Um mineral descoberto há mais de 200 anos está prestes a tornar os fornos de microondas mais eficientes e econômicos. A tecnologia é norte-americana, porém, a fonte dessa inovação é genuinamente brasileira e, por que não dizer, santista.

A novidade, recentemente anunciada por cientistas norte-americanos e japoneses, faz parte de uma história que começou, na verdade, em 1800. Nessa época, o então filósofo e geólogo José Bonifácio de Andrada e Silva, aos 37 anos, publicou em um jornal alemão, especializado em química, a descoberta de um novo minério, na mina de Uto, na Suécia.

Pétalas - Ele batizou a nova rocha com o nome de petalita - do grego petalon, em referência ao fato de que ao ser quebrada, produz inúmeras lascas, parecidas com pétalas. O nome também era uma homenagem ao Imperador D. Pedro.

Uma das principais fontes de lítio, a petalita, de acordo com os pesquisadores Sridhar Komarneni (Universidade de Pensilvânia, EUA), Hiroaki Katsuki e Nobuaki Kamochi (Universidade de Saga, Japão), possui a capacidade de absorver as microondas.

O resultado disso é que uma futura linha de utensílios feitos de petalita proporcionarão comidas quentes por igual, aquecimento mais rápido no microondas e, principalmente, uma conta de energia menor no final do mês.

Como funciona - Para aquecer os alimentos, as microondas fazem com que qualquer molécula que tenha uma carga positiva em uma extremidade e uma carga negativa na outra extremidade (como a água) gire para alinhar-se com o campo elétrico alternado das microondas.

Essa rotação induzida das moléculas de água empurra as moléculas vizinhas, que também se movem, criando uma agitação geral. Esse movimento generalizado das moléculas é sentido na forma do aumento do calor da comida.

Mas as louças em geral são transparentes às microondas e somente se aquecem por indução, pelo contato direto com a comida quente. Isso significa que uma parte do calor da comida é perdido para a louça, retardando o processo de aquecimento e desperdiçando energia.

Petalita - Para obter a nova cerâmica, além da petalita os cientistas adicionaram pequenas quantidades de óxido de ferro magnético, que interage com o campo elétrico das microondas e se aquece rapidamente, enquanto a petalita, que é isolante, ajuda a reter aquele calor depois que o forno é desligado. A cerâmica também ganha calor diretamente, que não mais é retirado da comida.

"
A nova louça para microondas economiza 50% de energia em comparação com as louças convencionais para microondas", diz Komarneni. Uma panela para cozinhar arroz, feita com a nova cerâmica, leva apenas 10 minutos para preparar a comida, um tempo que fica entre 20 e 30 minutos com as cerâmicas convencionais.

Foto: FabreMinerals/reprodução de A.Godói, publicada com a matéria

 

Segunda-feira, 11 de Agosto de 2008, 12:00

A química do Patriarca

Estamos em 1813, na cidade de Lisboa. Na Junta de Saúde Pública, uma espécie de ministério da Saúde da época, Charles Stuart, ministro da Coroa Britânica em Portugal, protesta contra o que considera uma 'invasão de privacidade'.

Ele se referia aos métodos usados na época para desinfetar cartas, que precisavam ser abertas e lavadas com vinagre, pois temia-se que as correspondências vindas de áreas infectadas com doenças, como a febre amarela, pudessem disseminar enfermidades. Stuart conclama os pesquisadores a buscar novos métodos.

Três acadêmicos (na época não se usava o termo cientista) são convocados: Luiz de Siqueira Oliva, Francisco Elias Rodrigues da Silveira e José Bonifácio de Andrada e Silva, todos integrantes da Academia Real das Ciências portuguesa.

O resultado do estudo recebeu o nome de "Parecer sobre o método de desinfetar as cartas vindas de países estrangeiros", concluindo que uso do gás muriático (cloreto de hidrogênio), dispensaria a abertura das correspondências.

Enciclopédico - O estudo, porém, não foi publicado. Ficou guardado nos arquivos da Academia, não sendo citado nas biografias sobre José Bonifácio.

Coube ao historiador carioca Alex Gonçalves Varela resgatar o documento e transformá-lo em livro, lançado em 2006 pela editora Anna Blume. Na obra, Alex compara o trabalho do químico Bonifácio com a história científica da época.

"Ele era um homem sempre atualizado com o que demais moderno havia na época. Diferentemente de hoje, quando as pessoas tendem a ser especialistas, ele era uma pessoa de saber enciclopédico, um estudioso voltado a diversos temas", afirma Varela.

Ilustres - Na Europa, além de Antoine Lavoisier (1743 - 1794), Bonifácio estudou com Alessandro Volta, físico italiano, o primeiro a construir uma pilha capaz de gerar eletricidade. Também conheceu Alexander Von Humboldt, naturalista e aventureiro que mais tarde visitaria a América do Sul.

Além do personagem de importante atuação política, Bonifácio também se dedicou à paleontologia, poesia, história, mineralogia e metalurgia. Foi, até, delegado de polícia. "
Ele se auto-intitulava metalurgista de profissão", relata Alex.

Como mineralogista, descreveu doze novos minerais: petalita, espodumênio, criolita, scapolita, wernerita, aconticone, salita, cocolita, ictioftalmita, indicolita, afrizita e alocroíta.

Em sua homenagem, o cientista norte-americano James Dana batizou a descoberta de uma rocha com o nome de andradita, em 1868.


Foto: arquivo, publicada com a matéria

350 quilos, 1,68 metro -  Em 1946, o pesquisador norte-americano Percy Spencer trabalhava na indústria Rhayteon, especialista em radares de uso militar, quando percebeu que um chocolate em seu bolso havia derretido em razão da emissão de ondas de rádio. No ano seguinte, a empresa construiu o Radarange, o primeiro forno de microondas comercial. Ele tinha 1,68 metro de altura e pesava quase 350 quilos. Produzia três mil watts, três vezes a radiação produzida pelos aparelhos atuais, e era refrigerado a água.

Para funcionar, os fornos atuais utilizam uma freqüência em torno de 2.500 megahertz. Nela, as ondas de rádio são absorvidas pela água, gorduras e açúcares, agitando-as e gerando calor. Além disso, essa freqüência não é absorvida pela maioria dos plásticos, vidros ou cerâmicas.

Para saber mais: http://casa.hsw.uol.com.br/culinaria-de-microondas.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Forno_microondas http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/microondas.asp


Imagem: arquivo, publicada com a matéria

Bonifácia

Segundo a historiadora santista Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, da Universidade Católica de Santos (UniSantos), cerca de 400 livros já foram publicados no Brasil sobre a vida do Patriarca. "
Ele era um homem à frente de seu tempo, abolicionista desde 1820, quando a campanha contra a escravidão só deslancharia a partir de 1870. Em suas terras na região, remunerava os trabalhadores".

A historiadora relata que Bonifácio deixou textos em que fala sobre a proteção às mulheres e outros em que prega pela preservação das florestas ou contra o abate de baleias, muito comum na época. "Nesse ponto, ele foi uma espécie de precursor da ecologia, um termo que só surgiria em 1869, muito depois de sua morte em 1838". No ano seguinte, em 1839, Santos foi emancipada à condição de cidade, uma homenagem ao fato dele ser santista de nascimento. "Chegou-se a cogitar, inclusive, que a cidade passasse a se chamar Bonifácia".

Capa do caderno Ciência & Tecnologia de A Tribuna, de 11/8/2008

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