TRÓLEBUS - Historiador protocola junto ao Condepasa pedido para que veículos sejam
transformados em patrimônio cultural santista
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
Terça-feira, 8 de
agosto de 2006, 07:25
TRÓLEBUS
História sobre rodas
Pedido de tombamento, protocolado ontem, pretende transformar tradicional ônibus em
patrimônio cultural santista
Luiz Fernando Yamashiro
Da Reportagem
Praticamente extintos do sistema de transporte coletivo
municipal, os trólebus poderão ser transformados em patrimônio cultural santista. Uma proposta nesse sentido foi protocolada ontem pelo historiador
Waldir Rueda junto ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).
No requerimento, o autor alega que os trólebus já fazem "parte da paisagem e da identidade
cultural" da Cidade e diz-se preocupado com sua desativação gradual, desde meados dos anos 90.
Através de um histórico elaborado desde 1955 - data da licitação para a compra de 50 destes
veículos por parte da Prefeitura -, Rueda retrata a expansão, o auge e o declínio dos trólebus em Santos, que hoje contam apenas com uma linha ainda
ativa: a 20, que faz o trajeto entra a Praça Mauá, no Centro, e a Praça Independência, no Gonzaga.
Na avaliação do historiador, o uso cada vez menor deste meio de transporte caracteriza a
intenção da empresa concessionária do serviço de aposentá-lo definitivamente. "Fica evidente que a empresa não deseja mais possuir este tipo de
transporte, que tanto ajudou na construção da cidadania santista", alega.
Na intenção de reforçar seu pedido, Rueda faz menção aos bondes santistas, que, 30 anos após
serem extintos, exigiram uma quantia considerável para sua reativação. "Já amargamos a conta dos gastos feitos pelo Poder Público para revitalizar o
bonde, cujo valor foi orçado em R$ 27 milhões, refazendo apenas uma linha de pequena extensão, com exclusivo aproveitamento turístico".
Ainda no requerimento, o historiador fala na qualidade de vida das futuras gerações,
argumentando que o modelo movido a energia elétrica é mais econômico, menos poluente e tem maior durabilidade do que os atuais ônibus da frota.
O tombamento, pensa Rueda, seria uma espécie de presente ao trólebus, que no próximo sábado
completa 43 anos de atividade em Santos. "Eles são uma parte importante de nossa história, de nossas vidas. Não podemos deixar que sejam
destruídos".
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Órgão não estabeleceu prazo para elaborar um parecer
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Pedido inusitado - Devido à "peculiaridade" da solicitação, o Condepasa não
estabeleceu prazos para emitir seu parecer sobre os trólebus - a maioria dos requerimentos ali protocolados é referente a bens imóveis.
O Conselho informou que, primeiramente, será analisado se cabe ou não iniciar um estudo de
tombamento do bem mencionado. Caso o pedido proceda, um órgão técnico será incumbido de avaliá-lo.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), órgão gestor do transporte coletivo municipal,
apontou a existência de seis trólebus ainda em circulação na Cidade - todos da linha 20 -, alimentados por uma subestação. Os veículos foram
adquiridos pela Viação Piracicabana, concessionária do serviço.
A CET, porém, não quis se pronunciar sobre uma eventual
desativação dos trólebus, informando que aguardará o posicionamento do Condepasa.
No próximo sábado, meio de transporte movido a eletricidade completa 43 anos
de atividade na cidade. Hoje, há apenas seis circulando
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
Terça-feira, 8 de Agosto de
2006, 07:27
Primeira linha começou a circular em 1963
Os primeiros trólebus da frota municipal chegaram a Santos em 1962, importados da Itália.
Eram 50 veículos, com capacidade para 95 passageiros - 52 sentados e 43 em pé.
A primeira linha, nº 5, começou a circular no dia 12 de agosto do ano seguinte, perfazendo o
trajeto Estuário - Canal 5. Apenas três anos mais tarde foi inaugurada a linha 8, já substituindo os bondes. Ela ligava o Centro ao Macuco.
O auge do sistema ocorreu durante a ditadura militar (1964-1985), quando as empresas de
transporte coletivo chegaram a receber subsídios de até 75% na energia elétrica.
No final da década de 70, quando parte da frota entrava em processo de sucateamento, foi
anunciada a modernização do sistema. Novos trólebus são adquiridos, a estrutura começa a ser ampliada. Dez anos depois, o Município já contava com
65 quilômetros de rede bifilar e seis linhas em operação.
Em 1994, o sistema começa a ser desativado, com a retirada de 13 trólebus de circulação.
Dois anos depois, outros 18 são extintos, permanecendo apenas uma linha em operação.
Um novo contrato assinado em 1998 por CET e Viação
Piracicabana estipulava que a concessionária colocaria 35 trólebus em circulação até 2001. A cláusula, conforme matéria publicada em 13 de fevereiro
de 2003 por A Tribuna, jamais foi cumprida. A justificativa da CET foi o alto custo dos veículos elétricos e seu peso, que danificaria o
asfalto.
Auge ocorreu durante regime militar, devido a subsídios federais
Foto: arquivo, publicada com a matéria
Terça-feira, 8 de Agosto de 2006, 07:26
Ministério Público acompanhará processo
Caso não tenha seu pedido atendido pelo Condepasa, o historiador Waldir Rueda pretende levar
a questão aos tribunais. Imediatamente após protocolar seu requerimento junto ao Conselho, o historiador entrou com uma representação no Ministério
Público. O dossiê foi recebido pelo promotor do Meio-Ambiente, Daury de Paula Júnior, um dos responsáveis pela área de patrimônio cultural.
Apesar de reconhecer a importância histórica dos trólebus, o promotor garantiu que, de
momento, apenas acompanhará a tramitação do processo no Condepasa. "O valor cultural é inequívoco, e acredito que a decisão do conselho será nesse
sentido (pelo tombamento)", presume.
Ação judicial, segundo ele, só no caso de o órgão optar pelo não-tombamento.
"Penso que essa possibilidade é remota. Estamos sendo acionados agora, então, vamos dar um voto
de confiança a eles".
Além da preservação do patrimônio, o promotor defende o trólebus também pelo aspecto
ambiental. "Em termos de ganho para o Município, o ideal seria que toda a frota fosse substituída por veículos menos poluentes", sugere.
Ganhos - A idéia de Daury é endossada pelo diretor do Instituto Topos e professor da
Universidade Santa Cecília (Unisanta) Alfredo Cordella. Ele considera não apenas a maior emissão de gases pelos veículos movidos a combustíveis
fósseis, mas também a poluição sonora gerada por eles. "O veículo elétrico é mais silencioso que os nossos ônibus. Em uma cidade como Santos, com
muitos carros, isso faz muita diferença".
Cordella lembrou que esse tipo de transporte é adotado em grande escala em cidades de países
desenvolvidos, como Toronto (Canadá) e cobrou da Prefeitura ações para a melhoria da qualidade de vida na Cidade.
"A verticalização aqui é cada vez mais intensa, o que significa menos ventilação. Quanto
menos a gente puder poluir o ar, melhor", adverte.
Waldir Rueda entregou dossiê ao promotor Daury de Paula
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
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