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A finalidade desta Academia é a cultura do idioma
Dentro do contexto cultural da região da Baixada Santista, situa-se a Academia Santista Juvenil de Letras. Criada há menos de um ano, ela é integrada por jovens de 14 a 21 anos, em sua maioria estudantes secundários e universitários. O surgimento da ASJL, fundada oficialmente em 26 de outubro do ano passado, deveu-se à necessidade de união dos esforços desses jovens escritores, no sentido de divulgar seus trabalhos, debater os aspectos da literatura nacional e aprimorar o conhecimento de nosso idioma.
Preocupados com os efeitos da massificação das notícias e informações, uma das finalidades da Academia é a cultura do idioma vernáculo. Raul Christiano de Oliveira Sanchez, o idealizador e atual presidente da ASJL, é quem diz: "Sabemos que os jovens de hoje falam muita gíria. Eles falam quase um idioma estrangeiro, se comparado com a língua verdadeiramente portuguesa. Nossa preocupação maior não está em fazê-los falar direito, mas, sim, que tenham consciência de que falam errado porque estão sendo prejudicados pelo próprio meio em que vivem. Estamos naquela tentativa de forçá-los a adotar a língua portuguesa de maneira correta para que escrevam certo". Ainda, nesse ponto, está a literatura nacional, que os acadêmicos tomam como base, "para realizarmos alguma coisa em benefício dela mesma", completa Raul.
Outra finalidade, um tanto utópica, é de despertar no povo o interesse pelas produções novas. "Nós temos planos, temos coisas concretas para levar ao povo nosso trabalho, mas não encontramos apoio - lamenta Raul. Os acadêmicos, no início deste ano, lançaram um boletim informativo, denominado "O Grito do Novo Sangue", numa tentativa de divulgar os trabalhos por eles realizados. O primeiro número saiu em janeiro e pretendiam torná-lo bimestral, mas, até agora, não conseguiram verbas para a edição do segundo. "Nós fomos às ruas para conseguir alguma publicidade, mas poucos se interessaram - comenta -, e não há, ainda, um patrocinador permanente, para que nossa arte seja levada ao público. E o público, por sua vez, não pode patrocinar a literatura, pois tem outras preocupações".
No Brasil existem somente mais duas academias com objetivos semelhantes. Uma em São Paulo, com 10 anos de existência, e outra em Itabuna, na Bahia, sendo que esta é filial de São Paulo. Como todo movimento cultural, a ASJL enfrenta uma gama enorme de problemas que entravam o andamento de seu trabalho, mas o que mais se destaca é a falta de apoio dos órgãos municipais. A Academia de São Paulo conta com o apoio direto da Prefeitura, enquando a ASJL, até o momento, não pôde contar com o apoio de ninguém. Um dos papeis que pode representar a ASJL é o de renovação de valores na literatura regional.
José Antônio Moreno Galves, outro acadêmico, fala a respeito: "Nós somos a literatura do futuro. Essa literatura nossa de agora está terminando, seus representantes, principalmente na Baixada, estão no término de suas carreiras literárias. Então, nós estamos nos preparando desde já, para não começar tão tarde como eles começaram. Quem sabe, quando estivermos com a idade deles, teremos uma cultura bem maior que eles possuem agora, com muito mais valor, talvez".
Um outro ponto de vista, menos pretensioso, é o do presidente: "Acho o papel da Academia, na cultura da Baixada, importantíssimo. Santos é uma cidade considerada, por muitos, o "cemitério da arte", porque nada tem apoio. O pessoal aqui, se quer fazer arte, tem que trabalhar até o fim, tem que lutar, tem que ser idealista para realizar alguma coisa. Acho que a Academia representa um papel fascinante porque esse novo sangue daria um novo ímpeto à literatura".
A promessa - O
endereço para correspondência da ASJL é o da Sociedade Humanitária, e suas reuniões são realizadas, provisoriamente, em uma sala do Colégio Primo Ferreira. Este panorama traduz uma das maiores dificuldades do movimento, a falta de uma sede própria. Promessas não faltaram, mas a verdade é que a sede ainda não existe. "No primeiro Café Poético que os integrantes da Academia participaram - conta Raul Christiano - eu pedi, em público, já estávamos sendo apresentados à elite cultural de Santos, uma sede para nossa academia".
"Um local, continuou o presidente, onde pudéssemos estar instalados, com nossa biblioteca e um lugar para reuniões nos foi prometido. Na oportunidade, estava presente o sr. Belarmino Franco - na época, secretário da Cultura, substituindo o sr. Carlos Lamberti. E ele nos prometeu uma sala no Centro de Cultura. Não sei, talvez a promessa verbalmente tenha um significado enorme para nós e, ainda mais, quando feita em público, por isso parece-nos algo concreto. Ele havia prometido uma sala para a ASJL e outra para a Academia Santista de Letras. Isso foi na época em que estava havendo o despejo do Clube de Cinema de Santos, que hoje funciona no Sesc".
Temas e "Mostra" -
Segundo Raul Christiano, a maioria dos poetas que compõem a Academia é romântica, todos têm sua musa inspiradora e escrevem sobre o amor. "Outras poesias falam da natureza e dos problemas sociais. Nós, que somos jovens e vemos as dificuldades de nossos pais ou que trabalhamos e sentimos esses problemas, transmitimos para o papel aquele mundo atual, que estamos vivendo. É uma realidade dura, mas aceitável. O poeta se inspira na própria desgraça do cotidiano para levar à poesia o seu desabafo". O problema da devastação do meio ambiente também é retratado nas poesias dos acadêmicos. "Eles falam de maneira subjetiva - explica Raul - fazendo uma autocrítica de não poder estar ajudando contra aquela destruição do meio ambiente, que poderia ser evitada, mas que a vida de hoje impede". Talvez, mais adiante, com um espírito mais crítico eles possam dizer que a vida de ontem impedia.
Daqui, até o final do ano, a Academia pretende, se conseguir um patrocinador, publicar quatro boletins.
Neste triste quadro da cultura regional, onde muitos valores são negligenciados, é preciso que se dê alguma força às esparsas iniciativas. |