ESPAÇO DE RARIDADES - A Cinemateca, ...
Foto: Fábio Peres Passos, publicada com a matéria
CINEMATECA
Reduto de cultura
Fábio Peres Passos (*)
Colaborador
Equipamentos projetores poloneses e alemães, de 8, 9 e
16 mm, datados de 1920, filmadoras antigas raras, um extenso arsenal de discos e trilhas sonoras famosas, uma biblioteca que engloba livros de
diferentes vertentes culturais, com mais de dois mil volumes, de origem inglesa, húngara, checa, soviética, búlgara e italiana. E mais, produções
cinematográficas representativas do cinema mundial, que atualmente somam mais de dois mil títulos, para o qual existe uma bancada especial de filmes
brasileiros. Esta é apenas uma parte do acervo da Cinemateca de Santos, fundada em 1980 pelo francês Maurice Armand Marius Legeard, após o fim do
primeiro Clube de Cinema de Santos, uma extinta criação também advinda da mente deste grande agitador cultural e amante da sétima arte, falecido em
1997.
Ao longo de todos os anos de sua vida, totalmente dedicados a iniciativas culturais,
Maurice foi colecionando este material, que entre documentos históricos de conteúdo indelével, destacam-se obras como Hollywood, de David O.
Selnick's, um dos únicos livros originais de 1980 no mundo, com o convite da estreia do filme de King Kong somente reservado à imprensa, e a
coleção A Cena Muda, uma série de enciclopédias sobre cinema da década de 40 até os anos 60.
Uma outra gama de relíquias está à disposição para consulta na Cinemateca, em diversas
pastas, com fotografias originais de filmagens, que inclui uma coleção raríssima de O Pagador de Promessas; recortes, publicações, cartazes,
críticas e pôsteres, num total de 14.000 itens.
Procurada principalmente por aficionados do cinema de arte e estudantes
universitários, a Cinemateca sobrevive de doações de terceiros e com uma pequena verba remetida pela Secretaria de Cultura Municipal, que também
empresta o projetor para a realização de sessões de cinema.
Atualmente nas mãos de Patrícia Legeard e Renato Oliveira, filha e genro de Maurice,
este antro de cultura continua seguindo os mesmos postulados básicos e objetivos de sua criação: entreter, conscientizar e valorizar a arte, através
dos debates e discussões que seguem à exibição dos filmes, no qual já participaram conhecidos atores, críticos e diretores nacionais, como Ozuald
Candeias e Carlos Reichenbach.
As dificuldades enfrentadas, no entanto, ainda são muitas, se não maiores do que em
outros tempos. Contudo, a herança deixada por Maurice tem um valor incalculável e importância eterna aos olhos das diversas pessoas que ajudaram a
construir a história do local. "No passado pensamos em nos desfazer da Cinemateca pelos vários problemas administrativos que tínhamos, devido à
situação financeira difícil. Hoje temos plena certeza de que isto tudo não tem preço e vamos continuar levando este espaço à frente, custe o que
custar", desabafa Patrícia.
Recentemente a Prefeitura de Santos avaliou o valor do material da Cinemateca, assim
como o fez uma universidade. Porém, o tratamento dado a todo o acervo não agradou a Patrícia e Renato. "Soubemos que a Prefeitura iria promover um
desmanche em tudo isso, distribuindo o material por diversos lugares. Os livros iam para a biblioteca, as fitas para a Videoteca Municipal e assim
fariam com o resto do acervo", afirma Renato.
A persistência em seguir os passos do pai, desde então, tem recompensado o esforço
para manter a Cinemateca em posse da família. Os ciclos e mostras de cinema continuam a existir, com grande aceitação do público, e o sucesso dos
debates tem proporcionado aos frequentadores uma noção maior dos assuntos que refletem a atual situação da nossa sociedade.
...fundada em 1980 por Maurice Legeard, ...
Imagem: Fábio Peres Passos, publicada com a matéria
Filmes de loucura - Mesmo a duras penas, Patrícia continuará com seus projetos
no ano de 2003. "Já em janeiro pretendemos fazer uma mostra sobre filmes antimanicomiais, um assunto bastante polêmico, pois os métodos de correção
destes lugares são violentíssimos", afirma indignada.
Neste ano já foram realizados ciclos de bastante relevância para a formação e
discussão de opiniões, como a última mostra de cinema marginal americano, no mês de setembro, no qual os assuntos tratados ajudaram os participantes
a compreender melhor questões como a dos alimentos transgênicos, clonagem, racismo, alcoolismo e sindicalismo.
"O espaço que temos aqui não é o ideal e as discussões poderiam abranger muito mais
idéias; porém, só podemos receber no máximo 50 pessoas. O mais importante, contudo, é que todos possam refletir e tomar consciência da vida em
sociedade", justifica Renato, com um sorriso estampado no rosto.
A dificuldade de atingir a um grande público se dá também pelo fato do projetor ser
emprestado. Patrícia lamenta ter que marcar as mostras de cinema de acordo com a disponibilidade do aparelho. "A prefeitura às vezes aluga o
equipamento para outras pessoas e nós dependemos do dia da devolução para utilizá-lo". Com isso, cria-se um grande empecilho para a feitura destes
ciclos em outros lugares, a pedidos de sindicatos, universidades, instituições, empresas, entre outros, que costumam agendar eventos deste porte com
a proprietária.
Para quem deseja participar dos ciclos de cinema ou pesquisar todo o material à
disposição na Cinemateca, basta fazer um cadastro ao preço de R$ 5,00 mensais. O número de locações e consultas a serem feitas é ilimitado e a
receptividade da casa é a melhor possível. Todo o acervo fica localizado na rua Xavier de Toledo número 42, no Campo Grande. O telefone para contato
é 3251-1613. Colabore, a arte agradece!
... reúne um acervo raro dos cinemas brasileiro e internacional
Foto: Fábio Peres Passos, publicada com a matéria
(*) Fábio Peres Passos, aluno do Curso de
Jornalismo da Faculdade de Comunicação de Santos (Facos). Convênio
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