ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA BANCO DO BRASIL - SANTOS
Sua gente - Sua história
Por Douglas Bornir
A história é a memória dos homens. Se um povo rompe os vínculos com o passado, está condenado a seguir às cegas na direção do futuro. O presente é apenas o
fugaz intervalo do tempo, o átimo a unir o infinito que ficou pra trás, à eternidade que se estende adiante. É vital sentir saudades, guardar lembranças, conhecer a história, respeitar tradições, encorajar-se pelos exemplos, aprender com a
experiência dos personagens de tempos pretéritos e manter a memória, como lição e advertência para o momento presente. A história dos fatos passados deve ser permanentemente retransmitida às novas gerações, pela voz de testemunhas
sobreviventes, pelos livros, registros, fotos antigas, monumentos perenes, trechos de ruas, velhas fachadas do casario, papéis guardados, e pelos arquivos dos jornais, legítimas certidões de um tempo que as novas gerações devem conduzir em
direção ao futuro. (Vicente Cascione, em Pontos de Vista,
editorial de A Tribuna) |
Os primeiros anos de vida da AABB, dadas as características próprias da fundação, foram os mais profícuos e até fáceis de se ler. À medida, porém, que os anos vão decorrendo - e esta narrativa segue
rigorosa ordem cronológica -, a fim de não torná-la repetitiva e desinteressante, intercalamos alguns fatos principais da história do Brasil, para que o leitor mais interessado possa associar os acontecimentos ocorridos na Associação e no país,
colocando-os na conjuntura que à época vivíamos.
Antes de passarmos aos fatos, dois nomes precisam ser lembrados. Um deles é o de Paulo Pinheiro Werneck. Espírito empreendedor, batalhador incansável, dele partiu a idéia da fundação de um clube que
congregasse os funcionários do Banco do Brasil e suas famílias. Ocupou todos os cargos existentes na diretoria e graças à sua pertinácia, viu o clube progredir e se firmar como um dos maiores da cidade.
O outro é o de Nélson Ribeiro, este já nosso contemporâneo. Grande colaborador da AABB e, principalmente, historiador e bibliógrafo por excelência, foi o pesquisador dos primórdios do clube e a ele
se devem os escritos feitos até 1953, quando a agremiação completou 20 anos de existência. Falecido em 1997, granjeou amigos à sua passagem. São dele os elementos iniciais - e principais - desta história.
Trecho final da Avenida Ana Costa, junto à praia, cerca de 1940. À esquerda, o Parque Balneário
Foto reproduzida do raro Calendário de 1979 editado pela Prodesan - Progresso e Desenvolvimento de Santos
S.A., com o tema Imagens Antigas e Atuais
Início da década de 1930. O mundo vivia dias conturbados. O austríaco Adolph Hitler recebia a cidadania alemã, tornava-se chanceler e anunciava o III Reich. Logo depois, na Sociedade das Nações,
rejeitava as propostas de desarmamento e assumiria o título de Führer. Ah! Se a humanidade soubesse...
Um pouquinho mais ao Leste, Antonio Oliveira Salazar implanta a ditadura em Portugal e Franklin Delano Roosevelt assume a presidência dos
Estados Unidos e inicia o Novo Acordo (New Deal), programa de reformas econômicas e sociais para amenizar as conseqüências da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, que acarretou a falência de
9.000 bancos e 85.000 empresas, reduzindo-se os salários em até 60% e o desemprego atingindo 13 milhões de pessoas. Para amenizar esse quadro, Walt Disney retocava e preparava o lançamento do Pato Donald.
Do lado de cá do Atlântico, passava-se por grandes reformas. O chefe do governo provisório do Brasil, Getúlio Vargas, criava o Ministério do Trabalho,
estabelecia jornada de oito horas diárias e tornava obrigatória a Carteira Profissional. O novo Código Eleitoral instituía o voto secreto e concedia às mulheres o direito de votar e serem votadas. Tão logo se abafou a Revolução Constitucionalista
contra Vargas, começaram os trabalhos de organização da Previdência Oficial. E do 1º desfile oficial das escolas de samba.
Em São Paulo, o interventor Armando de Salles Oliveira estava às voltas com a 1ª greve de funcionários públicos da história brasileira. De outra parte, funda-se a Universidade de São Paulo (USP).
Em Santos, os jornais abriam suas manchetes à visita do presidente da Argentina, Agustín Justo. Os cinemas da cidade exibiam A Vênus Loura, com
Marlene Dietrich, Viver na Morte, com Douglas Fairbanks Júnior e Loretta Young, e Rasputin e a Imperatriz, com os irmãos Barrymore (John, Lionel e Ethel). O Santos Futebol Clube jogaria com o Fluminense, no
Rio, e já estava escalado: Athié, Arlindo e Garcia; Agostinho, Moacyr e Alfredo; Victor, Camarão, Seixas, Giby e Lugu. A Tribuna publicava o folhetim A Mãe dos Desamparados e o café, nosso principal produto de exportação, movimentava
o país, o estado, a cidade e, como seu principal agente, o Banco do Brasil.
Livre das amarras do aforamento dos jardins, o engenheiro civil Aristides Bastos Machado, prefeito nomeado, começava o ajardinamento da orla da praia,
o que daria à cidade a feição turística que hoje ostenta. Os trabalhos iam ser iniciados a partir do Parque Balneário Hotel. E foi ali que, em...
1933 - Na confluência da Avenida Ana Costa com a Presidente Wilson, defronte à Fonte Luminosa do Gonzaga, erguia-se o Parque Balneário, um
dos hotéis mais requisitados do país e do exterior. Um lugar de veraneio à beira-mar. Demolido em 1974, era conhecido pelo seu luxuoso cassino e seus grandes salões de festas, por onde desfilaram Xavier Cugat, Havaian Serenaders e o pianista
argentino Robledo. Seus lustres eram importados da Boêmia e os mármores, de Carrara.
Os mais antigos devem lembrar dos passeios que, nas noites dos finais de semana, moças e rapazes faziam nas suas calçadas, ouvindo a música que vinha da Tropical Garden, uma boate ao ar livre
erigida no centro de seus jardins. O hotel dispunha de duas quadras de tênis, onde, para aliviar o cansaço de um dia de trabalho estafante, reuniam-se vários grupos de amigos para disputar partidas amistosas.
Um desses grupos, que também alugava uma das salas do hotel, era composto por Paulo Pinheiro Werneck, Ambrósio Vieira Braga, Christiano Brasil Filho, João dos Santos Damin e Francisco Dantas
Pimentel, funcionários da agência de Santos do Banco do Brasil, aos quais juntavam-se Adriano Costa, Durval Muylaert e Nair Duarte, não pertencentes aos quadros do banco.
Foram esses, pois, que idealizaram, em fins de setembro e nas dependências do Parque Balneário Hotel, a fundação do Satélite Clube, a qual se verificou dias após, em 7 de outubro de 1933
- um sábado de tempo ameaçador, com chuvas - com a colaboração irrestrita dos cerca de 50 funcionários da agência de Santos.
Durante os três primeiros meses - de outubro a dezembro - o Satélite foi administrado por uma "Comissão Organizadora e Dirigente", composta pelos cinco funcionários já citados e, após a elaboração
dos primeiros estatutos, aprovados pela assembléia geral realizada em dezembro de 1933, procedeu-se à eleição da primeira diretoria do Satélite, com mandato de um ano e que estava assim constituída:
1934 -
Presidente: Ambrósio Vieira Braga
Vice: Paulo Pinheiro Werneck
Secretário: João dos Santos Damin
Tesoureiro: Christiano Brasil Filho
Diretor Técnico: João Motto.
Dois meses após, essa diretoria viu-se privada do concurso do presidente, do tesoureiro e do diretor técnico. Nessa contingência, Paulo Pinheiro Werneck absorveu as funções de todos os cargos vagos,
porém, na impossibilidade de prosseguir sozinho nas tarefas administrativas, convidou Oswaldo Brito Fernandes, Mário Pereira Crespo e Henrique Assis Bandeira para ajudá-lo a conduzir os destinos do clube.
Como se interpretou esses convites como medida discricionária - mesmo sob a alegação de os sócios terem sido cientificados através de comunicado afixado no quadro de avisos da portaria do banco -
adveio a necessidade de se reformar os estatutos. Assim, os diretores em exercício renunciaram a seu mandato e, em 21 de julho de 1934, nova diretoria foi eleita:
Presidente: Ambrósio Vieira Braga
Vice: Flávio Alcoba Soares
Secretário: João Soares Neves
1º Tesoureiro: Paulo Pinheiro Werneck
2º Tesoureiro: Felisberto Menezes
Diretor Social: Henrique Assis Bandeira
Esportes: José Maria Gonçalves de Rezende
Os dois últimos logo renunciaram e foram substituídos, respectivamente, por Luiz Gonzaga Wilhena Morais e Newton Nora Carrijo.
Ambrósio Vieira Braga, presidente do Satélite Clube de agosto de 1934 a novembro de 1935
Imagem enviada a Novo Milênio pelo internauta Ary O.
Céllio
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