Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0150o30.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/11/13 07:43:29
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS IMIGRANTES - 2012/13
Os imigrantes - 2013 [30 - Mexicanos]

Leva para a página anterior

Trinta anos depois da primeira série de matérias, o jornal A Tribuna iniciou em agosto de 2012 uma nova série Os Imigrantes, abordando em páginas semanais as principais colônias de migrantes estrangeiros estabelecidas em Santos. Esta matéria foi publicada no dia 11 de março de 2013, na página A-8:


Imagem publicada com a matéria

Passado de orgulho e cultura

Sempre reverenciando suas histórias e raízes, sem deixar de lado a boa gastronomia, é assim que vive Pablo, agora em Santos

Ronaldo Abreu Vaio

Da Redação

O primeiro contato indireto que Pablo Mejía Turatti teve com o Brasil foi aos 16 anos, pelas fotos de jogadores de futebol brasileiros decorando as paredes de bares e restaurantes da cidade de Guadalajara, capital do estado de Jalisco, no planalto mexicano. A cidade, a casa do Brasil na mítica Copa do Mundo de 1970 – e depois, também na de 1986 – transformou-se em uma espécie de consulado honorário brasileiro, ponto de convergência mediado por uma bola bem redonda. Pois do Brasil, os mexicanos sabem o que o mundo inteiro conhece: o samba, o carnaval e o futebol – este último, com uma intimidade quase única no mundo, ostentada com orgulho.

Hoje em dia, esse primeiro encontro com o Brasil só é lembrado, pois Pablo jamais imaginou, aos 41 anos de idade, que estaria casado com uma brasileira e morando já há nove anos em Santos, a casa de Pelé. Proprietário de um delivery de comida mexicana, chamado Don Pablo, ele faz questão de colocar tacos e burritos em seu devido lugar.

"A comida mexicana é bem variada, mas predomina mesmo a parte indígena". Em relação a isso, duas informações dizem tudo: o milho era o alimento básico, considerado sagrado entre os antigos maias; e o chocolate foi indiretamente inventado pelos astecas. Não é de se estranhar que os mexicanos tenham o mole, um molho para acompanhar, por exemplo, frango, feito à base de chili e de cacau e com mais de outros 30 diferentes temperos. "Foi criado por acidente, em Puebla (estado), de uma mistura de ingredientes".

Reza a lenda, em um convento na época do México colonial, as freiras souberam em cima da hora que o arcebispo estava a caminho para o almoço. Desesperadas, misturaram tudo o que tinham à mão: chili, pão velho, amendoim, sementes e chocolate; disso prepararam um molho. Mataram um peru que ciscava pelo pátio e colocaram o molho escuro por cima. O arcebispo adorou. Com o correr dos séculos, todo o México também. Tanto que a saudade maior da cozinha de seu país, para o romântico Pablo, chama-se mole.

Romântico? Pois é, eis uma característica que ele descreve em seus compatriotas masculinos, para derrubar de uma vez por todas uma certa aura de machismo que cerca o homem latino em geral e o mexicano, em particular. "É uma cultura conhecida no mundo pelos filmes, a imagem da revolução mexicana, de sombrero e bigodão. Mas não é assim". Pelo contrário. Pablo explica, é muito comum, especialmente na região central do México, as namoradas e esposas serem agraciadas pelos maridos e namorados com uma serenata de Mariachis à janela, no dia de seu aniversário. Um romantismo pra macho nenhum botar defeito.

Orgulho antepassado e Estados Unidos - À parte a indústria turística, os mexicanos têm orgulho das raízes pré-colombianas, sobretudo de maias e astecas, cujas origens remontam a 1.500 anos antes de Cristo. Em tempos mais recentes, nos séculos 19 e 20, a história do país teve momentos conturbados, como a revolução de 1910, contra os grandes latifúndios, que incrustou na História nomes como os dos revolucionários Emiliano Zapata e Francisco Pancho Villa. E também a guerra contra os Estados Unidos, em 1846, que terminou com a perda de quase a metade do então território mexicano.

Aliás, a relação com os vizinhos do Norte, segundo Pablo, é pautada ao mesmo tempo pelo amor e pelo ódio. "A proximidade ajudou um pouco o desenvolvimento, na parte econômica. Mas também trouxe uma dependência muito grande, a maioria das exportações vai pra lá".

Hoje em dia, ao menos na fronteira, os dois vizinhos travam uma espécie de guerra da tortilla, uma massa feita a partir de farinha de trigo ou de milho. As tortillas são extremamente populares no México. Pablo dá a medida: "
Como o brasileiro vai na padaria comprar o pão, o mexicano vai na tortilleria".

Assim, não é de se estranhar que seja a vedete de muitos pratos típicos mexicanos. Os principais: o burrito e o taco, certo? Errado. O taco, de massa crocante, seria uma invenção totalmente norte-americana, segundo Pablo. "Não tem nada a ver. Não existe taco crocante. Desse jeito foi popularizado pela Taco Bell, uma cadeia como o Burger King".

Já o burrito, uma massa de farinha de trigo mole, seria genuinamente mexicano. A história dá conta de um homem que preparava almoços para vender aos trabalhadores: tortillas e o respectivo recheio, de frango, porco ou boi, como é de praxe. Quando o negócio cresceu, os pedidos de almoço vinham de longe. Então ele começou a enrolar o recheio na tortilla, para mantê-lo aquecido. Em seguida, colocava tudo em cima da sua mula e partia pelos povoados. "Quando viam ele chegando, diziam, 'lá vem o burrito', e o nome pegou".

No Brasil, ao que consta, nunca houve burritos do tipo. Mesmo assim, Pablo celebra as similaridades entre os povos brasileiro e mexicano – "
são festeiros, alegres" – para justificar a adaptação rápida. O que também não lhe tirou o gosto de determinadas surpresas diante do novo. O trânsito, por exemplo. Por incrível que pareça, ele considera o tráfego no Brasil muito melhor do que no México. "O brasileiro é bem educado", resume.

Mas, basicamente, a diferença seria uma questão de cabresto. Embora o cinto de segurança seja obrigatório também lá, poucos o usam, pois quase não existe fiscalização. Da mesma forma, não há radares e, consequentemente, o respeito geral é menor. "Dirijo com muito cuidado (para não ser pego)", diz ele, como um bom brasileiro.


Pablo e a reprodução, em madeira, de um dos círculos de pedra originais, com exemplares da escrita maia, cujo calendário angariou fama pela previsão – totalmente infundada – do fim do mundo em 2012
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Astronomia e Matemática - O conceito de zero, introduzido no Velho Mundo pelos árabes, na Idade Média, já era usado há milhares de anos pelos maias; assim como a precisão das observações dos movimentos celestes era superior à de outros povos que não possuíam telescópios.

Guerra Mexicano-Americana - O conflito durou dois anos, entre 1846 e 1848, e culminou com a perda, por parte do México, de metade de seu território até então. Os atuais estados norte-americanos de Utah, Nevada, Califórnia, Novo México e Texas, mais partes do que hoje são Arizona, Wyoming e Colorado, perfaziam terras mexicanas.

O pontapé da guerra foi a teoria do Destino Manifesto, termo cunhado pelo jornalista nova-iorquino John O'Sullivan, que reflete a crença de que os Estados Unidos foram escolhidos por Deus para comandar o mundo. Dessa forma, consideravam o expansionismo algo natural. Na guerra, 8 mil pessoas morreram, a maioria de origem hispânica.

Chocolate - O chocolate, a palavra, deriva de xocolatl, a denominação de uma bebida amarga de cacau, muito apreciada pelos astecas mexicanos. Essa bebida foi levada pelos espanhóis para a Europa, transformando-se depois no chocolate que conhecemos. Já a palavra xocol quer dizer amargo e atl, água – uma aproximação curiosa com o grego Atlas, o nome do titã que carregava o mundo nas costas e que teria originado o nome do oceano que banha o Brasil – o Atlântico.


Foto publicada com a matéria

Tequila e mescal - A tequila é um destilado da planta desértica algave-azul, muito comum no estado mexicano de Jalisco, onde fica a cidade de Tequila, de onde provém a bebida. Aliás, pelas leis mexicanas, a tequila só pode ser produzida nesse estado. O mescal também é uma bebida destilada a partir do sumo do algave. A diferença da tequila é ser mais rústica: enquanto aquela é destilada às vezes triplamente, a mescal é apenas uma.

Ao contrário do que se pensa, tradicionalmente, a larva da borboleta gusano é introduzida em algumas garrafas de mescal – e não de tequila. Muito mais do que uma extravagância, a larva tem uma função de controlar o teor alcoólico: abaixo de determinado limite, ela se desintegraria.

Pré-colombianos - Os maias estão na moda, mas quando Cristóvão Colombo chegou já haviam caído em franca decadência. A civilização que mais florescia por volta de 1.500 era a dos astecas, que também tinha boa parte de seu território no atual México (estendia-se até a Guatemala). Aliás, a Cidade do México, capital atual do país, é a antiga capital do Império Asteca, então chamada Tenochtitlán. Os astecas também eram chamados de mexicas – daí o México. Foram conquistados e exterminados em apenas dois anos, pelas tropas de Fernando Cortez, em 1521.


Foto publicada com a matéria

Maias e o calendário - O que é um calendário, para a única civilização do Novo Mundo possuidora de um sistema de língua escrita que conseguia representar o idioma falado tão bem quanto as línguas europeias da época? Ou que possuía avançadíssimos sistemas arquitetônicos, matemáticos e astronômicos? Pois bem, o calendário era tudo. Simplesmente porque os maias eram obcecados pela marcação e contagem do tempo. A princípio, acredita-se, o interesse maia pelo tempo tenha se originado como em toda civilização antiga: conhecendo o ciclo das estações, otimiza-se a agricultura.

Mas, com o desenvolvimento da civilização – o auge foi entre 250 a.C e 900 d.C. –, a mera sobrevivência deu lugar a uma sadia obsessão, que incluía a sua própria essência religiosa – a mitologia maia creditava ao deus Itzamna a transmissão dos conhecimentos sobre a escrita e o calendário, em um passado remoto.

Seja como for, os maias eram exímios astrônomos e, na verdade, mantinham várias contagens de tempo complementares – e bastante intrincadas – baseadas em ciclos celestes distintos. Havia um calendário para marcar a passagem dos dias, outro para determinar as festas sagradas e um terceiro para organizar grandes períodos de tempo – todos sincronizados.

Foi a partir deste último, chamado de Contagem Longa, que a febre do fim do mundo se alastrou. Por esse calendário, o tempo transcorre em baktuns, cada um com 394 anos solares. O grande ciclo é composto por 13 baktuns (5.126 anos solares), contados do início do mundo na mitologia maia: 13 de agosto de 3.114 a.C. A partir dessa data, somando-se 5.126 anos, têm-se o 21 de dezembro de 2012. Ou seja, a única coisa que o calendário maia indica é o início de um novo grande ciclo de 5.126 anos.

Estados Unidos Mexicanos
Capital - Cidade do México
População - 116.901.761 (2012, censo)
Línguas oficiais - Espanhol e 364 variações linguísticas indígenas
PIB - US$ 1,04 trilhões (2011)
Renda per capita - US$ 9.489 (2011)
IDH - 0,770 (2011, elevado)
Data nacional - 16 de setembro (Independência, 1810)
A colônia - não há informações

Leva para a página seguinte da série