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Duas nações unidas pelo café
Do país com os maiores cartéis de narcotráfico à terra das ações sociais, dos teleféricos
públicos e do senhor Madruga
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
A Fabián Andrés Montes Oliveros, um bom resumo de seu país está
expresso no já bem manjado slogan turístico: Colômbia, o perigo é você querer ficar para sempre. Aos 24 anos, no Brasil desde dezembro
de 2011 para estudar Letras, com especialidade em português, é bom que ele se cuide, pois o feitiço do marketing pode facilmente virar contra
o feiticeiro.
Lá se vão os primeiros dias no País, o costume vai fincando raízes, uma certa cumplicidade com a
nova pátria vai ocupando o espaço das dificuldades de adaptação, cada vez mais relegadas às páginas viradas no livro do tempo. E o tempo, diga-se,
até pode se estender em um abismo de duas semanas, quando se enfrenta o desafio de cruzar meio continente de ônibus.
Pois foi isso mesmo o que Fabián fez: ele veio para São Paulo de Girardot, cidade com 90 mil
habitantes, a 86 quilômetros de Bogotá, de ônibus. Rasgou asfalto em uma cruzada por
Peru, Bolívia e Argentina. "A
América Latina é muito grande, bonita", constatou, in loco.
Já em terras brasileiras, o primeiro sinal dessa grandeza – e diversidade, apesar das semelhanças – veio pela língua. Na rodoviária de São Paulo, um
desvio semântico entre português e espanhol fez com que Fabián passasse uma grande e inocente vergonha. Mas não há o que fazer quando a palavra
ônibus, na outra língua, é escrita e pronunciada como a gíria mais cabeluda para o órgão sexual feminino. "Precisava
vir para Santos, cheguei a um policial e perguntei onde poderia pegar uma b...". Felizmente, o
homem da lei entendeu o atropelo linguístico, sorriu, ensinou como se deve falar e ainda indicou o caminho para pegar o ônibus.
Um país que deu adeus ao narcotráfico - Durante anos, a imagem da Colômbia esteve intimamente associada à da cocaína. O país era o maior
produtor e exportador da droga no mundo.
Mas isso mudou. Medellín, a cidade que abrigou um dos dois grandes cartéis do tráfico, hoje está
pacificada. O termo é familiar? Nem poderia ser diferente: Fabián vê um paralelo entre o que acontecia lá, há 20 anos, e a realidade dos morros
cariocas, hoje. Quando se chegou no fundo do poço, e no ápice do crime, com usuais e sangrentas consequências advindas disso, é que se encarou o
problema de frente. As autoridades chegaram à conclusão de que o crime é muito mais do que um assunto de polícia e investiram pesado em ações
sociais.
Fabián conta que o governo articulou junto à iniciativa privada, ONGs e fundações, levar a ciência à proximidade das comunas (favelas). O
resultado foi o Explora, um parque temático com 22 mil metros quadrados para crianças e adolescentes experimentarem, na prática, o que aprendem na
escola. "As mesmas pessoas que trabalhavam para o narcotráfico, hoje trabalham na manutenção
desse parque", diz. Uma novidade de lá que chegou com pompa e circunstância ao Rio de Janeiro
foi um sistema de teleféricos como transporte público, também instituído nos morros da cidade – onde, à semelhança do Rio, ficam as comunas.
Fabián e os artefatos da Terra de Colombo – o significado de Colômbia: a camisa do Milionários, seu
time do coração (o futebol é uma paixão também por lá), o poncho ou ruana, com as cores da bandeira, e a mochila típica, que pode ter vários
desenhos diferentes
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
Brasileiro faz sentir-se bem-vindo - São Paulo parece Bogotá, só que maior. Fabián observa
as pessoas no metrô: elas se assemelham a cardumes de peixes, nadando em sincronia para os mesmos vagões. Na tevê, o senhor Madruga
daqui, do seriado de tevê Chaves, lá se chama Don Ramón.
A tevê é estranha no Brasil: o humor é picante e a forma como a mulher é apresentada na
telinha é diferente. Nesse aspecto, a Colômbia é mais conservadora do que o Brasil. Pode ser uma consequência da grande religiosidade,
esmagadoramente católica, do colombiano, cuja casa há de ter sempre a imagem de um Sagrado Coração de Jesus, segundo diz.
Também terá o artesanato de ônibus em miniatura, da região do Quindío. Os ônibus simbolizam o transporte
dos trabalhadores das plantações de café. Aliás, a Colômbia é reconhecida por ter um dos melhores cafés do mundo. Mas que não é aproveitado pelos
colombianos. Segundo Fabián, todo o café de qualidade é exportado.
O café nos une. Afora isso, a imagem do Brasil na Colômbia é a do "país onde se fala português",
da Amazônia, do Rio de Janeiro do Carnaval e da Bahia, do sincretismo e das danças engraçadas.
Fabián sente falta da bandeja paisa. Parecido com o virado à paulista, o prato é feito com feijão preto, arroz, ovo frito, abacate com sal,
torresmo, chorizo e banana da terra frita. Também sente falta do lulo, uma fruta com a cara e o jeito do kiwi, só que maior e
mais ácida – perfeita para sucos. Ao menos, nesse caso, conseguiu um substituto: apaixonou-se pelo suco de açaí. "É
o melhor que já bebi". Mas, caso volte para a sua terra após os quatro anos regulares de
estudo, deve levar na bagagem uma saudade que ultrapassa o sabor do açaí. "A facilidade dos
brasileiros em abraçar e fazer você se sentir bem-vindo".
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Os cartéis - Do narcotráfico, foram dois famosos: o de Medellín, que operou na cidade
homônima, entre os anos 70 e 80. Estima-se que faturava US$ 60 milhões por mês e tivesse um total de US$ 28 bilhões. Seu último líder como entidade
organizada foi Pablo Escobar. O segundo cartel, o de Cali – batizado também a partir do nome da cidade de
atuação – fortaleceu-se a partir da dissolução do Cartel de Medellín e chegou a ser responsável por 80% das exportações de cocaína colombianas.
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Ilustre - Um dos mais ilustres colombianos é o escritor Gabriel García Márquez, ganhador do
prêmio Nobel de 1982, considerado um dos mais importantes autores do século 20, por aprofundar o Realismo Mágico, vertente literária típica da
América Latina.
Juán Valdez - É um personagem ficcional usado desde 1958 pela Federação Nacional dos Produtores de Café, em peças publicitárias, para
alavancar o grão na Colômbia. A imagem de um homem com chapéu de caubói e bigode, sempre com sua mula Conchita a tiracolo, deu tão certo, que
hoje o café colombiano já é associado a Juán Valdéz. É o equivalente à marca Café do Brasil.
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As rosas - A indústria da floricultura colombiana é a maior produtora mundial de rosas. Como
se não bastasse, essas rosas têm dimensões gigantes – algumas, com 11 centímetros de diâmetro – e uma durabilidade de quase um mês. O segredo para
tanta quantidade e qualidade está nas técnicas de cultivo. As rosas são plantadas em terrenos de altitude, com dois mil metros ou mais, a uma
temperatura constante de 15 graus e recebendo a incidência dos raios solares de forma quase perfeitamente vertical, pela proximidade ao Equador.
Hoje em dia, o termo rosas colombianas não se restringe às vermelhas, mas se estende a
plantas brancas (Avalanche) e alaranjadas (Wow).
Constitucional - A Colômbia tem uma longa história constitucionalista, com dois dos mais antigos partidos políticos das Américas, o Liberal,
fundado em 1848, e o Conservador, de um ano depois.
Por outro lado, a polaridade chegou a tomar contornos extremos em várias épocas da História, como
na Guerra dos Mil Dias, entre 1899 e 1902, ou o período conhecido por La Violencia, iniciado em 1948. Durante os anos 80, as tensões
partidárias mais violentas foram fomentadas até pelo crime organizado, na figura do tráfico de drogas.
Homicídios - A Colômbia já teve a maior taxa de homicídios do mundo, nos anos [19]80
– fruto da violência do narcotráfico.
Hoje, esse número caiu muito, embora o país ainda esteja em sétimo lugar no mundo, em relação a
homicídios por 100 mil habitantes, conforme relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Criminalidade (ENUDC).
Mas, para se ter uma ideia da queda, em 2000, eram 63 homicídios por 100 mil habitantes na
Colômbia. Nove anos depois, em 2009, 35, o que representa uma queda superior a 50%.
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Megadiverso - A Colômbia é um dos 17 países na lista mundial dos megadiversos – o Brasil
também está entre eles. Isso quer dizer, na prática, que são os países que abrigam a maioria das espécies de flora e fauna do planeta, segundo as
Nações Unidas.
Os outros quinze países são: África do Sul,
China, Austrália, Estados Unidos,
Equador, Filipinas, Índia,
Indonésia, Malásia, Madagascar,
México, Papua-Nova Guiné, Peru,
República Democrática do Congo e Venezuela.
República da Colômbia
(República
de Colômbia)
Capital - Bogotá
População - 45.925.397
Língua oficial - espanhol
PIB - US$ 328,42 bilhões (2011, estimativa)
Renda per capita - US$ 7.131 (2011, estimativa)
IDH - 0,710 (2011, elevado)
Datas nacionais - 20 de julho (1810, Independência, da Espanha)
A colônia - A Tribuna entrou em contato por e-mail com o Consulado Geral da Colômbia em São Paulo, mas não obteve resposta
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