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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS IMIGRANTES - 2012/13
Os imigrantes - 2013 [26 - Equatorianos]

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Trinta anos depois da primeira série de matérias, o jornal A Tribuna iniciou em agosto de 2012 uma nova série Os Imigrantes, abordando em páginas semanais as principais colônias de migrantes estrangeiros estabelecidas em Santos. Esta matéria foi publicada no dia 11 de fevereiro de 2013, na página A-8:


Imagem publicada com a matéria

40 anos superados em segundos

Comerciante equatoriano veio ao Brasil por amor e em busca de crescimento, mas falta de seu país só faz aumentar

Ronaldo Abreu Vaio

Da Redação

"Você repara que o tempo passou em duas ocasiões: quando tem filhos pequenos e, de repente, eles crescem, ou quando imigrante, retorna ao país e não encontra mais as pessoas". A frase, de Carlos Ernesto Alvares Vasco, de 65 anos, atual cônsul honorário do Equador em Santos, é bela. Mas, ao menos em sua segunda parte, não reflete um certo espírito que identifica em seu país e chega até a contradizer a sua própria experiência. Há pouco tempo, recebeu um telefonema de familiares em Quito dando conta de que Jaime havia entrado em contato.

Nada demais, a não ser o fato de Jaime ter sido um colega da longínqua infância, e do qual não tinha notícias há 40 anos. "Esse tempo acabou em alguns segundos". O tipo de história, essa procura depois de tanto tempo, Ernesto aponta como mais comum de ocorrer no Equador do que aqui. Os 40 anos que acabaram em segundos são os mesmos do tempo que ele está no Brasil.

Quem sabe, o contato do amigo de décadas não o tenha inspirado a evocar de novo, e como se fosse a primeira vez, a época em que chegou ao País e viu-se frente a frente com o motivo de sua mudança: a mulher, Maria Cecília Garcia, hoje com 69 anos.

Mas se foi dela o papel preponderante em trazê-lo para cá, coube ao Brasil segurá-lo por quatro décadas. "Me apaixonei pelo Brasil por duas coisas: a qualidade do contato com as pessoas e a possibilidade de crescer. É bem aquilo do lema pra frente, que atrás vem gente, você é obrigado a correr".

Economista, viu a possibilidade de crescer se concretizar: Ernesto é um comerciante bem sucedido. Nesse aspecto, o que sentia em seu país há 40 anos é que as amizades e influências engessavam demais as oportunidades – o famoso QI, do Quem Indica, era muito mais forte lá do que aqui, à época, segundo diz.

Hoje, o panorama vem mudando. Com um dos maiores crescimentos da América Latina – ano passado, o PIB teve um avanço de 7,8% – o Equador, na visão de Ernesto, já é um país um pouco mais igual do que foi. "Os pobres estão vivendo melhor lá". Em comparação com o Brasil, o custo de vida é muito baixo e a renda, similar. Desde 2000, a moeda nacional é o dólar norte-americano. O salário mínimo está entre US$ 300 e US$ 400 e uma refeição em um bom restaurante, com entrada, sopa, prato principal e sobremesa, segundo Ernesto, sai por US$ 2,50.

Mas nem sempre foi assim. Em 1999, a inflação galopante fez com que o país quebrasse. Logo após a dolarização, a cesta básica chegou a custar US$ 250, enquanto o salário mínimo mal batia em US$ 100. Em paralelo à estabilização econômica, começou uma valorização cultural das cores locais. "Uma das maiores ofensas lá era chamar alguém de índio", diz a mulher de Ernesto, Maria Cecília. "Hoje, há orgulho em ser índio". Também, pudera: nas veias de cerca de 80% da população corre sangue indígena.


Carlos, a bandeira de seu país, em primeiro plano, e o chapéu Panamá – made in Equador. Quanto às cores da bandeira, são as mesmas de outros países andinos e seguem significado semelhante: o azul representa o céu e o mar; o amarelo, as riquezas minerais; e o vermelho, o sangue dos mártires. Sobre o brasão de armas, o condor – ave símbolo dos Andes
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Povos acolhedores e tolerantes - Economia nos eixos, orgulho nacional em alta. Como cônsul honorário, Ernesto faz a propaganda de seu país. Segundo conta, é o lugar onde se pode conhecer a América Latina em oito dias. A justificativa é a reunião das praias do Pacífico, da floresta Amazônica (que começa no leste do Equador) e os Andes, que cruza o país de ponta a ponta, no sentido Sul-Norte.

"Os nossos Andes têm neve permanente, o que não acontece na Colômbia e no Peru", puxa a sardinha. O Equador também divide o mundo: a 25 quilômetros da capital, Quito, existe o Parque Metade do Mundo, onde está a latitude zero, conforme indicações de uma missão geodésica francesa, que visitou o país em 1735. Ou seja, é possível colocar um pé no Hemisfério Norte e deixar o outro no Sul.

Por tudo isso, cada vez mais, Ernesto pensa em ceder à tentação de vestir o seu saco – paletó – e voltar para o seu mote – espécie de canjica, feita de um milho mais macio e salgada. E anseia rever as paisagens da sua terra e se reapropriar das pequenas distâncias – de Quito, nos Andes, à imensidão do Pacífico são apenas três horas.

Mas a saudade também pode ser uma questão de pele: Ernesto sente falta das temperaturas amenas da sua capital, o ano todo. Mas está nos povos dos dois países o ponto de intercessão. "São povos acolhedores, solidários. Gostam do estrangeiro, são tolerantes e respeitam os gostos diferentes".


Foto publicada com a matéria

Matilde Hidalgo - Foi uma lutadora dos direitos femininos, a primeira mulher a estudar Medicina no país. Mas foi graças à sua militância que o Equador foi o primeiro país da América Latina a admitir o voto feminino, nos anos 20.

Mais perto do céu - Ao contrário do que pensa o senso comum, o planeta Terra não é uma esfera perfeita. É o que os matemáticos chamam de um obloide. Imagine uma bola de vôlei de praia com alguém sentado em cima: a forma que surge do achatamento pelo peso é mais ou menos a da Terra em sua trajetória sideral. As porções mais achatadas são as dos polos. Por isso, os países mais próximos da Linha do Equador estão mais perto do céu. E o mais perto de todos é o Equador: lá, você quase pode tocar as estrelas.

A escada chama-se Monte Chimborazo – o ponto mais alto do planeta. A quem já começou a esbravejar, reclamando que o pico mais alto é o Monte Everest, calma: é verdade. O Everest, com seus quase nove mil metros de altura, excede o Chimborazo em três mil metros e seria o pico mais alto do mundo mesmo – se os dois montes estivessem ao nível do mar. Só que o Chimborazo está apoiado na Cordilheira dos Andes. Por isso, seu pico ultrapassa o do Everest em mais de dois mil metros.


Foto: Claudio Vitor Vaz, publicada com a matéria

Forma de tratar - Na certidão de batismo, consta José Francisco Quevedo Fernandes. Ele mesmo se considera Jaime Javier Quevedo Fernandes. Mas todo mundo o conhece por Jimmy. A confusão saiu do costume dos avós batizarem os netos. A mãe de Jimmy o queria Jaime. Mas os avós, eminentemente católicos, como todo o Equador, queriam colocar no menino o nome de dois santos. Muitos anos depois, esse menino ingressaria na marinha mercante. Conheceria alguns portos mundo afora, mas lançaria âncora por aqui, em 1973. "É um país muito parecido com o meu. A alegria, os costumes, a forma de tratar o ser humano", justifica.

Ele partiu de Guayaquil, a maior cidade equatoriana, na costa do Pacífico, onde "não tem samba, mas tem salsa". E tem também chicha, bebida fermentada à base de milho, que vem da época do império inca. Nesse porto, também cabe a saudade, mas uma saudade dividida, pois as lágrimas já são as mesmas ao ouvir tanto o hino do Equador quanto do Brasil. Mas o coração, claro, sempre será equatoriano. "Equador é a luz da América".


Foto publicada com a matéria

Chapéu Panamá - O nome esconde a origem. Na verdade, o chapéu conhecido como Panamá é oriundo do Equador – fabricado com a palha do tipo Toquilla, comum no país. Acredita-se que já existia entre os índios no século 17, quando começou a chegar à Europa. Até hoje, nas regiões de Cuenca e Montecristi, é manufaturado e o segredo da fabricação passa de pai para filho.

Ganhou notoriedade mundial – e o nome Panamá – por ocasião da construção do famoso canal naquele país, no final do século 19 e início do 20. Durante as obras, foram importados milhares de chapéus para os trabalhadores se protegerem do sol. Mas a fama de fato veio quando o então presidente norte-americano Theodor Roosevelt, em uma vistoria do canal, usou um modelo.


Foto publicada com a matéria

Galápagos - São um conjunto de 13 ilhas, a 960 quilômetros da costa equatoriana, e um marco das ciências biológicas. Sua rica biodiversidade, com muitas espécies endêmicas, caso das tartarugas dos Galápagos, foi usada por Charles Darwin como uma das bases das suas teorias da Seleção Natural e da Evolução das Espécies, expressas no livro A Origem das Espécies, de 1859. O cientista esteve lá durante uma viagem exploratória de quase cinco anos, por três continentes, a bordo do navio Beagle.

Darwin passou pelas Galápagos em 1831 e observou que exemplares de uma mesma espécie traziam pequenas diferenças em cada ilha do arquipélago. Esse fenômeno era causado pelo isolamento dos distintos grupos e foi crucial para Darwin entender os mecanismos da evolução, no tempo e no espaço.

Equador - O país não tem esse nome por acaso. Quando houve a separação da Gran Colômbia (unidade administrativa que incluía, além do Equador, a Venezuela, a Colômbia e o Peru), em 1830, pesou na escolha a localização geográfica: a linha do Equador cruza o país de ponta a ponta, passando pela capital, Quito. O Equador se gaba de ser o único país do mundo batizado a partir de sua posição no globo.

República do Equador
(República del Ecuador)

Capital - Quito

População - 14.354.469
Língua oficial - Espanhol
PIB - US$ 127.426 bilhões Renda per capita: US$ 8.492
IDH - 0,695 (2010, elevado)
Datas nacionais - 24 de maio (Independência, 1822)
A colônia - cerca de 10 pessoas na Cidade, segundo estimativa do Consulado Honorário do Equador em Santos

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