HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
A colônia sino-coreana (1)
Beth Capelache de Carvalho (texto)
Rafael Dias Herrera, Anésio Borges e Ademir Henrique (fotos)
Chineses e coreanos, a presença oriental
Eles costumam ser confundidos, pois dedicam-se aos mesmos ramos,
dividindo-se entre lojas (artigos para presentes, perfumaria, importados), butiques e pastelarias. Mas na verdade formam um grupo bem dividido: são
chineses de Formosa, de Hong-Kong e da
República Popular da China, e também coreanos.
Formosa, conhecida como
Taiuam, é um arquipélago a 144 quilômetros da China, na sua costa
Sudeste. A China Nacionalista compreende 14 ilhas desse arquipélago e mais 64 no Arquipélago de Penshu, ou
dos Pescadores. De lá chegou o grupo mais recente de imigrantes chineses em Santos - cerca de dez famílias que possuem lojas, um restaurante, uma
fábrica de gelo. São confucionistas.
O outro grupo de chineses, formado pelos que vieram da
China Continental (República Popular da China) e de Hong-Kong
(ilha com cerca de 80 quilômetros quadrados, colônia britânica na costa Sul da China), é bem mais antigo, e
dedicou-se principalmente ao ramo de pastelarias. Em sua maioria, são cristãos, e muitos fugiram da China Popular devido a perseguições políticas.
Os coreanos, por outro lado, estão no comércio de roupas, com lojas e butiques. Mas
entre eles encontramos o dr. Eu Won Lee, médico formado na Coréia, um dos introdutores, em São Paulo, da
Acupuntura e da Fitoterapia.
Santos possui pelo menos cinco restaurantes especializados em cozinha chinesa, e todos eles
dirigidos por imigrantes, além de um considerável número de pastelarias, do tipo que vende também esfihas, quibes e garapa, como é comum entre os
chineses. Elas se tornaram, aliás, um lugar dos mais procurados pelos que querem fazer um lanche rápido e barato.
Entre as lutas marciais chinesas, que também foram introduzidas pelos migrantes, Santos
possui o Kung-fu, ensinado na Academia Dragão Vermelho, na Ponta da Praia; o Taekwon-do, original da Coréia,
na Rua Martim Afonso; e o Tai-chi-chuan, praticado por um grupo pequeno, em salão particular.
Lee, o médico
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Lee, o médico
A Medicina Oriental apenas começa a ser conhecida e
divulgada no Brasil, onde ainda não é reconhecida oficialmente, como na França, nos
Estados Unidos e outros países ocidentais. Pois foi com a intenção de difundir a Medicina Oriental no Brasil que
o dr. Eu Won Lee, médico formado pela escola de Kyng Hee, na Coréia, resolveu
imigrar para São Paulo, há seis anos.
Aqui ele encontrou um campo praticamente inexplorado, mas, aos poucos, houve boa receptividade do povo para com
os métodos orientais de cura para doenças. Mais do que um simples modismo passageiro, a busca de meios naturais para o controle das funções do organismo
está transformando os hábitos dos brasileiros, que cada vez mais se interessam pela homeopatia e pelas práticas orientais, como a acupuntura, o do-in, a
fitoterapia.
Trazidas pelos imigrantes, essas ciências milenares do Oriente se ajustaram com certa facilidade ao caráter do
homem brasileiro. Segundo o dr. Lee, os santistas, por exemplo, são uma espécie de praticantes naturais do taoísmo (filosofia chinesa segundo a qual o
homem deve viver em perfeita harmonia com a natureza). "Nas capitais, a correria e a ganância predominam. Mas numa cidade como Santos, as pessoas sabem
dar importância ao prazer de tomar um solzinho pela manhã, aproveitar um dia de folga, um momento agradável da vida. No fundo, isso é simplesmente
taoísmo".
Essa opção pela natureza facilita a aceitação da Medicina Oriental, que emprega como meio terapêutico a
acupuntura e a fitoterapia, ciência aperfeiçoada no Oriente durante milênios. Portanto, para os brasileiros, pelo menos, a cura pelas ervas não é apenas
uma "coisa exótica, de chinês", mas uma alternativa natural.
Energia vital - Para poder exercer regularmente a sua profissão e também para aperfeiçoá-la, o dr. Lee
veio para Santos cursar a Faculdade de Medicina. Assim, teve meios de comparar os dois métodos, que não se excluem e chegam a completar-se. Mas são
completamente diferentes, nos princípios filosóficos, na fisiopatologia, na conduta terapêutica.
A Medicina Oriental baseia-se no vitalismo, que considera a ação da energia vital no corpo humano; já a Medicina
Ocidental é baseada no organismo. É mais mecânica, abre, corta, sutura.
Quanto à acupuntura, o dr. Lee esclarece que abrange tudo, mas é especialmente eficaz na cura das disfunções
orgânicas, quando não há grande comprometimento (lesão) do órgão. É aconselhável no caso de dores em geral, lombalgia, nevralgia, enxaqueca, reumatismo,
disfunções digestivas, cólicas, problemas circulatórios etc. Também os vícios de drogas, o tabagismo e o apetite exagerado têm algum tratamento na
acupuntura, sempre considerando o estado psicológico do doente, que poderá influir no tratamento.
Como imigrante, Lee vê o Brasil, principalmente Santos, como um lugar bom para morar. Aqui ele se casou com uma
colega de faculdade, a dra. Maria Aparecida Andrade Lee, e aqui teve seu primeiro filho. Pôde estudar e exercer sua profissão de médico oriental,
vencidas as primeiras restrições. Em São Paulo, ele fundou o Centro de Estudos de Medicina Oriental, onde dá cursos para médicos formados - atualmente
tem quase 50 alunos, da Capital e do Interior, que em dois anos podem estar aptos para aplicar os conhecimentos da acupuntura e fitoterapia.
Veja a parte [2] desta matéria
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