BORDADOS DA MADEIRA NOS MORROS DE SANTOS [6]
O artesanato santista e madeirense
No morro São Bento, em Santos, entrevistamos duas exímias bordadeiras. As irmãs Maria Júlia e Augusta
Fernandes, dedicadas à profissão que aprenderam desde os seis anos, assim como a maioria das ilhoas.
Com entusiasmo, elas esclareceram: "Os pontos ilhós, folha e ilhó grega da ilha da
Madeira são feitos do ponto cordonê; o ponto cheio - o principal deles - é executado a partir dos pontos folhas bastidos, granito e bastido. Do
ponto oficial e do arrendado é feito o crivo; do Richelieu, o caseado recortado; do pesponto, o areia; do corda, as bordadeiras dos Morros de Santos
executam o haste e o ponto-atrás. Do ponto sombra é feito o areia, que aparece no direito do bordado, e em alto-relevo no avesso. Do ponto francês,
confecciona-se a bainha aberta e o arremate. Do ponto Ana surge o escada. Da bainha filtrada vem o relotê. Os demais - como, escada, trevo de cinco
folhas, caseados, liso direito, de bico e tantas outras variações, continuam com a mesma identidade do bordado madeirense".
Ressaltaram que o ponto matiz, muito apreciado pelos brasileiros, é um ponto
achatadinho. Muito simples de ser executado, é preferido por ser mais fácil de passar a ferro. Os tipos de peças bordadas, em tecidos de linha,
percal e tergal, são em sua maioria jogos de cama, toalhas e caminhos de mesa; pano de bandeja, pano de lavabo; porta-garrafa; enxovais de bebê
(vira-manta), conjunto de pagão, babador, manta, jogos de berço e de carrinho, e lencinhos.
Todas as peças são executadas com criatividade e esmero pelas mãos hábeis das fadas
dos bordados dos morros de Santos.
O painel mostra os principais pontos dos bordados da Ilha da Madeira
Considerações oportunas
Os bordados dos morros de Santos já ultrapassaram os limites da cidade. Sua confecção
vem ocorrendo em outros municípios do Estado, como Carapicuíba e Pirajú (SP)
Encontram-se também nas tradicionais Feiras de Artesanato da praça da República, na
Capital de São Paulo e no interior do Estado. Há dez anos são vendidos na Feira dos Imigrantes, no estande de Portugal; no Pavilhão de Exposições do
Parque do Ibirapuera, e nas lojas de venda de artesanato da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades, Órgão do Governo do Estado de
São Paulo (Sutaco).
O desenvolvimento do projeto vem contando com apoios importantes e imprescindíveis,
que precisam ser destacados: o da Imprensa, especialmente da Editora de Artes do Jornal A Tribuna, divulgando sempre as atividades
realizadas; o da presidência do Ilha Porchat Clube, cedendo os salões daquela entidade para exposições; o da Secretaria de Estado da Promoção Social
e das Relações do Trabalho, concedendo verbas e assistência técnica.
Todos nós, envolvidos, procuramos dar o maior incentivo possível às produtoras para a
manutenção do nível elevado de qualidade, uma vez que elas se acham desestimuladas e sem um ponto fixo de venda, e infelizmente ainda presas aos
interesses comerciais dos intermediários. Apesar do nosso trabalho, esses atravessadores continuam atuando junto àquelas que ainda não estão
organizadas na União das Bordadeiras, por falta de recursos para a formação de novos núcleos.
Finalizando, cremos salientar que o projeto aqui tratado está em andamento. Trata-se,
portanto, de um processo dinâmico, podendo apresentar mudanças significativas nos tempos vindouros. Esperamos que a evolução das atividades possa
ser benéfica às bordadeiras madeirenses santistas. Temos a certeza de que haverá o justo reconhecimento do seu trabalho e o natural interesse do
Poder Público. E assim, conseguimos o tão almejado resgate dessa manifestação tradicional e popular de Portugal. Será uma conquista mais do que
merecida, pois os bordados desse projeto pesquisado no morro de São Bento apresentam os mesmos traços daqueles de tanta fama, trazidos da Ilha da
Madeira.
Chama a atenção de todos como pôde uma atividade de produção doméstica ser
transportada de um ponto tão distante - Arquipélago da Madeira - para um local determinado no litoral brasileiro - Morros de Santos -, adaptando-se
dentro da dinâmica econômica e sócio-cultural do novo "habitat".
Não demorou muito e os bordados típicos da Madeira desceram o morro...
...para exposições e vendas na Baixada, Capital e Interior
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