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Engenho São Jorge dos Erasmos: Prospecção Arqueológica, Histórica e industrial
Margarida Davina Andreatta (*)
[...]
3.3. MATERIAL COLETADO
Os vestígios arqueológicos recuperados no sítio São Jorge dos Erasmos procedem de
coleta sistemática, realizada em superfície e em toda a extensão do sítio.
Foram encontrados 1.734 testemunhos arqueológicos, e a primeira análise permitiu
elaborar um gráfico quantitativo de sua ocorrência (Figura 14):
Figura 14 - Gráfico quantitativo de material arqueológico coletado
lítico:
foram recuperadas lâminas de machado polidas, zoólito (peso de rede), artefato triangular polido com marcas e uso nas três extremidades
[4]; seixos batedores e um fragmento com gravações na superfície (Figura
15);
Figura 15 - Zoólito - peso de rede em diabásio
cerâmica:
recuperou-se uma expressiva quantidade de fragmentos de cerâmica, representados por: alças, bordas, bojos, cabos, asas e formas de pães-de-açúcar (Figura
16) e restos construtivos, como telhas e lajotas, associados aos fragmentos de cerâmica corrugada e com engobo;
Figura 16 - Forma de pão-de-açúcar, que se encontra no IPHAN, 9ª Coordenadoria de São
Paulo
louça:
os fragmentos recuperados, em sua maioria, são de louça branca dos tipos simples e decorados, que procedem do entulho localizado principalmente nos
setores B1, G, J e R, tratando-se provavelmente de restos provenientes de ocupações posteriores aos séculos XVI a XVIII e reconhecidos como restos
domésticos (Figura 17);
Figura 17 - Louça branca decorada
porcelana:
foram recuperados fragmentos de tipos de porcelana de tonalidade branca simples e decoração em relevo, além de fragmentos bicromados e policromados;
faiança:
os fragmentos de faiança encontrados foram identificados pelos padrões decorativos com base no critério classificatório adotado por Lima et al.
(1989, pp. 210-7), como segue:
- padrão "Borrão Azul": faiança fina fabricada na Inglaterra em diversos modelos, a
partir de 1835, com estampas em azul e aspecto borrado (Figura 18);
Figura 18 - Padrão "Borrão Azul" - fragmento
- padrão "Willow Pattern" ou dos "Pombinhos": faiança fina inglesa. Derivada
originalmente dos chineses e introduzida na Inglaterra entre 1810 e 1815. Foi produzida na Inglaterra até fins do século XIX;
- padrão "Blue" ou "Green Edge": faiança fina produzida na Inglaterra entre 1789 e
1830. Em 1800 foi exportada para a América do Norte. A decoração em tons azul e verde está limitada apenas às bordas dos vasilhames;
vidro:
embora em quantidade reduzida, foram encontrados fragmentos de fundos côncavos e gargalos de garrafas, pequenos frascos lisos e vidro lapidado (Figura
19);
Figura 19 - Gargalo de garrafa com tonalidade verde-escuro (século XIX)
metal:
dentre os testemunhos metálicos recuperados, foi possível identificar fragmentos e objetos relacionados com:
- material construtivo e ferramentas: cravo, ponteira, parafuso, martelo, cunha e
espátula;
- material de montaria: ferradura e argola;
- material para o fabrico do açúcar: fragmentos de tachas de cobre (Figura
20).
Figura 20 - Fragmento de tacha de cobre (superfície interna)
Praticamente a maior parte desse material encontra-se deteriorada pela oxidação, o que
dificulta a sua identificação.
4. ATIVIDADE LABORATORIAL
Todos os testemunhos foram registrados no "Inventário de Peças", onde consta o número,
procedência (setor e camada), identificação do coletor, descrição e data em que foi realizada a coleta. Cada peça arqueológica leva registrada numa
das faces a sigla "E.01 + o nº da categoria da mesma". A sigla E.01 foi utilizada para identificar todo o material proveniente da prospecção e será
utilizada nas futuras escavações.
A reconstituição de peças foi parcial devido à fragmentação dos artefatos encontrados.
As próximas etapas de estudo incluirão: a reconstituição das peças, por meio de desenhos e fotos, e a análise da cultura material, considerada
primordial para a compreensão da evolução da tecnologia, do trabalho manufatureiro e do cotidiano do engenho no decorrer dos séculos XVI ao XIX.
[...]
(*) Margarida Davina Andreatta é arqueóloga do
Museu Paulista-USP e coordenadora do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar Engenho São Jorge dos Erasmos - Santos - SP.
NOTA DE RODAPÉ
[4] Artefatos furtados do
sítio Engenho São Jorge dos Erasmos em 3 de dezembro de 1996. |