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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AMARGO AÇÚCAR
Atuação da USP nos Erasmos (2)

Um resumo da atuação da Universidade de São Paulo (USP) na área do Engenho dos Erasmos foi apresentado na Revista USP nº 41, de março a maio de 1999, págs. 28-47 - publicação da Coordenadoria de Comunicação Social da USP, na capital paulista:
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Imagens publicadas com a matéria

Engenho São Jorge dos Erasmos: Prospecção Arqueológica, Histórica e industrial

Margarida Davina Andreatta (*)

[...]

3 - DESENVOLVIMENTO DAS PESQUISAS

A prospecção arqueológica no sítio São Jorge dos Erasmos, desenvolvida entre as cotas 3 e 16 m, revelou as ruínas do engenho sobre uma rampa de colúvio com vistas para o Canal de São Jorge.

O sítio apresenta-se mal conservado em seu todo, perturbado por processos naturais e antrópicos. Dentre os processos naturais, destacam-se os intempéricos-erosivos, associados aos movimentos de massa, e dentre os antrópicos a ocupação parcial do entorno com moradias, escolas, oficina, terrenos loteados para a construção de conjuntos habitacionais, evidências de execução de serviços de terraplenagem e desvios de cursos d'água no passado. É importante salientar que as vertentes do arco da Caneleira, que envolve a área do sítio, apresentam-se hoje parcialmente recobertas pela floresta ombrófila densa, em estágio inicial de regeneração.

Visando a uma avaliação mais precisa sobre a situação do sítio, foi realizada pesquisa nos arquivos do IPHAN (9ª Coordenadoria Regional do Estado de São Paulo), para obtenção de informações sobre os trabalhos de prospecção e consolidação realizados na década de 1960, sob a coordenação do arquiteto Luís Saia, constatando-se que as ruínas sofreram degradação contínua e acelerada desde então. O diário de campo da época registra a decapagem de estruturas que hoje se encontram em ruínas, reforçando a hipótese de que há instabilidade na própria rampa de colúvio, comprometendo a integridade das estruturas sobre ela construídas.

Há indícios de que a movimentação do material rochoso da rampa se desenvolve na direção Noroeste e, possivelmente, foi acelerada pelos serviços de terraplenagem realizados no entorno do sítio em 1987.

Considerando a singularidade do sítio e as evidências encontradas no decorrer da prospecção (1996), o estado atual das ruínas e os riscos envolvidos com a instabilidade da rampa de colúvio, a Prefeitura Municipal de Santos elaborou uma proposta de medidas emergenciais visando à conservação e preservação do mesmo.

3.1. INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA

Para que as pesquisas de campo (prospecção) fossem devidamente registradas, foi realizado levantamento planialtimétrico com elaboração de planta baixa das estruturas evidenciadas, documentação fotográfica dos testemunhos encontrados no decorrer do processo de pesquisa, além das anotações em diário de campo (Figura 3).



Figura 3 (originariamente colorida, teve sua compreensão prejudicada
na impressão em preto-e-branco)

Com base no levantamento planialtimétrico anterior (SPHAN, 1960), o sítio arqueológico foi dividido em setores identificados pelas letras: A, B, B1, B2, C, D, E1, E2, F, G, H, I, J, L, M, N, O, P, Q, R, S e T, que representam aproximadamente 6.500 m² de área prospectada, abrangendo cerca de 1.265 m² de construção em "pedras" [3] do total de 51.320,53 m² de área de sítio. A delimitação dos setores facilitou o registro preciso dos testemunhos coletados em superfície e em intervenções feitas na área, como corte de verificação, sondagens e trincheiras, que propiciaram a evidenciação de estruturas e diferentes horizontes do solo (Figura 4).



Figura 4 (originariamente colorida, teve sua compreensão prejudicada
na impressão em preto-e-branco)

Após a limpeza superficial do solo verificaram-se divergências entre as estruturas observadas e as identificadas no levantamento realizado pelo SPHAN na década de 60 (Figura 5). Baseada na planta existente, a prospecção buscou evidenciar estruturas conhecidas que estavam encobertas por material coluvial. Durante esse trabalho, novas estruturas foram descobertas (Figura 6).



Figura 5 - Levantamento realizado pelo SPHAN (atual IPHAN) na década de 60,
sob coordenação do arquiteto Luís Saia


Figura 6 (originariamente colorida, teve sua compreensão
prejudicada na impressão em preto-e-branco)

Para determinar os limites do sítio arqueológico, foram realizadas sondagens a Leste e Oeste. Do lado Leste, evidenciou-se o caminho de acesso ao pavilhão coberto (Pavilhão Saia) calçado por pedras irregulares que pode ter servido como parâmetro para a construção de extensão do telhado na década de 1960 (SPHAN). A Oeste encontramos sinais evidentes de perturbação do solo em função de serviço de terraplenagem. Foi aberta trincheira (T2) até o matacão distante cerca de 17 m das ruínas, objetivando identificar a existência de outras estruturas.

Para comprovar a existência das estruturas constantes no levantamento do SPHAN sob o pavilhão coberto (setores E1 e E2), foi executada a trincheira T1, onde se evidenciou o alicerce de 1,30 m de largura na profundidade de 0,80 m (Figura 7). Essa estrutura segue até a casa da zeladoria no sentido longitudinal das ruínas, encontrando-se no mesmo eixo que as bases do pilar dos setores B, B1 e B2, sendo associada, preliminarmente, à estrutura original do engenho. Somente com a retirada da casa da zeladoria será possível determinar a extensão e a morfologia exata dessa estrutura.



Figura 7 - Trincheira 1 - Setor E1 - Detalhe da estrutura (Pavilhão Saia)

A trincheira (T2) permitiu evidenciar a estrutura com 1 m de largura e 0,60 m de profundidade, em sentido longitudinal em relação às ruínas até a cota 10, onde se encontra em camadas mais profundas. Em sua outra extremidade, entre as cotas 8 e 9, a estrutura é interrompida, coincidindo com um brusco desnível do terreno, de aproximadamente 0,50 m. Esse desnível pode estar associado aos serviços de terraplenagem realizados em 1987.

A estrutura encontrada consta no levantamento do Condephaat (1985), segundo o qual ela se estendia até encontrar o vértice Sul do setor H; a terraplenagem pode ter destruído a parte ausente no levantamento atual.

As estruturas (alicerce) evidenciadas nesta prospecção possibilitarão ampliar a área construída circundante do Engenho dos Erasmos. Na próxima fase das pesquisas, escavação, os setores serão quadriculados, subdivididos de acordo com a técnica aplicada a superfícies amplas a fim de identificar os locais da fábrica, da residência, da capela e de outras estruturas, estabelecer a circulação do açúcar e identificar as atividades econômicas e sociais do engenho.

[...]

(*) Margarida Davina Andreatta é arqueóloga do Museu Paulista-USP e coordenadora do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar Engenho São Jorge dos Erasmos - Santos - SP.

NOTA DE RODAPÉ

[3] Amostras de matéria-prima foram coletadas e identificadas pela geóloga Ângela Maria Gonçalves Frigério, como oriundas do local, a saber: granito embrichítico, inequigranular de cor rosa e bege, no equigranular (granito de Santos) de cor rósea e cinza, diabásio e quartzos, encontrados nas paredes e soleiras das ruínas do engenho e na confecção dos artefatos líticos.

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