TRENS: INOVAÇÃO NA SERRA – Antiga passagem dos trilhos na Serra do Mar dará lugar a correia para levar minério de Paranapiacaba a Cubatão
Foto: Antonio Milena/AE, publicada com a matéria, na página A1
INFRA-ESTRUTURA
Ferrovias ampliam investimentos
Renée Pereira
Dois dos projetos ferroviários mais ousados do Brasil começam a ganhar vida nos próximos meses: a correia transportadora da MRS na Serra
do Mar e o Ferroanel de São Paulo. Eles vão injetar mais de R$ 1,2 bilhão no setor e aumentar de forma significativa a capacidade do transporte ferroviário no Porto de Santos – responsável por 26% do comércio exterior brasileiro.
Só a correia transportadora elevará em 10 milhões de toneladas as cargas transportadas por ferrovias no País. Isso significa 12% do que é movimentado no terminal santista. A Ferrovia Norte-Sul e a
Transnordestina também prometem levar mais cargas pelos trilhos.
Em São Paulo, o empreendimento mais avançado é o da correia transportadora entre Paranapiacaba e Cubatão, no pátio da Cosipa. Depois de três anos, o Conselho Estadual de Meio Ambiente liberou a
licença prévia do projeto. A construção será feita sobre o traçado do antigo sistema funicular, substituído pela cremalheira.
"Esse projeto está na nossa cabeça há mais de cinco anos por causa das necessidades de expandir o atendimento na Baixada Santista. Nosso sistema
de cremalheira já estava quase todo tomado", diz o presidente da concessionária MRS, responsável pelo empreendimento, Júlio Fontana.
Ele explica que a construção da correia vai melhorar o custo de transporte para a Cosipa, que hoje ocupa 70% da capacidade da cremalheira, porque o ciclo do trem vai cair de seis para três dias. O
projeto, orçado em R$ 250 milhões, está na fase de escolha do consórcio que vai fornecer o equipamento e construir a obra. "A expectativa é iniciar a obra até o fim do ano e terminá-la em 22
meses", afirma Fontana.
A capacidade de transporte rumo ao Porto de Santos ganhará mais impulso com o desenvolvimento do tramo Norte do Ferroanel, também na área de concessão da MRS. Os estudos de viabilidade econômica e
social já estão prontos e serão entregues pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao governo federal na sexta-feira.
O modelo a ser aplicado deve ser o de Parceria Público-Privada (PPP). Hoje, a MRS encontra obstáculos para elevar o volume transportado porque opera em sistema de compartilhamento da malha
ferroviária com a CPTM (transporte de passageiros). A expectativa de investimento é de R$ 900 milhões.
Fontana esclarece que hoje os trens de carga só podem circular em períodos autorizados e sofrem restrições de peso e volume. O aumento da capacidade de transporte com a construção do Ferroanel pode
chegar a 30%.
Não por acaso, o Ferroanel foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O traçado do tramo Norte terá 65 km, de Itaquaquecetuba até Campo Limpo Paulista. Na sua área de influência
circulam mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB). |
NOVO CAMINHO PARA O MINÉRIO - Procedente de Minas, por ferrovia, será transportado por correia de Santo André até a Cosipa, em Cubatão
Infográfico/AE, publicado com a matéria, na página B4
INFRA-ESTRUTURA
Brasil terá 300 mil quilômetros de novos trilhos até 2010
Obras incluem Ferroanel de São Paulo, Transnordestina e Ferrovia Norte-Sul; BNDES projeta investimentos de R$ 12,5 bi
Renée Pereira
Os megaempreendimentos do setor ferroviário devem elevar em 2 mil km a malha ferroviária brasileira até 2010. Com isso, o País passará a contar com 30 mil km de novos trilhos.
Nessa expansão, estão incluídas as obras do Ferroanel de São Paulo, Transnordestina, Norte-Sul, além de alguns contornos de cidades e variantes para dar mais agilidade e eficiência ao sistema, afirma o diretor-executivo da Associação Nacional de
Transporte Ferroviário (ANTF), Rodrigo Vilaça.
Segundo ele, a sequência de obras tem um grande significado para o setor, que nos últimos anos viu sua malha encolher algumas centenas de quilômetros. "Mas ainda é muito pouco perto do que deveríamos ter", ressalta.
Na avaliação dele, o ideal seria o país contar com uma malha superior a 55 mil km. Além dos 2 mil km de expansão, o setor agora vai contar com a correia transportadora da MRS, que ampliará a capacidade do transporte ferroviário no Porto de Santos
e, consequentemente, do Brasil.
Hoje, apenas 26% do transporte é feito por meio das ferrovias, o que explica o caos vivido nos terminais marítimos brasileiros em época de safra. Todos os anos, o retrato é o mesmo: gigantes filas de caminhões
esperando para embarcar os produtos rumo ao exterior. Fato que eleva o chamado custo Brasil e reduz a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional.
TRANSFORMAÇÃO – Antigo sistema funicular, desativado, dará lugar a uma esteira para levar minério
Foto: Antonio Milena/AE, publicadas com a matéria, na página B4
Um dos projetos que devem desafogar os portos do Sul e Sudeste é a Ferrovia Norte-Sul, em construção pelo governo federal. O empreendimento, que ligará o Centro-Oeste ao Porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão, em
breve terá novidades. Segundo o presidente da Valec, Juquinha das Neves, responsável pelo projeto, o leilão de subconcessão de um trecho da ferrovia está previsto para ocorrer até o fim deste mês.
"A Valec e a ANTT (Associação Nacional de Transporte Terrestre) fizeram todas as correções recomendadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Portanto, não há mais por que esperar", diz o executivo. O leilão da
ferrovia foi adiado mais de três vezes no ano passado. Alguns dizem que o preço não teria atraído investidores na época.
O modelo de subconcessão da Norte-Sul foi a forma encontrada pela Valec para fazer avançar a ferrovia, projeto lançado pelo ex-presidente José Sarney, na década de 80. O governo cogitou fazer Parceria
Público-Privada (PPP), mas acabou optando pela subconcessão. Com o dinheiro arrecadado no leilão, a Valec pretende pagar empreiteiras contratadas para implantar a linha de 360 km entre Araguaína e Palmas, no Tocantins.
FUTURO – Sistema cremalheira amplia capacidade para contêineres
Foto: Antonio Milena/AE, publicadas com a matéria, na página B4
O projeto beneficiará nove Estados da região, desde o Maranhão até a Bahia, interligando os polos de produção agrícola, mineral e industrial do Nordeste. O investimento total da Transnordestina está estimado em
cerca de R$ 4,5 bilhões, envolvendo recursos da CSN, do BNDES, do Finor e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE).
Enquanto os megaprojetos não são concluídos, as concessionárias têm cuidado do que está nas suas mãos. Só neste ano, afirma Rodrigo Vilaça, as companhias vão investir R$ 2,4 bilhões em manutenção da via, treinamento
de pessoal, novas tecnologias e, principalmente, locomotivas e vagões para atender a uma demanda cada vez maior. A estimativa do BNDES é de que, até 2010, o sistema ferroviário receba cerca de R$ 12,5 bilhões em investimentos.
VILA INGLESA – Paranapiacaba terá terminal de transbordo de cargas
Foto: Antonio Milena/AE, publicadas com a matéria, na página B4 |
Itália, Japão e Coréia cobiçam trem-bala entre SP e Rio Leilão pode ser feito
até o fim do ano para que as obras sejam iniciadas em 2008
Depois de anos de esquecimento, o transporte ferroviário de passageiro de longa distância voltou ao centro das atenções. Com a crise aérea, o projeto do trem-bala entre São Paulo e
Rio ganhou a simpatia especialmente da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. O que significa meio caminho andado para que saia do papel.
Recentemente, a ministra esteve na Itália conversando com investidores para levar adiante o empreendimento. A empresa italiana Italplan já fez um estudo do trem-bala brasileiro em parceria com a Valec. Segundo o
presidente da Valec, Juquinha das Neves, o projeto teve o aval do Tribunal de Contas da União e agora está na Casa Civil.
O trem terá capacidade para 855 passageiros e irá da Estação da Luz, em São Paulo, até a Central do Brasil, no Rio. O tempo de viagem está previsto em 1 hora e 25 minutos e a passagem custará US$ 60 (R$ 118). Uma
viagem de carro ou ônibus dura em média cinco horas. De avião, são 45 minutos. O trem de alta velocidade custará em torno de US$ 9 bilhões.
Segundo Neves, japoneses e coreanos também já manifestaram interesse em participar da empreitada, que terá 403 km. "Será tudo privado. A intenção é fazer o leilão até o fim do ano para que as obras sejam iniciadas
em 2008. A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) já está conduzindo o processo", afirmou o presidente da Valec. Segundo ele, as conversas com o Ibama já estão avançadas para o licenciamento ambiental.
Em 2006, o mesmo trajeto era feito pelo Trem de Prata, desativado na década de 90. Símbolo de glamour, a composição levava oito horas e custava R$ 120 na cabine mais barata.
[R. P.]
GLAMOUR – Viagem de SP ao Rio no Trem de Prata demorava 8 horas
Foto: Mabel Feres/AE – 29/11/1998, publicada com a matéria, na página B4 |