Em
1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas
Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):
Pequeno histórico da Mayrink-Santos
Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá
Antonio Francisco Gaspar
[...]
3ª PARTE
XXIX - Excursões e piqueniques na linha Mayrink-Santos
Durante o período da construção desse ramal da Sorocabana rumo ao mar, 1930 a 1937,
havia de vez em quando uma excursão pela administração da estrada, em visita de inspeção aos serviços feitos, ou piqueniques organizados pelos
ferroviários, com permissão do sr. diretor.
Desses tão alegres passeios, dos quais eu pude registrar alguns, vou com saudades
relembrá-los:
Visita às obras da Mayrink-Santos: a diretoria da Sorocabana e convidados -
ponta dos trilhos, Aguassay, 8-7-1930
Imagem e legenda reproduzidas do livro
Domingo, 8 de julho de 1930
Visita às obras da Mayrink-Santos
São de vulto e extraordinário alcance as obras do ramal Mayrink-Santos, que a
Sorocabana vai atirando em procura do litoral.
Representa o coroamento da formidável realização que é a grande via férrea nascida da
semente plantada pelo povo de nossa terra.
Representam, também, a emancipação da Sorocabana, até aqui obrigada ao papel de
tributária da Inglesa, para cujos vagões carreava riquezas e para cujos cofres insaciáveis jogara tesouros a mancheias.
Vai extinguir-se o cativeiro da Sorocabana. Ela trará do Oeste, do lendário Oeste
Paulista, do Norte Paranaense e do longínquo Mato Grosso, os mil produtos da atividade que desbasta e civiliza os sertões e há de conduzi-los até
Santos, sem necessidade de ir depô-los aos pés da via férrea Inglesa, que já vai perdendo foros de soberania.
Pois bem. Foi para ver o que já de grandioso e notável o Governo Paulista realizou no
prolongamento Mayrink-Santos que, a convite do ilustre dr. Gaspar Ricardo, diretor da Sorocabana, partiu desta cidade, em comboio especial, domingo
último, uma comitiva composta dos srs. João Machado de Araújo, dr. José J. F. de Barros, dr. Paiva Meira, dr. Numa Carvalho, dr. Bráulio Guedes, dr.
Nunan e exma. esposa, sras. Laurita, Maria Amélia, Bráulio Guedes, Numa Carvalho etc. etc., srs. João Cancio Pereira, José Domingues de Morais,
Fernando F. Barros.
Da esquerda para a direita: dr. Bráulio Guedes; dr. Gaspar Ricardo Júnior; dr. Numa
Carvalho;
sr. João Machado de Araújo, prefeito de Sorocaba; dr. Mário Brito e sr. João Cancio
Pereira
Imagem e legenda reproduzidas do livro
Em Mayrink incorporaram-se à comitiva os srs. dr. Mário Souto, chefe da Construção;
dr. Sebastião Ferraz, ajudante de chefe; dr. Orozimbo Soares, chefe da seção da linha Mayrink-Santos; dr. Ferreira Santos, ajudante; dr. Carlos
Veiga e senhora e dr. B. Câmara e sra.
A viagem correu normalmente. Chegados à ponta dos trilhos, muito além de Cangüera,
estação inaugurada em janeiro próximo passado pelo dr. Júlio Prestes, fora servido o lauto almoço, oferecido à comitiva, num carro-restaurante,
lindamente ornamentado.
À sobremesa, em rápido improviso, o dr. João Machado de Araújo, prefeito municipal, em
nome dos presentes, disse que destes recebera a grata incumbência de saudar o exmo. sr. dr. Gaspar Júnior e exma. senhora, que os vinham cumulando
de gentilezas, e que o fazia com satisfação de quem cumpre um dever imperioso, de quem rende uma homenagem merecida e justa; que, ao lado desta
saudação, trazia os agradecimentos de todos, pela cordialidade do convite e belo passeio, que o exmo. diretor da estrada vinha proporcionando, o que
permitia que contemplassem ao lado os trabalhos grandiosos da engenharia brasileira, sob a orientação do mestre abalizado e provecto que era o dr.
Gaspar Ricardo. Terminou s.s. fazendo votos pela felicidade pessoal do dr. Ricardo Júnior e de sua exma. família.
Levantou-se em seguida sua excia., que agradeceu com brilhantes palavras a saudação
que fora feita e a presença dos amigos que haviam aquiescido ao seu convite, dando-lhe o prazer da convivência de algumas horas.
Terminando o almoço, os convidados tomaram vários automóveis, postos à disposição.
Tomaram lugar no primeiro carro o dr. Gaspar Júnior, sr. João Machado e sra. e o sr. João Cancio.
Seguiram todos os outros itinerantes pelo leito da linha, já pronto para receber
trilhos, e visitaram os primeiros três túneis em construção, tendo passado através de um deles. Constataram todos a grandiosidade e vulto das obras,
que atestam a alta competência dos que idearam e dirigem e o patriotismo do governo que as concebeu.
Terá assim o Estado de São Paulo, dentro de pouco tempo, "mais um pulmão para
respirar", na frase feliz do dr. Júlio Prestes, ao inaugurar a estação de Cangüera.
Nas proximidades dos túneis visitados, na Serra do Chiqueiro, no acampamento do sr.
José Giorgi, foi oferecido um lanche aos excursionistas - doces, salgados, bebidas finas e várias, cigarros etc.
De retorno, no acampamento do dr. B. Câmara, foram todos recebidos com a mesma
cavalheiresca cortesia e igualmente servidos de doces, café etc.
Pelas vinte e duas horas, chegava a comitiva a esta cidade, de volta da admirável
excursão, que o cavalheirismo do dr. Gaspar lhes concedera, e cada vez mais cativos todos pelo trato ameno, atencioso e delicado de s. excia. e de
d. Laurita, sua exma. esposa, incansável em distribuir amabilidades.
Sr. Antônio Francisco Gaspar; João Machado de Araújo, prefeito de Sorocaba
e sr. Bráulio Guedes (da esquerda para a direita) em 8-7-1930
Imagem e legenda reproduzidas do livro
Antônio Francisco Gaspar, representante de Nossa Estrada e autor do livro
Histórico do Início, Construção da Estrada de Ferro Sorocabana, a convite do exmo. dr. Gaspar Ricardo Júnior, também esteve nessa memorável
excursão, visitando os trabalhos de construção da linha Mayrink-Santos, excursão essa levada a efeito no domingo, 8 de junho de 1930, entre Sorocaba
até os três túneis a cargo do saudoso empreiteiro sr. José Giorgi e vice-versa.
No sábado, 13 de janeiro de 1934, eu estava em Rio dos Campos instalando um aparelho
telegráfico, num cômodo de uma casa de madeira onde residia o dr. Argeu Pinto Dias, que foi um dos decanos da Mayrink-Santos.
A ponta dos trilhos já tinha chegado até esse local e estava sendo construída a ponte
nº 5, que ia ter 30 metros de altura sobre o dito Rio dos Campos.
O dr. Argeu fiscalizava de 4 em 4 horas essa grandiosa obra com carinho e apuro, pois
sua responsabilidade nessa construção era grande. Certa noite eu desci com o dr. Argeu ao fundo de uma das enormes bases dessa ponte, cujos pilares
ainda estavam a 3 metros abaixo do nível do chão. Essa ponte ia ligar duas montanhas, por isso é que ia ser mui alta e curta.
No domingo, 14, ficou concluída a instalação do aparelho telegráfico e um telefone às
12 horas.
Às 13 horas chegou de São Paulo um trem especial de excursionistas do escritório da
Sorocabana, que visitavam a linha Mayrink-Santos em piquenique, porém traziam um carro-restaurante. Dirigia a cozinha o sr. Ângelo de Felipe.
Após descerem todos os viajantes que lotavam o trem, procurei entre os excursionistas
se havia um telegrafista. Apareceu o sr. José Ribeiro da Silva. Foi experimentado o aparelho telegráfico, o qual funcionava bem. Almocei no
carro-restaurante. Ótimas iguarias.
Às 16 horas, o sr. José Ribeiro pediu pelo telégrafo licença para o trem especial.
Dúvidas (hoje Engenheiro Marcillac) concedeu com cuidado essa licença. E o trem partiu com licença pelo telégrafo. Pernoitei no vagão da Turma
Telegráfica.
Visita às obras da Mayrink-Santos - ponta dos trilhos, Aguassay, 8-7-1930
Imagem e legenda reproduzidas do livro
Piquenique na linha Mayrink-Santos
Pela iniciativa dos srs. Analcacis Simões, João Fogaça, Pergentino Nascimento e Elias
Sodré, realizou-se no dia 15 de novembro de 1936 um convescote que, saindo de Mayrink, teve o seu ponto final em Rio dos Campos, na Mayrink-Santos.
A comitiva levada em 7 carros, sendo dois de São Roque, um de Sorocaba e quatro de
Mayrink, saiu às 7 horas da manhã, com a locomotiva toda enfeitada, levando na frente o escudo da República, ladeado pelas bandeiras paulista e
brasileira, para, numa arrancada, levar-nos até Rio dos Campos.
Batemos uma chapa fotográfica nesse momento. Todos queriam ser fotografados.
Ouviu-se um tiro de canhão (num carro ia um canhãozinho). Rojões estrugem no ar e o
trem partiu levando mais de 600 pessoas, uma banda de música, um jazz, um chorinho e as crianças escolares, filhas de empregados da estrada,
acompanhadas do diretor e professoras, fazendo paradas em todas as estações por onde passou para receber mais passageiros. Foi um piquenique de
arromba!
O regresso verificou-se às 18 horas, sempre com grande entusiasmo, tendo o sr.
Analcacis Simões discursado ao pessoal, expressando-se em palavras de agradecimento ao sr. dr. Mário Souto, digno diretor, pela concessão do trem
especial, facilitando assim tão agradável distração aos funcionários que tomaram parte no convescote.
A excursão esteve esplêndida e divertida, bem dirigida e muito animada. A única nota
destoante foi a garoa que caiu quase que todo o dia e que não nos permitiu aproveitar nenhuma das fotografias que de Rio dos Campos tentamos trazer.
Muitas excursões e piqueniques houve na Mayrink-Santos, conforme ia sendo avançada a
ponta dos trilhos em demanda à Serra. Seria longo relatá-los todos. Ficamos por aqui com estas simples anotações.
Saudosas recordações da construção da linha Mayrink-Santos, sinto hoje ao reler esta
colaboração.
[...]
|