Em
1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas
Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):
Pequeno histórico da Mayrink-Santos
Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá
Antonio Francisco Gaspar
[...]
2ª PARTE - ESTUDOS E CONSTRUÇÃO
VII - Ramal de Mayrink a Santos
Tendo sido aprovada a tomada de contas da Southern São Paulo Railway, relativa ao 2º
semestre de 1926, foi assinada em São Paulo, no palácio do Governo, a escritura de compromisso de compra da parte do Estado de São Paulo, ad
referendum do Congresso do Estado, da Estrada de Ferro Southern.
Representando a vendedora compareceu o dr. Thomas Daniel Hamilton, e por parte do
Estado compareceram o dr. Júlio Prestes, presidente do Estado. O preço da compra foi de 600.000 libras esterlinas, pagáveis em apólices da dívida
pública do Estado, resgatáveis ao mar dentro do prazo de 30 anos, com juros de 6%, pagáveis semestralmente com amortização anual, ao tipo, porém,
nunca superior a 90.
Passando assim todo o acervo dessa estrada para a Sorocabana, foi feito novo estudo no
planalto e na serra, uma vez que ela já podia entrar em Santos.
Com os trabalhos de reconhecimento e a exploração, e com os estudos de escritório,
foram despendidos 329.299$116 réis, até fins de 1927.
Os dois pontos extremos desse ramal da Sorocabana ao litoral, porto de Santos, foram
escolhidos e designados serem Mayrink e Samaritá.
Em 1928, foi atacado o serviço de confecção de cortes, aterros, túneis, viadutos e
caminhos em toda a serra e o planalto, em todas as direções desse extenso ramal.
Em virtude da lei nº 2.208 de 23 de novembro de 1927 e pelo decreto nº 4.324 de 23 de
dezembro desse mesmo ano, o dr. Júlio Prestes ordenou definitivamente ser incorporada a antiga Southern Railway à Sorocabana, com a denominação de
Linha do Juquiá. Ficou assim explicada a razão de ser escolhido o lugarejo - Samaritá - como ponto final da linha que estava sendo construída,
aproveitando-se o leito da Southern do quilômetro 19 e dali até o cais de Santos e assim a Sorocabana entrava em Santos, como era seu desejo.
Depois de tantos anos de projetos e estudos, pôde desta forma chegar ao litoral Sul a
linha Sorocabana, fundada pelo visionário Luís Matheus Maylasky.
Estando autorizado esse grandioso empreendimento, o eminente engenheiro dr. Gaspar
Ricardo Júnior, diretor da Sorocabana, designou que uma expedição de reconhecimento sob a chefia do engenheiro ajudante dr. Sebastião Ferraz, com
recomendação especial, estabelecer dentro de medidas econômicas, não desviar o traçado estudado em 1892 pelo dr. Carlos Schmit e os estudos mais
recentes, encurtando tanto quanto pudesse. O novo reconhecimento foi executado com toda a precisão da engenharia e, depois de um mês, a expedição
anotou 121 quilômetros entre Mayrink e a garganta do Cubatão.
Desse local até Samaritá foram reconhecidos mais 40 quilômetros. O traçado de simples
aderência: 2%, e o raio mínimo das curvas: 245,62 metros.
Duas turmas incumbiram-se desses trabalhos na serra. Uma partiu de Samaritá ao alto da
serra e a outra, descendo ao encontro da primeira. Esse espinhoso e árduo levantamento do traçado, cujas linhas gerais foram planejadas pelo
engenheiro Alvimar de Magalhães Castro, que no fim de 12 meses de penosos e diligentes trabalhos, lutando contra toda a sorte de dificuldades, pôde
dar por concluídos esses seus trabalhos na serra.
Depois desses urgentes novos estudos e dispostas as coisas, as turmas tinham
conseguido terminar esse tão espinhoso trabalho. Nessa incumbência os srs. engenheiros e pessoal da exploração tiveram de enfrentar os rigores do
tempo, da malária, abrir caminhos e picadas, mosquitos, chuvas, cerrações, trovoadas etc., etc. Foi uma travessia rigorosa essa da Mayrink a Santos.
Estando encetado no mês de junho de 1928 o estudo Mayrink a Samaritá - quilômetro 19
da linha para Juquiá -, os estudos deram até ali 135 quilômetros e 364 metros e com os 19 até Santos perfazem 154, de Mayrink a Santos.
Os srs. engenheiros cumpriram as ordens que lhes foram dadas pelos seus superiores,
encurtando o "quanto pudessem" os antigos traçados.
O engenheiro chefe da 5ª divisão da Sorocabana, dr. Mário Salles Souto, dizia em seu
relatório: "A 24 de julho de 1927, recebemos diretamente dessa diretoria a notícia de que o governo do Estado, poucos
dias antes empossado, empenhava-se vivamente em levar avante a construção do prolongamento de Mayrink até Santos. Recebendo, assim, incumbência de
tal magnitude pela realização de obra tão patriótica, e o apelo que bondosamente vinha de nos dispensar o ilustre engenheiro Gaspar Ricardo Júnior,
confiando-nos a tarefa de dirigir os trabalhos, aprovando o nosso programa de ação e, finalmente, a certeza, felizmente nunca desmentida, de eficaz
colaboração de todos os nossos auxiliares.
"E, graças a isso, se poderá constar que foram ótimos os resultados já alcançados nos
primeiros dez meses de trabalho. E assim deveria ser. Com o indispensável apoio do chefe e com a permanente coadjuvação dos auxiliares, pusemos mãos
à obra, concentrando nos trabalhos da Linha Mayrink a Santos a nossa melhor atenção, e julgamos, por isso, ter cumprido bem o nosso esforço e dever,
concorrendo com a nossa diligência e dedicação para a realização dessa obra verdadeiramente notável, em boa hora empreendida pelo exmo. sr. dr.
Júlio Prestes, dd. presidente do Estado de São Paulo".
Toda a extensão desse grandioso projeto foi dividida em trechos com as denominações
seguintes, no planalto: P.1 a P.22, e na serra: S.1 a S.23. Foram os seguintes os empreiteiros:
P.1 - Administração - Alfredo Nunes de Oliveira
P.2, 3 e 4 - José Giorgi
P.5 - Cesar Contrucci
P.6 - Bucchianeri & Berti
P.7 - Barreto, Oliveira & Cia.
P.8 - Benedito Duarte Passos
P.9 - Monteiro & Aranha
P.10 - Augusto Ramos
P.11 - Arnaldo Motta
P.12 - Caio Luiz Pereira de Souza
P.13 - Nelson Augusto de Melo & Cia. Ltda.
P.14 - Mário Peixoto Gomide e Luiz Antonio Marioza
P.15 - Raul Cabral & Cia.
P.16 - Paulo Meirelles Reis, Nelson Resende e F.F. Travasso
P.17 - Mário Whateley
P.18 - Álvaro A. Barroso
P.19 - Antonio Nogueira Penido
P.20 - João Batista da Costa Pinto e Francisco de Assis C. P.
P.21 - Leão Ribeiro & Cia.
P.22 - Domingos Nolasco de Almeida e Antonio Pompeu Camargo
S.1 - Administração direta da Estrada
S.2 - Empresa Velloso
S.3 - Gracho, Portela Passos & Cia. Ltda.
S.4 - Sancho Aguiar Botto de Barros e Francisco de Azevedo
S.5 - Oscar de Paula Bernardes
S.6 - Geraldo Resende Martins
S.7 - Sociedade Com. e Construtora Limitada
S.8 - José Dantas
S.9 - Firmo Dutra & Cia. Ltda.
S.10 - Matheus Martins Noronha
S.11 - Adhemar Rodrigues
S.12 - Alfredo Dolabela Portela
S.13 - A. Costa Pires
S.14 - Antonio Pádua Bittencourt e Pedro Lessa Spver
S.15 - Abel Resende Costa
S.16 - Companhia Construtora de Santos
S.17 - Companhia Geral de Obras e Construções
S.18 - Nestor de Araújo Góes
S.19 - Soares & Souza
S.20 - Paraíba, Fabron & Cia.
S.21 - Mário Castilhos do Espírito Santo
S.22 - Fanor Cumplido
S.23 - Athos de Lemos Rache.
Os Ps eram a partir de Mayrink até Rio dos Campos e os Ss começavam de Samaritá até
Rio dos Campos. Os túneis foram designados em grupos. Essa solução foi bem acertada. Como os trabalhos de perfuração de túneis, de natureza toda
especial, exigia pessoal habilitado e aparelhamento grande e custoso, deveria naturalmente ser entregue a um limitado número de empreiteiros. As
propostas foram oito e quatro firmas é que se responsabilizaram pela confecção dos túneis, a saber:
1º Grupo - A Empresa Construtora Gruen & Bilfinger Ltda.: do túnel 1 ao túnel 13,
entre as estacas extremas 326 e 192+8 da locação, cujo estaqueamento começa na garganta do Pai Mathias;
2º Grupo - A Companhia Construtora de Santos: do túnel 14 ao túnel 24, entre as
estacas extremas 158+10,00 da locação, cujo 0 está na garganta do Pai Mathias e 393+6,00 da locação, cujo estaqueamento tem a mesma origem;
3º Grupo - A Companhia Geral de Construções S/A: do túnel 25 ao túnel 28, entre as
estacas extremas 503+10 do projeto, cujo estaqueamento tem origem na garganta do Pai Mathias e 655 do projeto, cujo estaqueamento tem início no
mesmo ponto; e Aditamento ao 3º Grupo: Túnel 29 situado entre as estacas extremas 2.864+10 e 2.840 da locação, ambas com o estaqueamento tendo
início em Mayrink, e finalmente:
4º Grupo - A Empresa José Giorgi: do túnel 30 ao túnel 32, entre as estacas extremas
2.372 e 2.225 da locação, ambas com o estaqueamento tendo início em Mayrink.
Dr. Gaspar Ricardo Júnior, diretor da E.F. Sorocabana 1929-1934
Imagem e legenda reproduzidas do livro
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