Cabos de aço puxavam os trens da Inglesa
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
Engenhosos caminhos de subir e descer a serra - A cultura do café conquistou
São Paulo através do vale do Paraíba, vinda da Baixada Fluminense. E as estradas de ferro, construídas a partir da segunda metade do século XIX,
substituíram o antigo e precário sistema de transportes, incapaz de atender às crescentes necessidades da economia paulista.
Um viajante alemão notou, em 1860, que era impossível plantar café além de Rio Claro,
pois a distância a vencer era muito grande. Cinco anos antes já se calculava que 500.000 arrobas de gêneros exportáveis permaneciam no lugar de
produção devido ao alto custo do transporte.
Em São Paulo, a implantação dos caminhos de ferro foi, em grande parte, um
investimento dos próprios cafeicultores. Por isso as ferrovias são estradas do café, orientadas pela localização das lavouras e pelos roteiros que
levavam ao porto de embarque, em direção ao mercado exterior.
Quando o trabalho escravo começou a ser cada vez mais contestado, não só do ponto de
vista moral como pelo viés da economia, os produtores de café desenvolveram ações de apoio a uma política de incentivo à imigração.
Mesmo antes da abolição da escravatura, em 1888, uma parcela importante da mão-de-obra
das fazendas paulistas de café era constituída de trabalhadores livres vindos da Europa.
A necessidade de braços para a lavoura selou a solidariedade entre as empresas
ferroviárias e os cafeicultores. Desde 1882, os imigrantes recebiam passagens gratuitas de trem que facilitavam seu deslocamento para as zonas de
produção.
Nos patamares, área de manobra
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
O sistema funicular adotado pela São Paulo Railway na construção da Inglesa
ajudava os trens a vencer a Serra do Mar através de uma estrada com pouco menos de 11 quilômetros. Tanto na primeira linha, inaugurada em 1867,
quanto na segunda, que começou a funcionar em 1900, aproveitavam o contraforte do rio Mogi.
Potente máquina a vapor para as manobras ferroviárias nos patamares
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
Na serra, a estrada estava dividida em planos inclinados entremeados por patamares
para manobras e transposição de trens. Em cada patamar, potentes máquinas a vapor alimentadas com carvão puxavam os conjuntos de trens por meio de
cabos de aço.
Uma locobreque
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
Para diminuir o consumo de energia das máquinas, os cabos eram também engatados nas
composições que desciam a serra, à moda de contrapesos. Se não tivessem carga suficiente, juntavam-se aos trens vagões cheios d'água, para fazer
lastro.
Nos planos inclinados, locomotivas especiais conhecidas como locobreques faziam o
trabalho pesado de comboiar os trens, divididos em pequenos conjuntos de vagões. As locomotivas normais que faziam os percursos de Jundiaí a
Paranapiacaba e de Santos até o sopé da montanha jamais cruzavam a Serra do Mar.
A locobreque, fazendo o trabalho pesado, na serra
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
A idéia de substituir o sistema funicular surgiu por volta de 1958, quando a ferrovia
já quase não dava conta da carga entre o planalto e o litoral. As obras foram concluídas em 1974. O novo sistema, onde toda a força para levar serra
acima ou para brecar os trens nas encostas era feita pelas próprias locomotivas, já era utilizado na Europa.
Cremalheira: um terceiro trilho dentado
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
Além das rodas normais, as máquinas possuíam uma roda dentada que se encaixava sobre a
cremalheira: um terceiro trilho, também dentado. Na serra, essas rodas desciam e engrenavam na cremalheira. No litoral e no planalto, as locomotivas
funcionavam de modo tradicional, com a terceira roda levantada.
O sistema praticamente dobrou a capacidade de operação da ferrovia, reduzindo os
custos e o tempo de percurso.
Cremalheira: um terceiro trilho dentado
Foto: Acervo RFFSA/SP, publicada com o texto
Para construir a estrada de ferro de Mairinque a Santos, a Sorocabana optou por um
sistema em que a força de tração das locomotivas era exercida diretamente sobre os trilhos. Por isso, o leito da estrada tem inclinações muito
suaves e o percurso para transpor a serra tem quase quarenta quilômetros. A estrada proporciona uma das mais deslumbrantes visões da Serra do Mar e
da Mata Atlântica; foi construída a meia encosta, com 31 túneis, muitos viadutos e muros de arrimo e um bom sistema de escoamento de águas. Apesar
da suavidade com que vai galgando as escarpas da serra, muitas vezes o peso do trem faz com que as rodas da locomotiva derrapem. Os maquinistas, até
hoje, acionam então um dispositivo que lança areia nos trilhos, para aumentar o atrito e colocar o trem de novo em movimento.
Sistema joga areia sobre os trilhos, para colocar o trem em movimento
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