POUSO DE PARANAPIACABA - Assinala o início da descida.
Colocado a cavaleiro sobre o Vale do Rio das Pedras, desfruta excepcional vista da
Serra
3.1.4.3.
Os monumentos da Serra
Em 1922, Washington Luís, então presidente do Estado,
entregava ao público os "ranchos" do Caminho do Mar.
Essas obras têm significado particular na história da arquitetura paulista, razão por
que mereciam cuidadosos trabalhos de restauro e conservação, evitando-se reformas e adaptações que desvirtuem sua finalidade original.
A própria estrada, por ser "a primeira estrada de rodagem brasileira revestida com
concreto", como pode ser lido numa placa afixada no pontilhão existente na raiz da serra e pelas inúmeras ligações que tem o "Caminho do Mar" com a
história de São Paulo, merece ser preservada.
Cultor de nossa história, Washington Luís quis dotar a estrada de monumentos que
assinalassem os diversos momentos da vida do Caminho do Mar e, com isso, perpetuar sua história.
O grande respeito pela obra pública, demonstrado na preocupação com sua qualidade
arquitetônica, fazia que as obras sempre tivessem execução cuidada. Entregou diversas obras a Victor Dubugras, entre elas esses monumentos da Serra.
Implantados com admirável senso de paisagem, enquadram-se na experiência do arquiteto em fazer uma "arquitetura tradicional brasileira", a qual
tinha um caráter de pitoresca elegância e possuía o cunho de sua personalidade.
De todos os monumentos, a vista é deslumbrante e marcam pontos de oportuna pausa para
os automóveis do início do século, com fácil acesso às nascentes de águas.
Essas obras revelam apurada técnica construtiva, uma constante em toda obra de
Dubugras, onde se revela inovador incansável. No uso do granito, de grossa granulação, revelou grande maestria. A pedra tem aparelho primoroso. Usou
com freqüência ensilharia portuguesa, chegando mesmo esse trabalho, em alguns pontos, a ter inegável sentido escultural.
Hoje, castigada pela severidade das intempéries da Serra, a pedra apresenta cor
ricamente variegada, fato que contribuiu para assimilação dos monumentos à paisagem. Um elemento usado com grande propriedade é o azulejo, obra de
Wasth Rodrigues, assíduo colaborador de Victor Dubugras e estudioso da arte tradicional brasileira. Os azulejos são verdadeiras aulas de história. O
conjunto dos monumentos da serra constitui o primeiro equipamento turístico da era rodoviária no Brasil.
RANCHO DA MAIORIDADE - Interior, mostrando escada de acesso ao pavimento superior.
Vale a pena notar o primoroso acabamento em granito e azulejo
POUSO DE PARANAPIACABA
O início da descida da serra é assinalado pelo Pouso de Paranapiacaba. Sua implantação
é tal que, de suas varandas, tem-se uma excepcional vista da paisagem. Na parte inferior, voltada para a serra, uma arcada de pedra seria um lugar
de onde se poderia gozar a vista. O Departamento de Estradas de Rodagem, todavia, fechou os vãos da arcada com tijolo, para aí fazer depósito de
materiais.
Parece ter sido intenção do arquiteto unir o monumento à paisagem de forma mais
íntima, possibilitando o acesso à serra com escadas de pedra na meia encosta. Transparece a intenção de permitir a utilização da serra para reuniões
ao ar livre.
É fora de dúvida que esse "rancho" poderia ser um dos pontos de grande atração para o
turismo em São Paulo. Cumpre resguardá-lo de iniciativas que desvirtuem sua finalidade, principalmente quando anda em moda transformar toda casa
velha em museu.
Como "pouso", deveria ter refeições e bebidas a oferecer aos turistas: nos dias
ensolarados, seu salão, suas varandas, sua arcada e os patamares da serra seriam utilizáveis em condições ideais, ao passo que, para os dias de
neblina ou à noite, o salão central, fechado, com sua lareira, seria o lugar indicado.
No pátio fronteiro desse monumento há um painel de azulejos ostentando um mapa
rodoviário de São Paulo. Um dos primeiros, se não o primeiro que surgiu na era do rodoviarismo. Nele figuram estradas que não estavam ainda abertas:
é sem dúvida obra de quem confia no futuro e representa aquele momento tão significativo na história das estradas paulistas.
Nesse monumento, seu nome se acha gravado bem à frente, na face voltada ao planalto. A
denominação, escolhida por Washington Luís, não deve ter sido acidental: segundo Alfredo Moreira Pinto, a palavra Paranapiacaba se decompõe nos
seguintes vocábulos: PARANÁ mar, APIAC ver e CABA lugar, sítio. A tradução literal da palavra é, portanto, LUGAR DE VER O MAR ou MIRAMAR.
Na antiga trilha tupiniquim, assinalava o ponto onde o mar aparecia pela primeira vez
à vista do viajante vindo do planalto.
O Pouso de Paranapiacaba, por sua vez, foi erigido exatamente no local onde o viajante
vindo de São Paulo descortina o mar.
Essa situação privilegiada não deixou de sensibilizar intelectuais da época: em 1922,
Oswald de Andrade, acompanhado de outros integrantes do movimento modernista, costumava dirigir-se ao recém-construído Pouso de Paranapiacaba em seu
cadillac. Ali, nas noites enluaradas, os integrantes do grupo recitavam suas poesias tendo a serra por cenário.
RUINAS DE POUSO
Pouco abaixo do Pouso de Paranapiacaba (cerca de 100 m) ficam umas ruínas que, pelas
características, parecem ter sido de um pouso semelhante aos demais e do qual faltam informações precisas.
BELVEDERE CIRCULAR DO KM 45
No KM 45 encontra-se um belvedere circular de construção mais simples e, nem por isso,
de menor qualidade arquitetônica.
Dele, pode-se ter boa visão da estrada. É o primeiro ponto de cruzamento da Calçada do
Lorena com o Caminho do Mar.
RANCHO DA MAIORIDADE - Evoca a construção da estrada da Maioridade,
percorrida por D. Pedro II e Família Imperial em 1842.
Essa viagem é retratada na barra de azulejo que envolve o monumento
RANCHO DA MAIORIDADE
Este pouso evoca a construção da Estrada da Maioridade e a visita da Família Real em
1846.
Situado em acentuada curva, dele se tem insuperável vista para o Cubatão, dispondo
inclusive de uma derivação da pista para maior facilidade de acostamento. Bem ao centro estão as armas do Império, com seu escudo e esfera armilar.
Esse símbolo vem do tempo de D. Manoel e assinala a era dos Descobrimentos.
Depois do período colonial, no Brasil, foi fixado como símbolo nacional da
Independência. Uma barra de azulejo ladeia a esfera armilar; de um lado mostra a viagem que D. Pedro II e comitiva fizeram em 1846; de outro,
figuras políticas da época.
Esses azulejos de Wasth Rodrigues foram, em 1965, parcialmente arrancados a marretadas
e em parte substituídos por outros, de execução bisonha. Em outubro de 1967, outra vez, eram arrancados e substituídos. Pudemos fotografá-los antes
dessas infelizes reformas depreciadoras do monumento.
No alpendre escapou de "reforma" um painel de azulejo com primorosa cercadura que
mostra vista de Itanhaém, na qual estão as igrejas históricas daquela cidade.
Na Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo existe uma maqueta original
deste pouso.
PADRÃO DO LORENA
Como conhecedor de nossa história e sabendo da existência do monumento erigido em
homenagem a Lorena em 1792 e descrito por Kidder, Washington Luís, em 1922, passou vários dias na Serra procurando localizá-lo. Certo dia, partindo
de um dos pousos em construção, em companhia de Antonio Prado Júnior, Bento Canabarro e trabalhadores, por "um caminho de pouca largura, calçado de
pedras irregulares, que subia pela encosta em linha reta até o alto, e todo fechado de mato, encontraram uma pedra, com inscrição, gravada à moda
antiga, e que se referia à estrada e ao governador Conde de Sarzedas. A pedra foi aplicada ao dito pouso, lá se acha".
É o que conta um documento assinado por Wasth Rodrigues existente no IPHAN. Na
verdade, foram encontradas duas pedras, a primeira e a quarta; as outras duas talvez ainda estejam na Serra à espera de quem as descubra.
Esse monumento foi levantado no ponto em que o Caminho do Mar corta a antiga Calçada
do Lorena. No intradorso do arco central pode-se ver um medalhão de azulejos com o retrato de Lorena.
PONTILHÃO DA RAIZ DA SERRA
Na base da serra, um pontilhão contém duas placas referentes à pavimentação em
concreto concluída em 1926. Próximo, existia a singela Capela São Lázaro, onde eram realizadas, em outras épocas, festas populares. Havia, próximo,
um cemitério, removido com a construção da refinaria - a qual, igualmente, acabou por destruir a capela.
CRUZEIRO QUINHENTISTA
Erigido no ponto em que o Caminho do Mar se encontra com o Caminho do Padre José, o
cruzeiro de granito evoca a primeira fase do caminho. No corpo central do monumento, no pedestal da grande cruz, estão gravados os nomes insignes de
Tibiriçá, Anchieta, Mem de Sá, Nóbrega, Leonardo Nunes, Martim Afonso, João Ramalho e as datas de 1500 e 1922.
Azulejos de Wasth Rodrigues mostram as figuras de Anchieta e, noutra face, uma
caravela. A estrada aí se bifurca, envolvendo o monumento.
As duas êxedras colocadas simetricamente à margem das pistas davam um sentido espacial
autônomo ao conjunto, mas foram removidas de seu lugar para alargamento das pistas, o que destruiu essa organização.
CRUZEIRO QUINHENTISTA - Conjunto que assinala o ponto de convergência dos principais
caminhos de serra acima. Na ocasião dessa fotografia, os bancos estavam em sua posição original e o conjunto tinha organização espacial própria
3.2. Patrimônio Natural
As condições especiais da topografia da região, e o seu relativo isolamento, pelas
águas da represa, possibilitaram a conservação de um recobrimento vegetal, que constitui uma reserva cuja significação deve ser ressaltada.
Pelos seus extraordinários recursos naturais, a região compreendida entre os quatro
rios - o Rio Perequê e o Rio das Pedras, que descem a Serra, o Cubatão na baixada e o reservatório do Rio das Pedras no planalto - deveria ser
declarada reserva natural pelo governo do Estado de São Paulo, sem prejuízo da posterior extensão desse benefício à área compreendida entre o rio
Pilões, em cujo vale se desenvolve a Via Anchieta, e o rio Mogi, em cujas proximidades se instala a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.
Essa área ficaria reservada aos estudos geológicos, da flora e da fauna, onde seriam
organizados museus e herbários e seriam desenvolvidas atividades educativas.
Toda a região viria a constituir importante área para atividades culturais de lazer
para a população do planalto e do litoral. Uma publicação do Ministério da Agricultura, em 1952, intitulada Parques Nacionais do Brasil, de
autoria de Vanderbilt Duarte de Barros, dá-nos a seguinte informação:
"Com uma área de 500 hectares, o governo do Estado de São Paulo possui uma reserva
florestal (Crônica Botânica, vol. VII, nº 6, Massachussets, USA), desde 1909, no alto da serra, e na qual são protegidas flora e fauna de uma
importante secção da Serra do Mar. Esta área poderia ser transformada em Parque Nacional, embora de pequena superfície, pois ofereceria condições
para o incentivo do turismo em grande escala por sua proximidade da capital do estado bandeirante".
A referida reserva se encontra a Oeste da estação "Alto da Serra" e sua delimitação
rigorosa poderá ser fornecida pela Secretaria da Agricultura, passando a integrar a nova área a ser declarada reserva natural.
Além desta reserva, há outras leis protegendo a cobertura vegetal
da serra. Os mananciais, igualmente, devem merecer especiais cuidados, quando se tornarem acessíveis ao público.
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