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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [36]
Monte Serrat

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Publicado em 16/8/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


UM PEDACINHO DO CÉU - Para os moradores, o Monte Serrat é um pedacinho do céu. O morro atrai visitantes que vão apreciar a vista de Santos e do Porto ou assistir a uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat, reinaugurada ontem

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 16/8/2010. Foto de Irandy Ribas

Onde se acorda com os passarinhos

Moradores destacam a tranqüilidade do morro, onde ainda é possível dormir com as janelas abertas. Mas temem os deslizamentos

Ronaldo Abreu Vaio

Da Redação

São 402 degraus até o céu. E isso não só porque a escadaria do Caminho Monsenhor Moreira termina na igreja de Nossa Senhora. Para os moradores é também porque,pela sua tranqüilidade, o Monte Serrat é um pedacinho do céu na Terra.

Mas, se há um paraíso, também existe o outro lado. Se ainda é possível dormir com portas e janelas abertas, sem perigo de assalto, também não é muito raro perder o sono com a possibilidade de um desmoronamento de terra.

"Quem imaginava que iriam fazer tanta coisa lá?", diz Mercedes Fernandes Rodrigues. Aos 83 anos de idade, nasceu e morou praticamente a vida toda no Monte Serrat. Por "lá", na frase acima, entenda-se a Vila Pedreira, uma encosta na altura da Avenida Senador Feijó, considerada a mais crítica para deslizamentos. E o "tanta coisa" que fizeram, refere-se às quase 60 casas construídas na área perigosa.

"Lá é tudo barraco. brincava nesse local quando era criança", recorda.

E lá se foi bastante tempo, desde que dona Mercedes brincava no barranco, ou buscava água no sopé do morro, do lado da Vila Mathias. "Não tinha água aqui em cima. Eu subia com lata de 20 litros na cabeça". Tinha 13 anos.

O bairro mudou muito desde então. Chegou água, chegou luz. E, de reduto de portugueses - dona Mercedes é neta -, hoje a presença maior é de imigrantes nordestinos.

Exemplo disso é a família de Cristiano Carolino Costa da Silva, oriunda de Pernambuco. "Mas a maioria das famílias é do Ceará", faz a ressalva. Assim como dona Mercedes, Cristiano também já nasceu no Monte Serrat. Juntos no espaço, separados no tempo: Cristiano tem 22 anos de idade.


Um dos cartões-postais da Cidade e eterno abrigo da santa padroeira, o Monte Serrat preserva seu aspecto bucólico, dando um toque verde ao visual de concreto do Centro

Fotos acima e abaixo: Nirley Sena, publicadas com a matéria

Todos se conhecem - Como agente comunitário de Saúde, Cristiano costuma visitar os quatro cantos do morro. Ele concorda com dona Mercedes sobre o perigo da Vila Pedreira. "É um caminho de barro; a última casa é praticamente lá embaixo, na Senador Feijó, e a encosta é muito inclinada.

A adversidade é que separa o céu do inferno. Ele cita o vendaval ocorrido há uns dois anos, que levantou telhas de várias casas. Na reconstrução, a ajuda foi mútua. "Só que todo mundo correu primeiro para a Vila Pedreira, a área de maior risco. E o engraçado é que lá não aconteceu nada".

Além de presente nos momentos críticos, esse espírito de ajuda também se traduz no cotidiano. Como não há mercado ou mesmo padaria lá em cima, tudo tem que ser comprado embaixo. Mas quando se esquece de algo, há sempre um vizinho solícito para oferecer uma xícara de açúcar.

Outras reclamações são a falta de um acesso para carros - o único morro de Santos em que isso acontece - e a falta de um posto de saúde no bairro.

Hoje, funciona uma unidade de saúde improvisada na sede da Sociedade Melhoramentos do Bairro, no sopé do morro. "Mas não tem sala para vacina. Quando preciso vacinar milha filha, tenho que ir na UBS (Unidade Básica de Saúde) do final da General Câmara".

A filha de Cristiano ainda é um bebê e, se depender do pai, também vai crescer no Monte Serrat, seguindo os passos de sua própria história.

"Não mudaria daqui nunca. Não tem barulho de carro, posso dormir de porta aberta. Na casa do meu avô, então, perto do mato, a gente acorda com os passarinhos".

Raio X

1.623 habitantes

tem o Monte Serrat. Os limites do bairro são as ruas Nossa Senhora de Lourdes e Snta Marina e as avenidas Nossa Senhora do Monte Serrat e Dr. Waldemar Leão. Faz divisa com os bairros do Centro, Vila Nova e Vila Mathias

FONTES: IBGE e Secretaria de Planejamento de Santos (Seplan)


O bondinho proporciona um agradável passeio ao topo do morro, de onde se tem uma bela vista da Cidade

Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Bondinhos, comodidade e puro charme

O sistema de bonde funicular é uma das marcas registradas do bairro, assim como a Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat.

As primeiras tentativas de instalação dos bondinhos começaram ainda em 1910. Mas só foi em junho de 1927 que o Upa e o Cupa (como são carinhosamente apelidados) começaram a subir (e a descer) o monotrilho.

"Meu avô era um dos sócios da firma. Depois que acabou o jogo, ele comprou a parte dos demais", conta Paulo Sérgio dos Santos Vallejo. Aos 60 anos,ele cuida de uma propriedade de sua família, mas que há muito já foi incorporada ao patrimônio da própria Cidade.

"Não existem peças prontas no mercado", diz. Ou seja, das maçanetas às rodas dos bondes, tudo é feito sob encomenda. "A cada ano tem uma grande despesa de manutenção".

Cada bonde pesa cerca de 8 toneladas e tem capacidade para transportar até 40 passageiros. Os cabos que os impulsionam têm uma polegada e meia de diâmetro e resistem a até 90 toneladas.

À medida que o bonde sobe, a Cidade lá embaixo vai diminuindo. Enfim, no topo do morro, o bondinho encosta no flanco do casarão que abrigou o antigo cassino.

Inaugurado em setembro de 1927, o cassino funcionou até 1946, quando o jogo foi proibido no País. Hoje, os dois salões são alugados para festas. Ao todo, 32 funcionários cuidam da estrutura do local, muitos deles moradores do próprio bairro.

"Me formei em Engenharia, não tinha nada a ver com isto aqui. Em 1994, voltei a Santos e comecei a me apaixonar", diz Vallejo.

Quando fica pronta?


Foto publicada com a matéria

A Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat está fechada para reforma há cerca de 1 ano e meio. Ontem, foi celebrada uma missa de reinauguração do templo (ver matéria na página A-8), mesmo com boa parte da obra inacabada. O padre responsável pela igreja, José Myalil Paul, diz que 70% dos serviços já foram concluídos. Mesmo assim, sobre a previsão de término, é taxativo: "Só Deus sabe". Isto porque, segundo ele, a alocação de recursos é lenta e os custos de alguns materiais para prosseguir a obra são altos. "Entramos na parte mais complicada e duradoura. Estão previstos o piso e o forro do teto em ipê, cujo metro quadrado é muito caro".

Apesar dos sacos de cimento e das ripas de madeira por toda a parte, Paul conforta os fiéis: a Festa da Padroeira de Santos, que acontece de 28 de agosto a 8 de setembro, ocorrerá normalmente. "A festa é sempre fora do santuário, no palco". Como todo ano, no dia 28 haverá a procissão saindo do alto do morro e descendo com a imagem da santa. Até o dia 8,  imagem ficará exposta na Catedral, quando então retorna ao monte, também em procissão.

Construído entre 1599 e 1611, o santuário passa por sua segunda grande reforma. A primeira foi ainda no século 17, segundo Paul. A reforma atual pretende resgatar a igreja, principalmente na fachada, como era antes da primeira grande reforma, há mais de 300 anos.

Reservatório

Muito mais do que a água, a Defesa Civil está preocupada com o fogo. À parte o monitoramento quanto o rico de deslizamentos por conta da chuva, a falta de um acesso para automóveis dificultaria a ação dos bombeiros, no caso da fatalidade de um incêndio.

Por conta disso, o chefe da Defesa Civil de Santos, Emerson Marçal, afirma que já foi elaborado um projeto de construção de um reservatório para 60 mil litros de água, no topo do Monte Serrat.

"Estão previstas também duas tubulações, subindo pela Rua Tiro Naval, com comportas a cada 60 metros", diz. Essas comportas seriam próprias para acoplar as mangueiras dos bombeiros, no lugar mais próximo do hipotético incêndio.

"A própria pressão da descida da água é que vai fazer o sistema funcionar". Segundo Marçal, o projeto já foi enviado ao Ministério da Integração Nacional, em Brasília, para alocação de verbas.

Pingos de História


O deslizamento de terras em 1928

Foto: reprodução, publicada com a matéria

O primeiro milagre de Nossa Senhora do Monte Serrat teria acontecido ainda em 1614, apenas 10 anos após a construção do santuário. Durante uma invasão de piratas holandeses, os habitantes de Santos e de São Vicente foram se refugiar no alto do monte. Segundo relatos, uma avalanche de pedras teria se precipitado sobre os piratas, matando muitos deles e fazendo com que os sobreviventes fugissem.

A palavra Itororó, em tupi-guarani, quer dizer água barulhenta. Nome que não faz jus à placidez da fonte que brota do sopé do morro. Em outros tempos, formava o Ribeirão do Itororó, que atravessava várias ruas, como a atual João Pessoa e XV de Novembro, em direção ao mar. Pertenceu a Braz Cubas, fornecendo água para seu curtume, abasteceu uma lavanderia pública e, em 1932, serviu à Empresa Águas do Itororó, fabricante de refrigerantes.

Em 1928, uma das maiores tragédias já registradas na Cidade aconteceu no bairro. Em 10 de março daquele ano, a encosta em frente ao casarão do cassino cedeu, levando abaixo o que havia pelo caminho (foto). Quatorze casas foram soterradas. Parte do prédio da antiga Santa Casa, na Avenida São Francisco, foi atingida. Estimou-se em 130 mil metros cúbicos o volume de terra deslocada. Foram dezenas de mortos e feridos.

Fontes: www.novomilenio.inf.br e A Tribuna.

Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Monte Serrat

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