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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [27]
Vila Belmiro

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Publicado em 14/6/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


Além de Pelé, Didi corta o cabelo de outros ex-jogadores como Abel

FAMOSA E FORMOSA. É A VILA BELMIRO - Não é de hoje que a vila mais conhecida da Cidade, até em nível internacional, é amada, não só por abrigar o time do coração de muitos santistas, mas também pelo sossego garantido aos moradores

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 14/6/2010, com foto de Carlos Nogueira

 

Prestígio

"Se o que aparece de gente aqui, quando o Pelé corta cabelo, virasse cliente, eu estava rico"

João Araújo, o Didi, barbeiro oficial de Pelé

Ela é tão formosa quanto famosa

A Vila Belmiro é um bairro ainda ocupado por casarios dos anos 30 e 40, que revelam arquitetura predominante naquela época

César Miranda

Da Redação

Quem está dentro não sai, quem está fora quer entrar. Na Vila |Belmiro, antigos e novos moradores valorizam o bairro. Em boa parte das ruas, o movimento é pouco. O casario é dos anos 30 e 40 e revela a beleza arquitetônica predominante naquela época.

Diariamente, a calmaria é quebrada apenas pelo trânsito intenso nos locais onde está instalado o comércio. O setor fica especificamente ao longo das avenidas Bernardino de Campos, Pinheiro Machado e Carvalho de Mendonça, que fazem os limites do bairro, assim como um trecho da Avenida Ana Costa.

Na Vila mais famosa do mundo, o estádio do Santos Futebol Clube é um dos patrimônios que valorizam o lugar onde vivem mais de 10 mil pessoas. O bairro exala futebol por excelência. Tem gente que nasceu ali ou chegou com pouco tempo de vida. Tem ainda quem veio de longe e nunca pensa em mudar.

Amizade e bom papo - É o caso da simpática portuguesa Angelina Becceneri, de 72 anos, que há quase cinco décadas mora a menos de 50 metros do portão 3 do estádio. "Sou do tempo em que o Santos não perdia em casa e era campeão de tudo", diz  sorridente mulher que mora na Rua Tiradentes, por onde passava antigamente o bonde 27.

Religiosamente no período da tarde, exceto em dias de chuva, ela e outras amigas transformam a calçada em recanto para bater papo. "Poucas vezes, o assunto é sobre futebol. Falamos mais sobre novelas, família e a vida".

Embora o sossego seja tirado apenas quando o Santos joga na Vila, Angelina não reclama. "Antigamente, era pior, as pessoas estacionavam os carros na calçada para ir ver o jogo. Hoje, a fiscalização pega no pé. Ainda bem".

Costureira de mão cheia, a espanhola Conceição da Costa Gonzalez, de 72 anos, participa também do Clube da Luluzinha. Em 42 anos de bairro, ela fez muitos amigos e criou o único filho. "Morar na Vila Belmiro é muito gostoso. Tudo está perto: é farmácia, mercado, hospital".

Deixa como está - No bairro, o desenvolvimento imobiliário que avança em outras regiões ainda não chegou. Por enquanto, só tem dois prédios em construção. Se depender da vontade dos moradores, eles não gostariam de ver a "especulação imobiliária" tomar conta do bairro e aumentar a população, que hoje ultrapassa 10 mil pessoas.

"Prefiro assim, tipicamente residencial apenas com casas e sobrados. Se os prédios chegarem aqui, perde a tranqüilidade e o charme", diz o funcionário público aposentado Nelson Rodrigues de Oliveira, de 71 anos, morador da Rua Princesa Isabel. "Tem que permanecer deste jeito: apenas as casas e seus moradores em volta do estádio".

O estádio do Santos era para ser onde está hoje a Beneficência Portuguesa. Por ser muito caro, a comissão responsável pela compra do terreno desistiu da compra em 1912.

Outro terreno que poderia ter abrigado o clube ficava no Campo Grande. Mas questões de espólio impediram as negociações. Por fim, a diretoria acabou comprando da Companhia de Habitação Econômica o atual terreno, onde o Santos fez e continua a fazer história.

Internet

1 milhão e 180 mil links tornam-se disponíveis no Google quando é pesquisada a frase Vila mais famosa do mundo

 


O Estádio Urbano Caldeira, do Santos Futebol Clube, é um dos maiores patrimônios do bairro, que exala futebol e orgulha seus moradores moradores

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Didi cortou o cabelo do Rei 800 vezes

O cabeleireiro oficial do Pelé, João Araújo, conhecido por Didi, não sabe quantos cabelos já cortou em 54 anos de profissão. Evita saber para não se assustar. Porém, fixou uma marca.

Pela primeira vez, a pedido de A Tribuna, o barbeiro de 71 anos calculou quantas vezes cortou o cabelo do "querido amigo e cliente". Foram quase 800 vezes.

Não é exagero? Não. Pelé chegou em 1956 ao Estádio Urbano Caldeira. Levando em conta apenas 12 cortes por ano, já são 648 vezes. Até o fim da década de 60, relembrou Didi, o camisa 10 mais famoso do Santos cortava o cabelo de duas a três vezes por mês. "Naquele temo. Eles (jogadores) faziam questão de ficar na estica. Todo mundo queria entrar com barba e cabelo bem feitos", diz o mineiro Didi, pai de quatro filhos, todos já criados.

Há alguns anos, Pelé aparece pelo menos uma vez por mês. A última ocasião em que pisou o salão foi no dia 17 de maio. Talvez, este mês não venha por causa de compromissos na Copa. APesar da ausência da majestade, Didi anunciou: quer alcançar a marca de 1.000 cortes. Por enquanto, a quem será dedicado o milésimo não se sabe, apenas que quer alcançar a meta.

Sempre que o Rei aparece no salão é uma festa. "Fica uma nuvem de gente aí na frente". São adultos e crianças amontoados que ficam olhando o Rei receber um trato no visual.

"Se o que aparece de gente aqui, quando o Pelé corta cabelo, virasse cliente, eu estava rico", brinca. Ao fim do corte, antes de entrar no carro e seguir, Pelé atende a pedidos de autógrafos e fotos com os fãs. "É muito atencioso e carinhoso com todos", diz ele, enquanto atendia a outro amigo de longa data, o Abel, ex-jogador do Peixe (entre 1965 e 1972). Didi cortou o cabelo de vários jogadores do Santos em outras épocas. A lista é extensa.

"Naquele tempo, quando eles ficavam concentrados aí (aponta o estádio), olhavam pela janela do quarto o movimento do salão. Se a cadeira estivesse vazia, desciam correndo. Este aqui (Abel) já fez muito isso".


Além de Pelé, Didi cuida do cabelo de outros ex-jogadores, como Abel

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Na Praça Olímpio Lima, sinais de abandono

Local aprazível para a criançada gastar energia, a Praça Olímpio Lima dá sinais de falta de manutenção. Bancos de concreto sem pintura, mato alto e árvores sem poda, além de brinquedos quebrados. Há meses, a escada do escorregador está sem alguns degraus, o que dificulta a subida dos menores, se não tiverem ajuda dos pais.

Vizinhos da praça reclamam de um grupo de jovens que costumam sair da escola e ir fumar maconha nos bancos da praça. "Vejo a ronda escolar da Polícia Militar circular nas proximidades, mas nunca abordaram os meninos. Acho que deveriam ser mais enérgicos para intimidá-los", diz um morador, que pede para não ser identificado.

Queixas - Segundo o presidente da Sociedade de Melhoramentos, Leomar Eugênio da Silva, nos últimos meses, as principais reclamações dos moradores são referentes a pedidos de instalação de placas, alertando sobre a proibição de estacionar caminhões, ao excesso de fezes de animais nas calçadas e também a melhorias na Praça Olímpio Lima.

Como qualquer lugar, os moradores dali não gostam de ver pesados e grandes veículos parados em frente de suas residências. Segundo eles, muitos caminhoneiros aproveitam a falta de placas e estacionam suas carretas naquelas ruas pacatas.

Sem perder tempo, alguns antigos moradores colocam a boca no trombone. Nos últimos meses, segundo a Sociedade de Melhoramentos, foram instaladas mais de dez placas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).


A escada do escorregador está sem alguns degraus há meses

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Expressões


"Prefiro assim, apenas com casas e sobrados. Se os prédios chegarem aqui, perde a tranqüilidade e o charme do lugar " - Nelson Rodrigues de Oliveira, aposentado

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

 


"Falta um pouco de atenção com a praça (Olímpio Lima). Do jeito que está, os brinquedos oferecem perigo às crianças" - Marilda Afonso Carvalho, jornaleira

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

 

Raio-X

26 salões de beleza

26 lanchonetes, bares e restaurantes

17 escritórios de consultoria em gestão empresarial

16 escolhas ou creches (particulares e públicas)

12 lojas de artigos médicos e ortopédicos

10 lojas de venda de veículos

7 escritórios de contabilidade

8 serviços de entrega rápida (motoboy)

 

Curiosidades

Diversas vias do bairro fazem referências a personalidades da História do Brasil. São elas: Princesa Isabel, Dom João VI, Álvares Cabral, Dom Pedro I e Tiradentes

Além do Estádio Urbano Caldeira, outro motivo de orgulho dos moradores é a Beneficência Portuguesa. É o segundo hospital mais antigo da Baixada Santista

Junto com o estádio, a entidade privada e filantrópica é uma referência na Vila Belmiro, ocupando uma área de 40 mil metros quadrados

 
Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Vila Belmiro

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