Além de Pelé, Didi corta o cabelo de outros ex-jogadores como Abel
FAMOSA E FORMOSA. É A VILA BELMIRO - Não é de hoje
que a vila mais conhecida da Cidade, até em nível internacional, é amada, não só por abrigar o time do coração de muitos santistas, mas também
pelo sossego garantido aos moradores
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 14/6/2010, com foto de Carlos Nogueira
Prestígio |
"Se o que aparece de gente aqui, quando o Pelé corta cabelo, virasse cliente, eu
estava rico" |
João Araújo, o Didi, barbeiro oficial de Pelé |
Ela é tão formosa quanto famosa
A Vila Belmiro é um bairro ainda ocupado por casarios dos anos 30 e 40, que
revelam arquitetura predominante naquela época
César Miranda
Da Redação
Quem está dentro não sai, quem está fora
quer entrar. Na Vila |Belmiro, antigos e novos moradores valorizam o bairro. Em boa parte das ruas, o movimento é pouco. O casario é dos anos 30 e
40 e revela a beleza arquitetônica predominante naquela época.
Diariamente, a calmaria é quebrada apenas pelo trânsito intenso nos locais onde está instalado o
comércio. O setor fica especificamente ao longo das avenidas Bernardino de Campos, Pinheiro Machado e Carvalho de Mendonça, que fazem os limites
do bairro, assim como um trecho da Avenida Ana Costa.
Na Vila mais famosa do mundo, o estádio do Santos Futebol Clube é um dos patrimônios que
valorizam o lugar onde vivem mais de 10 mil pessoas. O bairro exala futebol por excelência. Tem gente que nasceu ali ou chegou com pouco tempo de
vida. Tem ainda quem veio de longe e nunca pensa em mudar.
Amizade e bom papo - É o caso da simpática portuguesa Angelina Becceneri, de 72 anos, que
há quase cinco décadas mora a menos de 50 metros do portão 3 do estádio. "Sou do tempo em que o Santos não perdia em casa e era campeão de tudo",
diz sorridente mulher que mora na Rua Tiradentes, por onde passava antigamente o bonde 27.
Religiosamente no período da tarde, exceto em dias de chuva, ela e outras amigas transformam a
calçada em recanto para bater papo. "Poucas vezes, o assunto é sobre futebol. Falamos mais sobre novelas, família e a vida".
Embora o
sossego seja tirado apenas quando o Santos joga na Vila, Angelina não reclama. "Antigamente, era pior, as pessoas estacionavam os carros na
calçada para ir ver o jogo. Hoje, a fiscalização pega no pé. Ainda bem".
Costureira de mão cheia, a espanhola Conceição da Costa Gonzalez, de 72 anos, participa também
do Clube da Luluzinha. Em 42 anos de bairro, ela fez muitos amigos e criou o único filho. "Morar na Vila Belmiro é muito gostoso. Tudo está perto:
é farmácia, mercado, hospital".
Deixa como está - No bairro, o desenvolvimento imobiliário que avança em outras regiões
ainda não chegou. Por enquanto, só tem dois prédios em construção. Se depender da vontade dos moradores, eles não gostariam de ver a "especulação
imobiliária" tomar conta do bairro e aumentar a população, que hoje ultrapassa 10 mil pessoas.
"Prefiro assim, tipicamente residencial apenas com casas e sobrados. Se os prédios chegarem
aqui, perde a tranqüilidade e o charme", diz o funcionário público aposentado Nelson Rodrigues de Oliveira, de 71 anos, morador da Rua Princesa
Isabel. "Tem que permanecer deste jeito: apenas as casas e seus moradores em volta do estádio".
O estádio do Santos era para ser onde está hoje a Beneficência Portuguesa. Por ser muito caro, a
comissão responsável pela compra do terreno desistiu da compra em 1912.
Outro terreno que poderia ter abrigado o clube ficava no Campo Grande. Mas questões de espólio
impediram as negociações. Por fim, a diretoria acabou comprando da Companhia de Habitação Econômica o atual terreno, onde o Santos fez e continua
a fazer história.
Internet |
1 milhão e 180 mil links tornam-se
disponíveis no Google quando é pesquisada a frase Vila mais famosa do mundo |
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O Estádio Urbano Caldeira, do Santos Futebol Clube, é um dos maiores patrimônios do bairro, que
exala futebol e orgulha seus moradores moradores
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Didi cortou o cabelo do Rei 800 vezes
O cabeleireiro oficial do Pelé, João Araújo, conhecido por Didi, não sabe quantos cabelos já
cortou em 54 anos de profissão. Evita saber para não se assustar. Porém, fixou uma marca.
Pela primeira vez, a pedido de A Tribuna, o barbeiro de 71 anos calculou quantas vezes
cortou o cabelo do "querido amigo e cliente". Foram quase 800 vezes.
Não é exagero? Não. Pelé chegou em 1956 ao Estádio Urbano Caldeira. Levando em conta apenas 12
cortes por ano, já são 648 vezes. Até o fim da década de 60, relembrou Didi, o camisa 10 mais famoso do Santos cortava o cabelo de duas a três
vezes por mês. "Naquele temo. Eles (jogadores) faziam questão de ficar na estica. Todo mundo queria entrar com barba e cabelo bem feitos",
diz o mineiro Didi, pai de quatro filhos, todos já criados.
Há alguns anos, Pelé aparece pelo menos uma vez por mês. A última ocasião em que pisou o salão
foi no dia 17 de maio. Talvez, este mês não venha por causa de compromissos na Copa. APesar da ausência da majestade, Didi anunciou: quer alcançar
a marca de 1.000 cortes. Por enquanto, a quem será dedicado o milésimo não se sabe, apenas que quer alcançar a meta.
Sempre que o Rei aparece no salão é uma festa. "Fica uma nuvem de gente aí na frente". São
adultos e crianças amontoados que ficam olhando o Rei receber um trato no visual.
"Se o que aparece de gente aqui, quando o Pelé corta cabelo, virasse cliente, eu estava rico",
brinca. Ao fim do corte, antes de entrar no carro e seguir, Pelé atende a pedidos de autógrafos e fotos com os fãs. "É muito atencioso e carinhoso
com todos", diz ele, enquanto atendia a outro amigo de longa data, o Abel, ex-jogador do Peixe (entre 1965 e 1972). Didi cortou o cabelo de vários
jogadores do Santos em outras épocas. A lista é extensa.
"Naquele tempo, quando eles ficavam concentrados aí (aponta o estádio), olhavam pela janela do
quarto o movimento do salão. Se a cadeira estivesse vazia, desciam correndo. Este aqui (Abel) já fez muito isso".
Além de Pelé, Didi cuida do cabelo de outros ex-jogadores, como Abel
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Na Praça Olímpio Lima, sinais de abandono
Local aprazível para a criançada gastar energia, a Praça Olímpio Lima dá sinais de falta de
manutenção. Bancos de concreto sem pintura, mato alto e árvores sem poda, além de brinquedos quebrados. Há meses, a escada do escorregador está
sem alguns degraus, o que dificulta a subida dos menores, se não tiverem ajuda dos pais.
Vizinhos da praça reclamam de um grupo de jovens que costumam sair da escola e ir fumar maconha
nos bancos da praça. "Vejo a ronda escolar da Polícia Militar circular nas proximidades, mas nunca abordaram os meninos. Acho que deveriam ser
mais enérgicos para intimidá-los", diz um morador, que pede para não ser identificado.
Queixas - Segundo o presidente da Sociedade de Melhoramentos, Leomar Eugênio da Silva,
nos últimos meses, as principais reclamações dos moradores são referentes a pedidos de instalação de placas, alertando sobre a proibição de
estacionar caminhões, ao excesso de fezes de animais nas calçadas e também a melhorias na Praça Olímpio Lima.
Como qualquer lugar, os moradores dali não gostam de ver pesados e grandes veículos parados em
frente de suas residências. Segundo eles, muitos caminhoneiros aproveitam a falta de placas e estacionam suas carretas naquelas ruas pacatas.
Sem perder tempo, alguns antigos moradores colocam a boca no trombone. Nos últimos meses,
segundo a Sociedade de Melhoramentos, foram instaladas mais de dez placas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
A escada do escorregador está sem alguns degraus há meses
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Expressões
"Prefiro assim, apenas com casas e sobrados. Se os prédios chegarem aqui, perde a tranqüilidade
e o charme do lugar " - Nelson Rodrigues de Oliveira, aposentado
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
"Falta um pouco de atenção com a praça (Olímpio Lima). Do jeito que está, os brinquedos oferecem
perigo às crianças" - Marilda Afonso Carvalho, jornaleira
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Raio-X |
26 salões de beleza
26 lanchonetes,
bares e restaurantes
17 escritórios de
consultoria em gestão empresarial
16 escolhas ou
creches (particulares e públicas)
12 lojas de artigos
médicos e ortopédicos
10 lojas de venda de
veículos
7 escritórios de
contabilidade
8 serviços de
entrega rápida (motoboy) |
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Curiosidades |
Diversas vias do bairro fazem referências a personalidades da História do Brasil. São
elas: Princesa Isabel, Dom João VI, Álvares Cabral, Dom Pedro I e Tiradentes |
Além do Estádio Urbano Caldeira, outro motivo de orgulho dos moradores é a
Beneficência Portuguesa. É o segundo hospital mais antigo da Baixada Santista |
Junto com o estádio, a entidade privada e filantrópica é uma referência na Vila
Belmiro, ocupando uma área de 40 mil metros quadrados |
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