VILA NOVA LUTA CONTRA O ABANDONO E A DEGRADAÇÃO - Endereço das famílias ricas de Santos no
início do século passado, a Vila Nova é hoje o retrato de décadas de abandono. Moradores de ruas espalhados pelas calçadas, crianças pedindo
esmolas, vias pouco iluminadas e assaltos integram seu cotidiano. Os moradores cobram mudanças. A Prefeitura tem planos para revitalizar o bairro
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 21/6/2010
Nem rica, nem nova: a vila agora está degradada
Bairro da região central sofre com o abandono e a insegurança
Tatiana Lopes
Da Redação
Conhecida como a vila
rica da Cidade no início do século 20, a Vila Nova de hoje nem de longe lembra os tempos áureos daquele bairro repleto de finos palacetes, onde
residia a elite santista.
O que se vê por lá, atualmente, é o retrato de décadas de abandono. Moradores de rua deitados
nas calçadas, crianças pobres pedindo esmolas aos passageiros das catraias e aos poucos clientes do Mercado Municipal. Assaltos a tripulantes,
muita sujeira, mau cheiro e ruas pouco iluminadas.
Mas nem sempre
foi assim. O bairro começou a ser formado quando os moradores mais abastados da Cidade deixaram a região do Valongo, que se popularizava e se
tornava comercial. As famílias ricas estabeleceram residência na área entre o Paquetá, a atual Avenida Campos Sales, o porto e a Avenida Senador
Feijó.
A expansão comercial e portuária e a facilidade de acesso às praias motivaram a ocupação das
principais avenidas, como Ana Costa e Conselheiro Nébias, além da orla santista.
Em meia década, os imponentes casarões deram lugar aos cortiços - habitações subnormais e
insalubres onde várias famílias carentes dividem um mesmo teto.
Ao longo das últimas três décadas, a falta de estrutura e condições de habitabilidade nesses
imóveis vem afastando a população do bairro. Em 1970, 7.834 pessoas moravam no local, segundo o censo realizado pelo IBGE. Em 2000, esse número
baixou para 4.401 habitantes.
Atualmente, a Secretaria Municipal de Planejamento estima que 1.357 famílias vivam em cortiços
nos bairros da Vila Nova e Paquetá.
Construídos no início do século 20 para servir de residência à população mais afastada da
Cidade, os antigos casarões foram transformados em cortiços, habitações insalubres que abrigam famílias pobres
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria
Falta segurança - Uma das principais queixas de moradores, comerciantes e usuários do
terminal de catraias é a falta de policiamento no bairro. "A Prefeitura se preocupa muito com o Gonzaga, com a praia, e nós ficamos esquecidos.
Deveria olhar mais para cá", reclama a comerciante Rosimeire Moraes da Silva.
Para ela, o bairro tem grande potencial turístico, mas não é explorado por falta de segurança.
"Tem muito roubo por aqui, principalmente a turistas estrangeiros e tripulantes de navios", relata.
O taxista Euzébio Queiroz tem a mesma opinião. "À noite, aqui, é um perigo. Tem muito assalto.
Faltam policiais".
O secretário municipal de Segurança, Renato Penteado Perrenaud, diz que a situação do bairro
melhorou com a sede da Guarda Municipal na região. "Temos dois homens 24 horas naquele local".
No entanto, ele acredita que a localização de equipamentos como o Plantão Social, o Bom Prato e
de entidades assistenciais ajuda a atrair moradores de rua.
A Polícia Militar também foi procurada para comentar o assunto, mas não retornou.
Com 496.185 metros quadrados, a Vila Nova espera a revitalização
Foto: Nirley Sena, publicada com a
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Tentativas de revitalizar o mercado não surtem efeito
O prédio do Mercado Municipal de Santos foi restaurado e totalmente remodelado em 2003. Nos
últimos anos, novos serviços, como floricultura, lanchonetes, antiquários e agência dos Correios, passaram a ser oferecidos nos boxes. Tudo na
tentativa de atrair mais público ao local.
Mas, apesar dos investimentos do poder público no imóvel, a ausência de clientes permanece. A
principal razão, segundo os permissionários, é a deterioração do bairro.
"Quando tem cinco pessoas no corredor já falamos que está movimentado", diz a presidente do
Instituto Costa da Mata Atlântica, Arabela Carneiro Viana, que há um ano ocupa um dos boxes no prédio.
Para Arabela, uma alternativa para mudar esse cenário seria a Prefeitura divulgar o espaço como
ponto turístico e incluí-lo no roteiro de linhas como a Conheça Santos. "Se os turistas viessem para cá, o permissionário se sentiria mais
motivado a fazer melhorias".
Na madrugada |
Durante a madrugada, a agitação é grande no entorno do prédio com a venda de frutas,
verduras e legumes por atacadistas |
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Sucateamento - Concebido para ser um ponto de referência no abastecimento dos moradores
da Cidade, o Mercado passou a sofrer a concorrência direta das feiras-livres e dos supermercados a partir dos anos 60, entrando num rápido
processo de sucateamento. "Antes, isso aqui era o melhor negócio do mundo", lamenta o permissionário Luzinaldo Nunes da Silva, há 40 anos no
Mercado. "Já tive vontade de abandonar tudo. Só não abandonei porque amo isso de paixão".
Silva criou os sete filhos e comprou alguns imóveis com o dinheiro que ganhava da venda de
frutas. "Hoje, o que tiro mal dá para comer. Sorte que recebo aposentadoria e aluguéis".
Permissionários reclamam da falta de fregueses nos boxes
Foto: Nirley Sena, publicada com a
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Projeto prevê novo terminal e linha turística
A construção de um novo terminal de passageiros na Bacia do Mercado, em substituição ao atual
atracadouro, com nova iluminação urbana, pavimentação e uma linha turística. Esse antigo projeto da Prefeitura, apresentado há mais de quatro
anos, é apontado pelo secretário municipal de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves, como uma solução para revitalizar o bairro.
O terminal seria instalado em frente ao Restaurante Bom Prato e usado tanto por quem faz a
travessia de catraias, entre Santos e Vicente de Carvalho, como por turistas em passeios numa linha até o Estuário. Um deck
(N.E.: convés, tablado) com quiosques também
seria construído em uma das rampas da bacia e, logo ao lado, um estacionamento para 100 veículos.
Conforme o secretário, o projeto está incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
Cidades Históricas, do Governo Federal, que disponibilizará verbas para as obras naquela região. Também serão contemplados projetos de inclusão
social e requalificação profissional da população dos cortiços. "Não tínhamos recursos financeiros, por isso fomos atrás de verba da União. A
idéia é assinar o convênio em julho para poder começar os trabalhos até o final do ano".
O secretário de Planejamento acredita que toda essa reformulação, aliada à reestruturação dos
imóveis, através do Programa Alegra Centro Habitação, também fomentará o comércio do lado de fora do mercado.
"Meu pai era pequeno e já ouvia essa promessa", ironizou o catraieiro Valdilson da Silva Lima.
"Os turistas vêm para cá, olham e nem descem do carro", completa o catraieiro Fábio de Oliveira.
Travessia |
Diariamente, cerca de 5 mil pessoas usam as catraias para fazer a travessia entre
Santos e Vicente de Carvalho, em Guarujá |
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A idéia é criar um roteiro, até o Estuário, com finalidade turística
Foto: Nirley Sena, publicada com a
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Personagem
LUCIANO MINADAKIS - dono de barraca de lanches
Há 15 anos instalado na Praça Iguatemi
Martins, em frente à Bacia do Mercado, o MC Rampa já ganhou fama em toda a Cidade. Como funciona 24 horas, durante as madrugadas,
principalmente aos finais de semana, o local atrai centenas de jovens que saem famintos das baladas santistas. "Vem gente de toda a parte,
principalmente da orla", conta Luciano, que chega a vender 300 sanduíches por dia. O comerciante acredita que a revitalização do bairro irá atrair
mais gente para a região, em especial os turistas
Foto: Nirley Sena, publicada com a
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