BOM RETIRO ENFRENTA VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA - Bairro privilegiado da Zona Noroeste, o Bom Retiro
passa por um processo de supervalorização imobiliária. Os novos empreendimentos estão concentrados nas quadras do entorno do Jardim Botânico. Do
outro lado do principal ponto de lazer do bairro, as vias são calmas e quase não há tráfego de veículos. Mas os moradores têm um problema: as
enchentes que ocorrem sempre que a maré sobe
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 31/5/2010
Casas maiores na paisagem pacata
Valorização imobiliária chega à Zona Noroeste. Imóveis de médio padrão
comercial começam a mudar o cenário de região popular
Da Redação
Um "retiro" dos mais pacatos em região
privilegiada da Zona Noroeste de Santos dá sinais de dinamismo em seu cenário urbano. Enquanto a vida parece seguir a passos lentos principalmente
para antigos moradores, o Bom Retiro vai ganhando novos sobrados e residências sobrepostas de médio padrão que dão indícios de uma
supervalorização imobiliária no bairro, aspecto já confirmado no outro lado da Cidade, a Zona Leste.
Os novos empreendimentos estão concentrados nas quadras do entorno do Jardim
Botânico, principal ponto de lazer da região. Em esquina bem em frente ao parque, na Avenida Jovino de Melo, um conjunto com sete residências
inaugurado neste ano tem quatro unidades vendidas. O único dos três triplex disponível, com três dormitórios, custa R$ 290 mil. Os dois duplex
ainda à venda (dois quartos) saem por R$ 240 mil.
A meia quadra
dali, dois sobrados - com três dormitórios, sendo uma suíte - têm o preço de R$ 300 mil cada. A casa, uma das mais novas do bairro, resulta do
espírito empreendedor de um morador e comerciante do próprio Bom Retiro.
Pergentino Ribeiro de Almeida, 72 anos, estabeleceu-se há 27 na região e ali criou os três
filhos. Estivador aposentado, é dono de uma loja de materiais de construção e, de olho na tendência de valorização, comprou a casa por R$ 107 mil
há dois anos. Derrubou-a e, no local, construiu os sobrados que devem render R$ 600 mil. "O valor subiu muito. Um terreno aqui há 10 ou 15 anos
era R$ 60 mil. gora está R$ 150 mil".
Do outro lado do Botânico, em vias calmas com quase nenhum tráfego de veículos, um conjunto de
quatro sobrados entregue no ano passado é composto por residências com dois dormitórios e 120 metros quadrados cada. Mas somente uma ainda está à
venda. O preço? R$ 180 mil.
O sobrado fica na Rua Adriano Dias dos Santos, onde o valor venal do metro quadrado do terreno é
R$ 154,25. Bem menor do que locais reconhecidamente valorizados da Cidade, como a Avenida Ana Costa e o Canal 3, onde o valor do metro quadrado
passa dos R$ 2 mil próximo à orla. Já na Rua Antônio Freire, um sobrado novo é vizinho de outro em construção.
"Houve um aumento expressivo desses novos sobrados. O bairro está valorizando bastante: é
sossegado, familiar. Mas ainda temos problemas com enchentes. E não precisa nem chover, é só a maré subir", ponderou Tereza Cristina Pereira
Félix, que cresceu no bairro e hoje compõe a direção da Sociedade de Melhoramentos.
Essa entidade funciona na Rua Ézio Testini e oferece espaço de convivência com bar, mesas para
carteado e uma biblioteca com 6.800 exemplares, aberta à população. De lazer, portanto, os moradores estão bem servidos: a Sociedade de
Melhoramentos é mais uma opção, além do Jardim Botânico e do complexo esportivo M. Nascimento Júnior.
Ilhéu Baixo - Enquanto o bairro de classe média vai ganhando novas residências, moradores
de um núcleo do Bom Retiro aguardam o título de posse do pedaço de terra que habitam há 16 anos. O Ilhéu Baixo é fruto da luta por habitação,
encampada por moradores de favelas e pessoas que viviam de aluguel.
Eles se instalaram em terreno então particular no sopé do morro do Ilhéu ALto - onde mais de 500
famílias vivem em conjuntos da CDHU também em processo de regularização - e reivindicaram aquele espaço. Após quatro anos de embate, a Prefeitura
adquiriu o terreno e o loteou para 495 famílias. Os moradores construíram suas casas com uma planta padrão do Município.
O local foi urbanizado há quatro anos e os moradores aguardam a regularização. "Queremos ter o
documento de propriedade porque só assim seremos donos de fato das nossas moradias", ressalta Odete Cunha dos Santos, presidente da Associação
Comunitária Pró-moradia e Ilhéu da Baixada Santista.
Presidente da Cohab Santista, Hélio Vieira informa que não há previsão para que a regularização
seja concluída. Ele disse que os documentos do processo estão sob avaliação do estado e a Prefeitura prepara o levantamento topográfico do local,
necessário para a regularização.
A meia quadra do Jardim Botânico, dois conjuntos com sobrados na Jovino de Melo inaugurados há
alguns meses custam...
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria
... entre R$ 240 mil e R$ 300 mil; cresce também a construção de sobrepostas de médio padrão
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria
Quarenta anos vendendo bons pastéis
Figura mítica do Bom Retiro, o pasteleiro Mário Pereira Couto tem forte ligação com o bairro que
o acolheu há 40 anos, onde encontrou meios próprios de prosperar e criar os três filhos. Ele veio com a mulher de Minas Gerais em 1970 em busca de
oportunidade de emprego. Instalou-se na casa da irmã, no Rádio Clube, mas meses depois alugou sua casa no Bom Retiro,
após ter comprado um carrinho de pastel.
O carisma e a disposição para o trabalho garantiram o crescimento ns vendas e a conquista de
clientes fiéis durante os 32 anos em que vendeu pastéis na esquina da Avenida Jovino de Melo com a Rua João Fracaroli. No período, comprou um
terreno no bairro e construiu o lar da família.
Há sete anos, adquiriu o ponto comercial localizado no número 799 da João Fracaroli e abriu o
Pastel do Mário.
Com três netos, uma vida mais estável e 60 anos de idade, Mário nem cogita a possibilidade de
morar em outro local. "Não tem lugar melhor do que o Bom Retiro".
A calmaria de sempre - Muita coisa mudou no bairro desde que o aposentado Manoel da
Conceição Neres foi morar, em 1971, na Rua Pastor Alberto Augusto. As ruas ganharam asfalto, terrenos baldios deram lugar a novas residências e a
violência é uma ameaça mais presente. Mas os longos momentos de silêncio ainda podem ser contemplados mesmo em horário comercial.
Essa calmaria, aliás, é o que garante a qualidade de vida a ele e à mulher Lindaura. Eles são
dois dos moradores de longa data do bairro.
Manoel veio de Fazenda Nova, em Sergipe, em 1955, e começou a trabalhar como ajudante de
pedreiro. Chegou a morar no porão de uma casa da Avenida Conselheiro Nébias. Cresceu no ofício e foi contratado pela
Cosipa.
No início dos anos 70, já casado, ele comprou um terreno no Bom Retiro e construiu a casa onde
criou dois filhos e mora com Lindaura até hoje. "Gosto muito daqui, mas a manutenção das ruas está deixando a desejar", ressalva o aposentado.
Mário conquistou estabilidade financeira e criou três filhos no bairro
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria
Enchente e caminhão, problemas de sempre
Se boa parte dos moradores já é antiga neste pedaço privilegiado da Zona Noroeste, os principais
problemas apontados por quem vive ali também são os mesmos de 20, 30, 40 anos atrás. As enchentes se repetem há décadas, mas os santistas desta
região alimentam a esperança de dias melhores na concretização da prometida macrodrenagem, prevista no Programa Santos
Novos Tempos da Prefeitura, anunciado há mais de cinco anos.
"Toda a Zona Noroeste está na expectativa do fim das enchentes com esse programa", comentou
Tereza Cristina Pereira Félix, primeira secretária da Sociedade de Melhoramentos do Bom Retiro.
O estacionamento irregular de caminhões no entorno do Jardim Botânico também é problema
recorrente e parece não ter solução. Parar caminhões nas ruas de toda a volta do parque é proibida, mas o desrespeito é flagrante. Em uma manhã,
A Tribuna flagrou quatro veículos parados na Rua Bulcão Viana, encostados na guia da calçada que margeia o Botânico.
Segundo Tereza, a rua foi emplacada diversas vezes em toda sua extensão, mas os próprios
caminhoneiros as retiram e chegam a jogá-las no canal da Jovino de Melo.
Sob o título "Bom Retiro não quer caminhões nas suas ruas", reportagem publicada em 26 de
fevereiro de 1985 já denunciava o problema. "Além do barulho e do cheiro de óleo queimado nomeio da madrugada, quando os caminhoneiros saem para
trabalhar, os caminhões parados ali servem de esconderijo para assaltantes. À noite, eles ficam entre os veículos e o muro do Jardim Botânico e
não são vistos".
Resposta |
A CET informou que realiza rondas periódicas
no local, mas os agentes só podem multar mediante devida sinlização vertical, que é freqüentemente retirada. O órgão disse que o local é
constantemente sinalizado. Denúncias podem ser feitas pelo 0800-7719194. |
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Manoel e Lindaura curtem a tranqüilidade do Bom Retiro há 39 anos
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria
História |
Oficialmente criado em 23 de abril de 1958, o
Bom Retiro começou a ser ocupado na década de 40, quando teve sua área loteada de forma a dar origem a um bairro de terrenos grandes e
quadras pequenas. Os lotes foram comercializados pela Imobiliária Bom Retiro, que acabou batizando o bairro. Tem como referências o Jardim
Botânico, o complexo M. Nascimento e o 5º Distrito Policial. O bairro é essencialmente residencial. O último censo apontou uma população de
6.902 habitantes |
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BICA ABASTECE MORADORES - Moradores do bairro, como o estivador Ranulfo Feitosa, não usam filtro
de água. Nem gastam dinheiro para matar a sede. Eles se abastecem rotineiramente de uma conhecida bica localizada próximo à encosta do Morro do
Ilhéu. "Nunca vi essa bica secar, mesmo quando fica muito tempo sem chover", afirmou ele. A fonte traz o líquido do morro. Os moradores garantem
que a água é limpa e própria para beber. A bica fica em um praça na Rua Cristiano Solano. O problema é que a via concentra muito entulho e água
parada
Foto: Nirley Sena, publicada com a
matéria |