Progresso em ritmo acelerado

Luiz Gomes Otero

Da Redação

Quando resolveu se mudar para o bairro da Aparecida, há cerca de 15 anos, a dona-de-casa Elizabeth Marra não imaginava que o lugar fosse prosperar tanto.

Com raízes familiares no núcleo vizinho da Ponta da Praia, ela viu o seu novo bairro ganhar grandes empreendimentos comerciais e imobiliários, que proporcionaram uma valorização dos imóveis já construídos anteriormente.

"Hoje tenho a certeza de que fiz a escolha certa. Vivo no bairro mais próspero de Santos", disse a moradora.

A ida do maior shopping center da Cidade (Praiamar) para a Aparecida contribuiu para o aumento do movimento no bairro. Um estudo feito pela sociedade de melhoramentos local aponta a presença de 60 mil pessoas andando diariamente por suas ruas.

Considerado o núcleo mais populoso de Santos, com 36.940 habitantes e 1 milhão 500 mil metros quadrados de área, o bairro teve sua história construída ao redor da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida.

Isso aconteceu mais precisamente no ano de 1937, como resultado do desmembramento das paróquias de São José Operário, no Macuco e de Santo Antônio do Embaré.

Na prática, a Aparecida foi criada em 1968 pela Prefeitura. Formou-se em áreas antes atribuídas aos bairros da Ponta da Praia, Macuco, Estuário e Embaré. Daí a confusão que ainda ocorre em alguns pontos quanto à denominação dada pelas concessionárias de serviços de energia elétrica e telefonia. A delimitação do bairro está definida no Plano Diretor Municipal.

De acordo com o padre Carlos de Miranda, atual pároco da igreja, no início a missas eram celebradas em um galpão. A inauguração do prédio original aconteceu em 1938, com a realização de uma procissão para a colocação da atual imagem da santa no altar.

Esse prédio foi reformado em 1919. E ganhou características arquitetônicas semelhantes à da Basílica de Aparecida, onde está a imagem da padroeira do Brasil.

O padre Carlos de Miranda assumiu a função de pároco de Aparecida há 12 anos. "No começo, os fiéis olhavam com uma certa desconfiança porque eu era relativamente jovem. Mas, com o passar do tempo, o trabalho foi frutificando e as pessoas se convenceram de que eu estava ali para ajudar a promover a união e a caridade".

Mais creches - A principal característica dos moradores, segundo o pároco, é a solidariedade. Isso fica claro nas campanhas beneficentes realizadas periodicamente. "A adesão é sempre espontânea e muito freqüente. A maioria quer participar ajudando e colaborando de alguma forma".

Entre as principais reivindicações da comunidade, o padre Carlos de Miranda cita a construção de creches municipais e de novos espaços de convivência, como praças.

"As mães costumam se queixar da falta de vagas nas creches que existem aqui", assinalou o pároco.

A Aparecida abriga o maior conjunto habitacional popular - o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, conhecido como BNH Aparecida. Também ficam ali a Escola Técnica Profissionalizante Aristóteles Ferreira, da rede estadual, e o complexo formado pela Escola Estadual Escolástica Rosa e a Faculdade de Tecnologia (Fatec) do Centro Paula Souza, órgão do Governo do Estado.

Reconhecimento - Presidente da Sociedade de Melhoramentos da Aparecida, Martinho Leonardo trabalha para que as concessionárias reconheçam a existência do bairro, que é delimitado pelas avenidas Almirante Cochrane (Canal 5), Afonso Pena, Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6) e Bartolomeu de Gusmão. "É um absurdo que essas empresas ainda ignorem um bairro já consolidado na cidade", sentenciou.

Outra prioridade apontada por Leonardo é a melhoria na iluminação pública de vias como a Rua Alexandre Martins, cujo comércio se desenvolveu nos últimos anos.

Clube mantém tradição há quase 100 anos

Fundado em 1913, o Brasil Futebol Clube é uma das agremiações mais tradicionais da Cidade. E apesar das dificuldades provocadas pela queda da arrecadação e pelo alto custo de manutenção da infra-estrutura montada na Rua Jurubatuba, 80, o clube vem se mantendo através de parcerias. Uma delas é com a escolinha do Santos Futebol Clube, que tem uma unidade dentro das dependências da Aparecida.

O clube tem em sua história feitos notáveis, como a participação em vários campeonatos locais. E revelou atletas que competiram inclusive no exterior.

Aimard Pinheiro da Rocha, o popular Nadinho, ajuda a manter viva a história do clube. Ele se encarrega de preservar a sala de troféus e fotos de ex-atletas participando de confraternizações.

"Para mim é um motivo de orgulho poder ajudar a contar a história desse clube. Se ele existe até hoje, é porque a sua tradição é forte dentro da Cidade", avalia Nadinho.

Sobre as parcerias na academia de ginástica e com o Santos Futebol Clube, Nadinho entende que não há outro caminho. "É preciso usar de criatividade para driblar a falta de recursos. O custo de manutenção é alto. Então, é preciso gerar algum tipo de receita para custear esse gasto".

Comércio forte

Inaugurado em 2000, o Praiamar Shopping tem uma área construída de 130 mil m². Desse total, 40 mil m² é a área bruta locável, que conta com 200 lojas, quatro âncoras, um hipermercado e 10 salas de cinema. A praça de alimentação comporta 1.200 pessoas sentadas e o estacionamento tem 2.300 vagas, sendo 80% delas cobertas. Em média, pelos corredores do shopping, passam um milhão de pessoas por mês. Desde a construção, o Praiamar trouxe investimentos par o bairro. Sua inauguração incentivou construtores a apostar na região e a tornou um dos pontos mais nobres de Santos, com prédios de alto luxo e um comércio cada vez mais atuante.

Gigante

O Conjunto Habitacional Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foi inaugurado em 1971. Conta com 91 prédios e 3.288 apartamentos. Junto com o Conjunto Martins Fontes, que é conhecido como Jaú (N.E.: por ter sido edificado pela construtora Jaú), concentra cerca de 20 mil moradores.

Novas áreas de lazer são necessárias

Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Nelson Gonçalves de Lima Júnior aponta uma deficiência na Aparecida, que pode ser corrigida no futuro: a ausência de áreas verdes no núcleo, que precisaria ampliar os espaços públicos de convivência e lazer.

Um estudo elaborado por alunos da Unisanta detectou que a taxa de arborização da Aparecida é menor em relação aos bairros vizinhos, como o Embaré.

"O bairro oferece condições para que haja investimento nesse setor. Há espaços que podem e devem ser melhor aproveitados no bairro. Até mesmo a Praça Nossa Senhora de Aparecida, onde está a igreja que deu origem ao nome do bairro, poderia ter um planejamento melhor em sua estrutura", assinalou.

Espaço ocioso - Outro ponto que poderia ser aprimorado é o da Praça Caio Ribeiro de Moraes e Silva, que fica em frente à sede do Sesc Santos.

O local recebe aos finais de semana uma tradicional feira de artesanato. Mas, durante o resto da semana, o espaço fica ocioso e sem um uso específico por parte da comunidade.

Por ser um bairro populoso, torna-se ainda mais necessária a criação de mais espaços de convivência.

"O Praiamar Shopping e o complexo do Sesc cumprem um papel importante. Mas entendo que é preciso readequar os espaços públicos", concluiu o especialista.

Otimismo

"Eu acredito que fiz a escolha certa ao me mudar para o bairro da Aparecida. Não quero mudar daqui. Para mim, é o melhor bairro de Santos, o que mais se desenvolveu" - Elizabeth Marra, 49 anos, moradora há 15	"Percebo que a população que mora aqui é muito solidária. Participa ativamente de todas as campanhas beneficentes e atos religiosos. E isso é muito bom" - Padre Carlos de Miranda, pároco da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida

Fotos: Walter Mello, publicadas com a matéria

Borracheiro defende a natureza

Uma das figuras mais populares da Aparecida é o borracheiro João José Vicente, de 59 anos, que trabalha no bairro há mais de 30.

Seu estabelecimento fica na esquina das avenidas Almirante Cochrane (Canal 5) e Afonso Pena. E já foi freqüentado por diversas figuras conhecidas, como o ex-governador Mário Covas.

"Quando acontece algum problema com o pneu do carro, nós somos os mais procurados, logicamente. No meu caso, talvez pela localização privilegiada, acabei ficando mais visado pelos clientes, que acabam se tornando amigos com o passar do tempo", diz o borracheiro.

Além de trabalhar na profissão, João José Vicente tem outra preocupação: a preservação do meio-ambiente.

Ele promove a coleta seletiva em seu estabelecimento. E procura chamar a atenção das pessoas que passam pelo local para o tema.

Recentemente, ele montou uma árvore feita com garrafas de plástico tipo pet, para mostrar a necessidade de se reciclar o material descartado no lixo. A obra está exposta na frente da borracharia, junto com um cartaz alusivo ao tema.

"As pessoas passam e perguntam do que se trata. E eu faço questão de explicar o motivo da iniciativa. Se cada um fizer um pouco, a vida no planeta vai melhorar", assinalou.

João José Vicente conscientiza sobre a preservação do meio-ambiente

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria