Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)

A água e o vento no dia-a-dia de Bino

Albino, ou simplesmente Bino, caminha a passos miúdos, mas firmes. Senta-se no meio-fio, à sombra do chapéu-de-sol. Limpa o suor da testa. Esfrega as mãos calejadas. Goza momentos de descanso.

Há nada menos de 13 anos ele se encarrega, sozinho, de fazer o transporte de passageiros entre o Bom Retiro e o Jardim São Manoel - bairros que estão separados pelo Rio São Jorge - com um bairro a remo.

Faça chuva ou sol, às 6 horas já está pronto para dar passagem a quem precisa, cumprindo uma rotina que se estende até o anoitecer. É o vaivém sobre as águas, a luta contra o vento, o domínio da maré fazendo parte de um dia-a-dia.

Além de Bino pôr o barco em movimento com a força de seus braços, faz a travessia nem que haja um único passageiro na embarcação. Não é como na Bacia do Mercado, onde a catraia só parte quando está lotada. Vez ou outra acontece de ele chegar em uma das margens do rio e constatar que no outro lado há alguém aguardando. Volta para começar tudo de novo.

Não é à toa que Bino ostenta uma pele morena, curtida do sol, apesar de não ser pescador. O chapéu, inseparável, pouco adianta quando o calor bate forte, derretendo o asfalto e esquentando a água do rio.

"Tem vez que eu almoço remando", diz Bino, sem reclamar. Sabe que é preciso aproveitar, porque se chove o movimento cai a zero e o dinheiro mal dá para a comida. A passagem custa Cr$ 30,00, mas fica apenas com a metade. Presta serviço para terceiros.

Sede da SM? Fica em outro bairro

Que ninguém se assuste, mas a sede da Sociedade de Melhoramentos do Bom Retiro fica no Jardim Santa Maria, bairro vizinho. Pode parecer estranho, mas é que antigamente a Rua Ézio Testini, na qual está instalada, fazia parte do Bom Retiro. A definição do novo abairramento de Santos, em 1968, acabou gerando o imprevisto.

Situada ou não no Bom Retiro, não é de hoje que a sociedade de melhoramentos reivindica e tenta conquistar melhorias. E nos muitos anos de luta se destaca Jardelino José da Silva, atual presidente e dos mais ativos colaboradores.

Ele chegou a perder as contas do número de vezes em que pediu a criação de uma pré-escola. Como nunca saía e as crianças não tinham onde estudar, a sociedade de melhoramentos resolveu se responsabilizar pelo funcionamento de classes.

Centenas de crianças passaram pela escolinha da SM, que deixará de existir a partir do próximo ano: finalmente a Prefeitura decidiu atender ao pedido e está adaptando as dependências do antigo canil para escola de educação infantil. O local abrigará ainda um Posto de Assistência à Infância.

Muitos tributam a vitória a Jardelino, que continua na luta, agora centralizada em dois pontos: melhoria da iluminação e construção de uma ponte sobre o Canal do Bom Retiro.