Quatro mesas e bancos em torno de um chapéu-de-sol: é o Clube Pé na Cova
Os campos de futebol num terreno emprestado e o clube sob uma árvore. Vejam como os moradores se divertem na
falta de um centro comunitário à altura das necessidades
Só mesmo a chuva põe os velhinhos a correr. Do contrário,
passam o dia inteiro e varam noite naquela sede tão peculiar: quatro mesas e bancos de madeira, ao redor de um chapéu-de-sol.
Isso mesmo: mesas, bancos de madeira e um lampião, é todo o patrimônio do Grupo Pé na Cova, formado por
aposentados que moram no Castelo Branco.
Quem passa pela Vergueiro Steidel, altura do 375, logo tem a atenção despertada por aquela turma, que enquanto
joga dominó reclama do novo aumento das prestações do BNH, do pacote da Previdência e da aposentadoria cada vez mais minguada. Mas também
conta piadas e velhas histórias, porque afinal ninguém vive só de reclamar.
O Pé na Cova existe há vários anos. Primeiro era só uma mesa e um banco junto à árvore, mas o clube foi
crescendo e o "patrimônio" também. E para que não fossem obrigados a parar o jogo com o cair da noite, compraram um lampião.
O ambiente não poderia ser mais amistoso. Como crianças, eles brincam, torcem e não deixam de dar risada às
custas dos perdedores. E atentem para o detalhe: quem perde quatro vezes no dia se expõe ao vexame de ter seu nome escrito num papel, com a
palavra "morcego" carimbada ao lado. A papeleta fica pendurada em um dos galhos do chapéu-de-sol, para quem quiser ver. Nem "seu" Euclides escapa
da gozação, apesar de seus 82 anos.
Dizem eles que o termo certo para designar quem perde é "marreco", mas, como o carimbo se perdeu, vai "morcego"
mesmo. Segundo os comentários que correm por lá, os maiores "marrecos" da turma são o Bezerra e o Marrom. O primeiro escuta gracejos do
tipo mas nem por isso perde a esportiva. Pelo contrário, chega por trás de um dos velhinhos, segura sua cabeça e vai dizendo: "Português bonito é
esse aqui". E sai rindo, como riem todos que estão por perto.
Um café bem quente e um papo amistoso nunca faltam no Clube
Recreativo Castelo Branco, instalado na Vergueiro Steidel, 362, em área do INPS. É a segunda casa de muitos dos moradores do conjunto e, no dizer
do conselheiro Oriovaldo Ricardo, "um asilo de portas abertas". Ele diz isso devido ao número de aposentados que freqüentam o clube, e se divertem
jogando dominó, truco ou bocha.
O Castelo Branco comemorou, a 26 de janeiro, 10 anos. Tudo começou no Cai Dura, apelido que o pessoal deu
ao enorme barracão dos operários que trabalharam na obra. Eles comiam lá mesmo, os primeiros moradores se chegavam para conversar e "seu" João
Batista teve a idéia de formar o clube.
Logo o pessoal conseguiu instalar a primeira sede, um barracão não muito espaçoso, mas que dava para as
brincadeiras dos sócios. Vai daí que novos associados foram se chegando, a sede cresceu junto com o clube e hoje tem até quadra de bocha.
Mas um medo perdura: que o INPS peça a área e o clube se desfaça, sem ter para onde ir. Por isso, os diretores
pensam em construir uma sede em terreno próprio.
Enquanto os diretores traçam planos, a rapaziada demonstra muito desânimo. É que o clube já não tem time de
futebol. Segundo Oriovaldo Ricardo, dava muita despesa. Não se faz de rogado e lança uma crítica: o pessoal só queria camisa bonita, só queria
comer. Na hora de jogar..."
E se o Clube Recreativo Castelo Branco já não tem time de
futebol, o Ipiranga pode se orgulhar de ter três: um de veteranos, um masculino e outro feminino, todos em sua maior parte integrados por
moradores do Castelo Branco.
Tudo começou da feliz união entre o Ipiranga, "dono" de um dos campinhos de futebol do famoso terreno do INPS, e
a rapaziada do time do Botafogo, que dependia de local para treinar. O casamento Ipiranga/Botafogo já dura três anos e até um barzinho funciona no
barracão que serve de sede, na Vergueiro Steidel, 350.
Quando o Antônio Ramos Sanches e o Françual Alberto começam a citar os melhores atletas, desfiam uma lista que
inclui pelo menos dez, entre eles Bigu, Nica, França Arlindo, Salame, Aguiar e João Neri. O time feminino? Ah, esse
tem jogadoras que botam muito homem no chinelo, como Maria Helena, Marta, Silvinha, Kátia, Bety, Magda e outras mais.
E esse time feminino parece ser o orgulho de muita gente. Tanto que o diretor esportivo, Antônio Ramos,
recomenda: "Dá uma força aí pras meninas". A força está dada! |