Os detalhes das fantasias, um dos pontos altos dos desfiles do Bloco Dengosas do Marapé
Dengosas do Marapé deixam saudade
Janeiro de 1946. No Bar do Careca, um grupo de amigos toma
chope e recorda velhas músicas de Carnaval. O batuque era improvisado, o coro um tanto desafinado, mas animação não faltava. Lá pelas tantas,
alguém lembrou: "Por que não criamos um bloco para brincarmos no Dorotéia?"
Naquele ano, um grupo irrompe barulhentamente no tradicional desfile do Saldanha. Os foliões estavam vestidos de
bailarinas mas, imaginem só, calçavam tamancos! O sucesso foi total, e o Bloco Dengosas do Marapé parte para se tornar uma das agremiações mais
notáveis e características do carnaval santista.
Moninho e Luisão foram os primeiros chefes de ala desse bloco que, durante 20 anos, proporcionou
ótimos espetáculos. Conquistou os primeiros lugares em todos os campeonatos de que participou, pois todos caíam de encantos pelas coloridas
portuguesas, ciganas, rumbeiras, holandesas e outras caracterizações. Que dizer dos enredos, sempre escolhidos a dedos de mestres?
Em 1965, uma opinião unânime: os figurinos de Newton Telles e a maquilagem de Paulo Lara proporcionavam um
espetáculo de arte e muito bom gosto. A diretoria abriu o desfile saudando o povo e as autoridades com mesura digna da nobreza brâmane que
representava. Não deu outra: mais uma vez vencedores, para alegria dos três orgulhosos chefes de ala: Ronaldo Peres, Garófalo e José Limeres.
Apesar do sucesso, o Dengosas do Marapé pisava pela última vez na avenida. A 23 de julho de 1965, reunida na
casa de Carlitos Tavares, a diretoria opta pela extinção da entidade. Até hoje não se consegue entender direito essa decisão. Só há um consenso: o
bloco deixou muita saudade.
Foi também no Marapé que nasceu o Bloco Carnavalesco Acadêmicos da Ponte Vermelha, com passagem um tanto rápida
pelo Carnaval santista. E o bairro hoje vive sem samba? É evidente que não.
Em 1976, os integrantes do Bloco Carnavalesco Diabos da Vila Mathias decidiram criar uma escola de samba. Na
sede da Rua Benedito Ernesto Guimarães foram feitos os primeiros ensaios e, no ano seguinte, o Grêmio Recreativo União Imperial entrava na avenida
com as cores verde e rosa da madrinha Mangueira.
O enredo Carnavais Antigos agradou, o público se entusiasmou, mas a escola conquistou apenas o segundo
lugar. Nos dois anos seguintes obteve a mesma classificação, até que, em 1980, sagrou-se campeã do segundo grupo e conquistou o direito de
desfilar entre as favoritas.
Nunca mais deixou o Grupo Principal, pois os enredos e os 800 figurantes sempre agradam público e jurados. A
bateria? Essa é considerada uma das melhores.
Os preparativos para o Carnaval de 1983 seguem animados na atual sede, Rua São Judas Tadeu, 20/24. A diretoria
promete muitas surpresas com o enredo Mil Novecentos e Antigamente e parece não se assustar diante do surgimento de mais uma escola de
samba no bairro: a Imperadores do Samba, recém-criada por Nair Bustamante.
Os clubes de várzea desapareceram, como o Santópolis, um dos tradicionais
A cruz e seus mistérios
Ela está bem ali,no final da Rua Joaquim Távora. Quanto
mistério não guarda a tradicional Cruz de Pedra? Ninguém sabe ao certo quando e por que foi construída. Os antigos moradores apontam fatos e datas
diferentes. Contam muitos causos do velho cruzeiro. Todos, é claro, cercados de superstições.
Há quem diga que uma mulher enforcou-se numa árvore e que a cruz foi levantada em sua memória; há também quem
afirme que mataram alguém e o assassino, arrependido, resolveu fazer a cruz. Sem contar a história do velhinho muito doente, que resolveu beber
água da bica que existe nas imediações. Passou-se algum tempo, o homem não voltou para casa, a mulher saiu à sua procura e encontrou-o morto,
exatamente no local onde hoje se encontra a cruz. Ela foi edificada para fazer lembrar, enquanto o mundo for mundo, que ali faleceu um homem.
O certo é que todo 3 de maio, Dia de Santa Cruz, os moradores limpam o local e enfeitam com flores. Fazem suas
devoções e, de uma forma ou de outra, revivem os tempos em que ali se realizavam missas campais. E mais: no cruzeiro do fim da Joaquim Távora, nas
horas mortas das sextas-feiras, costumam aparecer os que vão se desobrigar de "serviços" feitos em terreiros. Restos de vasilhames, velas
coloridas, alimentos e até animais mortos são depositados por essas pessoas.
E a tradicional fonte, tão antiga que serviu até para abastecer a área, quando não havia água encanada? Pois
continua no cimo do morro, só que perde toda sua pureza ao descer a encosta da Pedra da Campina. Todos conhecem a bica. Todos conhecem o velho
cruzeiro. É um resto do antigo bairro que ajudou a fazer o Marapé de hoje.
Mistério envolve o cruzeiro da Joaquim Távora: ninguém sabe como e por que foi construído
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