Na casa verde da Rua Borges, o casal posa ao lado de parte dos descendentes
Netos e bisnetos, o que não falta
Quarenta e seis netos e
quarenta e três bisnetos, fora os quatro que nascerão este ano. Um recorde em Santos? Benedita Rosa Carvalho, 72 anos, acha que sim, por isso está
esperando um concurso tipo Avó do Ano para se candidatar. Ela e o marido Antônio, o Antônio Peixe-Galo, como é conhecido, 76 anos, jamais
imaginaram que daquela casa verde da Rua Borges, 102, surgisse família tão numerosa.
Ele, estivador aposentado, faz o percurso do Macuco ao Centro, a pé, em 10 minutos, e não demora mais do que 15
para chegar ao Campo Grande. Ela, dona-de-casa daquelas que não sabe o que fazer quando o marido se ausenta. São 54 anos de casamento.
Nesse bar, o clima é de brincadeiras, todos são iguais e não há preconceitos
Os velhinhos, que brincam, feito crianças
Amizade, brincadeiras e dominó. São esses ingredientes que atraem diariamente dezenas de velhinhos para o Bar do
Chapéu-de-Sol, na Rua Borges com Manoel Tourinho. Eles começam a chegar às 9 horas, com muito custo param para o almoço e retornam à tarde.
"A gente já tem aquela obrigação. Até passar vassoura no chão eu passo, coisa que não faço em casa", afirma
Manoel Leonor dos Santos, aposentado. Ali todos são iguais, não há preconceitos quanto a idade, e o dono do bar, o Boi, brinca, dizendo que
vai mandá-los para as Malvinas (N.E.: na época em que a matéria foi publicada, estava em curso a guerra entre Argentina e
Inglaterra pela posse das ilhas Malvinas ou Falklands, no Atlântico Sul). Em resumo, um grande encontro entre amigos.
O Júlio Alvarés ganhou até o apelido de Julinho do Chapéu-de-Sol, pois não sai do bar, desafiando sua
habilidade contra a do Abel Teixeira, Babá e Corintiano, seus adversários prediletos. É brincalhão, mas fala a sério quando conta
que não vai ao Centro à noite há 20 anos, com medo de ser assaltado. Enquanto manifesta seus temores, alguém interrompe: "Não esqueça de falar da
Sua Mãe; não esqueça dela". Sua Mãe é só o nome da cadelinha, mascote do grupo.
Nesse bar, o clima é de brincadeiras, todos são iguais e não há preconceitos
Corrida São Risal, uma tradição
O grupo dispara, meio zonzo, pela Avenida Siqueira Campos, enquanto a torcida barulhenta grita e gesticula. É
mais uma São Risal, similar da São Silvestre, que começa, reunindo velhos, jovens e crianças. Organizada há 18 anos por Maurici Alfame, surge como
mais um exemplo de tudo que tem e acontece no Macuco.
Para participar, basta ser do bairro e ingerir uma mistura de cachaça, Martini, Campari, Sonrisal,
pimenta-do-reino e outras bebidas. E alguém consegue correr depois dessa "super-dose"? Saem feito foguete, dizem os organizadores. É tradição na
São Risal que ninguém fique sem prêmio. Banana, ovos, pimenta, tudo serve para contemplar os concorrentes. E, como não podia deixar de ser, o
"lanterninha" ganha um abacaxi. |