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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Macuco: história, gente e folclore (2)

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Publicado em 6/5/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)

 


Bacia do Macuco

Quem diria? A Bacia do Macuco e as Casas Populares do Macuco não estão situadas no bairro que lhes deu o nome, mas no Estuário, bairro vizinho. Santos cresceu, foi preciso impor maior disciplina, e o Macuco perdeu áreas. Só para a Encruzilhada cedeu 25% de sua extensão, em 1968.

Dizem os mais idosos que houve época, pelas décadas de 30 e 40, que no mínimo 30% da população santista morava no Macuco. Tinha fama de ser o bairro que mais crescia no mundo e não era para menos: estendia-se desde o Entreposto de Pesca, na Ponta da Praia, abrangendo áreas na extensão das avenidas Afonso Pena e Pedro Lessa, até praticamente o Mercado Municipal, acompanhando a linha de armazéns da antiga Companhia Docas.

Este que já foi um dos maiores bairros de Santos hoje está reduzido ao trecho entre as avenidas Afonso Pena e Siqueira Campos, Rua Almirante Tamandaré, Avenida Rodrigues Alves, Rua Conselheiro João Alfredo até os muros da Codesp, ruas Xavier Pinheiro e Campos Melo. O mapa de Santos aponta os limites, mas quantos moradores não consideram as casas populares e a Bacia como parte integrante do Macuco? Afinal, como dissociar esses dois pontos, particularmente a Bacia, da sua história?

Na última década, o Macuco ganhou pouco mais de mil habitantes. Dos 17.569 moradores registrados pelo Censo de 1970, passou-se para 18.740 em 1980, conforme estimativa do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), elaborado pela Prodesan (esta é a estatística mais recente de que se dispõe, porque o IBGE revelou, com base no último recenseamento, apenas a população total do Município, sem especificações por bairros).

A verdade é que a cada dia o Macuco acentua sua característica de suporte para as atividades do porto. A população procura outras áreas, onde não precise conviver com o trânsito de caminhões, armazéns, barulhentos depósitos de containers, firmas transportadoras e outras ligadas a reparos de equipamentos navais.

Para as 3.549 unidades residenciais registradas pelo Censo de 1970, havia 249 unidades comerciais, 194 de serviços e 102 industriais. Restam pouquíssimos daqueles chalés que dominavam a paisagem no começo do século, e mesmo os tradicionais sobradinhos geminados, de amplos porões e janelas e portas altas, que começaram a surgir a partir do final da década de 20, sucumbem aos poucos. As empresas e os corretores não dão sossego.

Sobradinhos da década de 20 resistem

Evasão - Maria Domingues, portuguesa da Ilha da Madeira, 39 anos de Macuco, afirma que é difícil o dia em que não aparecem corretores, interessados não propriamente no amplo chalé da Rua Rodrigo Silva, 239, construído há mais de 60 anos, mas no terreno de 15 metros e meio de frente por 50 de fundos. Já ofereceram até cinco apartamentos em troca. Mas, eles não valem o quintal onde Maria colhe bananas, fruta-do-conde e figo, cria galinhas e cultiva uma infinidade de plantas.

Deve ser muito lucrativo e conveniente manter-se instalações comerciais ou de serviços no Macuco, porque as ofertas são sempre altas: o imóvel da Rua Borges, 102, vale três apartamentos, na opinião dos corretores.

O cônego Ayrton Brummer, morador há 20 anos e pároco da Igreja de São José, desde 1974, considera o Macuco um bairro condenado. Quem tem terrenos acaba cedendo às pressões e os vende, desligando-se de tudo que lembre os incômodos contatos com o cais.

A evasão populacional fica patente, novas construções habitacionais ou reformas de moradias são raras. "Quem se aventura a construir ou reformar nesse clima de pessimismo?", indaga o padre. Novas construções, só mesmo armazéns e coisas do tipo.

Cônego Ayrton mostra-se constrangido quando aponta a situação. Mais ainda, ao recordar que muitos foram embora do bairro porque seus imóveis estavam no traçado da Avenida Portuária. Onde existiam casas hoje há terrenos baldios ou depósitos de containers, e a continuidade da Portuária permanece sem definição.

Ao mesmo tempo em que fala que o bairro está condenado, não por decreto, mas por circunstâncias, cônego Ayrton guarda uma esperança: se for levado adiante o projeto de construção de um terminal de cargas na entrada de Santos, o Macuco ficará livre dos caminhões, possivelmente dos depósitos, e ganhará feições de zona residencial.

Força no ar - Dá para agüentar os abusos dos caminhoneiros? Eles estacionam em locais proibidos, em ambos os lados da pista, fazem manobras bruscas, bloqueiam passagens, destroem calçadas e árvores e trafegam na contramão.

O barulho dos caminhões perdura nas 24 horas do dia e, se não bastasse, há os depósitos de containers, que operam durante a madrugada e não deixam ninguém dormir. Sem falar nos inconvenientes armazéns de produtos químicos e inflamáveis, alvos de tanta polêmica.

Reclamar para quem, se providências não são adotadas? Há oito meses os moradores esperam a instalação de um semáforo na Almirante Tamandaré com Siqueira Campos. Mais antigo é o pedido de melhoria na iluminação pública e a implantação de um canteiro central na Avenida Rodrigues Alves. Avenida que, aliás, perdeu seu canteiro central e árvores para dar lugar aos carros.

Da condução, poucos não reclamam. Fora os coletivos que circulam na Senador Dantas e Afonso Pena, praticamente pontos extremos, só há o trólebus linha 8, que faz ligação apenas com o Centro e o Boqueirão. Não há áreas de lazer e apenas uma praça - a Palmares - pequena e mal conservada. No mais, há a inconveniente proximidade da Praça Guilherme Aralhe, junto à Bacia do Macuco, que de praça só tem o nome, pois não passa de um depósito de lixo e parque de estacionamento de caminhões.

Os moradores desfiam outras questões, como ruas sujas, com lama acumulada nos cantos, pistas esburacadas e falta de verde. Mas não há como não gostar desse bairro, pelas pessoas que nele habitam. Tem algo de mais forte no ar do que o cheiro que vem da Refinações de Milho Brasil ou da Citrosuco, nessa área onde vivem estivadores, ensacadores, portuários, operários enfim. Gente simples, conversadeira e hospitaleira quando o visitante ganha a sua confiança. Gente como o estivador Waldemírio Malvon, que diz, sorridente: "Eu amo o pessoal daqui. Digo isso e não sou candidato a vereador".


Há 30 anos, barcaças descarregavam areia na Bacia

Veja as partes [1] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Macuco

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