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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CANAIS - BIBLIOTECA NM
Uma paisagem canalizada (6-b)

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Clique na imagem para ir ao índice desta obraNa época em que foram inaugurados os primeiros canais santistas, a Comissão de Saneamento de Santos, chefiada pelo engenheiro Saturnino de Brito, publicou o Álbum Canais de Drenagem Superficial - 1906-07, impresso em 1908 na capital paulista pela Typographia Brazil de Rothschiild & Cia., com 81 páginas de textos, diagramas e fotos relacionados com as inaugurações desses canais.

O exemplar foi cedido a Novo Milênio para digitalização pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010:

Imagem: início da descrição, no álbum de 1908

 

Descrição oficial do plano geral e dos primeiros trechos inaugurados pelos exmos. srs. drs. Jorge Tibiriçá, presidente do Estado, e Carlos Botelho, secretário da Agricultura e Obras Públicas, a 27 de agosto de 1907.

Plano geral - Em fevereiro de 1905 o Governo do Estado de S. Paulo deu nova direção aos trabalhos da Comissão de Saneamento de Santos, ampliando o programa anteriormente restrito às obras de esgotos.

De acordo com este programa, o engenheiro-chefe da Comissão começou por projetar a expansão da cidade, abrangendo toda a planície e compreendendo alguns melhoramentos essenciais na cidade existente. Neste plano não predomina a preocupação do traçado de grandes avenidas em linha reta, cortando-se em ângulos retos, porquanto, na opinião dos mais eminentes engenheiros e arquitetos, o plano em xadrez, com as ruas muito longas, é essencialmente impróprio e anti-estético; é também dispendioso quando se o procure aplicar demolindo e reconstruindo as zonas edificadas.

Nas ruas compostas de vários alinhamentos retos ou curvos, as fachadas dos prédios ficam em distinto realce; estas ruas só podem ser julgadas "feias", quando feios são os prédios; mas, como a reforma estética dos prédios contende com o interesse direto dos proprietários, estes preferem se preocuparem com os "alinhamentos" (quando não os prejudiquem) e atribuem às Câmaras Municipais todas as culpas pelos defeitos de estética e de asseio, e todas as obrigações para corrigirem e manterem os serviços.

Projetado o desenvolvimento da cidade - aproveitando e melhorando o que existe, abrindo algumas ruas em diagonal, nos subúrbios, e as avenidas marginais aos canais, criando os parques e os pequenos jardins que interceptem o transporte aéreo da poeira nas ruas retas e longas etc., pode-se obter a harmonia e a continuidade nos serviços municipais, a justa e indispensável previsão para os serviços de esgotos sanitários e pluviais.

Os arrabaldes de Santos, atuais e porvindouros, assentam sobre terrenos planos e baixos, com o subsolo constituído de areia muito fina e fluente. As dificuldades das construções subterrâneas se avantajam e um plano de drenagem profunda é praticamente inexeqüível. Para drenar seria preciso filtrar, e a ação de cada dreno compreende limitada zona.

Na construção dos prédios se evita, conforme é sabido, a ascensão capilar da umidade nas paredes, estabelecendo, acima das fundações, uma camada impermeável.

Nas construções subterrâneas, porém, não é tão fácil a solução para evitar outros inconvenientes provenientes do terreno em que se as tem de estabelecer.

O projeto dos esgotos está organizado para que a profundidade das valas se reduza ao mínimo, sem prejuízo da declividade que devem ter as canalizações e da sua capacidade para receber a contribuição futura; a construção está sendo feita de modo a evitar qualquer orifício, falha de argamassa ou fenda, por onde a água do subsolo possa entrar carregando a areia fluente e determinando obstruções e desabamentos, tão freqüentes nos serviços da rede antiga.

Uma outra questão, atendida na solução do duplo problema do esgotamento pluvial e sanitário, concerne à drenagem superficial das superfícies alagadas nos subúrbios e à pronta derivação das águas pluviais que descem velozes da montanha, inundam as ruas e obstruem os coletores com a enorme carga de sedimento terroso proveniente das enxurradas. Isto se dá freqüentemente em Santos.

O projeto do engenheiro Fuertes compreendia um plano geral de saneamento; a crítica positiva, reconhecendo o que tem de bom, aponta as modificações necessárias para melhor atender, se fosse executado, à situação local.

O novo plano agora organizado e em execução é o desenvolvimento do esboçado pelo atual engenheiro-chefe da Comissão nos opúsculos publicados em 1898, 1902 e 1903 [1].

Sem compreender outros serviços municipais, o assunto propriamente dos esgotos abrange três questões que não devem estar e não estão separadas no plano geral em execução:

1ª - Esgotos sanitários: coleta, elevação e emissão da contribuição de despejos (sewage) por meio da divisão da área em pequenos distritos; descarga in natura em pleno mar, ou recarga, após depuração, no estuário ou na baía.

2ª - Reforma completa das instalações domiciliárias: sem o que será falho o saneamento da cidade.

3ª - Esgotos pluviais: circunvalação da montanha por meio de valas ou sarjetas interceptoras e de caixas de sedimentação; galerias pluviais, diretamente descarregando no estuário; canais de drenagem, com avenidas marginais, cortando as planícies de subúrbios e abertos de mar a mar, de modo que se dê a renovação das águas.

A construção de uma nova rede de esgotos iniciada em 1903 pelo sr. dr. José P. Rebouças prossegue segundo o novo plano projetado em 1905 pelo atual engenheiro-chefe. A reforma das instalações domiciliárias será certamente realizada em ocasião oportuna. O plano de drenagem superficial, assunto especial desta exposição, foi aprovado pelo sr. dr. Carlos Botelho, secretário da Agricultura e Obras Públicas, e satisfaz o programa do governo do sr. dr. Jorge Tibiriçá, presidente do Estado, que inaugurou em agosto de 1907 três grandes trechos de canais executados e autorizou a construção de mais 3 quilômetros de canais, e igual extensão de grandes galerias pluviais na cidade.

Vamos descrever estes projetos e as obras inauguradas a 27 de agosto de 1907.

***

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Mapa dos canais, no álbum de 1908 - Clique na imagem para ampliá-la

Galerias pluviais – Na circunvalação da montanha se dispensará o canal contínuo, substituindo-o por pequenas valetas e sarjetas, as quais serão tributárias das caixas de detenção da areia (sist. "R. de Brito") de onde partirão as grandes galerias pluviais.

Quatro destas galerias fazem parte integrante do projeto apresentado em junho de 1905 e vão ser executadas.

Nestas galerias serão aproveitados os excelentes tubos de cimento armado, construídos sob a direção do sr. dr. José Rebouças; estes tubos não serão aplicados em plena seção, e sim cortados diametralmente para servirem de abóbada à seção retangular das galerias feitas in situ. Estas galerias descarregarão nos trechos de embocadura no cais, construídos pela Companhia Docas de Santos.

Canais de drenagem – Os canais de drenagem projetados e aprovados são em número de oito, mas a eles virão ter outros tributários – canaletes, galerias, coletores e sarjetas subsidiárias – formando rede pluvial completa.

Em grandes linhas, eis a descrição dos cursos:

A retificação do Rio dos Soldados, já executada, começa na Doca do Mercado, no extremo da galeria construída pela Companhia Docas de Santos; na Rua Braz Cubas se bifurca, seguindo um ramo por essa rua, parte em galeria e parte em canal, conforme está executado até atravessar a linha férrea da Companhia Docas de Santos; será no futuro prolongado até a baía, onde sairá próximo à foz dos Dois Rios, que serão aterrados. A parte em galeria tem por abóbada virolas de 1,60 m, de cimento armado, cortadas ao meio.

A retificação do Rio dos Soldados, conforme está executada, continua o seu curso pela Rua Rangel Pestana, e atravessa a Avenida Ana Costa; pouco adiante recebe o canal que drenará a planície Jabaquara, vindo do ocidente. O canal grande continuará para o Sudoeste, passando entre o Morro das Vigárias e a ponta de Jabaquara; aí mudará de declividade e se bifurcará. Um ramo, com a mesma seção, se aproximará da montanha, se curvará e seguirá para a Praia José Menino, saindo em terrenos do sr. dr. Paulo de Queiroz. O outro ramo, atravessando e saneando os terrenos Marapé, correrá paralelamente à Avenida Ana Costa, na distância de cerca de 600 metros, direção Sul, saindo na mesma praia; está sendo executado agora.

Três outros canais cortarão de mar a mar os terrenos entre Vila Macuco, Avenida Conselheiro Nébias e a Ponta da Praia.

Dos canaletes tributários está feita uma parte da retificação do córrego Cachoeirinha, em José Menino (raio de um metro).

Vamos dar os caracteres dos tipos principais; depois descreveremos as pontes executadas.

Os canais são de tipos diferentes, de acordo com a capacidade necessária e as condições locais.

A capacidade, quer das galerias na cidade, quer dos canais, foi avaliada para esgotar as águas contribuintes pelas superfícies tributárias, desde a linha de cumeada da montanha, descendo as encostas vertentes, até os bairros futuramente formados, com as suas superfícies revestidas pelo calçamento ou cobertas pelos telhados das casas. O cálculo obedece aos princípios expostos na memória que o engenheiro-chefe apresentou ao Terceiro Congresso Científico Latino-Americano, reunido no Rio de Janeiro em 1905.

A técnica da construção constitui a parte mais interessante pela feliz aplicação de um simples revestimento de concreto armado, em perfil transversal nimiamente apropriado à execução econômica e sanitária da obra no terreno fluente.

O perfil é formado por um segmento circular [figura 1], cujo raio R varia com o tipo e cujo ângulo central é de noventa graus; portanto, as tangentes extremas t formam com o horizonte ângulos de quarenta e cinco graus, e uma parte destas tangentes serve de diretriz para prolongar o revestimento de concreto armado, que depois se dobra e mergulha no terreno, formando duas abas de resistência e de apoio para os taludes das terras, também inclinados a 45 graus e revestidos de grama, até as banquetas marginais M.

O revestimento de concreto armado é formado por barras de ferro redondo de 8 milímetros de diâmetro, colocadas transversalmente (segundo a diretriz) de 10 a 15 centímetros de espaçamento; longitudinalmente (segundo a geratriz) são entrançadas naquelas as barras e três a cinco milímetros de diâmetro; a espessura do concreto que envolve as barras é de 10 a 15 centímetros; feito o concreto se regulariza a superfície interna por meio de um reboco de argamassa de um de cimento e três de areia.

No fundo e nas paredes laterais existem drenos-filtros, que descarregam a água do subsolo e diminuem as subpressões; estes drenos, formados de tijolos perfurados, que saem de um fundo de areia grossa e pedrinhas, exigem cuidado para que nunca deixem passar a areia do subsolo, o que prejudicaria a integridade da obra.

No cruzamento das ruas atuais ficam os bueiros para a descarga dos coletores pluviais, a construir pela municipalidade.

Um outro tipo de canal [figura 2], mais caro - apropriado, porém, aos casos de ruas de escassa largura -, é o adotado na Rua Rangel Pestana. O ângulo central é de 120 graus, as tangentes revestidas se inclinam a 60 graus e sobre as abas E se levantam os muros verticais, que podem ser de cimento armado, ou de alvenaria de pedra, ou de alvenaria de tijolo; no coroamento do muro se implanta o parapeito.

Em qualquer destes casos não se deve perder de vista que o revestimento de concreto armado vem resolver de um modo cabal, estético, sanitário e econômico, a questão da retificação de córregos e a das canalizações pluviais dentro das cidades. Não se trata de canais de navegação; se essa utilidade os reclamasse em Santos, outras seriam as condições do projeto.

Não só é fácil a limpeza dos canais revestidos, como também a execução do revestimento não exige cuidados especiais quanto à estabilidade; qualquer concerto eventual pode ser executado com a maior facilidade.

Pelo antigo sistema de construir, as muralhas laterais são verdadeiros muros de arrimo, e qualquer fenda indica um defeito ou uma ameaça à estabilidade da obra; aqui, uma fenda real e eventual nunca poderá comprometer a estabilidade, e esta estará sempre (mesmo que as fendas se multiplicassem e aí o ferro se consumisse) em melhores condições do que os simples revestimentos de pedra seca em perfis igualmente traçados; tais fendas apenas trabalhariam como drenos imprevistos.

Por este motivo, são também desnecessários cuidados especiais para que a argamassa do revestimento superficial porventura não estale, por efeito do forte calor em Santos.

***

Limpeza dos canais – O revestimento completo da seção normalmente molhada pelas águas de enchente, permite a limpeza normal e a auto-limpeza, por meio de um batel-adufa (à semelhança do que se usa nos grandes esgotos de Paris), transportando, pelo impulso das águas represadas, os detritos para os poços ou caixas de areia construídos no fundo do canal, em diversas situações.

Para a conservação sanitária dos canais de Santos é indispensável o prolongamento de mar a mar, conforme o projeto da Comissão. É preciso que as águas se renovem, por ocasião das grandes marés, no fluxo e no refluxo; do contrário, a obra ficaria defeituosa e poderia mesmo trazer a desagradável impressão (embora bem atenuada) do canal do Mangue no Rio de Janeiro [2].

Para esta renovação de águas e para manter as descargas livres da obstrução de areias acumuladas pelo mar, serão estabelecidas adufas que represem as águas de preamar e as descarreguem em baixa-mar; este assunto será convenientemente estudado e exposto após a instalação e o funcionamento dos aparelhos.

A propósito da conservação do canal, faz-se necessário punir os que atirem impurezas e pedras às águas, até que todos se habituem a estimar os melhoramentos que a todos pertencem.

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Figura 1, no álbum de 1908

Avenidas laterais – Os canais de drenagem, bem como os cursos naturais retificados, devem ficar sempre no centro ou ao lado de avenidas e ruas, nunca atravessando os quarteirões ou terrenos particulares, para que não se faça servidão imunda das suas águas.

Em Santos, as novas avenidas estão sendo abertas com 30 metros e 35 metros de largura, ficando o canal ao centro. A Rua Rangel Pestana será alargada do lado Sul, estando decretado o recuo pela Câmara Municipal; a Comissão de Saneamento obteve de vários proprietários a cessão gratuita de alguns terrenos para esse alargamento, executando os muros no futuro alinhamento.

O tipo de canal [figura 1] com as banquetas e os taludes gramados, em avenidas arborizadas, é essencialmente apropriado para atenuar a forte reverberação solar das cidades tropicais. O tipo de canal [figura 2] com o ângulo central de 120 graus, muros marginais e parapeitos (tipo aplicado na Rua Rangel Pestana) é mais caro e permite reduzir a superfície ocupada, quando é escassa a largura disponível para as ruas.

Estes canais, com as suas avenidas, constituem um elemento estético de valor apreciável no que está feito; além dos outros serviços sanitários a que se destinam, não é para desprezar o da distribuição da ventilação, quer devido à largura das avenidas, quer favorecida pelo próprio curso das águas.

Estas razões reforçam o argumento em favor do indispensável prolongamento dos canais de Santos até à baía, de mar a mar.

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Figura 2, no álbum de 1908

Pontes e passadiços – As pontes e passadiços executados são de tipos diferentes, e a variedade é, por sua vez, elemento de estética para obras que não são, e nem devem ser, de caráter meramente utilitário.

Esse predicado não podia ser desprezado em Santos, o grande empório comercial, a cidade de recepção para os que, vindos do mar, se destinam a S. Paulo, ou apenas por aqui passam para terras estranhas e daqui devem levar a boa lembrança. Esse é o programa do Governo e a ele procurou satisfazer a Comissão de Saneamento.

Aquelas obras de arte são de concreto armado, mas o modo de fundar algo oferece de interessante no ponto de vista técnico. Sabe-se que a regra na arte de construir é fundar sobre planos horizontais, em um só plano ou em degraus.

Vamos dar uma explicação, a todos acessível, das fundações das novas pontes. Elas não são feitas em planos horizontais; - serve de fundação a própria superfície cilíndrica do canal, reforçada na proporção dos ferros e com as nervuras transversais espaçadas de 3 em 3 metros. É aliás intuitivo que a estabilidade seria obtida para obras pesadas construídas sobre esta superfície côncava, à semelhança do que se faz estabelecendo pesadíssimas construções mecânicas sobre as superfícies côncavas dos navios; teremos as nervuras ou as cavernas, para o reforço do esqueleto do canal ou do navio [figuras 3, 4, 5]. Dito isto, é fácil compreender a razão de ser da construção, e o mais se resume na indagação da distribuição das pressões no terreno e nas alvenarias.

Nas pontes da Avenida Conselheiro Nébias e Constituição, foram aproveitadas, como galerias laterais de descarga, virolas de cimento armado existentes, com o diâmetro de 1,60 m [figura 3]; assim, o vão central ficou limitado a 3 metros, o que  permitiu dar às pontes a pequena espessura de 15 a 18 centímetros, deixando por baixo um vão livre de 2,50 m a 2,70 m de altura, para a franca passagem de escaleres de passeio, por ocasião das grandes marés, ou para aquele mister represando as águas.

A prova da grande economia realizada com os novos tipos de pontes está no seguinte: a nova ponte, incluindo o preço do material que já existia (trilhos e virolas), e o da ornamentação, custou cerca de 25 contos, ou menos dez contos que a antiga ponte, na mesma avenida.

As pontes das ruas Constituição e as de Braz Cubas são de estilos diferentes.

A ponte na Rua Senador Feijó não se destina a trânsito pesado, visto que o traçado dos bondes elétricos estava projetado por (N.E.: "por" no sentido de "via Rua") Braz Cubas; destina-se apenas a facilitar o pequeno trânsito de carruagens e automóveis e constitui um motivo ornamental. É a ponte de construção mais leve, tendo apenas 15 centímetros de espessura em vão de 5,40 m, podendo, entretanto, dar passagem a duas carruagens de peso total de 16 toneladas.

O tipo de construção se aproxima do tipo Matrai, ou de uma pequena ponte suspensa com os cabos de aço cobertos de cimento [figura 4]; estes cabos, de duas polegadas [de] diâmetro, envolvem o canal e fecham em ciclo os esforços fletores e resistentes; os cabos existiam nos depósitos da Comissão, desde 1892. Está calçada com asfalto e escória de ferro.

A ponte Ana Costa (figura 5B) é bastante ampla para o mais movimentado trânsito de bondes e outros veículos, no cruzamento de duas avenidas. Os seus parapeitos são ornamentados por duas calhas em que as folhas multicores dos crotons lhes dão o desejado realce.

Na extremidade do canal, na Praça do Mercado, e junto às pontes Braz Cubas e Ana Costa, estão feitas as escadas de acesso para as embarcações.

Alguns passadiços oferecem certo interesse pelo aspecto leve da construção; no tabuleiro de cimento armado foram feitas aberturas transversais para o enxugo, à semelhança do que se faz nos pavimentos de madeira.

As canalizações de ferro para água e gás passam sob o passeio das pontes, em caixas facilmente reabertas para qualquer conserto ou substituição; aí passarão também os emissários de tubos de ferro das estações elevatórias distritais. Junto às pontes das ruas Constituição e Senador Feijó se vêem tubos de ferro que atravessam o canal perto do fundo – são canalizações provisórias do esgoto antigo, e que desaparecerão brevemente, após a execução da rede nova.

A ornamentação das pontes, com o granito artificial, ou mosaico, de cimento e mármore, foi executada pelo artista D. Savorelli, estabelecido em Santos.

Seja dito de passagem que algumas pessoas pensam constituir um grande incômodo público não haver uma ponte em cada cruzamento de rua; outras pensam que as pontes devem ter a largura e o nível das ruas... Os exemplos instrutivos, dados pela generalidade das cidades em análogas condições, são os melhores argumentos para corrigirem a insensatez das reclamações ou das críticas.

***

Figura 3, no álbum de 1908

Valor das obras concluídas – As obras de drenagem superficial, inauguradas a 27 de agosto de 1907, compreendem os serviços constantes dos Quadros juntos, mencionando as quantidades de obra e o custo dos trechos inaugurados.

Temos, portanto, dois quilômetros de canais prontos e inaugurados em agosto de 1907, além de cerca de 500 metros de afluentes, quinze obras de arte e os serviços extraordinários mencionados. Estas obras, excluindo a cota de administração geral (almoxarifado, escritório central etc.), comum a todos os serviços a cargo da Comissão, incluindo, porém, o ordenado do engenheiro e a conservação das obras, importaram em quantia inferior à da verba autorizada, conforme mostra o Quadro Nº 2.

A Câmara Municipal tem fornecido os meios-fios, o belo poste de iluminação da ponte Braz Cubas, e fez o calçamento da Rua Rangel Pestana, contribuindo valiosamente para o embelezamento local.

A população de Santos, os visitantes estrangeiros e nacionais, têm dispensado a estas obras elevado apreço, o que realça o ato do governo mandando executá-las e justifica a necessidade do seu prosseguimento. Além das representações feitas à Câmara Municipal e ao sr. dr. secretário da Agricultura, há que destacar o eloqüente apoio dos proprietários que cederam gratuitamente os seus terrenos, em extensão superior a 8 quilômetros por 35 metros de largura.

***

Figura 4, no álbum de 1908

Pessoal executor – Os projetos, organizados pelo engenheiro-chefe, foram executados sob a sua direção e do engenheiro Miguel Presgrave, sendo encarregado dos trabalhos o engenheiro Joaquim T. de Oliveira Penteado.

O engenheiro-chefe louva o zelo do pessoal técnico e a dedicada cooperação do pessoal operário, representado pelo administrador das obras, sr. Marin Marino.

Quadro n.1

Especificação e quantidades dos serviços executados
até 27 de agosto de 1907

Número de ordem

Especificação

Quantidades

Retificação do Ribeirão dos Soldados, até passar a Avenida Ana Costa
1.360,00 m

2

Canal Braz Cubas:
a) trecho em galeria
b) trecho em canal com o fundo de raio 0,80 m, tipo especial
c) trecho em canal de raio 1,00 m, taludado
 
217,00 m
156,00 m
 17,00 m

3

Galeria, córrego M.Serrat
18,20 m

4

Galerias pluviais afluentes (Avenida Conselheiro Nébias, Rua Braz Cubas)
148,00 m

5

Coletores de manilhas afluentes
325,25 m

6

Canalete da Usina terminal, raio 1 m (Cachoeirinha)
278,00 m

7

Pontes:
a) abertura do canal 9,00 m
b) vão 5,40 m
c) vão 2,00 m
d) ponte-galeria vão 1,60 m
 
2
3
1
6

8

Passadiços
3

9

Remoção de terra para aterro de avenidas e do antigo Rio dos Soldados
15.940,00 metros cúbicos

10

Muros e passeios, em terrenos cedidos para o alargamento
616,65 metros lineares

11

Calçamento da Viela sanitária e das ruas
1.251,30 metros quadrados

12

Serviços diversos:
Derivações de cursos; modificações de encanamentos de água, gás e esgotos; postes para a iluminação do Canal Rangel Pestana; assentamento de meios fios; passeio nos canais; arborização das margens; remoção de pequenas casas; indenizações de benfeitorias etc.

RESUMO

 

A

Extensão total de canais e canaletes
2.030,00 m

B

Idem de afluentes
491,45 m

C

Idem de bueiros de 0 ,60 x 0,60 m
104 m

D

Número total de pontes e passadiços
15

Quadro n.2

Custo dos canais e obras inauguradas em agosto de 1907

Especificação Parciais Totais

1

1905 (2 meses):

Custo efetivo

33:508$824

33:508$824

2

1906:

Pessoal técnico

8:240$772

 

3

Pessoal operário

113:363$678

 

4

Material e serviços diversos

140:633$262

262:237$712

5

1907 (8 meses):

Pessoal técnico

6:272$000

 

6

Pessoal operário

121:410$460

 

7

Material

118:050$829

 

8

Cercas, remoção de muros

3:418$514

249:151$803

9

Custo efetivo

 

544:898$339

10

Saldo a favor

 

5:101$661

11

Verba autorizada

 

550:000$000

Despesas gerais e acessórias

 

 

 

1/3 da administração geral em 1906

38:433$097

 

1/3 da administração geral em 1907

25:611$456

 

Festas da inauguração

5:666$400

69:710$953

Nota: O preço por metro linear de canal do tipo da 1ª seção é de cerca de Rs. 130$000; o cálculo de custo de unidade será errado desde que se não exclua o custo das obras de arte, o dos serviços acessórios e se não discriminem os tipos diferentes.

Figura 5A/5B, no álbum de 1908

[1] F. S. Rodrigues de Brito - Saneamento de Santos, Esgotos das Cidades e Esgotos de Santos.

[2] Em diversos opúsculos e artigos para o Jornal do Commercio, tenho mostrado a necessidade do prolongamento do Canal do Mangue, de mar a mar, indicando como preferíveis um dos seguintes traçados:

a)     cortando a Praça da República, passando no sopé do morro de Santo Antonio e atravessando o Largo da Lapa (v. Esgotos de Santos, pág. 34, 1903);

b)     cortando os terrenos de arrasamento do morro do Senado e vindo sair na Lapa pela então projetada Avenida Mem de Sá, que deveria ter sido oportunamente alargada (v. artigos anexos ao opúsculo Águas pluviais).

R. de Brito.

Imagem: iluminura ilustrativa incluída na página 20 do álbum de 1908

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