Imagem: desenho de Araújo, publicado com o texto
Julho
de 1900. Afirmava-se que havia um fantasma no portão do Cemitério do Paquetá, na Rua Dr. Cócrane. Surgia à meia-noite,
rondava o local por espaço de meia hora e retirava-se a passos lentos pela Rua Bittencourt. Era mulher, ora trajada de preto, ora de branco. Vinha
pelos lados da Rua S. Francisco, quedava-se diante do portão do campo santo, acenava com lenço branco para seu interior e colocava a peça retangular
de tecido aos olhos por baixo do véu que lhe cobria a cabeça, como a enxugar uma lágrima.
Foi o grande assunto. Boa parte dos que haviam afluído às imediações do Cemitério do Paquetá
jurava de pés juntos haver visto o fantasma, enquanto outras pessoas atribuíam o fato à imaginação, cisma ou superstição. Certo é que as queixas
aumentavam na repartição policial, cujo chefe, major Evangelista de Almeida, decidiu dar caça ao fantasma, ordenando que um pelotão de praças da
Cavalaria permanecesse durante toda a noite diante do portão do Cemitério, onde o povo acorreu com curiosidade para apreciar o inusitado espetáculo
de a Polícia prender uma alma-do-outro-mundo. Nessa noite, porém, o fantasma não se dignou a aparecer.
Em compensação, os cavalarianos deram show à parte, dispersando brutalmente o
povo, agredindo-o a chicote e a espada. O jornal A Tribuna, em sua edição de 28 de julho de 1900, ou no dia imediato, lançou enérgica nota de
protesto contra tal ato de selvageria da Polícia. Ninguém mais quis ir às imediações do Cemitério do Paquetá, temendo novos golpes de violência dos
cavalarianos.
E o fantasma também deu o sumiço... |