ABTP contesta a legalidade do Porto
Novo
Carlos
Alberto Nóbrega, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq) já respondeu à consulta, formulada
pela Libra Terminais, sobre as atividades alfandegadas, equipamentos e
operações do Porto Novo – administrado pela Intercam, e que
foi inaugurado em 3/2002 no Caju, em área que pertencia ao Estaleiro
Caneco. Através da Associação Brasileira dos Terminais
Portuários Privativos (ABTP), a Libra Terminais e a MultiRio – consórcio
entre a Multiterminais e o Banco do Brasil – questionam a legalidade do
novo cais fluminense.
Nóbrega informou que foram feitas
perguntas à Antaq, e estas já foram respondidas, mas ele
não revelou o teor do documento. A consulta praticamente inaugurou
os trabalhos da Antaq, que ainda não está com sua equipe
totalmente constituída.
A Libra Terminais é a operadora
de parte do terminal de contêineres do Porto do Rio de Janeiro, arrendado
por licitação há três anos. Sua principal concorrente
é a Multiterminais, que opera o terminal ao lado de suas instalações.
Mas, com a inauguração do Porto Novo, o mercado sentiu-se
ameaçado, face às operações de contêineres
que vêm sendo realizadas pelo novo terminal portuário, que
- como signatário do contrato de adesão - obteve o licenciamento
para operações alfandegadas.
Calado - O presidente da Associação
Brasileira dos Terminais Portuários Privativos (ABTP), Willen Mantelli,
acusa o novo terminal de atuar apenas como área alfandegada, sem
poder atuar como um porto de fato face ao calado de apenas 2 metros. Segundo
entende, as operações do Porto Novo se contrapõem
aos dois terminais de contêineres, que participaram de licitação
e dispõem de contatos que impõem obrigações
de investimentos em maquinários e outras melhorias.
Mantelli questiona a operação
alfandegada, direito de um terminal portuário, já que o mesmo
não dispõe de profundidade suficiente para receber embarcações.
A seu ver, o Porto Novo acaba operando apenas como um estação
aduaneira próxima de um cais, sem exercer a atividade portuária
de fato. E sua preocupação vai mais além: se perdurar
esse tipo de prática, o sistema portuário nacional entrará
em desequilíbrio.
O presidente da ABTP também
aguarda a análise da Antaq sobre o assunto, pois, segundo frisou,
a competitividade entre os terminais ficará em desigualdade face
às taxas que são distintas: como terminal alfandegado portuário,
a taxa é inferior àquelas pagas pelas Estações
Aduaneiras (Eadis).
O Porto Novo, segundo informou o
diretor da Intercam, Gustavo Donati, obteve sua licença de funcionamento
em 2001, pelo Ministério dos Transportes – antes da criação
das Agências Nacionais de Transportes - e somente a partir
de 3/2002 foi oficialmente inaugurado e alfandegado. Como terminal portuário
privativo de uso misto, o Porto Novo está autorizado a movimentar
cargas de terceiros. A proposta inicial do terminal é operar cargas
de projeto e mercadorias de suprimento às plataformas de petróleo.
Dragagem - Donati destaca que
o Porto Novo aguarda o início das obras de dragagens que devem ser
iniciadas em 7/2002, aprofundando o calado em mais cinco metros para atender
às embarcações para o transporte de cargas pesadas,
pois já está prevista para outubro/novembro-2002 a chegada
das peças que serão transportadas pela Baía de Guanabara
para montar a usina termelétrica que funcionará na Refinaria
de Duque de Caxias (Reduc).
A pedido da Antaq, o diretor da Intercam
juntou todos os documentos referentes ao seu licenciamento portuário
e os encaminhou a Brasília, para que a agência pudesse analisar
os procedimentos.
Gustavo Donati salientou que o Porto
Novo é um consórcio formado pela sua empresa (a Carvalhão)
e a Superpesa, empresa que dispõe de embarcações especializadas
em cargas de projeto e que já foi contratada para trazer as turbinas
da usina da Reduc. O Porto Novo não irá atender aos navios
conteineiros, que continuarão a atracar nos terminais do Porto do
Rio de Janeiro, defende-se Gustavo Donati.
As controvérsias que giram
em torno do Porto Novo advêm do fato de ser o primeiro no Estado
do Rio de Janeiro a operar fora da chamada área de porto organizado,
ou seja, fora das instalações pertencentes às administrações
portuárias públicas. A diferença é que nas
instalações públicas, as operações privadas
têm de passar obrigatoriamente por processo licitatório para
a privatização. Já o terminal fora da área
organizada, é um empreendimento privado que terá de tomar
todas as providências para transformar-se em um terminal portuário
privativo.
Receita - O presidente da
Companhia Docas do Estado do Rio de Janeiro (CDRJ), Francisco Pinto, afirmou
que as operações do novo terminal fluminense em nada interferirão
nas atividades do Porto do Rio de Janeiro, que é uma instalação
pública. Além disso, as operações do Porto
Novo representarão receitas para a Docas do Rio, pois que terá
de pagar as taxas previstas em Lei, entre elas a de uso do canal de acesso
para a navegação pelas embarcações que pretendam
ancorar em seu cais.
O superintendente da Receita Federal
do Rio de Janeiro, Murilo Amaral de Oliveira e Silva, informou que o alfandegamento
do Porto Novo é um procedimento normal para as instalações
portuárias, que por lei ganham o direito à zona primária
para a movimentação de mercadorias.
Salvo algumas exceções,
a maioria dos terminais portuários privativos opera em áreas
de porto organizado, e as Eadis e os terminais retorportuários alfandegados
são autorizados mediante processo de concorrência pública.
Por isso, espera-se que o assunto ainda tenha repercussão além
dos limites do Estado do Rio de Janeiro, por se tratar de um novo aspecto
no processo portuário.
Para alguns especialistas, o processo
do Porto Novo não apresenta nenhuma anomalia e traz uma nova realidade
na concorrência portuária. O engenheiro Nelson Carlini, consultor
que ora desenvolve projeto para viabilização do Porto de
Imbituba – o primeiro do Brasil administrado por companhia docas privada
– considera normal o processo do Porto Novo.
As empresas Libra
e Multiterminais decidiram não se pronunciar sobre o assunto, que
está sendo conduzido pelo órgão de classe, a ABTP.
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