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São Vicente festeja os seus 450 anos
Respeito aos princípios democráticos e uma constituição que represente,
efetivamente, os anseios da comunidade, foram os temas dos discursos dos novos "Cidadãos Vicentinos",
Carlos Caldeira Filho e almirante Júlio de Sá Bierrenbach, ministro do Superior Tribunal Militar, durante as
comemorações dos 450 anos de São Vicente. Os festejos tiveram início com a representação da chegada de Martim Afonso. Houve missa, hasteamento de
bandeiras, inauguração, procissão do padroeiro e sessão solene na Câmara.
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Fundação de S.Vicente é revivida
"Dos poderes que me são conferidos pela Carta Régia de
sua majestade, D. João III, Rei de Portugal, mantenho o nome deste povoado de São Vicente, elevando-o à categoria de Vila. Determino que se
improvise um altar e arvore-se uma cruz e que Gonçalo Monteiro, meu fiel padre e confessor, celebre a Santa Missa de Ação de Graças pela feliz e
pacífica acolhida que tivemos junto aos brasilíndios. 22 de Janeiro de 1532".
E numa manhã ensolarada, há quatro séculos e meio, um fato quebrava a harmonia,
chamando a atenção dos habitantes destas terras selvagens e tropicais, até então guardadas no meio da natureza. Martim Afonso de Souza fundava
oficialmente São Vicente, como foi revivido ontem, sob o sol forte da manhã, nas areias da praia do Gonzaguinha, durante a encenação da chegada da
expedição fundadora, dentro das comemorações dos 450 anos do município.
Mais de duas mil pessoas se concentraram próximas ao Monumento do 4º Centenário de São
Vicente, para assistir ao espetáculo encenado por cerca de 100 atores da Federação de Teatro Amador da Baixada Santista. Antes da apresentação da
encenação, uma alvorada festiva com queima de fogos e apitos de sirenes abriu, por volta das 6 da manhã, as comemorações no dia do aniversário da
cidade, seguida do hasteamento de bandeiras e apresentação da Orquestra Sinfônica Juvenil do Litoral, na Praça 22 de Janeiro. As bandeiras foram
hasteadas pelo juiz de direito, Mário Teixeira Filho (nacional); vereador Raimundo dos Santos Oliveira, presidente da Câmara (paulista) e pelo
prefeito Antonio Fernando dos Reis (do município). Após a encenação, houve a abertura da exposição filatélica e numismática no Clube de Regatas
Tumiaru.
No palanque oficial, armado na avenida Getúlio Vargas, além do prefeito, estavam
presentes vários políticos do município e da região, o prefeito Koyu Iha, deputados e outras autoridades civis e militares. O senador Franco
Montoro, do PMDB, chegou quase ao final da solenidade, acompanhado pelo deputado estadual Rubens Lara, e pelo deputado federal Emílio Justo, ambos
do PMDB.
No palanque oficial vários políticos da oposição, entre eles o ex-prefeito Koyu Iha
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Encenação
Cena 1 - Quase todos já desembarcaram. Restam apenas Martim Afonso e dois
marinheiros, que já se encontram na canoa junto à caravela. Índios os espreitam, escondidos no mato (o público fica estático; ao fundo, uma música
de abertura).
Cena 2 - Os marinheiros e Martim Afonso começam a se locomover em direção à
praia. O restante começa a se movimentar: os fidalgos, soldados e marinheiros, todos em compasso de espera; os índios, em compasso de curiosidade e
medo (entra o locutor e explica que estamos em 1532, "manhã em que os pioneiros chegavam para desbravar estas terras primitivas").
Cena 3 - Martim Afonso passa em revista a tropa e se dirige aos demais fidalgos
(mantém-se a expectativa, continua a música ao fundo).
Cena 4 - Enquanto Martim Afonso faz o reconhecimento da terra, chega o chefe
hostil Piqueroby. O eco dos tambores começa a soar, os índios executam danças e canções de guerra, numa preparação para resistir à invasão dos
brancos. Os portugueses também se preparam para lutar (o suspense prende a atenção da assistência)... Quando o confronto parece inevitável, surge em
cena João Ramalho, que já estava aqui há algum tempo e havia casado com a índia Bartira, estabelecendo o início do processo de aculturação com
algumas tribos (a cena fica estática)...
(Entra novamente o locutor: "João Ramalho, português que havia chegado ao Brasil
muitos anos antes e vivia maritalmente com a filha do Grande Chefe Tibiriçá, ouviu de seu sogro a notícia de que homens brancos haviam chegado. Uma
alegria invadiu seu coração diante da perspectiva de serem aqueles, seus patrícios. Temeroso entretanto, diante da possibilidade de uma guerra
sangrenta entre seus amigos da selva e seus irmãos de além-mar, tratou de persuadir o sogro para que o deixasse tomar contato com os invasores,
garantindo-lhes grandes conveniências; Tibiriçá anuiu à súplica e, às pressas, partiu com João Ramalho para a enseada de Guarapissumã, a fim de
evitar tão sangrenta batalha".)
Cena 5 - João Ramalho com Martim Afonso, e Tibiriçá com Piqueroby, negociam.
Tibiriçá manda a flecha quebrada por um mensageiro (suspense).
(Entra o locutor: A flecha quebrada, enviada pelo brasilíndio, símbolo de paz e
aceitação daquela gente estranha à terra, foi prazerosamente aceita por Martim Afonso, que após ter declarado a João Ramalho suas intenções, ouviu
seus conselhos bem como os de Antonio Rodrigues, companheiro de João Ramalho que se juntou a ele surpreso da chegada da expedição (entra música).
Num clima de confiança e confraternização, só não participado por Piqueroby e sua gente que mantiveram-se em atitude hostil, Martim Afonso,
imediatamente, dá cumprimento à missão que lhe outorgara o Rei de Portugal, elevando o povoado de São Vicente à categoria de Vila).
Cena 6 - Martim Afonso leva as oferendas a Gonçalo Monteiro e aí celebra-se a
Missa Campal (termina a missa, cena estática, encerrada a encenação. Aplausos...).
Depois da entrega das oferendas a Gonçalo Monteiro celebra-se a Missa Campal
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Antiga placa volta à avenida
A programação comemorativa ao 450º aniversário de São Vicente prosseguiu na parte da
tarde, com o descerramento da placa que assinala a data de inauguração da avenida Manoel da Nóbrega - dia 22 de janeiro de 1932 -, no cruzamento
desta via com a avenida Presidente Wilson. A solenidade foi rápida, estando presente, além do prefeito Antonio Fernando dos Reis, e seus assessores
diretos, o ex-prefeito Koyu Iha.
O descerramento da placa, colocada sobre um pedestal no canteiro central da avenida,
foi feito por Antonio Fernando dos Reis. Esta placa, confeccionada pela Prefeitura de São Vicente e um grupo de amigos da cidade na comemoração do
400º aniversário do município, havia desaparecido, sendo reencontrada há cerca de um ano pelo historiador Jaime Caldas. A atual administração de São
Vicente determinou a restauração da peça, que estava bastante desgastada pela ação do tempo, e a recolocou na avenida. Contudo, o local original era
mais próximo à Divisa.
Uma das participações da solenidade, dona Nadir Sobral, é filha de um dos responsáveis
pela confecção da placa, Benigno Sobral, já falecido. Como contou, Benigno integrou o grupo de construtores que executou a obra da avenida Manoel da
Nóbrega, na época em que o município era administrado pelo prefeito José Monteiro.
A praça 22 de Janeiro foi literalmente tomada pela população
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Às 18 horas, outra etapa do programa comemorativo foi cumprida, com a realização da
procissão com a imagem de São Vicente Mártir e, em seguida, celebração de missa solene, na igreja Matriz, pelo bispo diocesano Dom David Picão. A
procissão estava prevista para as 17 horas, porém sofreu um atraso, sendo acompanhada por centenas de fiéis. Além de andor enfeitado com flores que
levava a imagem de São Vicente, foram exibidas durante a procissão, que percorreu as ruas ao redor da igreja, relíquias de São Vicente e do Padre
Anchieta.
Estas relíquias estavam expostas no interior do templo antes de ter início a
procissão, atraindo a atenção dos fiéis que se reuniam ao redor das peças para orações. De São Vicente Mártir foi apresentado um fragmento de osso,
já que os restos mortais encontram-se em Portugal. Esta pequena parte do corpo de São Vicente, que nasceu na Espanha, no século III, está em poder
da Igreja Matriz de São Vicente, sendo esta a única relíquia que possui de seu padroeiro.
Já a relíquia de Padre Anchieta - o fêmur -, é guardada na Igreja do Pátio do Colégio,
onde está a Casa de Anchieta, em São Paulo. O superior da Casa, padre Héio Abranches Viotte, veio especialmente a São Vicente para trazer a
relíquia, que carregou na procissão. O osso fêmur de Padre Anchieta foi doado à Igreja de São Paulo em 1966, pelo Papa Paulo VI. Ele permaneceu em
Roma durante mais de 300 anos, sendo levado para lá em 1609 pelo visitador dos Jesuítas do Brasil, padre Manoel de Lima. Como explicou padre Hélio,
os restos mortais de Padre Anchieta encontram-se espalhados pelo mundo todo.
A missa solene oficiada por Dom David foi concelebrada por monsenhor Geraldo Borowsck,
da Igreja Matriz de São Vicente, e pelos padres Hélio Abranches Viotte e Newton José Crippa, este último também de São Vicente.
Na procissão foram exibidas relíquias de Sâo Vicente e Padre Anchieta
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Manifesto - Durante o desenvolvimento do jogo de futebol realizado na tarde de
ontem como parte das comemorações, a Comissão Provisória do PMDB Jovem de São Vicente distribuiu manifestos ao público, falando das condições em que
se encontra o município e tecendo críticas ao governo do Estado por sua política discriminatória.
"Após 450 anos de fundação, São Vicente acha-se inegavelmente numa das mais profundas
crises dos últimos 20 anos. As condições dos bairros, em que hoje se encontra o povo de São Vicente, com mais de 100 mil habitantes vivendo nos
mangues, palafitas e favelas, é para deixar qualquer pessoa de boa consciência irritada. Se por um lado as condições de habitação se encontram
péssimas, os transportes coletivos levam 50 por cento do salário dos trabalhadores. As precárias condições das escolas e a falta de um mercado de
trabalho para São Vicente são outros graves problemas que a população sofre. Tamanho descompromisso e irresponsabilidade cabem aos homens do governo
que hoje ocupam o Palácio do Planalto e o grupo do sr. Maluf, que se vingam do povo vicentino por este ter escolhido nas últimas eleições o prefeito
da oposição", ressalta um dos trechos do manifesto.
Foi descerrada a placa que assinala a inauguração da Av. Manoel da Nóbrega
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Flashes
O senador
Franco Montoro e comitiva foram o alvo das atenções dos populares, políticos e jornalistas. Apesar de ter chegado atrasado para assistir à
encenação, fez questão de entrar em cena (depois do espetáculo), para cumprimentar Martim Afonso e toda a tribo de índios. Um espetáculo à parte.
A movimentação
de políticos de outros partidos também foi intensa. PMDB, PTB, PT, PDS e o pessoal do jornal Hora do Povo disputavam a simpatia do povão
entre bilheteiros, ambulantes e vendedores de bandeirinhas, num clima bastante democrático. Correu todo tipo de panfletos, calendários e
chapeuzinhos: parecia até dia de eleição.
"Olê... Olá, o
Montoro tá botando pra quebrar", cantava o coro afinado do pessoal da Hora do Povo. "Montoro pra governador em 82. Tem que ser agora, não
pode ser depois", continuaram gritando à tarde, em passeata pelo centro de Santos.
Athiê também
fez das suas. O parlamentar de Itu subia apressadamente o palanque para cumprimentar o senador peemedebista, quando abordou-o o líder do PMDB de São
Vicente, Milton Luís da Silva, dizendo-lhe em voz alta: "Pô, Athié. Você está mesmo com tudo que é governador!"
Portugueses e
índios se encontram frente a frente (suspense na platéia). A Tribo se prepara para resistir à invasão do homem branco. O confronto parece
inevitável, quando surge João Ramalho e evita o derrame de sangue. Todos já se congratulam em meio a gritos e vivas. Do meio da multidão de
populares, uma senhora comenta: "Aqui é que nós começamos a entrar pelo cano!" Todos em volta riram.
"O poder
corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente", parafraseou o senador Montoro, o pensamento e um famoso cientista social, procurando explicar
a um repórter o que achava do atual mandante do Palácio dos Bandeirantes.
Aliás, Montoro
voltou a prometer à imprensa - caso seja eleito - apurar todas as denúncias contra o atual Governo do Estado.
"Temos que
acabar com a poluição, e não com a população de Vila Parisi", outra frase de efeito do senador peemedebista,
respondendo sobre os problemas que vêm ocorrendo no município de Cubatão.
Enquanto
aguardavam a chegada de Montoro na Câmara de Santos, peemedebistas ouviam atentamente o experiente deputado federal Del Bosco Amaral, que estava
preocupado com os gastos da campanha eleitoral. Por causa da inflação, só em papel (usando mimeógrafo), se gasta em torno de Cr$ 8 milhões de
cruzeiros. "E sem aquela de distribuir jogo de camisas para times de futebol".
Franco Montoro entra em cena para cumprimentar Martim Afonso
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