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A encenação da chegada de Martim Afonso a São Vicente deu início ontem, pela manhã,
às comemorações dos 450 anos de fundação do município. O ato foi presenciado por grande público, além de várias autoridades, como o senador Franco
Montoro e os deputados Rubens Lara e Emílio Justo. À noite, na Câmara Municipal, o empresário
Carlos Caldeira Filho recebeu o título de cidadão vicentino, além de ter sido feita entrega de
medalhas. O almirante Júlio de Sá Bierrenbach disse, em entrevista, que confia na palavra do presidente quanto à volta da
autonomia para Santos, mas que é preciso lembrá-lo do prazo de desincompatibilização (páginas 6 e 7).
Encenação revive a fundação da cidade
Textos: José Roberto Lopes Fidalgo, Márcio Luiz Bernardes Calves e Reinaldo
Salgado. Fotos: Djalma Paulo da Silva Fialho e João Vieira Júnior
SÃO VICENTE - O sol estava forte. Quem sabe tão forte como no dia em que, há
quatro séculos e meio, segundo nos conta a história, uma esquadra portuguesa desembarcou seus homens numa terra estranha, a não ser pelas precárias
informações que lhes chegavam, de quando em quando, do outro lado do mar. Biquínis, ternos e vestidos de festa se misturavam sob o sol forte junto à
murada da Avenida Getúlio Vargas. Há pouco tempo, todos estavam na Praça 22 de Janeiro, junto ao monumento do 4º centenário do descobrimento do
Brasil, assistindo ao prefeito Antônio Fernando dos Reis hastear a bandeira de Sâo Vicente; o presidente da Câmara, Raimundo dos Santos Oliveira, a
do Estado de São Paulo; e o juiz Mário Teixeira de Freitas, representando o Fórum, a Nacional.
Depois do hasteamento, ainda na Praça 22 de Janeiro, houve uma rápida apresentação da
Orquestra Sinfônica Juvenil do Litoral, da Secretaria Estadual da Cultura. Mas agora todos estavam na Getúlio Vargas, aguardando o início da
reconstituição da chegada de Martim Afonso, que dali a instantes iria ser encenada na areia do Gonzaguinha pelos atores da Federação de Teatro
Amador da Baixada Santista. No palanque, iam subindo as autoridades e convidados que chegavam.
O confronto entre portugueses e indígenas é evitado por João Ramalho
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Panfletos e camisetas - Atrás do palanque, jovens com camisetas do PTB
distribuíam panfletos do partido, saudando o aniversário do município. Logo depois, surgiam livretes do deputado federal Athié Jorge Coury, do PDS,
com pronunciamentos exaltando a cidade. O PT não distribuiu nada, mas alguns de seus representantes marcavam presença, também vestindo camisetas com
as iniciais da agremiação. O PMDB, por sua vez, apoiado por uma franca maioria, não perdeu a oportunidade de se apresentar como o dono da festa.
Afinal, a festa estava acontecendo no único município da Baixada que tem um prefeito do PMDB e, dali a pouco, era aguardada a chegada do
"governador", ou melhor, do senador Franco Montoro, considerado o candidato mais forte do partido ao Governo do Estado nas eleições de novembro, e
apontado como o favorito até agora nas pesquisas de opinião menos comprometidas. Estamos no dia 22 de janeiro de 1982. São Vicente comemora 450 anos
de existência como a primeira cidade fundada no Brasil. Mas estamos também num ano eleitoral, um ano eleitoral que adquire importância muito grande
no contexto dos últimos 17 anos.
Mas lá na areia, o tempo recuou muito. Corre o ano de 1532 e, desembarcando de sua
caravela, Martim Afonso é trazido por um barco até a beira do mar da Praia do Gonzaguinha, onde cerca de duas mil pessoas tinham, há poucos minutos,
ouvido a Banda do 6º BMP/I tocar alguns números. O som agora, contudo, era de música, e o locutor começava a narrar a chegada do fundador de São
Vicente. Martim Afonso desce acompanhado de seus soldados, marinheiros e dois padres, observados por alguns índios que trabalham junto às suas
tendas.
De repente, ouvem-se ruídos de tambores e gritos. Eram índios da tribo que habitava o
Tumiaru, chefiada por Piqueroby, e que se preparavam para rechaçar os invasores. Indígenas e portugueses colocavam suas armas em riste e o confronto
parecia inevitável. A platéia no palanque nas muradas da Getúlio Vargas prendeu a respiração. Mas eis que surge João Ramalho acompanhado pelo
morubixaba Tibiriçá. Ramalho era um português que vivia há anos no Brasil e se casara com Bartira, filha do chefe Tibiriçá, cuja tribo habitava o
Planalto. Os dois conseguem evitar a luta, e Tibiriçá envia uma flecha quebrada a Martin Afonso, que a aceita. Confraternização entre indígenas e
portugueses, menos por parte a tribo de Piqueroby, que continuou desconfiada.
Martim Afonso manda então que se faça uma cruz de troncos de árvore e se improvise um
altar. Neste momento, o ator que interpreta um dos padres sobe no altar erguido de frente para o mar e ali é substituído pelo monsenhor Geraldo
Borowsky, pároco da Igreja São Vicente Mártir. A missa se incorpora à encenação, fechando a reconstituição histórica da fundação de São Vicente, no
dia 22 de janeiro de 1532.
O espetáculo terminou, mas os atores ainda permanecem na areia. Motivo: uma equipe do
Clube de Cinema de Santos ainda precisa fazer algumas tomadas para acrescentar cenas ao filme super-8 (N.E.: tipo de
filme de 8 mm de largura, usado na época) que está sendo realizado sobre a reconstituição da fundação de São Vicente.
Esse filme deverá ter cerca de 25 minutos, e além das tomadas adicionais, efetuadas ontem após a apresentação, serão feitas outras, para a
complementação do roteiro.
Hasteamento de bandeiras abriu as solenidades
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O programa - Depois da reconstituição histórica da chegada de Martim Afonso,
que o prefeito Antônio Fernando dos Reis espera transformar numa tradição anual nas comemorações dos aniversários do município, a programação
oficial dos 450 anos prosseguiu com a inauguração de uma exposição filatélica histórica nos salões do Clube Tumiaru de Regatas, às 12 horas. Na
abertura da mostra, o presidente da Associação dos Filatelistas de São Vicente, Américo Tozzini, informou que o carimbo da Empresa de Correios e
Telégrafos alusivo ao 450º aniversário de São Vicente estará à disposição dos filatelistas hoje, até as 12 horas, e segunda-feira, durante todo o
dia, na agência local dos correios. A seguir, foram ofertados envelopes com os carimbos comemorativos ao prefeito Antônio Fernando dos Reis e outras
autoridades.
O prefeito e o presidente do Tumiaru, Nicolino Bozzella, cortaram então a fita
simbólica, inaugurando a exposição, que ficará franqueada ao público, até segunda-feira, no salão social do clube, das 15 às 22 horas. Constam da
mostra exemplares de selos clássicos do Brasil, das Américas, da Europa e de diversos países do mundo. Na seção de filatelia temática, destacam-se
coleções sobre folclore, aviação e outras. A entrega de prêmios aos expositores será segunda-feira, às 18 horas, no auditório do São Vicente
Jornal.
Na seqüência da programação, às 14,30 horas, o prefeito descerrou uma placa alusiva ao
4º Centenário do município, em 1932, no cruzamento das avenidas Manuel da Nóbrega e Presidente Wilson. Essa placa havia sido afixada na Manuel da
Nóbrega por ocasião das comemorações dos quatro séculos de fundação, quando o prefeito era José Monteiro, Mas, quando a avenida foi reformada, a
placa desapareceu. Há pouco tempo, ela foi localizada numa das seções da Prefeitura, onde era considerada simples ferro-velho. A placa foi então
totalmente restaurada e recolocada ontem num ato simbólico ligando as comemorações dos 450 anos com as do 4º Centenário.
Na parte esportiva, houve um jogo entre o São Vicente Atlético Clube e o Milionários
da Capital, time formado por craques do passado, como Garrincha, Lima e outros. Às 17 horas, teve início a procissão de São Vicente Mártir, que saiu
da Matriz, na Praça João Pessoa, percorreu a Praça 22 de Janeiro e ruas próximas e retornou à igreja, onde foi rezada missa. Na procissão, foram
levadas as relíquias de São Vicente Mártir, padroeiro do município, e do beato José de Anchieta. Essas relíquias ficaram expostas à visitação
pública durante todo o dia de ontem, na Matriz.
A programação dos 450 anos prosseguirá, hoje, às 9 horas, com a realização do XVI
Concurso de esculturas em Areia, promoção da Air France e A Tribuna, às 9 horas, na Praia do Itararé, junto à Ilha Porchat. Na parte da
tarde, estão previstos dois eventos: a inauguração do Museu do Telefone na Telesp, às 15 horas, na Rua Frei Gaspar, 1.066, e a extração da Loteria
Federal às 18 horas na Praça Barão do Rio Branco.
O Museu do Telefone reúne 30 peças de 1880 até 1982, abrangendo desde aparelhos do
antigo sistema de magneto (manivela), passando pelos telefones de disco até os digitais. Será mostrado também o sistema que possibilita a
transmissão de imagens pelo telefone, tudo isso acompanhado das explicações de monitores da Telesp que ficarão à disposição dos visitantes. Haverá
distribuição de folhetos explicativos do desenvolvimento da história da telefonia, em duas versões: uma para os adultos e outra para as crianças. A
mostra ficará aberta até dia 31, das 9 às 22 horas, e durante sua realização serão também aceitas inscrições para os interessados em utilizar as
faixas de cidadão (PX), um serviço normalmente a cargo do Dentel, mas que será efetuado em caráter extraordinário no transcorrer da mostra.
Embora a extração da Loteria Federal esteja marcada para as 18 horas, desde as 16,30
horas a Praça Barão do Rio Branco já deverá estar agitada, e um dos motivos será a apresentação da fanfarra do Colégio Nações Unidas. O bilhete
desta extração traz como estampa o brasão de São Vicente e inscrição alusiva aos 450 anos. Ontem, o caminhão da Loteria já estava estacionado na
Praça Barão em frente à sede da Caixa Econômica Federal, numa preparação dos últimos detalhes para o sorteio. Por outro lado, o movimento de venda
de bilhetes, tanto nas casas lotéricas como nos bilheteiros ambulantes, tem sido muito grande nos últimos dias.
Amanhã, os festejos continuam, com a XIV Travessia Martim Afonso às 9 horas no
Gonzaguinha e o lançamento da pedra fundamental do ambulatório e parque infantil do Catiapoã, na esquina das ruas Palmeira dos Índios e Rio Largo.
Franco Montoro foi cumprimentar Martim Afonso
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