Discurso do ministro Bierrenbach
1532-1982!
São Vicente, 22 de janeiro de 1982.
Alm. Júlio de Sá Bierrenbach
Foto: jornal A Tribuna, 23/1/1982
Palavras
do ministro almirante-de-esquadra Júlio de Sá Bierrenbach, na sessão comemorativa dos 450 anos da fundação de São Vicente.
Relata a história que, pela madrugada de 21 de janeiro de 1532, a nau capitânia de Martim
Afonso de Souza entrou na enseada de São Vicente, fundeando em seis braças de areia grossa. Ao meio-dia, ligeiramente atrasado, chegava ao nosso
porto o galeão São Vicente, reunindo-se à nau capitânia. O terceiro navio da frota, a caravela Santa Maria do Cabo, somente chegaria
quinze dias depois.
Segundo os historiadores, Martim Afonso decidiu fundar duas povoações. A primeira,
logo no dia 22 de janeiro, foi São Vicente, tendo ao fundo a serra de Paranapiacaba, e a segunda, mais tarde, na entrada do planalto, a nove léguas
dentro do sertão, foi Santo André, onde contou com o apoio do náufrago João Ramalho e a colaboração do chefe indígena Tibiriçá.
Aqui em São Vicente, Martim Afonso, auxiliado pelo português Antônio Rodrigues,
distribuiu seu pessoal, levantando as primeiras construções, casa da Câmara, capela, trapiche e engenhos de açúcar, tendo trazido as mudas de cana
da ilha da Madeira. O português Rodrigues, que havia chegado anteriormente, vivia em Tumiaru, junto à foz do Lagamar de São Vicente.
O local já era conhecido com o nome de Rio São Vicente, denominação certamente dada
por navegadores portugueses que por aqui passaram antes de Martim Afonso. Em velhos mapas de 1502 e 1503 já aparecia o nome de São Vicente,
indicando rio e ilha.
A fundação do povoado, no dia seguinte ao da chegada, justamente na data em que a
Igreja Católica comemora o dia de São Vicente Mártir, parece não ter sido mera coincidência, tudo levando a crer que o capitão-mor já viera do Sul
com a idéia preconcebida de aqui chegar a tempo de, no dia de São Vicente, fundar a povoação, mantendo o mesmo nome do local.
Assim, precisamente há quatrocentos e cinqüenta anos, era fundada São Vicente, depois
de muitos estudos e debates reconhecida, por todo o Brasil, como a "cellula mater da nacionalidade".
Na data em que comemoramos os quatro e meio séculos de nossa cidade, embrião desse
colosso que é o Brasil, hoje com mais de cento e vinte milhões de habitantes, não podemos deixar de lembrar a notável figura de Martim Afonso de
Souza. Como assinala a enciclopédia Delta-Larousse: "Não se equiparava à generalidade dos homens de espada e letras grossas. A sua cultura
humanista, o amor do latim, da história, da astronomia, a curiosidade do mar, dele faziam um homem precioso."
Por todas as suas qualificações, foi escolhido por d. João III, a dedo, para,
efetivamente, iniciar a colonização de nosso País.
Durante os anos de 1529 e 1530, Portugal preparou, cuidadosamente, a armada que
enviaria ao Brasil.
Estudando a missão atribuída ao grande navegador e o seu desempenho, constatamos que
ela foi totalmente cumprida, de modo irrepreensível, mormente se considerarmos as dificuldades de navegação a vela, no século XVI, num litoral ainda
desconhecido, sem cartas náuticas ou quaisquer outros auxílios aos navegantes.
Recordemos a missão de Martim Afonso:
- assegurar o domínio português na América, em todo o território abrangido pelo
meridiano diplomático do tratado de Tordesilhas, estabelecido em 1494;
- combater e afugentar os navios franceses que infestavam a costa brasileira;
- tomar posse do Rio da Prata; e
- estabelecer um ou mais núcleos de povoação.
Verifiquemos, sucintamente, como foi cumprida essa missão. Entretanto, rendamos, desde
logo, nossa homenagem a Pero Lopes de Souza, irmão do fundador, seu companheiro de viagem, capitão da nau capitânia e autor do valioso diário de
bordo, o melhor relato de todas as expedições que naquele século foram feitas ao nosso litoral.
Zarpando de Lisboa, em 3 de dezembro de 1530, a frota, inicialmente, era composta de
cinco navios, guarnecidos por quatrocentos homens. Além da capitânia, de 150 tonéis, a nau São Miguel, de 125 tonéis, o galeão São Vicente,
igualmente de 125 tonéis, e mais as caravelas Rosa e Princesa.
Após escalas nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde, nos últimos dias de janeiro do ano
seguinte navegava à altura do Cabo de Santo Agostinho, no Nordeste Brasileiro. No dia 31 de janeiro, os componentes da frota avistaram um navio
francês que, convenientemente cercado, rumou para costa, sendo abandonado pela tripulação que, após fundeá-lo, fugiu para terra em um batel. Nesse
mesmo dia, interceptaram e se apoderam de outro navio francês; ambos estavam carregados de pau-brasil. Ainda na noite de 31 de janeiro, Martim
Afonso destacou as caravelas Rosa e Princesa, atribuindo o comando a Pero Lopes, para uma busca na ilha de Santo Aleixo, cinco léguas
ao sul do Cabo de Santo Agostinho. Constatada a presença de outra nau francesa, houve a perseguição a ela durante todo o dia seguinte. À tarde, o
navio de Pero Lopes alcançou-a, tendo os franceses aberto fogo. Após combate travado, a nau rendeu-se ao por-do-sol.
À noite, chegou ao local Martim Afonso, constatando que, da mesma forma que os demais
navios franceses, este também estava carregado de pau-brasil. Martim Afonso incorporou à sua armada este último navio aprisionado, dando-lhe o nome
de Nossa Senhora das Candeias. Como explicaremos mais tarde, foi no Nossa Senhora das Candeias que o capitão-mor chegou a São Vicente,
na véspera da fundação do povoado.
Durante o mês de fevereiro de 1531, os navios navegaram, na costa de Pernambuco, com
ventos desfavoráveis; reuniram-se em frente a Olinda, com exceção da nau São Miguel, que se atrasou e nunca mais foi encontrada.
Depois de destacar as caravelas Rosa e Princesa para descobrirem o rio
Maranhão, e de enviar João de Souza a Portugal, em uma das naus francesas aprisionadas, queimando a última que foi julgada inútil, Martim Afonso
partiu de Pernambuco, para o Sul, a 1º de março, com os três navios restantes: a capitânia, o galeão São Vicente e a nau Nossa Senhora das
Candeias, que ficou sob o comando de Pero Lopes.
Entre 13 e 17 de março, a esquadra esteve na Baía de Todos os Santos, onde os navios
fizeram aguada, tomaram lenha e sofreram pequenos reparos. Lá encontraram Diogo Álvares, o Caramuru, que fazia vinte e dois anos que estava naquelas
paragens. Duas vezes, a partir do dia 17, os navios fizeram-se ao mar, navegando para o Sul, mas tiveram que regressar à Baía de Todos os Santos; no
segundo desses regressos, no dia 26 de março, encontraram nessa baía a caravela Santa Maria do Cabo, que Martim Afonso também resolveu
incorporar à sua frota, depois de desembarcar todos os escravos que se encontravam a bordo. A sua armada, agora composta de quatro navios,
prosseguiu viagem para o Sul, no dia 27 de março. Após constatarem a existência do banco de São Tomé, no dia 26 de abril, e montarem o Cabo Frio no
dia 29, entraram na Baía do Rio de Janeiro, no dia 30 de abril de 1531.
Até o dia 1º de agosto, Martim Afonso permaneceu com sua frota fundeada no Rio de
Janeiro, preparando os navios, construindo dois bergantins de quinze bancos e fazendo reserva de víveres e aguada para prosseguimento da viagem.
Nesse período, destacou quatro homens para explorarem o interior do País, que voltaram, depois de dois meses, informando que andaram 115 léguas,
atravessando montanhas e um amplo campo onde encontraram um cacique que os acompanhou, a fim de, pessoalmente, dar notícia, a Martim Afonso, da
existência de ouro e prata no rio Paraguai.
Prosseguindo viagem para o Sul, no dia 8 de agosto, esperando estar na altura do rio
São Vicente, já que a neblina intensa impedia a identificação de pontos do litoral, enviaram à praia um bergantim que regressou sem haver encontrado
gente em terra.
Continuando a navegar, com cerração, alcançaram a ilha de Cananéia, hoje Ilha de Bom
Abrigo, em 12 de agosto. Em terra firme, estabeleceram contato com o Bacharel Francisco de Chaves, que aí estava desterrado fazia trinta anos. Em
vista das suas informações de riquezas no interior, confirmando informes obtidos no Rio de Janeiro, e da promessa de que, se tivesse elementos,
voltaria a Cananéia, dentro de dez meses, com quatrocentos escravos carregados de ouro e prata, "Martim Afonso enviou oitenta homens - quarenta
besteiros e quarenta espingardeiros", como registra a História Naval Brasileira. Foi uma verdadeira bandeira que partiu, em 1º de setembro de
1531, e que jamais regressou, constando que fora massacrada pelos índios, entre os rios Paraná e Iguaçu.
Em 26 de setembro, deixaram Cananéia rumo ao rio da Prata. Após estacionarem nas ilhas
de Torres, por dois dias, fundearam em Maldonado, a Oeste do cabo de Santa Maria, hoje Punta Del Este, em 16 de outubro. Consta do diário que, em
Maldonado, fizeram aguada, tomaram lenha e que, em apenas um dia, pescaram dezoito mil peixes, entre corvinas, pescadas e anchovas.
Prosseguiram viagem no dia 21. Navegando próximo à terra, de Maldonado rumo a Oeste,
enfrentaram uma grande tormenta, com ventos fortes de Sul e mar muito agitado. Os navios, muito avariados, ficaram em situação crítica, tendo
perdido batéis, velas, cabos e âncoras. A nau capitânia acabou naufragando na costa, por falta de amarras, tendo o capitão-mor e a tripulação nadado
para terra. Pereceram sete homens da guarnição. Pero Lopes de Souza tomou todas as providências no sentido de salvar o pessoal e o material.
Martim Afonso convocou um conselho, composto do pessoal mais experiente, para opinar,
ficando resolvido que os três navios restantes não deveriam subir o rio Santa Maria, nome que, então, davam ao rio da Prata. Decidiram mais, que
Pero Lopes, num bergantim com trinta homens, teria vinte dias para fazê-lo, colocando uns padrões que assinalassem a passagem dos portugueses e
visando a posse do rio para Portugal.
Partindo, a 23 de novembro de 1531, Pero Lopes e seus homens atingiram a ilha de
Martim Garcia, no dia 27, onde permaneceram até a tarde de 30. Do dia 1º ao dia 11 de dezembro, exploraram o delta do Paraná, subindo o rio até um
ponto onde colocaram dois padrões com as armas do rei de Portugal, tomando posse da terra. Tendo-se esgotado o prazo de vinte dias para a volta,
iniciaram o regresso.
Pero Lopes, em seu diário, fez preciosas observações sobre os ventos da região, cujos
efeitos predominam sobre a ação das marés. Tais observações são perfeitamente válidas até nossos dias, como tive eu próprio ocasião de comprovar nas
viagens que fiz ao rio da Prata, comandando o cruzador Tamandaré.
No dia 23 de dezembro, devido a fortes ventos, o bergantim de Pero Lopes teve que
arribar a um porto próximo do cerro de Montevidéu, quando seus homens tiveram a oportunidade de subir ao cume do cerro, cuja vista os deslumbrou,
conforme consta do diário.
Somente a 27 de dezembro conseguiram reunir-se a Martim Afonso, isso após terem
soçobrado com o bergantim na véspera de Natal.
Depois de mais quatro dias de preparativos, no dia 1º de janeiro de 1532, os três
navios deixaram o porto de Maldonado, com destino a Rio de São Vicente. Martim Afonso e Pero Lopes embarcaram na nova capitânia, a nau Nossa
Senhora das Candeias. No dia 3, Martim Afonso mandou que a caravela Santa Maria do Cabo se dirigisse ao porto de Patos, a fim de procurar
um bergantim que se perdera quando os navios demandavam o rio da Prata, o que justifica o atraso de duas semanas que essa caravela teve na chegada a
São Vicente.
Após avistarem terra alta durante o dia 7, certamente a Serra do Mar, na tarde do dia
8 arribaram à ilha de Cananéia que, como já esclarecemos, era o nome da atual ilha de Bom Abrigo. Como a nau capitânia fizesse água, ali
permaneceram até o dia 16, reparando um rombo no costado, quando, então suspenderam para a etapa decisiva, que veio a proporcionar o quadricentésimo
quinquagésimo aniversário que hoje estamos comemorando.
A barra do porto de São Vicente, atual barra de Santos, foi avistada a Nordeste, a
quatro léguas de distância, em 20 de janeiro. Nas primeiras horas da madrugada do dia seguinte, a nau Nossa Senhora das Candeias entrou na
enseada de São Vicente, onde fundeou em seis braças de areia grossa; o galeão São Vicente chegou ao meio-dia e a caravela Santa Maria do
Cabo somente entraria na enseada em 5 de fevereiro.
Durante o dia 21, fizeram-se a vela e foram dar a uma praia situada na ilha do Sol,
hoje praia do Góes, na ilha de Santo Amaro.
Ainda conforme a História Naval Brasileira, editada pelo Serviço de
Documentação Geral da Marinha (primeiro volume - tomo II - fls. 387):
"A 22, foram num batel a Oeste da baía e passaram pelo estreito passo ou barreta,
então existente, entre a ilha do Mudo (ou Porchat) e a ilha de São Vicente; encontraram num braço do rio São Vicente um lugar apropriado para
reparar os navios. Ali, Martim Afonso mandou fazer uma casa para servir de armazém de velas e enxárcias. Carenaram a nau Nossa Senhora das
Cadeias, na praia de Tumiaru, para repará-la.
A terra de São Vicente pareceu tão boa a todos que determinaram fazer ali uma
povoação; fizeram uma vila na ilha de São Vicente (na praia de São Vicente) e outra nas margens do rio Piratininga, e repartiram o pessoal entre as
duas localidades, nas vilas ficou assegurada a convivência sobre bases legais."
Apenas para completar o resumo sobre o fundador e sua viagem, a história esclarece
que, após ter consultado os mestres, pilotos e marinheiros experientes, Martim Afonso decidiu que Pero Lopes regressaria a Lisboa com o galeão
São Vicente e a nau Nossa Senhora das Candeias, que, devido ao gusano, não resistiriam muito tempo fundeados no porto. Pero Lopes, que
daria conta ao rei de tudo quanto haviam realizado, partiu a 22 de maio.
Martim Afonso, tendo à sua disposição a caravela Santa Maria do Cabo e um
bergantim, permaneceria em São Vicente, com a população das vilas recém-fundadas, aguardando a chegada dos homens que compunham a bandeira que, no
inicio de setembro de 1531, havia confiado a Pero Lobo. Dezoito meses após a partidas desa bandeira, Martin Afonso mandou novo destacamento ao
Interior, em busca do primeiro, sendo chefiado por Pero de Góis e Rui Pinto; entretanto, tudo foi inútil, os homens jamais regressaram.
Depois de 13 de março de 1533, partiu Martim Afonso de Souza, na caravela Santa
Maria do Cabo, chegando a Lisboa em agosto do mesmo ano. Mais tarde, em 1534, foi o donatário da capitania de São Vicente que, juntamente com a
de Pernambuco, dentre as 12 fundadas, foram as únicas que prosperaram, graças à lavoura da cana e conseqüentemente comércio que sustentou o
desenvolvimento de ambas.
Martim Afonso de Souza cumpriu a sua missão. Como recordamos, os navios franceses, que
foram encontrados no Litoral, foram fragorosamente derrotados. Tanto quanto possível, o domínio português foi mantido, inclusive com a colocação de
padrões de posse até as margens do Rio Paraná; se mais não fez e se a tomada de posse do rio da Prata não foi sustentada, evidentemente foi por não
dispor de pessoal suficiente para estabelecer povoações permanentes no estuário. Finalmente, o último dos objetivos era estabelecer um ou mais
núcleos de povoação e aqui está o grande êxito de Martim Afonso.
Se mencionei os pontos principais da histórica expedição, talvez cansando tão seleto
auditório, pelo que ofereço minhas desculpas, foi para possibilitar o entendimento do descortino do grande colonizador. Tendo, inicialmente,
navegado desde a costa do Nordeste até o rio da Prata, Martim Afonso regressou do Sul, depois de milhares de milhas navegadas, dirigindo-se
diretamente ao litoral paulista e fixando-se em São Vicente. Por quê? Certamente sua perspicácia, sua intuição e as suas notáveis qualificações,
homem escolhido entre tantos por D. João III, induziram-no a tomar o caminho para a posição que, quatro e meio séculos mais tarde, demonstra,
perfeitamente, a excelência de sua escolha.
Há quem critique Martim Afonso, mencionando que Braz Cubas, onze anos depois, escolheu
melhor local, quando fundou a Povoação de Santos. E daí? Teriam as naus de Martim Afonso facilidade de entrar a pano e manobrar no canal que hoje dá
acesso ao maior e mais importante porto da América do Sul?
Também tenho a honra de ser Cidadão Honorário de Santos, de Guarujá e de Cubatão, mas
temos que reconhecer que a "cellula mater", muito bem implantada, foi São Vicente, o que possibilitou a arrancada para Piratininga e seu brutal
desenvolvimento. A nossa fantástica capital, São Paulo, não poderia ter sido fundada em 1554, com foi, se desta chamada Baixada Santista não
partissem os elementos essenciais para seu estabelecimento. Quais as raízes desta potência que é o Estado de São Paulo?
São Vicente aqui está, impávida, há quatrocentos e cinqüenta anos. Admira o
desenvolvimento das demais cidades do Brasil como uma irmã mais velha exulta com o sucesso e a glória das irmãs mais novas.
A lei municipal nº 31, de dezembro de 1895, elevou-a à categoria de cidade. Em virtude
de decreto-lei estadual, o Município passou a Comarca, em 18 de fevereiro de 1959, tendo a mesma sido instalada em 23 de setembro de 1961. Por lei
de 20 de março de 1965, sancionada pelo presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, recebeu o título de Cidade Monumento da História Pátria".
Em 7 de julho de 1977, foi sancionada, pelo governador Paulo Egydio Martins, a lei que
enquadrou São Vicente entre as estâncias balneárias do Estado.
Vivendo em Sorocaba, no Interior de São Paulo, cidade em que nasci, tive minha atenção
voltada para São Vicente, desde as primeiras aulas de História do Brasil, em meu curso primário. Mais tarde, como aluno do então Ginásio Municipal
de Sorocaba, acompanhei as comemorações do seu quarto centenário, em 1932, ano em que decidi ingressar na Marinha, em conseqüência de outro evento
marcante de nossa história: a Revolução Constitucionalista de 1932. Nunca me conformei em saber que a nossa esquadra bloqueava a "Abra de São
Vicente", impedindo o desembarque de material no Porto de Santos, enquanto os revolucionários paulistas só almejavam uma coisa: a
Constituição!
Pode parecer extemporâneo, nas comemorações dos 450 anos de São Vicente, que eu venha
lembrar a revolução constitucionalista de 1932. Não julgo assim. São Vicente não é o "berço da democracia americana?" Aqui chamaram a minha atenção,
dentre as inúmeras atrações turísticas e históricas das cidade, o Monumento ao Soldado Constitucionalista, inaugurado em 9 de julho de 1957, na
Praça Heróis de 32, e o obelisco a Pérsio de Souza Queiroz Filho, localizado na Praça 22 de Janeiro, "onde povo vicentino o colocou, perpetuando o
nome do voluntário constitucionalista". Pérsio, que nasceu em São Paulo e faleceu em Pindamonhangaba, antes de completar 26 anos de idade, foi um
valoroso soldado constitucionalista, que se alistou por São Vicente e que, ferido mortalmente, não voltou.
Lembrar 1932 é lembrar a Constituição.
É recordar a epopéia de um povo unido em busca de seus ideais democráticos.
Estamos no ano de cinqüentenário da Revolução Constitucionalista.
Que, daqui da Câmara Municipal da "cellula mater da nacionalidade", "berço da
democracia americana", já que foi a primeira Câmara Municipal instalada nas três Américas, e como parte das comemorações de seu quadringentésimo
quinquagésimo aniversário, com o pioneirismo que o lugar nos sugere e inspira, que daqui desta egrégia Câmara, parta esta homenagem oficial ao
"Soldado da Lei e da Ordem", no ano em que também se comemora o cinquentenário da Revolucionalista de 1932. Mais ainda, data venia, sugerimos
que, em todas as comemorações estaduais e municipais, nas cidades do Estado de São Paulo, principalmente em suas escolas, no decurso de 1982, seja
lembrado que, além dos quatro e meio séculos da fundação de São Vicente, este é também o ano em que se comemora o meio século da Revolução
Constitucionalista, impressionante demonstração de união e solidariedade, de todo o povo paulista, em busca do cumprimento da lei magna em todo
Brasil.
Sr. Presidente
Srs. Vereadores
Sou imensamente grato a V. Excias pelo título de "Cidadão Vicentino" com que muito me
honram e com o convite que me foi dirigido para falar nesta sessão solene comemorativa. Lembrar a viagem de Martim Afonso de Souza, cujo principal
objetivo foi a fundação desta "Cidade Monumento da História Pátria", constitui um grande e gratificante prazer, a este velho marinheiro, que teve a
feliz oportunidade de recordar viagens feitas pelos pontos assinalados no diário de Pero Lopes, durante o tempo em que serviu em nossa gloriosa
Marinha de Guerra. Muito grato estou a V. Excias. que me rejuveneceram, não só fazendo lembrar meus tempos de embarque, como também, por me terem
tornado o mais novo cidadão vicentino.
A todos os presentes, que me honraram com sua atenção, em homenagem ao fundador,
Martim Afonso de Souza, meus cordiais agradecimentos. |