Imagem: reprodução parcial da matéria original
DE SÃO VICENTE
(Do nosso correspondente)
O Grupo Escolar de S. Vicente é hoje inaugurado oficialmente
Sem embargo de se achar funcionando há dois meses
o nosso decantado Grupo Escolar, dá-se hoje, oficialmente, a abertura de suas portas às crianças vicentinas que necessitem do pão espiritual.
Esse Grupo Escolar de que há muito a nossa terra, berço da civilização paulista, se
ressentia, parecia-nos, como a todos que presenciavam o analfabetismo crescente da nossa mocidade, apenas um sonho, nada mais que uma utopia!
Os esforços eram constantes dos políticos dominantes, apoiados pela luta insana da
imprensa diária; o clamor dos pais, pelo indiferentismo do governo para com a instrução nesta terra, subia já às raias de justificável indignação,
tanto mais justa quanto é certo que cidades de menos importância dos sertões do nosso Estado possuem, muitas delas, mais de um estabelecimento de
ensino mantidos pelo governo estadual.
O ensino público no nosso Estado - toda a gente sabe - é largamente defendido e muito
sabiamente; no entretanto, resultava em contraste a nossa S. Vicente, partícula deste mesmo Estado, sem um grupo escolar, sem mesmo um
estabelecimento de ensino capaz de levar seus filhos a obterem os necessários ensinamentos para a grande luta pela vida!
E passada a borrasca, que parecia cada vez mais tenebrosa, vem hoje a bonança, aliás
muito promissora para o futuro de nossos filhos.
S. Vicente exulta, e exulta com muita razão!
A idéia concebida por Adaucto Felix de Lima e Manoel Henrique de Lima para a fundação
desta escola onde a infância vicentina recebesse os rudimentos da instrução, e amparada pelo coronel José Lopes dos Santos, capitão Antão Alves de
Moura e Joaquim Duarte da Silva, teve a sua realidade em 10 de junho de 1893, com a fundação da Escola do Povo, que durante dezoito anos viveu com a
cooperação de muitos cavalheiros desta terra, entre os quais Francisco Emilio de Sá, Julio Mauricio da Silva, Luiz Yaukens, João Wenceslau Emerick,
Alexandre Santos, dr. Percio de Souza Queiroz e Jeronymo dos Santos Moura - espalhando a instrução aos filhos de S. Vicente.
Em reunião de diretoria de 18 de junho de 1910, o presidente, dr. Percio de Souza
Queiroz, declarou ter recebido cartas e telegramas do sr. secretário do Interior, propondo reunir as escolas públicas desta cidade, na Escola do
Povo.
Essa proposta foi largamente discutida, ficando resolvido que a diretoria, depois de
ouvir a assembléia geral, apresentasse ao governo as condições pelas quais seria aceita a sua proposta.
As bases apresentadas pela diretoria, que julgou satisfazerem os interesses da
sociedade, foram as seguintes:
"1ª - Será fundado um grupo
escolar no edifício da sociedade;
2ª - Esse grupo terá a denominação de Escola do Povo;
3ª - O governo colocará nesse grupo os professores que a sociedade contratou para o
seu serviço e que são diplomados pelo Estado;
4ª - O governo obriga-se a construir um salão com capacidade suficiente para
instalação da aula de música e teatro infantil;
5ª - Do terreno da sociedade serão destacados trinta metros e respectivos gradis que
continuam a pertencer-lhe, na frente da Praça Coronel Lopes, fazendo esquina com a Avenida Misericórdia e fundos até a Rua Padre Anchieta, e neste
terreno será construído o referido salão;
6ª - A sociedade só entrega ao governo o edifício e sua sede, à Praça Coronel Lopes,
com sessenta metros de terreno e fundos até a Rua Padre Anchieta, e tirando todos os móveis, utensílios e o mais que nele existe, que continuam a
pertencer-lhe".
O governo aceitou as condições acima propostas, com exceção da que se refere à
colocação dos professores no próprio Grupo Escolar, por ter dúvida quanto aos mesmos terem o tempo necessário de ensino em escolas públicas, que
lhes dê direito a esse lugar, mas comprometeu-se a dar-lhes colocação vantajosa em outras escolas, se a lei não lhe permitisse nomeá-los para o
nosso grupo.
Também não aceitou o encargo de construir o salão pedido, mas contribuiu com a
importância de 15:000$000 para esse fim.
E em assembléia de 15 de julho de 1910 era o edifício da sociedade Escola do Povo
doado ao governo do Estado e concedidos ao presidente da diretoria, dr. Percio de Souza Queiroz, todos os poderes necessários para, em nome da
sociedade, entregar ao governo o seu prédio à Praça Coronel Lopes, assinando a respectiva escritura de doação.
Em 29 de julho de 1911, após dezoito anos, um mês e dezenove dias, era dissolvida a
sociedade Escola do Povo, por não ter mais razão de existir, porquanto, com a entrega do seu edifício escolar ao governo, desistiu de prosseguir nos
fins para que foi criada, sendo o seu material escolar entregue à Câmara Municipal de S. Vicente, para uso das escolas municipais.
De posse do edifício, o governo do nosso Estado levou cerca de dois anos para
adaptá-lo convenientemente para o funcionamento do desejado grupo escolar desta cidade.
Após uma luta insana dos dirigentes do governo municipal, S. Vicente conseguiu ver as
portas da instrução abertas para os seus filhos que por aí viviam atirados à ignorância por culpa exclusiva do Estado, que protelava,
injustificadamente, os serviços necessários à adaptação do majestoso edifício que se ostenta na Praça Coronel Lopes.
É justificada, pois, a satisfação que desde há dias vem se notando na população
vicentina pela instalação, que se verifica hoje, do Grupo Escolar.
O belo edifício está todo internamente engalanado com flores, palmeiras e festões,
num aspecto garrido e surpreendente. Os salões das diversas aulas, ornamentados pelos próprios professores, dão uma idéia chique da bela festa de
hoje, nesse estabelecimento de ensino.
À hora em que lá estivemos ontem, grande era a azáfama na decoração do edifício.
Desde a entrada pendem cordões de flores entre palmeiras artisticamente distribuídas.
O Grupo Escolar de S. Vicente, que hoje faz a sua inauguração oficial, está sob a
direção provecta do sr. Antonio de Mello Cotrim, e as aulas estão assim distribuídas:
Secção feminina:
1º ano A - professora d. Lucia Bressane - 51 alunas;
1º ano B - professora d. Iracy Nogueira Wuitke - 41 alunas;
2º ano - professora d. Idalina Viégas - 37 alunas;
3º ano - professora d. Maria Adelaide - 37 alunas.
Secção masculina:
1º ano A - professora d. Domitilia Menezes - 61 alunos;
1º ano B - professora d. Amelia Pinto do Valle Moura - 49 alunos;
2º ano - professor Osorio Bella - 48 alunos;
3º ano - professor Carlos Borba - 32 alunos.
As salas dessas aulas acham-se garridamente ornamentadas impressionando
agradavelmente ao visitante.
Na sala do 3º ano espalham-se pelas paredes escudos homenageando Portugal, Chile,
Argentina, Inglaterra, Suíça, Turquia e Espanha, sobre os quais a bandeira do respectivo país entrelaçada com a da nossa pátria. Também vê-se
escudos com os nomes do Brasil e Estado de S. Paulo. Na lousa, sobre festões, vêem-se dois escudos com os nomes do dr. Rodrigues Alves, presidente
do Estado, e dr. Altino Arantes, secretário do Interior.
O sr. Antonio de Mello Cotrim, a fim de que todos que se interessam pelo progresso do
ensino público, nesta cidade, possam compartilhar das festas comemorativas da instalação do nosso Grupo Escolar, dirigiu convites especiais somente
à imprensa e às autoridades locais, esperando, por isso, o comparecimento de todos os cavalheiros e exmas. famílias.
As festas inaugurais terão começo ao meio dia. A essa hora, o diretor do grupo, corpo
docente, autoridades locais, representantes do governo e da imprensa percorrerão todo o edifício.
Depois de pequeno descanso, passarão todos para o teatro do Club Vicentino, onde,
pelos alunos do grupo, será executado o seguinte programa:
Primeira parte:
I - Hino Nacional, cantado pelos alunos do 3º ano.
II - Hino de Saudação, cantado pelas alunas do 1º ano A, feminino.
III - "A Escola", poesia pela aluna do 2º ano, Mercedes Cotrim.
IV - "A Pátria", poesia pela aluna do 3º ano Mathilde de Souza Queiroz.
V - "13 de Maio", poesia pelo aluno do 2º ano, Rubin Cezar Alves.
VI - Discurso pelo aluno do 3º ano, Edison Telles.
Segunda parte:
VII - Valsa das Setas, pelas alunas do 1º ano A, feminino.
VIII - "Nobre ambição", poesia pelo aluno do 2º ano, David Pimenta.
IX - "A Bandeira", poesia, pela aluna do 3º ano, Carmen Vasques.
X - "13 de Maio", poesia pelo aluno do 3º ano, Firmino Pacheco Júnior.
XI - "A Tosca" (piano e violino) pelo aluno do 3º ano, Mario Santos,
acompanhado pela senhorita Noemia Santos.
Terceira parte:
XII - Saudação, pelos alunos do 3º ano.
XIII - Discurso, pela aluna do 3º ano, Jenny Roso.
XIV - "A Escola", poesia pela aluna do 3º ano, Leduina Riedel.
XV - "As Caravelas", poesia pelo aluno do 2º ano, Renato Pimenta.
XVI - "A Escravidão", poesia pelo aluno do 2º ano, Ignacio Requeijo.
XVII - "A Esmola do Pobre", poesia pela aluna do 3º ano, Edith Roso.
XVIII - "Serenata de Braga" (piano e violino), por Mario Cotrim, acompanhado
pela senhorita Durcilia Garcez Freitas.
Quarta parte:
XIX - "Ante a bandeira", poesia pela aluna do 3º ano Vicentina Vianna.
XX - "A Bandeira", poesia pelo aluno do 2º ano, Jayme de Moura.
XXI - "Hino à Bandeira", pelos alunos do 3º ano.
Todos novamente no edifício do Grupo Escolar, e depois do necessário descanso às
crianças, será executada a
Quinta parte:
- Ginástica com bastões pelas alunas do 3º ano.
- Ginástica simples pelos alunos do 3º ano.
15 de Novembro
Em comemoração à data que relembra a proclamação da República em nosso país, não
funcionarão hoje as repartições públicas municipais e estaduais; o comércio fechará ao meio dia e as repartições hastearão o pavilhão pátrio.
O rancho no quartel será melhorado.
O edifício da ex-Escola do Povo, que de hoje em diante passa a constituir oficialmente o Grupo
Escolar de S. Vicente
Foto e legenda publicadas com a matéria
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