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TRIBUNA LIVRE
Governadoras no Brasil Colônia
Wilma Therezinha Fernandes de Andrade
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Durante o período das capitanias
hereditárias, mulheres foram governadoras, pois a lei permitia a elas o acesso ao poder.
Na de São Vicente, doada a Martim Afonso de Souza, em 1534, administrou-a durante 10 anos sua mulher e procuradora d. Ana
Pimentel, enquanto ele estava ausente na Índia. Ela doou várias sesmarias, entre elas a de Jeribatiba (hoje
Jurubatuba em Santos continental), em 1536 a Braz Cubas, e também foi dela a
decisão de anular a determinação de Martim Afonso de proibir a subida dos povoadores do litoral ao planalto, reabrindo a passagem por
Cubatão. Nomeou capitães-mores, inclusive Braz Cubas, em 1545, que elevou o povoado de
Santos à condição de Vila.
Na de Santo Amaro, de Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso, governou sua viúva Isabel de Gamboa durante a menoridade de seus dois filhos,
pois o donatário morreu em naufrágio em viagem para a Índia, em 1537. Como donatária nomeou, em Portugal,
loco-tenentes que tentaram ocupar a Ilha de Santo Amaro, (Guarujá).
No século XVII, a Capitania de São Vicente pertencia a Mariana de Souza da Guerra, condessa de Vimieiro, neta de Martim Afonso. Teve o dissabor de
enfrentar de seu primo, conde de Monsanto, herdeiro da Capitania de Santo Amaro, processo pela imprecisão
dos limites entre as duas capitanias.
O conde ganhou a demanda e apoderou-se de Santos, São Vicente e São Paulo. A condessa de Vimieiro, sentindo-se lesada, reagiu e criou a Capitania de
N. S. da Conceição de Itanhaém, em 1624, com sede na vila de Itanhaém e território que abrangia parte dos
estados atuais do Rio de Janeiro e Paraná. D. Mariana administrou a Capitania de Itanhaém de 1624 até 1645, e esta, mais tarde, foi incorporada à
Capitania de São Paulo.
Com outros herdeiros, o processo continuou acirrado e provocou enorme confusão administrativa. As sentenças favoreciam os herdeiros de Pero Lopes de
Souza. A sede de São Vicente foi transferida para a vila de São Paulo e a capitania trocou de nome, passando a se chamar de São Paulo. A de Santo
Amaro estava, na prática, anexa a ela.
No início do século XVIII, d. João V comprou a Capitania de São Paulo por 44 mil cruzados.
Na Capitania do Espírito Santo, destacou-se d. Luíza Grinalda, viúva de Vasco Fernandes Coutinho (Filho). Foi donatária (1589-1593), morou em Vila
Velha e enfrentou assalto de corsários; ataques de índios e dificuldades com os engenhos de açúcar. Apoiou os franciscanos, a quem doou o morro onde
eles construíram o notável convento da Penha. Acolheu, também, beneditinos e jesuítas. O padre José de Anchieta
era seu amigo e a amparou quando da morte do marido. Não teve filhos e, voltando a Portugal, dedicou-se à vida religiosa e testemunhou no processo
de beatificação de Anchieta.
Para a Capitania de Pernambuco, doada em 1534, o donatário Duarte Coelho trouxe a mulher d. Brites de Albuquerque. Ela assumiu o comando da
capitania quando ele fez duas viagens a Portugal e seus dois filhos, nascidos no Brasil, eram menores ou ausentes. Brites viveu em Olinda tempos
difíceis: ataques dos caetés, intrigas entre colonos, dificuldades com a produção do açúcar, falta de capital. Concedeu sesmarias. Teve ajuda de seu
irmão, Jerônimo de Albuquerque.
Quando os homens morriam ou se ausentavam, as mulheres no Brasil Colonial assumiam papel significativo no governo das capitanias. E, no século
XVIII, o Brasil teve como rainha d. Maria I (1777–1792).
Hoje, o Brasil é governado por uma mulher. De Ana Pimentel a Dilma Rousseff, a História registra a crescente importância da presença feminina na
administração e na política brasileira.
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Doutora em História Social pela USP, professora assistente de História da UniSantos, historiadora e membro de instituições acadêmicas. |