Mansueto Pierotti assina a escritura de compra do
terreno do clube, em 20/6/1949
Feitiço virou S. Vicente A. Clube
Hamleto Rosato
O Feitiço que iremos abordar não é o que se virou contra o feiticeiro, segundo o brocardo
popular. O feitiço de que vamos tratar relembra um grande jogador de futebol, que pertenceu ao Santos Futebol Clube, e cujo nome - Luiz Matoso - foi
menos conhecido que o apelido.
Feitiço, ao que sabemos, nasceu no Cambuci, na Capital do Estado. Veio para o Santos.
Goleador, chutava inclusive de bico. E, quando o fazia, era uma bala disparada.
Jovens esportistas de São Vicente, mas torcedores roxos do Santos F. Clube, de glórias mil
segundo Plínio Marcos, resolveram fundar o Feitiço Atlético Clube. Uniram-se e passaram a trabalhar pelo clube, que teve grandes dificuldades para
se firmar. Além de pagarem mensalidade, os jovens cuidavam da lavagem de uniformes. Faziam vaquinhas para cobrirem despesas. Tudo para
justificar o nome do craque, do ídolo da torcida alvinegra, paulista e mesmo brasileira.
Mudança - Durante vinte e dois anos o Feitiço A. Clube marcou sua presença no esporte
da Baixada Santista. Um dos jovens, porém, de muita visão, conversou com seus colegas. E ele, pelo esforço, pela dedicação ao clube, pela sua
contribuição sempre presente, de todas as formas, sugeriu a mudança do nome para São Vicente Atlético Clube. O abnegado jovem Mansueto Pierotti,
humilde, que cativara a amizade de todos os seus companheiros de ideal, viu sua proposta aceita. Não apenas seus companheiros de ideal comungaram da
idéia, mas todos os vicentinos. Afinal, o nome era da própria e querida cidade, Celula Mater da Nacionalidade.
Aquele grupo de jovens que, esquecendo-se de que sábados e domingos podiam ser dias de
lazer, iam para o amplo terreno onde ficaria o campo de futebol e, quem sabe, o estádio, pensavam todos. Tiraram o mato, nivelaram o terreno,
retiraram as pedras, removeram a terra para que se pudesse plantar grama. Tudo com muita abnegação. Com esforço, com determinação. Eles estavam
construindo um clube e formando uma história, baseada no amor, na vontade de vencer. E isso não faltou a nenhum deles. Aquele grupo de jovens era
como uma só família.
Mansueto incitava seus colegas. Ele que foi goleiro, defendendo as cores de seu clube, que
fez de tudo no seu grêmio, não se omitia em nada. Seu espírito de sacrifício estava sempre presente. Cobrava mensalidades, carregava saco de roupa,
conduzia os jogadores para o campo e então, como torcedor, gritava, incitava, chorava, ria, enfim punha sua alma à mostra. O que é mais admirável
nesse grupo que se formou é que todos, desde Orlando Intrieri, também um dos baluartes, até o mais simples funcionário do clube, apoiavam Mansueto,
que realmente encarnava o espírito de luta e dedicação.
Terreno - Foi ainda Mansueto Pierotti que, como presidente do clube, lutou para a
compra do terreno. Era a consolidação do sonho daqueles jovens que, amando São Vicente, desejavam dar a ela um campo de futebol à altura. E fizeram
mais, deram um estádio e, em homenagem ao presidente-símbolo do clube, deram o nome de Mansueto Pierotti.
O dia da assinatura da compra do terreno, no cartório do 6º Tabelião em Santos, foi de
glória, de grande emoção, de uma luta vitoriosa, da satisfação de terem concretizado um grande sonho.
A foto, tirada no cartório, mostra Mansueto Pierotti assinando a escritura, vendo-se o jovem
advogado Derosse José de Oliveira, que tratou dos papéis, e, junto à mesa, de terno cinza, à esquerda, Orlando Intrieri, e mais os srs. Álvaro Pinto
da Silva Novaes e seu filho; dr. Álvaro Macedo Guimarães, proprietário do terreno; Eugênio Maurício da Silva (Buru), Manoel Luiz Barreiros, Juvenal
Moreira da Silva, Joaquim S. Fernandes, Roberto Rodrigues (Bibi), que foi co-proprietário da Casa Rosário; Overlack Feitosa Franco e Laurinno
Mirabelli. A foto recorda um grande companheirisimo, uma grande vitória, e, ainda, uma lição de vida que Mansueto Pierotti representa. Hoje, o clube
é dirigido pelo veterano Pedrinho. |