Você sabia que os bondes rodaram em Santos primeiro que na
capital paulista? Que Santos teve o primeiro serviço de bondes do Brasil, talvez das Américas? Que já existiram
serviços de bonde fúnebre e de bonde irrigador? Que a
primeira locomotiva elétrica fabricada no Brasil saiu da fábrica de bondes santista?
Pois é, os pesquisadores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti
registraram essas e outras curiosidades no livro História de Santos/Poliantéia Santista, publicado em 1980:
O serviço de bondes foi inaugurado a 9 de outubro de 1871 (um ano antes que em São
Paulo). A Lei Provincial nº 67, de 10 de abril de 1870, concedeu privilégio por 50 anos a Domingos Montinho para o "serviço de transporte de gêneros
e mercadorias por meio de trilhos", de conformidade com a proposta por ele apresentada à Câmara de Santos.
Essa proposta foi aceita em sessão de 28 de janeiro de 1870, como a mais vantajosa
entre as diversas que foram apresentadas, e a 27 de maio foi assinado o contrato entre as partes.
Os diversos empresários se uniram e formaram uma sociedade em comandita, sob a firma
de Russel, Benest e Cia., finalmente uma sociedade anônima, Cia. Melhoramentos da Cidade de Santos, cujos estatutos foram aprovados por Decreto
Imperial de nº 4.950, de 4 de maio de 1871, que autorizou o seu funcionamento.
Bonde puxado por burros na Rua Direita, atual Rua XV de Novembro, em Santos
Pioneira - Coube à cidade de Santos ser a primeira do Brasil, e talvez da América
do Sul, a introduzir o sistema de transporte de mercadorias por bondes (então chamados tram-road). A primeira linha era para a Barra, isto é,
Boqueirão, onde estava localizada a estação de recolhimento.
Em 7 de julho de 1873 circulou o primeiro bonde ligando Santos a São Vicente - puxado
por burros. Esta linha foi mantida até 1909, quando passaram a circular os bondes elétricos.
Em 10 de novembro do mesmo ano (1873) foi assinado contrato entre o governo da
Província e Jacob Emerich e Henrique Ablas, para o estabelecimento de uma linha de bondes, de tração animal, sobre trilhos de ferro, entre a cidade
de Santos e São Vicente.
A 24 de outubro de 1875, a firma Emmerich e Ablas inaugurava uma linha de bitola
larga, de Santos a São Vicente. Em parte do trajeto, os bondes eram puxados por burros e dali em diante seguiam engatados numa máquina a vapor.
Em 31 de maio de 1887, Mathias Costa (Mathias Casimiro Alberto da Costa) enviava carta
à Câmara Municipal de Santos, anunciando a inauguração, a 1º de junho (N.E.: em outro ponto da obra, o autor usa a data 1º de julho) desse ano, da
linha de bondes, com percurso da cidade (N.E.: o autor se refere ao centro da cidade, seguindo a forma como os santistas costumam se referir a essa
área) à Vila Mathias.
A 4 de abril de 1889, inaugurava-se a linha do José Menino, resultante de mais um
contrato feito entre Mathias Costa e a Municipalidade. Juntamente com a linha, foi inaugurada a Av. Ana Costa, considerada, na época,
descomunalmente larga para o pequeno tráfego de bondes a burro.
Garagem da Vila Mathias em construção nos primeiros anos do século XX
Monopólio - Por volta de 1879, a Cia. Viação Paulista (seção de Santos), sob a
direção do major João Constantino Janacopolus, comprou os direitos das várias companhias então existentes, passando a monopolizar os transportes em
Santos, como aliás, já havia feito em São Paulo.
O monopólio dos bondes de Santos, exercido pelo major João Constantino Janocopolus,
compreendia as quatro linhas então existentes, com cerca de 30 km de extensão, que eram as seguintes: Cidade a São Vicente, que ia por trás dos
morros (hoje, avenidas Nossa Senhora de Fátima e Antônio Emmerich), única linha com tração a vapor, pois todas as demais eram de tração animal; Vila
Mathias ao José Menino, através do traçado hoje correspondente à Av. Ana Costa, que acabava de ser aberta, e depois margeando a praia; Cidade à Vila
Mathias e Cidade à Barra (Ponta da Praia), cuja linha ia por trás e não pela frente junto à praia.
Bondes circulando pelo Largo do Rosário, atual Praça Rui Barbosa, na Santos de 1909
Em 1899, Joaquim Gonçalves dos Santos Silva e João da Silva Matos obtiveram uma
concessão para "uma linha de bondes entre o Largo da Imperatriz e a extremidade da Av. Ana Costa, no litoral".
A 6 de maio de 1901, houve a liquidação dos bens da Cia. Viação Paulista, tendo o Dr.
João Éboli adquirido o acervo, em 10 de junho. Logo a seguir, por autorização de 7 de agosto do mesmo ano, organizou a Empresa Ferro Carril
Santista, explorando os contratos da Cia. Viação Paulista.
Nesse mesmo ano - 1901 -, esta empresa inaugurava o trecho entre o Boqueirão e a Ponta
da Praia, pela praia, em substituição do antigo caminho pelos fundos das habitações. Houve também a proposta de eletrificação das suas linhas,
adquirindo, para isto, material do exterior, chegando o primeiro carregamento pelos vapores Tennyson e Catânia, a 10 de setembro de
1902.
Conheça, a seguir, o bonde fúnebre e os primeiros bondes
elétricos... |