Esteve ontem em visita à Câmara o prefeito municipal
Saudaram o dr. Francisco Luiz Ribeiro quase todos os líderes de bancadas - Discurso proferido pelo
chefe do Executivo - Nomeada uma Comissão Especial encarregada de apurar graves denúncias do diretor do E.B.V.L. - A instalação de ambulatórios nos
morros
Presidida pelo dr. Antonio Moreira e secretariada pelos
srs. Domingos Fuschini e Gustavo Martini, realizou-se ontem, com início às 14,20 horas, a 12ª sessão ordinária, da presente legislatura, da Câmara
Municipal de Santos.
Da matéria contida no Expediente da Mesa destacou-se um ofício do sr. Francisco
Mendes, solicitando licença de 60 dias, para tratamento de saúde, conforme atestado médico a ele anexado. Com a anuência da Mesa, o pedido foi
aprovado pelo plenário, sendo minutos após chamado, para ocupar seu lugar, o primeiro suplente da bancada trabalhista, dr. Antonio Ferreira, que
tomou assento ao lado de seus pares, depois de ter prestado o juramento de praxe.
Oradores do expediente - Finda a leitura da matéria do Expediente, foi dada a
palavra ao primeiro orador inscrito, o sr. Aristóteles Ferreira, que apresentou dois trabalhos: um requerimento, aprovado, encarecendo ao prefeito a
necessidade de entrar em entendimento com o presidente da República e com a direção da Cia. Docas, no sentido de ser instalado na faixa portuária um
restaurante do SAPS, dado o grande número de trabalhadores que o atual já atende; e uma indicação sugerindo a possibilidade de serem aproveitados
pelos moradores do José Menino os ônibus que servem à Praia Grande, mediante o pagamento de passagens por seção que teria
término naquele bairro.
O orador seguinte, sr. Gustavo Martini, em requerimentos, solicitou providências a
quem de direito a fim de que o bonde da linha 3 faça seu trajeto pela Av. Conselheiro Nébias, e não pela Av. Ana Costa, como vem fazendo, e para que
o ponto terminal do ônibus da linha 4 seja exatamente no da linha 3, visando, com isso, restabelecer, em parte, o trajeto que era feito pela extinta
linha 19. Finalmente, o sr. Gustavo Martini apresentou projeto de lei, autorizando o prefeito municipal a ceder um terreno no município ao Jabaquara
A.C., para que este ali instale sua praça de esportes e dando outras providências.
Seguiu-se com a palavra o dr. João Carlos de Azevedo, que, inicialmente, requereu a
nomeação da Comissão Especial encarregada dos estudos referentes à distribuição dos auxílios e subvenções, a fim de que seus trabalhos sejam
concluídos em época oportuna. Informando a respeito, o dr. Antonio Moreira disse que esse já era o pensamento da Mesa, sendo que, minutos após,
nomeou, para constituírem aquele órgão, os presidentes das Comissões de Justiça, de Finanças, de Educação e Saúde e de Turismo.
Prosseguindo, o representante socialista encaminhou as seguintes proposituras:
requerimento, aprovado, solicitando a transcrição em ata do discurso pronunciado pelo gal. Estillac Leal, no Palácio da Guerra, por ocasião da
transmissão do cargo de ministro da Guerra; requerimento, aprovado, pedindo o envio de ofício ao secretário da Educação, sugerindo que estude a
possibilidade da instalação de uma escola primária rural no bairro da Prainha, situado no Município de Guarujá;
projeto de lei, abrindo o crédito de 600 mil cruzeiros, destinado à instalação de luz elétrica no Distrito da Bertioga; projeto de lei, declarando
de utilidade pública, para efeito de desapropriação, o local denominado Indaiá, situado na Bertioga, antiga residência do poeta Vicente de Carvalho,
e para que ali seja instalado o Parque Municipal "Vicente de Carvalho"; requerimento, aprovado, solicitando ao prefeito que informe os motivos do
não cumprimento da lei n. 1.095, que criou o Salão de Belas Artes e determinou a realização anual do certame; requerimento, enviado à Comissão de
Justiça, para exarar parecer, pedindo o envio de ofício à presidência da Câmara dos Deputados, expressando o sentimento contrário da Câmara à
pretendida reforma da Lei Eleitoral; e projeto de lei, alterando aquela que criou o concurso denominado "Paulo Gonçalves".
Falou, depois, o dr. Washington Di Giovanni, que encaminhou requerimento solicitando
ao prefeito que envie mensagem à Câmara propondo a desapropriação do espólio de Armando Lichti, localizado na
Bertioga, o que, afirmou em sua justificação, muito virá beneficiar àquele distrito.
Por proposta do prof. Artur Rivau, a proposição foi encaminhada às Comissões de
Justiça e de Obras, que deverão manifestar-se a respeito.
Visita a Câmara o prefeito municipal - Ia o orador prosseguir em sua
explanação, quando o presidente Antônio Moreira pediu licença para interrompê-lo, uma vez que se encontrava na Sala dos Vereadores, em visita de
cordialidade à casa, o dr. Francisco Luiz Ribeiro, prefeito municipal. Para introduzir o visitante no recinto, o presidente nomeou os srs. Laurindo
Chaves, João Inácio de Sousa e Valter Roux Paulino.
Desincumbida por estes a tarefa, o dr. Francisco Luiz Ribeiro apresentou cumprimentos
aos membros da mesa, tomando assento, depois, no plenário, ao lado do prof. Laurindo Chaves. Designado pelo presidente para saudar o visitante, em
nome da Câmara, usou da palavra o prof. Laurindo Chaves, que em poucas palavras disse da sua satisfação em saudar o novo chefe do Executivo
santista.
Igual manifestação tiveram, logo após, pelas suas respectivas bancadas, os srs.
Benedito Neves Góis, Antônio Bento de Amorim Filho, Antônio Alves Figueiras, Albino de Oliveira, Artur Rivau, Pedro de Castro Rocha e, em nome da
mesa, o dr. Antônio Moreira.
Em sua maioria, os oradores hipotecaram o apoio de suas bancadas ao Executivo
municipal, desde que seu dirigente pratique atos que atendam os interesses do município e dos munícipes, tendo se destacado o discurso do sr.
Antônio Bento de Amorim Filho, que encareceu ao dr. Francisco Luiz Ribeiro a solução de problemas que mais afligiam à população, principalmente com
referência aos serviços de abastecimento de água, gás, energia elétrica, de transportes e outros.
Discurso do dr. Francisco Luiz Ribeiro - Agradecendo às manifestações de que
fora alvo e falando de improviso, o dr. Francisco Luiz Ribeiro pronunciou o seguinte discurso:
"Venho trazer à nobre Câmara Municipal de Santos a
homenagem pessoal do prefeito santista. Venho trazer também a afirmação, que faz o Executivo, de que a Prefeitura de Santos terá no seu prefeito um
órgão submisso à lei, e, portanto, submisso às deliberações desta nobre casa.
"Sou democrata convicto e como tal não admito que se perca aquele paralelismo que a
própria Constituição estatui entre os poderes, que devem ser independentes, mas harmônicos. Enquanto esse paralelismo existir, teremos sempre
oportunidade de prestar contas ao povo que em nós confia, porque acima de todos nós existe uma norma, existe a lei, e na elaboração desta norma,
desde o seu nascimento, deve ser obedecida a mesma linha de conduta, ou seja, de reciprocidade.
"Se é verdade que o Prefeito Municipal pode tomar a iniciativa da resolução dos
problemas públicos, por outro lado também é verdade que ao nobre Poder Legislativo incumbe a mesma coisa, o mesmo poder, a mesma força - digo mais -
a mesma obrigação.
"Encontrei Santos cheio de problemas, e não tenho medo de enfrentá-los, porque eu os
enfrentarei de comum acordo com vv. excias.
"Não pretendo fazer do gabinete do prefeito uma sala de arbítrio, uma sala de onde
apenas saiam mensagens, mas pretendo fazer desse gabinete um ponto de reunião, um local onde seja possível a harmonização dos interesses públicos,
não só depois da elaboração da lei, mas na sua feitura, no seu estudo prévio, na sua gestação. Sendo advogado como sou, e tendo um verdadeiro culto
pelo Direito, não me permitiria outra coisa, srs. vereadores. Foi assim que entendi as palavras de saudação de vários dos srs. vereadores e ardorosa
e excitada recomendação do nobre vereador Amorim Filho.
"Recebi as palavras dos nobres vereadores não como uma crítica ao meu antecessor, mas
como uma advertência à minha linha de conduta. E, se é verdade que foram motivos políticos que determinaram a saída do nobre engenheiro Alcaide
Valls, confesso a esta Câmara que eu ignoro tais motivos e que vim para aqui determinado a fazer uma administração independente e condizente com os
interesses de Santos, não podendo colocar acima destes interesses nenhum interesse partidário.
"Mas, contesto o que aqui foi dito, de que seja possível fazer uma administração
apolítica. É impossível fazer-se administração apolítica no Brasil, justamente porque a formação dos legislativos nacionais é essencialmente
política. No entanto, acho também que a única linha política condizente com os nossos foros de país civilizado é a linha política da harmonia, é a
linha política do aproveitamento de valores, dando aos adversários políticos o mesmo tratamento respeitoso que se dá aos correligionários.
"É este o espírito de que vim imbuído. Peço aos srs. vereadores que dêem crédito ao
que estou dizendo. Não tenho medo de enfrentar os problemas, e vou enfrentá-los imediatamente com vv. excias. Não prometo resolver nenhum problema.
Prometo, apenas, enfrentá-los a todos, imediatamente.
"Sendo obediente a esta minha norma de ação, que reputo a única condizente com os
princípios democráticos, pretendo sempre obter da nobre Câmara as leis e os meios de que necessita o Executivo para dar solução a tais problemas.
Sem isso eu seria um sino sem badalo, e ficaria no meu gabinete de mãos atadas.
"E se é verdade que pretendo fazer do meu gabinete a sala do povo e ponto de
convergência de todos os interesses públicos, estendo o meu apelo a esta nobre Câmara, no sentido de atender ao povo que trouxe os srs. vereadores
para aqui. Se a Câmara Municipal de Santos é, pela sua natureza, o refúgio dos interesses santistas, o mesmo posso assegurar a vv. excias. quanto ao
gabinete do prefeito. Lá encontrará guarida toda e qualquer reclamação que os munícipes trouxerem, e espero encontrar da nobre Câmara o apoio para
todas as medidas justas, para todas as medidas que visem o interesse geral do município santista, nobre, culto e histórico.
"Espero sair daqui, senão tendo resolvido os problemas, pelo menos com uma palavra de
confiança, uma palavra de gratidão dos nobres companheiros de trabalho, já que o Legislativo é governo tanto quanto o Executivo. Muito obrigado a
vv. excias".
Terminado o discurso, o dr. Francisco Luiz Ribeiro retirou-se do plenário, sendo a
sessão suspensa para que fosse servido o café, na Sala dos Vereadores.
O prefeito municipal, sr. Francisco Luís Ribeiro, quando discursava na Câmara
Municipal
Foto publicada com a matéria
Sindicância em torno de declarações do diretor do E.B.V.L. - Reaberta a sessão,
falou, em caráter excepcional, o sr. Antonio Bento de Amorim Filho, informando inicialmente que iria tratar de assunto da maior gravidade, nele
estando envolvidos, possivelmente, autoridades municipais e o Serviço de Trânsito. Lembrou que desde há muito tempo vem tratando da deficiência dos
serviços de transportes coletivos da cidade, estranhando que ninguém, até o momento, se tenha manifestado a respeito.
Fato de maior importância no momento, porém, era a entrevista concedida a um jornal
local pelo sr. Manoel Diegues, diretor do E.B.V.L., segundo a qual existe "má fé das autoridades", com flagrante falta de interesse para a conclusão
do contrato referente à exploração dos serviços de ônibus na cidade.
Segundo ainda o jornal, o sr. Manoel Diegues afirmara que o E.B.V.L. não mais poderia
funcionar sem garantias e que a conclusão do contrato não era feita porque nela estavam envolvidos "interesses ocultos".
Diante do exposto, o sr. Antonio Bento de Amorim Filho requereu a nomeação de uma
Comissão Especial encarregada de proceder rigorosa sindicância, para apurar, em inquérito regular e administrativo, a veracidade das declarações do
sr. Manoel Diegues. Em aparte, o sr. Remo Petrarchi confirmou a denúncia, afirmando que a ouvira, pessoalmente, do diretor do E.B.V.L., em encontro
casual que tivera com este na Capital do País.
O professor Laurindo Chaves apoiou o requerimento em nome de sua bancada, por achar
que realmente deve ser apurada a denúncia e por julgar que seu autor, o sr. Manoel Diegues, está interpretando erroneamente as atitudes do governo
municipal. Daí, apoiar o requerimento, considerando que acima dos interesses do denunciado está a reputação dos elementos que integram o governo do
Município.
Seguiram-se com a palavra, também apoiando a proposição, os srs. Antonio Alves
Figueiras, Benedito Neves Góis, Artur Rivau, Albino de Oliveira, Pedro de Castro Rocha e Sílvio Fortunato, tendo este sugerido aditamentos a fim de
que a Câmara solicite ao prefeito que não conceda autorização, por ora, a outras empresas, para a exploração daqueles serviços, enquanto não for
aclarada a situação; que estude a possibilidade da abertura de concorrência pública, para a concessão daqueles direitos; e que para a autorização a
ser concedida necessária se faz uma exigência obrigatória de que os serviços sejam melhorados.
Colocados em votação, tanto o requerimento, como os adendos, foram aprovados, tendo o
presidente nomeado, para constituírem a Comissão Especial pedida, os srs. Sílvio Fortunato, Benedito Neves Góis, Antonio Alves Figueiras, Antonio
Bento de Amorim Filho, Luiz La Scala e Albino de Oliveira.
A instalação de ambulatórios nos morros e nos bairros - Passou-se depois à
apreciação das matérias da Ordem do Dia, sendo aprovado inicialmente, após breves debates, o requerimento n. 110/52, de autoria do sr. Benedito
Neves Góis, solicitando o encaminhamento de ofício à Câmara dos Deputados, manifestando a satisfação da Câmara Municipal pelo patriótico parecer
exarado pela Comissão de Segurança Nacional ao projeto de lei n. 1.595/51, que estabelece o monopólio estatal do petróleo, bem como demonstrando a
confiança de que o mesmo será aprovado, "para o bem do Brasil, pela segurança e tranqüilidade da Nação e felicidade geral do povo brasileiro".
Também: depois de ligeira discussão, o prof. Artur Rivau transformou em indicação o
seu requerimento n. 17/52, solicitando ao S.M.T.C. a colocação de linhas duplas de bondes ligando diversos bairros e a ampliação da linha 4. A
proposição, porém, voltou à Comissão de Obras, a pedido do sr. Gustavo Martini.
Foram aprovados depois, sem debates, em primeira discussão, os seguintes projetos de
lei, declarando de utilidade pública várias áreas de terreno destinadas ao alargamento, prolongamento ou abertura de vias públicas: 21/52, 23/52,
13/52 e 15/52.
Foi submetido à apreciação da Casa, em seguida, o parecer exarado por uma Comissão
Especial favorável ao requerimento n. 54/52, de autoria do dr. João Carlos de Azevedo, pedindo a transcrição, na ata dos trabalhos, de uma carta de
autoria do dr. Maurício Fang, na qual o missivista combateu a campanha encetada nesta cidade, visando angariar fundos para a instalação de
ambulatórios médicos nos morros e bairros da cidade.
Na ocasião da discussão desse requerimento, fazendo a defesa da campanha e combatendo
os argumentos da carta, fez-se ouvir o sr. Aristóteles Ferreira. Dias após, o dr. Maurício Fang enviou outra missiva à Câmara, na qual fez pesados
ataques à pessoa daquele vereador, formando-se, assim, séria polêmica entre ambos. Ontem, ocupando a tribuna, o sr. Aristóteles Ferreira refutou
energicamente os termos da segunda missiva, classificando seu autor de um "vulgar detrator e comentador leviano". Exaltou a honorabilidade dos
membros componentes da Comissão Organizadora da Campanha, da qual faz parte, rebatendo violentamente a classificação que a eles fora dada pelo dr.
Maurício Fang, que os chamou de "fazedores de um engodo".
Quanto à afirmação de que a campanha fora idealizada com interesses políticos e por leigos na
questão da assistência médica, lembrou que as administrações da Santa casa de Santos e de São Paulo, a Legião Brasileira de Assistência e outras
organizações semelhantes são feitas por leigos na matéria e que poucos são políticos. Quanto à segunda carta, classificou-a de "Grosseiras
confissões de um médico", refutando com veemência os termos ali contidos.
Seguiu-se com a palavra o dr. João Carlos de Azevedo, que apoiou o ponto de vista de que Santos
carece de maior assistência médica, mas que par esta ser perfeita pouco adiantam os ambulatórios. O que precisamos, afirmou, são mais hospitais.
Estes sim, é que resolveriam o problema satisfatoriamente, mas não os ambulatórios que se pretende instalar.
Os debates prosseguiram animados, neles intervindo inúmeros vereadores, entre os quais os srs.
Luiz La Scala, Agostinho Ferramenta da Silva, Laurindo Chaves, Sílvio Fortunato, Washington Di Giovanni, Antonio Alves Figueiras, Lúcio da Silva
Graça, Antonio Bento de Amorim Filho e outros, uns favoráveis ao parecer e outros contrários.
O dr. Sílvio Fortunato, ao expendeu seu ponto de vista, propôs o desdobramento do parecer em dois:
um, propondo a exclusão, da ata, dos termos trocados entre os srs. Maurício Fang e Aristóteles Ferreira desde o princípio da questão; e outro,
quanto à aprovação ou não do parecer que apoiava o requerimento do dr. João Carlos de Azevedo. Acolhida pelo plenário a proposta, foi colocada,
inicialmente, em votação, a primeira parte, verificando-se sua aprovação. A segunda parte foi rejeitada, deixando, assim, de figurar na ata dos
trabalhos, tanto o que se refere à primeira parte, como à primeira carta do dr. Maurício Fang.
Os trabalhos foram encerrados às 19,45 horas, sendo convocada outra sessão ordinária para a
próxima quinta-feira, com início às 14 horas. |