O Cisne Branco ficará atracado no Cais da Marinha, sede da Capitania dos Portos de
São Paulo, entre os armazéns 27 e 29 do Porto
Foto: Alberto Marques, em 23/7/2003, publicada com a matéria
A graça do Cisne Branco, de volta ao cais santista
Veleiro da Marinha retorna nesta quarta-feira
Lyne Santos
Da Redação
Os enormes navios cargueiros, capazes de carregar milhares de contêineres ou porões lotados de açúcar ou soja, deixarão de ser as grandes estrelas do Porto de Santos a partir da próxima quarta-feira. nesse dia, e até domingo que vem, a prima-dona do maior porto da América Latina será uma embarcação que não é conhecida por sua capacidade de carga ou passageiros, mas pela beleza e pelo papel que desempenha, como principal representante da Marinha do Brasil no exterior, o navio-veleiro Cisne Branco.
A embarcação ficará atracada no Cais da Marinha, entre os armazéns 27 e 29. E, de quinta a sábado, das 14 às 17 horas, estará aberta ao público. A entrada será gratuita.
Com 32 velas, o Cisne Branco foi construído com base nos projetos dos últimos clippers, navios longos e estreitos fabricados no século passado, com a missão de superar a lentidão das antigas embarcações com propulsão à vela. Os clippers foram planejados para carregar pequenas cargas ou volumes, além de passageiros.
O Cisne Branco foi construído na Holanda para participar da travessia comemorativa dos 500 anos do Descobrimento do Brasi. Sua viagem inaugural começou em 9 de março de 2000, em Lisboa, Portugal, e terminou em 22 de abril no litoral da Bahia, em Porto Seguro. O trajeto foi o mesmo feito pelo navegador Pedro Álvares Cabral em 1500.
Quem viaja em veleiros como o Cisne Branco garante que a experiência é inesquecível. É o que afirma o diretor-presidente da Praticagem de Santos, Fabio Mello Fontes. Ele esteve a bordo do navio-veleiro Guanabara por um mês, na época em que era aluno da Marinha. No Cisne Branco, Fontes atuou como prático, sendo responsável por manobrar a embarcação. "É um navio confortável e moderno, que guarda a tradição dos veleiros do século 19. O contato com a natureza, a navegação ao vento, quem fez (a viagem) nunca esquece. Podem passar 30 ou 40 anos que sempre vai lembrar", afirmou o prático mais antigo da região.
O desenho do casco, as velas (com um total de 2.195 metros quadrados) e o conjunto de cordas que as movimenta são algumas das características do veleiro que deverão chamar a atenção dos visitantes, afirma Fontes. "É o navio mais bonito da Marinha do Brasil. É uma obra-prima de engenharia", observou.
Inesquecível |
"Quem fez (a viagem no Cisne Branco) nunca esquece. Podem passar 30 ou 40 anos que sempre vai lembrar" |
Fábio Mello Fontes, diretor-presidente da Praticagem de Santos |
Características - Com 76 metros de comprimento, o Cisne Branco viaja, na maior parte do tempo, graças à força do vento. O motor é utilizado apenas quando as condições climáticas são desfavoráveis ou em situações específicas, como na entrada e na saída dos portos.
Segundo o capitão-tenente Rogério Almeida Gomes Ferreira, um dos 52 integrantes da atual tripulação da embarcação, o veleiro atinge maior velocidade, de 17,5 nós (31 km/h), quando está navegando somente com as velas.
Para o militar, um dos diferenciais do Cisne Branco é o trabalho manual e em equipe realizado pelos oficiais. "Os cabos do convés são laborados manualmente e a manutenção dos acessórios do convés, também, o que dá bastante trabalho. Normalmente, a tripulação toda se reúne em um esforço comum. Em outros navios, o trabalho costuma ser compartilhado", ressaltou.
Nesse sentido, Ferreira explicou que, no processo de seleção da tripulação, é feito um teste de subida no mastro - os oficiais precisam subir lá para manipular as velas. O mastro grande tem 46,6 metros de altura, o equivalente a um prédio de aproximadamente 15 andares. "Utilizamos um cinto de segurança para subir e, já na seleção, eles verificam se a pessoa tem medo de altura".
O conforto e a moderna tecnologia do veleiro foram destacados por Ferreira. Segundo o capitão-tenente, todos os tripulantes ficam em camarotes com banheiro. "O veleiro conta com GPS e carta digital, contrastando com a manobra que era feita antigamente". O navio não é todo de madeira: o casco e o mastro são de aço. Apenas o convés é em madeira.
CARACTERÍSTICAS E CURIOSIDADES - O mastro principal tem 4,6 metros de altura, equivalente a um prédio de 15 andares. O casco e os mastros são feitos de aço. Somente o convés é de madeira. O Cisne Branco atinge velocidades de 17,5 nós (31 km/h) só com suas velas e 11 nós (20 km/h) se utilizar apenas seu motor. O veleiro conta com um aparelho de dessalinização, que transforma água salgada em água doce, estratégico para longas viagens. O veleiro da Marinha possui duas moedas de cem réis do ano de 1936, com a imagem do Almirante Tamandaré, seguindo uma antiga tradição naval grega. O Cisne Branco possui a bordo uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, semelhante à que Cabral trazia em suas caravelas, na viagem do Descobrimento do Brasil, em 1500
Infográfico publicado com a matéria
Curiosidades - Legítimo representante do Brasil no exterior e utilizado na formação de oficiais e praças, o Cisne Branco mantém tradições navais antigas e curiosas. Uma delas se refere a uma moeda de 100 réis, de 1936, com o busto do Almirante Tamandaré (patrono da Marinha), que foi doada pelo almirante-de-esquadra Arlindo Vianna Filho (chefe do Estado-Maior da Armada em 2000, quando o Cisne Branco foi incorporado à Marinha). Ela está cravada sob o pé do mastro principal. Uma réplica está fixada na área interna do veleiro.
"A moeda faz referência a uma lenda grega, em que uma moeda era utilizada como pagamento a figura mitológica, que fazia o transporte das almas dos tripulantes ao paraíso", explicou Ferreira.
O oficial citou ainda que o veleiro navega com uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, semelhante à que o navegador português Pedro Álvares Cabral trouxe em suas caravelas na viagem do Descobrimento do Brasil, em 1500. "A réplica foi doada ao navio por portugueses", explicou o capitão-tenente.
A ORIGEM DO NOME - O veleiro recebeu seu nome devido aos primeiros versos da música Cisne Branco ("Qual cisne branco que em noite de lua/vai deslizando num lago azul,/O meu navio também flutua/nos verdes mares de Norte a Sul"), o hino da Marinha do Brasil, que também é chamado de Canção do Marinheiro
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