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Imagem: reprodução
parcial da matéria original
Um trabalho de vulto
Projeta-se a construção de um túnel que una Santos ao Guarujá, Itapema e Bocaina
Preliminarmente
elaborado, recebemos um memorial do projeto referente à construção de um túnel submarino, ligando Santos ao Guarujá.
É seu autor o engenheiro
arquiteto dr. Enéas Marini, representante da Sociedade Casa de Arquitetura, Construções e Operações Territoriais. Cabe-lhe também um projeto
idêntico, ora em discussão na Câmara dos Deputados Federais, que visa a construção de um túnel submarino entre o Rio de Janeiro e Niterói.
Não há dúvida que a
intensificação crescente da vida moderna nos grandes centros urbanos sugere muitas vezes gigantescos planos de comunicações, concordando com as
exigências do momento. Uma série enorme de motivos justifica plenamente a necessidade de tais obras. As condições de salubridade, de conforto e de
higiene, assim como o máximo aproveitamento do tempo na azáfama diária das grandes cidades, exigem vultosas iniciativas práticas, no sentido de
proporcionar a facilidade da existência coletiva e individual.
Por isso, nas grandes
metrópoles estrangeiras, tais como Nova York, Londres, Berlim, Paris etc., as vias de comunicação ocupam um lugar em evidência. Os poderes
públicos estudam o assunto, resolvendo racional e metodicamente todos os problemas de comunicações urbanas.
Ultimamente a capital do
Estado de São Paulo e outras cidades do interior sofreram profundas transformações arquitetônicas.
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A
estação inicial
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Sempre que se verifiquem
aumentos em extensão e desenvolvimento, surgem necessidades novas e inevitáveis. É por isso que, em matéria de conforto, a capital paulista e
outras cidades brasileiras se tornam progressivamente vastos centros de vida intensa, com as instalações técnicas impecáveis.
Santos, pela sua
topografia, aproxima-se muito de Nova York. É de crer, portanto, que dentro de breve Bocaina,
Itapema e a pitoresca Guarujá formem com a cidade um todo único, graças à
pequena distância que as separa. Atendendo, pois, a uma série de motivos de primeira ordem, a empresa acima referida, representada pelo engenheiro
Enéas Marini, toma a si o encargo de projetar e executar o plano de comunicações rápidas.
A utilidade dessa via
submarina está concretizada no seguinte dado estatístico: durante o primeiro semestre de 1926 atravessaram o estuário 268.424 pessoas, num sentido
e vice-versa. O plano do engenheiro Marini, gigantesco na verdade, tornará possível a máxima intensificação do movimento, beneficiando Bocaina,
Itapema e Guarujá.
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Vista interior longitudinal
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Algumas características do túnel
– A via submarina que ora se projeta construir, ligando Santos a Guarujá, partirá do Mercado velho
(N.E.: antigo Mercado das Canoas, nos fundos do
cemitério do Paquetá, próximo à Bacia do Mercado novo)
e, seguindo paralelamente o canal de acesso ao
mercado, atravessará as docas entre os armazéns 15 e 16, seguindo em linha reta até a atual estação das barcas de Guarujá, com um curso de 900
metros de extensão e a uma profundidade máxima de vinte metros, da linha d'água ao extradorso da abóbada do túnel
(N.E.: extradorso: termo de Arquitetura para designar a superfície convexa e
exterior de uma abóbada).
Essa galeria terá espaço
para duas linhas (ida e volta) e adaptável ao tráfego de qualquer veículo em movimento simultâneo: bondes, ônibus, automóveis, carroças de tração
animal etc., sendo tais linhas ladeadas por dois passeios laterais de 1,10 m de largura, para transeuntes, sendo o eixo longitudinal do túnel
vazado por uma galeria de esgotamento, destinado à cotação das águas pluviais e de infiltração que não se poderia evitar, a despeito de todas as
precauções.
A construção desse túnel
será feita com blocos de cimento armado, que repousarão sobre sólida base de concreto de ferro, sendo o processo de isolamento das águas feito por
meio de caixões metálicos que darão acesso aos blocos e permitirão a sua junção: a abóbada que é elipsoidal está protegida por um quebra-mar de
matacões de modo a resistir ao embate das ondas; terá o intradorso
(N.E.: forma atual do antigo enterdorso: termo de Arquitetura para
designar a superfície convexa e interior de uma abóbada)
iluminado eletricamente e conterá respiradouros de distância em distância, para ventilação interna, além de máquinas de sucção nos extremos. O
interior será rematado a cimento e o calçamento feito de asfalto.
Com os meios de ação de
que a engenharia dispõe atualmente, a firma proponente e o autor do presente projeto obrigam-se, por si, empresa ou companhia que organizarem, a
executar e entregar ao tráfego público a via submarina projetada no preliminar estudo que acompanha este relatório, em dois anos, contados da data
da concessão pelos poderes públicos, sendo os trabalhos atacados simultaneamente em ambos os extremos.
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Corte transversal do túnel e as respectivas dimensões
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Embora conte a requerente
com os necessários capitais do país e do estrangeiro, para execução desse grande empreendimento que é a via submarina entre Santos e Guarujá, os
favores que solicitamos aos poderes públicos consistem apenas no seguinte:
a) Garantia de juros de 5%
por 10 anos sobre 10.000:000$, correspondente à terça parte do capital de 30.000:000$000, que na presente ocasião é a soma orçada como necessária
para a execução do projeto em apreciação;
b) isenção de quaisquer
impostos federais, estaduais e municipais, durante a concessão, bem como o direito de desapropriação dos terrenos marginais numa faixa da largura
de cerca de 20 metros para cada lote do eixo da galeria e em toda a extensão do túnel, exceto no estuário do estreito;
c) desapropriação, por
utilidade pública, na forma da legislação vigente, dos terrenos de domínio público ou privado, prédios e benfeitorias que forem necessários para o
leito da galeria. Estações nos extremos, armazéns, almoxarifados e outras obras de arte necessárias para a mobilização de um empreendimento dessa
natureza;
d) prazo mínimo de 30 anos
para uso e gozo da via submarina a contar da data da assinatura do respectivo contrato ou concessão, findos os quais o túnel e tidas as
benfeitorias correspondentes reverterão para o Estado em perfeitas condições de conservação e sem indenização alguma, e, finalmente:
e) isenção de direitos
alfandegários para importação de todos os materiais destinados à construção do túnel e mais dependências.
A concessionária, de
acordo com a legislação em vigor, responsabilizar-se-á pelos danos ou prejuízos que, durante o gozo da concessão, cause a terceiros, pela
inobservância das disposições regulamentares.
Além do anteprojeto, a
pretendente, empresa ou companhia que organizar, apresentará oportunamente ao governo todas as informações precisas e uma minuciosa exposição
acerca das condições técnicas referentes à natureza das obras, condições de higiene, econômicas e comerciais, enfim, o projeto definitivo com
todas as descrições e especificações relatadas.
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A
seção transversal do estuário, mostrando o nível da água e o percurso do túnel
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