Imagem: reprodução parcial da publicação original
Uma coisa muito comum e que não deixa de ser bastante
curiosa é a vontade, o gosto, o prazer inexplicável que o indivíduo tem em ser fotografado. Assente o fotógrafo a sua máquina numa rua ou numa
praça, e no mesmo instante, surgindo de todos os lados, indivíduos de toda a espécie, gente de toda a categoria, bem trajados, mal vestidos, de
colarinhos engomados ou sem eles, vão tomando a frente, desconfiados, medrosamente, até que se familiarizam uns com os outros, com o artista e com a
máquina, antegozando, com satisfação e vaidade, o efeito de suas carantonhas raspadas ou barbadas nas páginas de um jornal ou de uma revista.
Todos têm uma pose diferente, todos têm uma expressão
original, cada qual mais afetada e sem jeito, cada qual mais ridícula: um ri, outro põe-se carrancudo, este trança as pernas, aquele desaba o chapéu
e aquele outro, espirituoso, bota a língua de fora e... está claro, o fotógrafo vê-se obrigado a suspender o trabalho.
Pede, implora, grita, empurra e, afinal, desimpede a frente.
Curva-se de novo ante o aparelho, cobre a cabeça com o pano
preto, coloca a vista através da objetiva, e - com um milhão de diabos - eis toda a frente outra vez tomada pelos mesmos indivíduos que, aos
bocadinhos, avançando a passo e passo, retomam a posição escolhida, rindo, sério, de braços cruzados ou de língua de fora!
E hão de sair na fotografia, custe o que custar.
E os que deviam sair, esses... Procurem os leitores quando
virem uma fotografia onde haja promiscuidade de indivíduos e notem se não tem atrás umas pernas comprimidas e umas cabeças sobre pescoços, muito
compridos, muito esticados... |