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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOTELARIA
Antigos hotéis e restaurantes santistas (22)

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Em 23 de agosto de 1984 era inaugurado o Bar do Torno, no pavimento térreo do Edifício Excelsior (um dos prédios tortos da orla da praia santista). Em 2013, foi fechado, junto com outros estabelecimentos, em virtude do rigor na aplicação de normas de segurança que determinam o laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros. Um movimento de protesto foi criado contra o fechamento desses locais, e o Torto MPBar chegou a programar suas atrações musicais com o apoio de outros bares. Em outubro de 2013, enfim o estabelecimento foi reaberto. Matéria publicada no jornal santista A Tribuna em 15 de junho de 2013, página A-6:


Michel Pereira, proprietário, não perde a esperança, mas também não cogita mudar de endereço

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

 

Julho pode trazer o adeus final do Torto

Para reabrir, estabelecimento depende de uma vistoria no prédio

Egle Cisterna

Da Redação

O Torto MPBar pode estar com os dias contados. Ao menos essa é a posição de Michel Pereira, proprietário do estabelecimento que está fechado desde abril por falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).

Nestes dois meses parado, o prejuízo é de R$ 35 mil. Como não há uma previsão de reabertura, o contrato de aluguel do imóvel ainda não foi renovado. "Julho é o mês mais forte do bar. Se a situação não se resolver até lá, fecharei de vez as portas. Vou mandar fazer uma chave gigante do Torto e entregar na Prefeitura", ironiza.

Seguindo as orientações dos Bombeiros, Pereira fez todas as alterações solicitadas. Entre elas: aumentara porta de entrada de 1,20 para 1,60, diminuir o espaçamento entre as grades do guarda-corpo do primeiro andar e da escada, instalar barras antipânico nas portas de entrada e reduzir a altura de onde os extintores estão.

Apesar disso, para que o Torto volte a funcionar ele depende do Edifício Excelsior.

Como a casa noturna faz parte do condomínio, não consegue obter o AVCB separadamente do residencial. O documento precisa ser concedido ao prédio. Mas isso parece estar longe de acontecer. "Há cerca de 15 dias, conversei com a síndica e ela disse que estava tomando as providências, mas, até agora, nada", afirma Pereira, que chegou a entrar na Justiça para que o condomínio desse entrada no documento.

A solicitação foi indeferida, pois a defesa apresentou o Formulário de Atendimento Técnico (FAT) que havia sido apresentado aos Bombeiros."O FAT não significa que solicitaram a vistoria, questionamos isso", lamenta.

Ajuda da Prefeitura - O empresário tenta sensibilizar o Município para conseguir o documento. Há duas semanas ele esteve reunido com o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) pedindo ajuda para resolver o impasse. "Entreguei a ele um requerimento para que a Prefeitura notificasse o prédio a regularizar a situação", conta Pereira.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Edificações já intimou o condomínio a apresentar o AVCB e o laudo de estabilidade. Segundo a Administração Municipal, o edifício está dentro do prazo de apresentação do documento, que vai até o final deste mês.

Apesar de não conseguir obter a papelada que permite regularizar a situação, o Torto MPBar recebeu o alvará 2013 da Prefeitura. "Em tese, poderia abrir o bar, mas sei que o alvará só chegou aqui por uma confusão da Prefeitura. Então, respeitei o fechamento", diz.

De acordo com a Prefeitura, a emissão do alvará era feita de forma automática e vinha anexada ao carnê de pagamentos das taxas. Mas, neste ano, essa emissão ficou condicionada à apresentação do AVCB. "Provavelmente, por falha do sistema, o proprietário recebeu o alvará com o carnê dos pagamentos das taxas", informa a Administração Municipal, por nota.

"De qualquer modo, a falta desse documento não significa que a empresa teve sua licença cassada; ela ainda está válida, restando somente ao proprietário apresentar o AVCB para reiniciar suas atividades", conclui o texto da Prefeitura.

Pensando no futuro - Enquanto não reabre e vive na incerteza, Pereira aproveita para reformar o bar, que recebe novas cores internas e, em breve, uma nova fachada. "A reforma é uma motivação para que eu não desista. São quase 30 anos de história neste local. Essas paredes viram muita coisa e não faz sentido eu levar o Torto para outro lugar", pondera ele.

A esperança de que as coisas se resolvam antes do prazo que ele se deu é grande. "Estou pensando numa reformulação de cardápio para a abertura, com mais opções, e abrir mais cedo". As comemorações pelos 30 anos do bar, em agosto de 2014, já começam no próximo mês, com um evento no Sesc nos dias 18, 19 e 20.

Outras casas - Outros seis estabelecimentos permanecem fechados: Nyx, Fenix, Bárbarus, Porto Bier, Rosa Marinho e Porão Pub. Apenas dois – Café Central e Laziza – têm autorização para funcionar apenas como restaurantes durante o dia.

As paredes

"Muitos santistas passaram por aqui. Essas paredes viram muita coisa'

Michel Pereira, proprietário do Torto MPBar

Prédios municipais ainda funcionam sem o AVCB

Apesar de muitos prédios públicos não terem o AVCB, boa parte deles está em funcionamento. A Prefeitura realizou levantamento de todos edifícios municipais e fez um diagnóstico das condições de manutenção e segurança.

O estudo resultou na abertura de três processos de licitação, para que a Administração adeque as unidades com menos de 750 metros quadrados para cumprir as exigências do Auto de Vistoria. São 101 imóveis (40 unidades da Saúde, 20 da Assistência Social e 41 da Educação).

Existem, ainda, processos para projetos técnicos dos três pronto-socorros, de outras 30 escolas (as 14 restantes tiveram seus AVCB vencidos em 2012 e estão em fase de renovação), além de uma solicitação para atendimento dos prédios das secretarias de Cultura, Turismo e Esporte.

Para os edifícios com área maior, "a Prefeitura desenvolve processo licitatório em separado para elaboração do projeto técnico", afirma o Executivo. As datas de início destas obras dependem do trâmite das licitações.


As mudanças determinadas já foram adotadas dentro do Torto

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

Cresce procura por documento

A procura pelo AVCB aumentou nos últimos dois meses. Em maio, o Corpo de Bombeiros recebeu oito projetos de casas noturnas para aprovação e fez seis vistorias solicitadas por proprietários que querem se adequar às normas da corporação.

"A maioria dos que nos procuram tem recebido o AVCB, mas alguns ainda precisam fazer certas alterações", conta o 1º tenente Pedro dos Santos Oliveira, analista de projetos da Seção Técnica do 6º Grupamento de Bombeiros.

De acordo com o órgão, além das solicitações de quem quer obter o documento, todos os dias, uma casa noturna é vistoriada nas cidades de Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá para se verificar se está de acordo com as normas.

Quanto aos prédios público, Oliveira afirma que a Prefeitura de Santos tem recebido orientações sobre os imóveis. "Os teatros municipais têm dado entrada. O primeiro passo é analisar os projetos", explica o tenente.


Página do Movimento dos Sem Torno (MST) na rede social Facebook
Imagem: reprodução parcial (acesso: 23/8/2013)


Logo do SOS Torto MPBar
Imagem divulgada na rede social Facebook em 7/5/2013 (acesso: 23/8/2013)


"Hoje, exatamente hoje, faz 29 anos que eu, Roberto Biela e Luiz Cláudio de Santos - irmãos de vida e canção - inauguramos o palco do Torto Mpbar. Na ideia e no comando de tudo estava Alfredo Rosato Fernandes. No trabalho e na plateia um sem fim de amigos que continuam por aqui até hoje e não iriam caber no post. Acima da saudade e da melancolia uma palavra só: Valeu!" - Julinho Bittencourt
Foto divulgada na rede social Facebook em 23/8/2013 com a legenda (acesso: 23/8/2013)


Porta no Torto MPBar, com cartaz de 2009
Imagem divulgada na rede social Facebook em 11/6/2013 (acesso: 23/8/2013)


PROTESTO - Cerca de 100 pessoas participaram na tarde de ontem do Movimento Pró-Torto que busca a reabertura da casa noturna, fechada desde 9 de abril por conta de problemas na regularização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)
Imagem: nota no jornal santista Diário do Litoral de 2/5/2013, com foto de Matheus Tagé/DL

 
Matéria publicada no jornal santista A Tribuna em 2 de maio de 2013:
 


Protesto reuniu aproximadamente 60 pessoas, entre funcionários e frequentadores do estabelecimento

Foto: Bruno Miani Ribas, publicada com a matéria

 

Batucada e apito pela volta do Torto

Maurício Martins

Da Redação

Apito, nariz de palhaço, cartazes, canções e batuques. Aproximadamente 60 funcionários e frequentadores do Torto Bar se reuniram ontem à tarde na porta do local, na Avenida Siqueira Campos (canal 4) com a praia, para uma manifestação pacífica contra o fechamento desta e de outras casas noturnas de Santos. O protesto incluiu uma caminhada (pelo calçadão da praia) até a porta do Sesc, na Rua Conselheiro Ribas, local escolhido por simbolizar a cultura santista.

A paralisação das atividades do Torto Bar, assim como as demais interdições feitas pela Prefeitura, tem como fundamento questões relacionadas à segurança. Os espaços não possuem Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento indispensável para o funcionamento.

O dono do Torto, Michel Pereira, reitera que o AVCB é de responsabilidade do prédio. Quanto às adequações necessárias para que a casa fique dentro da lei, como a ampliação em 30 centímetros da saída de emergência, ele afirma que "já estão sendo providenciadas". Mas ainda não foram feitas.

Pereira classifica o fechamento do Torto Bar como "triste e desagradável", ressaltando que muitas pessoas dependem do local. "A informação que eu tenho é de quase 10 casas impedidas de funcionar. Se fizermos uma conta rápida, com uma média de 15 funcionários por casa, fora os músicos, estamos falando de 150 pessoas desempregadas. No Torto nós pagamos 50 cachês por semana, é significativo. Acho que as coisas têm que ser vistas de uma outra forma", reclama.

Fundador do Torto Bar, o músico Julinho Bittencourt se diz indignado com a situação. "Eu me pergunto: por que não se exige do prédio o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros? É simples, o prédio está ilegal e nós queremos trabalhar dentro da lei. O Torto depende do AVCB do prédio para funcionar".

Água neles - Alguns moradores do Edifício Excelsior, onde fica o Torno, não foram receptivos à manifestação. Com mangueiras, das sacadas dos apartamentos, jogaram água nas pessoas reunidas na calçada. Os manifestantes responderam com humor, cantando ao ritmo do grupo Timbalada: "Olha, olha, olha, olha a água mineral!".

Desemprego

"A informação que eu tenho é de quase 10 casas impedidas de funcionar. Se fizermos uma conta rápida, com uma média de 15 funcionários por casa, fora os músicos, estamos falando de 150 pessoas desempregadas'

Michel Pereira, proprietário do Torto MPBar

Opiniões

Wagner Parra, Dj

Ele trabalhou animando os frequentadores do Torto nos anos 80. Voltou ao local há um ano e meio para começar um novo projeto como Dj na casa. "Um bar como esse faz parte da história da Cidade e qualquer município inteligente no mundo tenta preservar esse tipo de coisa". Parra acredita que há uma regressão no cenário cultural santista. "Se forem levar essa lei ao pé da letra, deveriam fechar 80% dos imóveis da Cidade, incluindo os prédios públicos".

Sueli Rodrigues Bastos, auxiliar de limpeza

Há 3 anos Sueli trabalha no Torto, onde recebe pouco mais de um salário mínimo por mês. Com o fechamento da casa, a auxiliar de limpeza, de 63 anos, depende da ajuda financeira dos filhos. "Hoje (ontem) já entrei aqui chorando. Além do trabalho, tem a amizade com os funcionários e clientes. É uma extensão da minha casa".

Fotos: Bruno Miani Ribas, publicadas com a matéria

 


Moradores do edifício Excelsior jogaram água nos manifestantes

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria


Manifestação de 1º de maio de 2013 pela reabertura do Torto
Foto divulgada pelo Movimento dos Sem Torto na rede social Facebook (acesso: 23/8/2013)


Manifestação de 1º de maio de 2013 pela reabertura do Torto
Foto divulgada pelo Movimento dos Sem Torto na rede social Facebook (acesso: 23/8/2013)


Manifestação de 1º de maio de 2013 pela reabertura do Torto
Foto divulgada pelo Movimento dos Sem Torto na rede social Facebook (acesso: 23/8/2013)


Porta no Torto MPBar, com cartaz de 2009
Imagem divulgada na rede social Facebook em 11/6/2013 (acesso: 23/8/2013)


PROTESTO - Cerca de 100 pessoas participaram na tarde de ontem do Movimento Pró-Torto que busca a reabertura da casa noturna, fechada desde 9 de abril por conta de problemas na regularização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)
Imagem: nota no jornal santista Diário do Litoral de 2/5/2013, com foto de Matheus Tagé/DL

No dia anterior, 1º de maio de 2013, o mesmo jornal A Tribuna publicou:


Michel, dono do Torto, diz que as adequações estão quase prontas

Foto: Carlos Nogueira, em 17/4/2013, publicada com a matéria

 

Pelos bares, do Facebook para a rua

Da Redação

"Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado" (Ruy Barbosa). Essa máxima embala o ritmo do Movimento Santos Livre, criado pelo Facebook entre descontentes, principalmente, com os rumos dos bares e baladas fechados por não portarem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).

Pela rede social, cerca de 160 pessoas apoiaram o manifesto pacífico que se iniciará às 16 horas de hoje. os participantes sairão da frente do Torto MPBar (Canal 4 com a Avenida Bartolomeu de Gusmão) e caminharão até o Sesc (Rua Conselheiro Ribas, 136, na Aparecida). O término será às 18 horas.

Entre as reivindicações, a reabertura do Torto MPBar, novo prazo para regularização desse e demais bares e, consecutivamente, a manutenção da renda de seus profissionais (músicos, garçons, seguranças).

"Conheço várias pessoas desempregadas por causa do fechamento das casas noturnas", comenta o DJ Juba Garcia. Ele, por exemplo, tocava nas festas do Torto MPBar e do Café Central, ambos sem funcionamento agora.

A cada mês, Garcia acumulava cerca de R$ 2 mil com este trabalho. Pai de três filhos, além de ajudar financeiramente a mãe, agora procura novos serviços. "Estou à beira do desespero. Tenho de fazer bicos como jardineiro".

Auto

A Prefeitura não divulgou a lista atualizada de casas noturnas com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Em nota, a assessoria do Poder Executivo informa estar realizando um trabalho de vistoria nas 32 casas noturnas de Santos. Trata-se de uma ação conjunta entre as secretarias de Infraestrutura e Edificações, de Finanças e o Corpo de Bombeiros. Alguns estabelecimentos vistoriados já foram notificados e os proprietários estão providenciando a regularização.

 

Outra bandeira defendida é a oposição ao projeto de lei municipal que prevê câmeras de vigilância em casas noturnas. O dono de um desses estabelecimentos, sob anonimato, alega que o principal problema é o alto custo do equipamento.

"Já temos gastos com funcionários, vistorias técnicas, infraestrutura, agora teremos mais esse custo. Quem vai decidir onde e quantas câmeras vamos instalar?", queixa-se.

A proposta da lei é assinada pelo vereador Antonio Carlos Banha (PMDB), que afirma ter como único objetivo garantir a segurança dos frequentadores em ambientes comuns. "Não é gasto, é investimento. Precisamos nos aprimorar junto aos meios tecnológicos".

Ele também defende que as imagens fiquem disponíveis, por no mínimo 90 dias, apenas às autoridades policiais. Do contrário, o estabelecimento seria multado em R$ 5 mil.

O vereador não acredita que o público se inibirá de frente às câmeras. "A população procura lugares seguros". O projeto já foi apresentado na Câmara, aguarda a tramitação pelas comissões pertinentes e será também alvo de uma audiência pública para que as discussões sejam ampliadas.

Readequações - Dono do Torto MPBar, Michel Pereira confirma a visita de orientação do Corpo de Bombeiros, no último dia 18. As recomendações: aumento de 30 centímetros da saída de emergência, instalação de barras antipânico nas portas, redução do vão entre o parapeito do primeiro andar e a escada.

"São adequações mínimas, que já estão praticamente providenciadas", diz o proprietário. Contudo, o bar segue fechado, tendo em vista que o AVCB pertence ao prédio residencial no qual está situado.

Os funcionários do edifício confirmam que a síndica já solicitou a fiscalização. Até o fechamento desta edição, o Corpo de Bombeiros não havia informado a previsão de vistoria no local (LS).


Apoio do Chopp Santista ao Torto MPBar
Imagem divulgada na rede social Facebook em 19/4/2013 (acesso: 23/8/2013)


Aviso na entrada do Torto sobre evento de apoio na Typographia Brasil
Imagem divulgada na rede social Facebook em 13/4/2013 (acesso: 23/8/2013)


Apoio do Balacobaco Boteco ao Torto MPBar
Imagem divulgada na rede social Facebook em 8/5/2013 (acesso: 23/8/2013)


Interior do Torto MPBar, na fase de readequação às normas de segurança
Foto: Manolo Fernandes, divulgada  no Facebook em 25/6/2013 (acesso: 23/8/2013)


Interior do Torto MPBar, na fase de readequação às normas de segurança
Foto: Manolo Fernandes, divulgada no Facebook em 25/6/2013 (acesso: 23/8/2013)


Interior do Torto MPBar, na fase de readequação às normas de segurança
Foto: Manolo Fernandes, divulgada no Facebook em 25/6/2013 (acesso: 23/8/2013)


Cartaz de evento no Torto MPBar: 6º Clash Rock Style - Kiss/AC-DC
Imagem divulgada na rede social Facebook em 19/10/2012 (acesso: 23/8/2013)


Cartaz de evento no Torto MPBar: TortoFolia, no período carnavalesco
Imagem divulgada na rede social Facebook em 1/2/2013 (acesso: 23/8/2013)


Cartaz de evento no Torto MPBar: apresentação do Sugar Trio
Imagem divulgada na rede social Facebook em 19/2/2013 (acesso: 23/8/2013)

Artigo publicado no site Culturalmente Santista - A memória cultural de Santos ao alcance de todos, em 30/7/2013 (acesso: 28/8/2013)


Vitrolada, evento que acontecia todas as terças-feiras no Bar do Torto

Foto publicada com a matéria

 

Entrelinhas Caiçaras | Saudades do bar democrático

30 de julho de 2013 por Marcus Vinicius Batista

A sinceridade de meu filho de 3 anos é impregnada, muitas vezes, de sabedoria singela, de quem descreve o detalhe com requintes de normalidade. Sempre que andamos de ônibus, fato frequente, gosto de perguntar a ele algo que luto para preservar com quase 40 anos. Quando pergunto o que ele está vendo pela janela, a resposta é direta: "Pai, estou vendo a cidade". E começa a descrevê-la para mim.

O momento de orgulho paterno deságua em melancolia quando caminho pelo Canal 4, bem perto da orla da praia. Não consigo explicar, mas tenho a mania de olhar para a direita e procurar pelo Bar Torto. Tenho comigo que deve ser saudade. Saudade dos amigos, saudade da juventude, saudade das experiências.

Dói olhar para a placa, aquela que indica a atração da noite, e engolir silêncio. A nostalgia machuca para quem mastiga a escuridão que envolve um pedaço pequeno – mas profundo – da história cultural de Santos. Olho para aquele espaço, tombado pela engenharia arenosa, e não pelo patrimônio arquitetônico, e enxergo lembranças deste e do século passado, da minha biografia, dos meus amigos, de grandes músicos.

Nunca fui frequentador assíduo do Torto. Imaginei que pudesse ser uma vantagem, pois me apegaria menos ao vê-lo sofrer em praça pública. Estupidez a minha, porque vivência não se mede em quantidade de acordes. Em todas as ocasiões há enredos especiais, que ganham mais corpo ao tentar entender porque um bar agoniza pela intransigência, pela burocracia, pela falta de vontade política.

Entrei no Bar Torto pela primeira vez há cerca de 20 anos. Era quase um ritual universitário, de passagem etílica-musical, de transgressão ao senso comum da cultura pasteurizada, de revolução individual com a exposição a novos repertórios e novas linguagens. Os mais velhos em idade musical arrastavam os novatos, num ato de solidariedade, traduzido em injeções cavalares e sem antídoto de cultura brasileira.

Ali, não aconteciam censuras ou restrições. O Brasil musicado, multifacetado e contraditório se espalhava pelas paredes e canalizava pelo palco apertado, pelas conversas de pé de ouvido, pelas referências lado B, lado C dos riscados vinis, e tão preciosas naquele esconderijo entre imobiliárias e academias de ginástica.

O Torto sempre foi múltiplo e versátil como qualquer banda que mereça respeito. E assim tratava seus visitantes. Lembro-me, por exemplo, do amigo que abriu os olhos para a cultura caiçara depois de três horas lá dentro. De cabelos quase até a cintura, camiseta preta e barba longa, ele se enquadrava voluntariamente como representante do figurino rock pesado.

Saiu de lá como novo rebento do matrimônio entre seu gênero preferido e a arte dos Secos e Molhados, casamento celebrado pelo sacerdote Ney Matogrosso em voz e ausência física. Nunca mais voltou. Mergulho ainda mais no metal, por outros motivos. Só que nunca mais deixou de ouvir grupos nacionais.

Voltei ao Torto no ano passado. Uma terça-feira à noite, dia em que Santos – após a meia-noite – se aproximava de terra arrasada dos filmes apocalípticos. Naquela portinha, quase na orla da praia, entrei para ver o projeto Futuráfrica, maternidade de ícones circunstanciais de uma democracia musical, sintetizadas em DJs por acidente. Naquela terça-feira, o crítico Chico Marques, velho amigo de outras enseadas, era o criador.

Para mim, mais uma noite de saudades. Encontrei amigos. Dancei com minha namorada pela primeira vez. Não poderia prever que, meses depois, os burocratas resolveriam fazer seu trabalho. Corrigindo, exercitar o poder pela caneta que os emprega.

Na semana retrasada, o Sesc abrigou três shows que reforçam a resistência do Torto em morrer pelas mãos da inanição política. Ingressos esgotados por gerações diferentes, com instrumentos em mãos ou de olho no palco, desta vez menos acanhado, mas não menos combativo ou dispersivo.

Testemunhei uma das passagens de som. Ao ver os músicos, voltei ao canal 4 sem passar por lá. Depois de alguns segundos, meus filhos me disseram: “Pai, vamos!” Bem que poderia ser para olhar a cidade. Uma cidade que, muitas vezes, dá saudades em seus detalhes essenciais.

 Matéria do jornal A Tribuna, na sexta-feira, 11 de outubro de 2013, página A-7:


Durante três meses, o bar foi readequado. Ainda assim, ficou fechado por outros seis meses. Agora, saiu o laudo

Foto: Irandy Ribas, em 8/7/2013, publicada com a matéria

 

Torto reabre esta noite depois de nove meses de batalhas

Da Redação

O parto acabou. Depois de nove longos meses de espera, o Torto MPBar tem autorização para funcionar regularmente. O Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) do edifício onde fica o bar foi expedido ontem, no final da tarde. Com isso, o Torto já abre normalmente esta noite, a partir das 20 horas.

"É uma sensação muito boa, de vitória. Já chorei, estou emocionado", comemora o proprietário, Michel Pereira.

A batalha começou em fevereiro, um mês após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que vitimou 242 pessoas. A partir de então, começou uma verdadeira caça aos AVCBs, por parte das autoridades, no Brasil inteiro.

À época, o Torto teve que fazer algumas readequações. Por exemplo, a porta da saída de emergência ficou mais larga e iluminada e o que é de madeira foi pintado com tinta antichamas.

O problema é que, como o bar não fica em um prédio próprio e isolado, mas em um condomínio, não podia ter um AVCB independente. Assim, ontem, foi o edifício inteiro que recebeu o aval de segurança do Corpo de Bombeiros. O bar estava fechado desde 10 e abril.

Para a reabertura, esta noite, já está programada a banda Carlos Bronson. Em agosto, o Torto completou 29 anos de existência - sua música embalou gerações e revelou talentos. A banda Charlie Brown Jr., por exemplo, passou por lá.

"Muito santista cresceu aqui. É prazeroso reconquistar a minha vida", encerra Michel.

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