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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
Clique na imagem para ir à página principal do livro 'Os Andradas'1922 - por Alberto Sousa (2)

A história, desde a fundação, pelo autor de Os Andradas

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

É o caso da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, cuja transcrição do capítulo 1 (A Vila de Santos), com ortografia atualizada, continua (páginas 92 a 109):
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D. Sebastião
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A Vila de Santos
Suas condições topológicas, demográficas, econômicas e sociais

A primeira "entrada"

Não parou a atividade de Braz Cubas na fundação da Vila e seu fomento econômico. Outro dever mais árduo, mais arriscado e porventura mais glorioso, chamava-o a desempenhar novas funções noutros lugares. Era o dever de vassalo fiel ao Rei, a quem cumpria dedicadamente servir para maior brilho de seu trono. Várias tentativas de entradas pelo sertão tinham sido feitas anteriormente, com infrutíferos resultados, quanto à descoberta de metais e pedras preciosas, que - dizia-se - eram abundantes nas altas serras e profundos rios que acidentavam e sulcavam o território do interior, vasto, deserto, inexplorado e misterioso.

Mem de Sá, 3º governador geral do Brasil, após ter vencido os franceses no Rio de Janeiro, viera a S. Vicente para examinar de perto as condições exatas da Capitania e tomar as providências que necessárias fossem ao seu desenvolvimento.

Em Santos, onde Braz Cubas, por essa época, 1560, ocupava o cargo de provedor da Real Fazenda, incumbiu-o Mem de Sá de organizar uma expedição destinada a abrir caminho para o sertão do País, o que ele fez rapidamente, assumindo pessoalmente a sua direção e pondo-se em marcha em junho daquele ano, em rumo do Norte, à procura das cabeceiras do S. Francisco.

Foi uma expedição regularmente provida de todos os aparelhos e instrumentos necessários ao duplo fim que se tinha em vista - o estabelecimento de comunicações interiores entre a zona do Norte e a do Sul e a descoberta de ouro e pedraria.

Primeira expedição importante que no Sul se organizou, compunha-se ela de portugueses e numerosos índios catequizados e mansos, e levava em sua companhia o engenheiro Luís Martins, mandado do Reino especialmente para se encarregar do serviço das minas que se descobrissem.

Partindo de S. Paulo, passou pelas terras que seu destemido capitão possuía em Mogi das Cruzes, até topar o Paraíba, que desceu até o ponto onde se encontra o caminho que do litoral conduzia ao sertão. Seguiu este caminho, subiu a Serra da Jaquimimbaba (Mantiqueira), desceu-a depois até chegar à Barra do Rio das Velhas, por onde foi sair no S. Francisco, que desceu até alcançar a barra do Pará-mirim, em cujo sítio parou detido pelas enchentes.

"...E por respeito das águas que se vinham me torney" diz ele na sua comunicação a d. Henrique, que substituíra sua cunhada, a rainha d. Catarina d'Áustria, viúva de d. João III, na regência de Portugal, durante a menoridade de seu neto, d. Sebastião, que contava então apenas 8 anos. Fora uma longa e penosa jornada de trezentas léguas, ao cabo da qual pouco resultado positivo se logrou: algum ouro e prata, cujas amostras se mandaram ao Governo de Lisboa e ao Governo Geral do Brasil, que tinha então sua sede na Bahia.

Animado, não obstante, por esse resultado, Braz Cubas, que regressara doente do sertão, e não podia, portanto, voltar prontamente a ele, organizou por sua conta, como da primeira vez, outra entrada, e à sua frente pôs o engenheiro Martins, que não se sabe hoje qual a direção que tomou, mas foi mais feliz que os da expedição precedente, pois descobriu ouro em seis partes, a trinta léguas de Santos.


D. Henrique
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Carta de Braz Cubas

Damos em seguida a reprodução gráfica de um trecho da carta escrita de Santos por Braz Cubas ao Governo da Metrópole, "oije 25 dabryl 1562" (hoje, 25 de abril de 1562), na qual confirma a carta do ano anterior, que se perdeu no decorrer dos tempos, carta esta em que narrava circunstanciadamente os pormenores de sua expedição e os promissores frutos colhidos por ela e pedia providências e meios para explorar e conservar as minas descobertas [36].


Fac-símile de um trecho da carta de Braz Cubas, reproduzida na nota anterior
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Morte do Fundador. Dúvidas acerca do ano em que se deu esse fato. Um documento decisivo [NOTA SUPLEMENTAR].

Após uma longa e laboriosa existência, devotada ao serviço de seu rei e ao engrandecimento da nova terra que em nome e para glória dele fundara - morreu Braz Cubas no ano de 1597, e foi sepultado na capela-mor da primitiva Igreja Paroquial de Santos, antiga Igreja da Misericórdia. Uma tosca lápide de cantaria assinalava aos pósteros esse logar e nela se lia a seguinte inscrição, que é a que verdadeiramente, autenticamente existia gravada na referida lápide, como se verá daqui há pouco:

S.ª de Braz Cubas, Cavalleiro Fidalgo
da Caza de Sua Mag. Fundou e
fez esta Villa sendo Capitão
e Caza da Mzã o ano de 1543
E descobrio ouro e metais o ano
de 60. Fes Fortalesa por mãdado
del Rei Dõ Joã 3.º Faleceo
no ano de 1597.

Esta inscrição, que reputamos a única realmente autêntica, segundo acima dissemos, e provaremos documentalmente em seguida, difere da de Frei Gaspar, que assim reza:

S.ª de Braz Cubas, Cavalleiro Fidalgo da Caza d'El Rey. Fundou e fez esta Villa sendo Capitam e Caza da Misericordia ano de 1543 descobriu ouro e metais anno 60. Fez Fortaleza por mandado d'el Rey D. João III. Falleceu no anno de 1592 a.

As diferenças essenciais que se encontram entre estas duas inscrições, não se levando em conta pequenas variantes ortográficas, a que não vale a pena nos atermos, são as seguintes:

1ª) Na de Frei Gaspar lê-se - Cavalleiro Fidalgo da Casa d'El Rey, quando na que apresentamos como autêntica o que se lê é - Cavalleiro Fidalgo da Casa de Sua Magestade, e esta forma de tratamento é que se lê habitualmente na generalidade dos documentos da época;

2ª) Naquela - Rei está grafado com Y, Capitão com m e Misericórdia por extenso, ao passo que em nossa - Rei está com i latino, Capitão com ão e Misericórdia em breve, e naqueles tempos se usava abusivamente das abreviaturas nas escritas ordinárias, quanto mais num epitáfio dificilmente aberto em dura laje de granito;

3ª) Na do erudito historiador santista o ano do falecimento de Braz Cubas é 1592; na que reproduzimos o ano é 1597.

Mas em que nos baseamos para dar maior apreço à legenda biográfica tumular que antepomos à do famoso autor das Memórias da Capitania de S. Vicente? Em que fundamento estabilizamos nossa profunda convicção a tal respeito?

A 18 de dezembro de 1856, o presidente de S. Paulo, dr. Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos, ulteriormente senador do Império, baixou uma portaria circular a todas as Câmaras Municipais da Província [37], determinando-lhes que lhe enviassem com urgência, para atender a uma ordem do Governo Geral, a relação autêntica de todas as inscrições tumulares existentes nos conventos e igrejas de cada localidade.

A Câmara de Santos, dando imediato e escrupuloso cumprimento às determinações da Portaria Presidencial, mandou desenhar com toda a exatidão, entre outras, a inscrição lapidária da tumba de Braz Cubas. Desse desenho enviou uma cópia ao presidente da Província, com o Ofício de 24 do mesmo mês e ano [38], e guardou outra que ainda se conserva no seu Arquivo, e que aqui reproduzimos graficamente:


Fac-símile da inscrição existente na pedra do túmulo de Braz Cubas.
Reprodução fiel mandada executar pela Câmara de Santos, no ano de 1856
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Este documento, parece-nos, destrói qualquer opinião contrária ao ano exato em que morreu o benemérito fundador de nossa terra natal. Trata-se de uma reprodução em que se não pode supor que o desenhista, dando liberdade aos revôos de sua fantasia, inventasse palavras que não existem no epitáfio estampado por Frei Gaspar e caprichosamente metesse os aa e os ee dentro dos DD maiúsculos, como em De e Da e juntasse, numa composição morfológica sintética e pitoresca, os dois vocábulos - Esta Villa, formando com a última haste do A e a primeira do L um V dentro do qual colocou o i que faz parte integrante da primeira sílaba de Villa.

Vê-se bem que aquilo tudo não foi inventado no momento, mas copiado religiosamente de um objeto que existia de fato. Nem se pode também pensar que o funcionário incumbido da reprodução fosse capaz de iludir o poder público, alterando a seu bel-prazer um documento cuja cópia fiel tinha sido incumbido de tirar. E que motivos teria ele para operar uma falsificação que nada justificava? Porque mudaria a expressão - Da Caza d'El Rey para est'outra: - Da Caza de Sua Magestade? e Capitam para Capitão? e Anno de 1592 para Anno de 1597? A que motivos incógnitos obedeceria reservadamente?

Por mais que se investigue em sentido contrário, há de chegar-se ao resultado de que não houve nenhuma sofisticação, aliás inexplicável. Além disso, observando-se com a precisa atenção a legenda perfilhada por Frei Gaspar, propendemos a acreditar que ela é que está indubitavelmente errada.

Por que razão é que, após as palavras Anno de 1592, acrescentou-se aquele a que quer dizer justamente ano? É certo que os nossos antepassados dos tempos coloniais costumavam geralmente assim escrever, conforme se nota em numerosos documentos do tempo, verbi gratia, nas Atas da Câmara Municipal de S. Paulo, onde se lê repetidamente - Anno de 1592 a. Mas, na inscrição copiada pelo historiador santista, o Anno de 1543 está desacompanhado daquela inicial que só aparece posposta ao Anno de 1592.

Consta do epitáfio mandado reproduzir pela Câmara que Braz Cubas faleceu em 1597. Veja-se bem esse epitáfio: é nítido, é perfeito o 7, nada há que leve quem quer que seja a confundi-lo com 2. Entretanto, no de Frei Gaspar lê-se que tal acontecimento ocorreu em 1592. Como, porém, explicar-se o engano do velho monge, tão cuidadoso nas suas investigações do passado? Não podemos talvez sabê-lo nunca, de modo positivo; mas podemos estabelecer a respeito hipóteses realmente lógicas.

Possível seria, por exemplo, que ele, devido á sua idade avançada, tivesse incumbido de copiar o epitáfio alguém menos capaz de bem executar essa tarefa. Esse alguém, ou por falta de prática da leitura de caracteres antigos, ou por carecer da indispensável dedicação que um serviço dessa natureza e importância exige e requer, limitou-se a tirar a cópia pedida, sem um exame prévio e minucioso do documento a copiar.

Mas - objetar-nos-ão - a mesma hipótese pode ser figurada racionalmente em relação ao funcionário que a Câmara Municipal de 1856 encarregou de idêntica missão: ele podia ter errado como o outro. Assim seria de fato se a tarefa de ambos fora a mesma, o que não se dá. Frei Gaspar apenas mandou transcrever os dizeres da legenda, ao passo que a Municipalidade de Santos mandou reproduzi-los em fac-símile, com a forma gráfica exata de cada letra, de cada algarismo empregado. O executor deste trabalho tinha que prestar demorada atenção ao que fazia, e absurdo seria que ele, desenhando, copiasse uma palavra ou uma cifra por outra. O desenho fac-similar arquivado na Câmara merece, portanto, a nosso ver, mais crédito que a simples cópia reproduzida nas Memórias da Capitania de S. Vicente.

Almeida Moraes [39], discorrendo amplamente sobre o controvertido objeto, opina que o ano exato da morte de Braz Cubas é 1599; e dá suas fundamentadas razões a esse respeito, que resumiremos em seguida, para depois contestá-las.


D. Francisco de Sousa
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Diz ele, citando Mello Moraes [40], que, quando d. Francisco de Sousa, governador geral do Brasil, esteve na Capitania de S. Vicente, o que aconteceu no ano de 1599, ordenou ao provedor da Fazenda Real, Braz Cubas, que mandasse assistir com os alimentos necessários à tropa que tinha ido para Santos a impedir a invasão dos piratas. Isto foi a 23 de maio de 1599. A 2 de agosto do mesmo ano passou ele "ordem ao provedor Braz Cubas para cobrar 200$000 ao fiador dos flamengos". Conclui daí o falecido investigador que aquele 7 de 1597 deveria antes ser um 9 que qualquer circunstância acidental alterou profundamente depois.

Basta olhar para o 9 do nosso fac-símile para se verificar que, fosse qual fosse a alteração sobrevinda, nunca ficaria ele com a forma de 7 e muito menos de 2.

A verdade é que Braz Cubas em 1599 já não existia. O provedor da Fazenda Real em Santos, naquele ano, não era ele, e sim Pedro Cubas, que conforme se vê das Atas da Câmara Municipal de S. Paulo, já servia no cargo em 1595 [41]. Os vereadores daquela Câmara não queriam submeter-se à ordem do provedor, que exigia dos proprietários de índios o "registro de suas pessas" na Alfândega de S. Vicente; e travou-se entre os dois poderes uma longa e encarniçada disputa por esse motivo.

E quem era, afinal de contas, esse Pedro Cubas? Era um filho natural do fundador de Santos, do qual se não ocupa Frei Gaspar, aqui nascido e aqui falecido com testamento aprovado a 17 de setembro de 1628 [42]. Foi, pois, um engano de Mello Moraes - fértil, aliás, em enganos desse jaez - que induziu o saudoso ex-presidente da Câmara de Santos a acreditar erroneamente que Braz Cubas teve a sua vida prolongada até ao último ano do século dezesseis.

O fato de exercer Pedro Cubas a Provedoria da Fazenda em 1595 levará alguns a suporem que isso constitui uma clara prova de que seu pai já não existia; e que, portanto, o ano gravado no epitáfio aceito por Frei Gaspar é que está certo - 1592. Em frágil argumento se apoiaria tal suposição. Em 1595, Braz Cubas já estava bastante velho e precisando de repousar após tantos anos de atividade proveitosa e benemérita. Nada mais natural, portanto, que fosse ele transmitindo ao filho o exercício das funções mais pesadas, não só para aliviar-se delas como para que ele praticasse nos respectivos cargos ainda sob a sua direta e paternal inspeção.

Outra prova de que Braz Cubas era vivo em março de 1597, encontramo-la no consciencioso trabalho do dr. Luís Gonzaga da Silva Leme - Genealogia Paulistana. Diz esse paciente escavador das velhas estirpes da nobreza paulistana que foi Braz Cubas que, a 8 de março de 1597, deferiu juramento e deu posse a João de Abreu [43], na serventia vitalícia do ofício de almoxarife das Capitanias de S. Vicente e Santo Amaro, mercê que lhe fizera, por Provisão de 17 de janeiro de 1595, o governador geral do Brasil, d. Francisco de Sousa, em atenção e recompensa aos serviços prestados pelo mesmo Abreu a El-Rei, acudindo de seu bolso a todas as guerras havidas na primeira daquelas capitanias e no Rio de Janeiro.

Mas, se em 1595 Pedro Cubas [44], conforme provamos, já era provedor da Fazenda Real - como é que dois anos depois estava o pai exercendo de novo tais funções - perguntar-nos-á, deveras intrigado, algum desses curiosos que querem as coisas amplamente ventiladas, fartamente discutidas, exaustivamente explicadas. É que Pedro Cubas estaria provavelmente no exercício do cargo em caráter interino, como lhe acontecera em relação ao posto de capitão-mor que exerceu interinamente por mais de uma vez, nos impedimentos de seu velho progenitor (N.E.: no caso, genitor, pai, e não progenitor, avô).

Nesse caso - retrucarão aparentemente vitoriosos os nosso possíveis contraditores - porque não aceitar, como quer Almeida Moraes, que Braz Cubas ainda vivesse em 1599 e que neste ano seu filho fosse ainda provedor interino da Fazenda Real? Porque - responderemos nós - na primeira hipótese formulada há um dado real que lhe serve de base; é o ano nitidamente gravado na lousa tumular - 1597; enquanto que para adotarmos a segunda teremos de supor que houve uma alteração radical na cabeça do 9, que assim ficou semelhante a um 7. Repetimo-lo: tal alteração não se deu, bastando para isso examinar-se com um pouco de cuidado o 9 de 1597. Por mais que o tempo, ou outro qualquer agente, o modificasse, ele nunca ficaria igual ao 7 que lhe está ao lado [45].

Examinemos, entretanto, uma outra hipótese que poderia ocorrer ao espírito investigador de nossos eruditos. Na edição original das Memórias, impressas e publicadas em Lisboa, no ano de 1797, por ordem da Academia Real de Ciências, o último algarismo do ano em que Braz Cubas morreu fora substituído por um Z - ano de 159z. Seria um evidentíssimo engano de composição tipográfica. Na caixa do algarismo 7 estava por acaso um Z; é muito comum essa troca de caracteres quando o tipógrafo faz a distribuição dos tipos, depois de terminada sua tarefa quotidiana.


Trecho da 1ª edição das Memórias, de Frei Gaspar, com o epitáfio de Braz Cubas
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Como se pode ver do trecho que daquela edição também inserimos em fac-símile, a cabeça do Z empregado na reprodução dos dizeres do epitáfio é perfeitamente igual à cabeça do algarismo 7 do mesmo corpo. Nada mais natural, portanto, que a própria revisão, posto que cuidadosa geralmente, não tivesse dado pela troca.

Diante desse Z intruso, os eruditos, na sua habitual preocupação de complicar pedantesca e inutilmente a solução dos casos mais simples - entreolhar-se-iam interrogativamente, e em vez de irem à lousa tumular do fundador de Santos, à pesquisa da verdade, assentariam que tinham um importante enigma histórico a estudar e decifrar. E o erro vulgar, cometido em Portugal por um obscuro artista gráfico do século dezoito, passaria no século dezenove a transfigurar-se transcendentalmente num inquietador mistério brasileiro!

Uns entenderiam que a perna daquele Z indecifrável era seguramente a perna de um 2. Logo, Braz Cubas morrera em 1592; e assim se declarou invariavelmente nas edições póstumas da obra de Frei Gaspar. Outros, como Almeida Moraes, acreditando, baseados em erro de Mello Moraes, que o ano da morte foi 1599, opinariam que o Z tão debatido fora primitivamente um 9 que perdeu a cabeça ao mesmo tempo que adquiria pernas. Todavia aí está o fac-símile da verdadeira lousa, mostrando que nunca existiu o Z famoso e nem, portanto, o 2 e o 9 das conjecturas dos escavadores. Lá está, muito nítido, muito claro, muito perfeito, o algarismo certo do ano em que morreu Braz Cubas - 1597.

Essa hipótese, porém, devia desvanecer-se logo que formulada. Da cautelosa consulta que fizemos a inúmeros manuscritos dos séculos seiscentos e setecentos, verificamos que o algarismo dois era caligraficamente representado por um Z ou antes por um N maiúsculo deitado horizontalmente sobre a linha e tendo a última haste vertical mais longa do que a primeira.

Além disso, em 1904, entre uns papéis velhos que pertenceram ao finado marechal Arouche e doados por seus descendentes ao Arquivo Público de S. Paulo, o dr. António de Toledo Piza, então diretor dessa Repartição, encontrara o manuscrito original de Frei Gaspar, um precioso fragmento, a que já nos referimos, do primitivo rascunho de suas estimadas Memórias.

Nesse documento, em cujo trabalho de interpretação e cópia auxiliamos o dr. Piza, e que só foi publicado onze anos depois [46], em virtude do falecimento do mesmo funcionário e erudito pesquisador do nosso passado colonial, o epitáfio está assim redigido, conforme se vê da reprodução foto-zincográfica que do referido manuscrito mandamos tirar e em seguida estampamos:


Fac-símile de um manuscrito de Frei Gaspar, contendo a inscrição aberta sobre o túmulo
de Braz Cubas (original existente no Arquivo do Estado).
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É evidente que Frei Gaspar usou do Z ou N deitado para exprimir exatamente o número 2, preocupação que achamos estranhável porque essa forma gráfica já se não usava na escrita de seu tempo, como se verifica de mais de uma passagem de seu próprio original.

Mas, uma vez que o ilustre historiador quisera mesmo escrever 1592, a questão estaria definitivamente resolvida e encerrada, se o aparecimento do fac-símile mandado desenhar pela Municipalidade de 1856, à vista da lousa tumbal, não viesse provar que ele se achava redondamente enganado.

Já notamos que existe grande diferença entre os dizeres reproduzidos pela cópia da Câmara santista e os que foram estampados na primeira edição das Memórias e que aqueles se revestem claramente de mais autêntica feição pelas diversas razões que expusemos. Notaremos agora que o erudito historiador e escritor não se achava completamente seguro a tal respeito, porque o epitáfio da primeira edição difere muito do que ele reproduziu de seu próprio punho no manuscrito existente no Arquivo do Estado.

Para melhor esclarecimento do debate coloquemos os dois epitáfios frente a frente.

Do original existente no Arquivo

S.ª de Braz Cubas. Cavalleiro Fidalgo da Caza de S.ª Mag. Fundou; e fez esta Villa, sendo Capitão e Caza da Misericordia anno de 1543 descobrio  ouro, e metaes anno de 60, fez Fortaleza por mandado d'El Rey D. João 3. Falleceo no anno de 159Z a.

Da 1ª edição das Memórias

S.ª de Braz Cubas Cavalleiro Fidalgo da Caza d'El Rey. Fundou e fez esta Villa sendo Capitam, e Caza da Misericordia anno de 1543 descobrio ouro e metaes anno de 60 fez Fortaleza por mandado d'El Rey D. João III. Falleceo no anno de 159Z a.

Os grifos que pusemos numa e noutra transcrição salientam os enganos principais de Frei Gaspar. Qual delas será a verdadeira? Qual a que ele viu diretamente com seus próprios olhos? Qual, finalmente, a que copiou para o seu notável trabalho? A que diz - Casa de Sua Magestade, Capitão e D. João 3º (em algarismo arábico) ou a que diz - Casa d'El Rey, Capitam e D. João III (em algarismo romano)?

A primeira é a que mais se aproxima do fac-símile da Câmara de Santos. A verdade, porém, é que o emérito cronista não podia ter visto a mesma pedra com dizeres diversos; e portanto a nossa hipótese, há pouco formulada, de que ele não a teria examinado pessoalmente, parece-nos perfeitamente aceitável.

Uma certa passagem de sua Notícia dos anos em que se descobriu o Brasil, escrita em julho de 1784, na mesma época mais ou menos em que foi elaborada sua obra principal, autoriza-nos a permanecer firmes em nossa convicção. É quando ele, ao tratar das pegadas de S. Tomé numa pedra junto à fonte que, com o nome do mesmo Santo, existiu outrora entre Santos e S. Vicente, na Praia do Embaré (N.E.: Embaré era o nome genérico de toda a extensão das praias santistas), assim se pronuncia: "O amanuense, que isto escreve, me assegura que, mostrando-se-lhe a dita pedra, só vira nela umas covinhas redondas, as quais não tinham a figura de pegadas humanas, e se foram vestígios, seriam somente de cavalo ou outro animal de pé redondo" [47].

Desse trecho resulta que Frei Gaspar, tendo de invalidar uma tradição constante e antiga, não fora averiguar de visu se as pegadas em questão eram de gente, como todo o mundo afirmava, ou de animal de pé redondo, como pretendia seu amanuense, mas limitou-se a adotar a opinião deste contra as afirmações do passado e as atestações unânimes dos contemporâneos.

Ora, não teria sido esse mesmo amanuense o encarregado de copiar a inscrição da campa e que tão profundamente a alterou por negligência, ignorância ou pouco caso? A confiança que nele depositava o octogenário historiador, segundo se vê do trecho acima, leva-nos a responder afirmativamente.

Seja, porém, como for, ousamos repeti-lo: a legenda do manuscrito original e a da primeira edição das Memórias não podem merecer inteira fé porque cada qual está escrita de um modo diferente e nenhuma delas confere com a cópia tirada da campa, diretamente, por ordem da Câmara de 1856, cópia essa que é a única revestida da indiscutível autenticidade histórica.

Infelizmente, o documento original que podia esclarecer de vez as dúvidas que porventura subsistam ainda nos espíritos recalcitrantes - desapareceu para sempre não há muitos anos.

Quando a primitiva Matriz, em cuja Capela-Mor o fundador de Santos jazia sepultado, caiu por terra, os fiéis levantaram outra, que também não durou muito; e na que existia ao tempo de Frei Gaspar, que era a terceira e chegou até aos nossos dias, a lousa estava colocada no Presbitério [48].

Mas, posteriormente, foi ela reposta no primitivo lugar, porquanto, na parte superior do fac-símile, enviado pela Câmara ao Presidente da Província, em 1856, lê-se textualmente: "Junto ao supedâneo do Altar-Mor acha-se uma sepultura com a seguinte inscrição".

Entretanto, em 1892, o então Vigário da Paróquia, dr. Urbano Monte, já falecido, mandando proceder à reforma da Igreja e modernizar-lhe a vetustez do aspecto, entendeu que era um contra-senso deixar em meio ao luxo das novas decorações aquela pesada campa coberta de caracteres grosseiros. E mandou substituí-la por uma pedra de mármore, onde fez gravar, introduzindo-lhe indevidamente correções ineptas, os dizeres da preciosa lápide tri-secular, que foi removida para fora da Igreja com os destroços provenientes das reformas realizadas; e dela nunca mais se teve qualquer notícia [49].

É oportuno desfazermos aqui várias confusões que se observam no trabalho de B. Calixto [50], publicado a propósito do terceiro centenário da morte de Braz Cubas. Diz ele: "A sepultura de Braz Cubas, segundo afirma Fr. Gaspar, existia na Capela-Mor da primeira igreja; porém, com as reformas e modificações que se fizeram em 1754, ficou a referida sepultura existindo no Presbitério, ao lado da Epístola" [51].

Os grifos são nossos, mas as aspas são do próprio Calixto, indicando transcrição textual. Adiante acrescenta o paciente investigador, em período não aspado, o que prova que o trecho anterior não é de sua lavra e sim reproduzido de Frei Gaspar: "Aí, ao lado da Epístola, permaneceu essa sepultura por mais de um século".

Confronte-se o primeiro trecho, o que vem entre aspas e é atribuído ao monge beneditino, com o que ele escreveu nas suas Memórias e que é, textualmente, o seguinte: "Cubas foi sepultado na Capela-Mor da Igreja da Misericórdia, hoje Matriz da Vila de Santos, e no pavimento sobre a sua sepultura, colocaram uma campa, que agora existe no Presbitério, onde se vê gravado o seu epitáfio do teor seguinte" (segue-se o epitáfio, que já estampamos no competente lugar).

Vê-se claramente que Frei Gaspar não diz que a sepultura, em virtude das reformas e modificações havidas na Igreja, passou da Capela-Mor para o Presbitério. A campa, isto é, a lousa que cobria a sepultura, é que foi transferida de um para outro lugar. Frei Gaspar empregou o vocábulo campa na sua verdadeira significação restrita - de pedra que cobre o sepulcro; e Calixto, no opúsculo, entendeu-o no sentido lato, também em uso vulgarmente, que o torna extensivo ao próprio túmulo. Daí a sua confusão. Convém notar que o autor das Memórias limita-se a afirmar que, no seu tempo, a lousa se encontrava no Presbitério - e mais nada. Na transcrição de Calixto, atribuída àquele historiador, acrescenta-se um pormenor que não existe na obra do beneditino: ao lado da Epístola.

Afirma ainda o consagrado pintor santista [52] que "Braz Cubas faleceu no ano de 1597 (segundo refere o seu epitáfio)". À página seguinte, porém, transcreve esse epitáfio, do qual diz possuir uma cópia autêntica, letra por letra, o qual não é outro senão o mesmo publicado por Frei Gaspar, que nós reputamos errado, e onde em vez de 1597 lê-se, como se sabe, 159z.

Estamos detendo-nos neste assunto, porque, embora convencidos da inutilidade das investigações a respeito, lembramo-nos de que elas importam na descoberta do dia exato em que devemos comemorar civicamente duas grandes datas locais e os importantes vultos ligados a elas pelos seus serviços. Ignora-se a efeméride natalícia do fundador de nossa terra, ignora-se o dia de seu passamento, é objeto de controvérsia o próprio ano em que esse passamento se deu.

Quanto à data de ereção de Santos a Vila estamos na mesma situação: não se sabe se isso ocorreu em fins de 1545 ou princípios de 1546. Em tais condições, como comemorar esses feitos e glorificar seu autor?

Sintetizando-os numa data só: aquela em que a Assembléia Provincial de S. Paulo, em homenagem a José Bonifácio, elevou a Cidade a Vila de Braz Cubas - 28 de janeiro de 1839; decretando de feriado municipal esse dia, e realizando junto ao monumento do fundador festividades comemorativas, condignas manifestações de nosso culto ao passado e a seus heróis mais eminentes.


NOTAS:

[36] ROCHA POMBO - História do Brasil, V. III, págs. 717 a 720 e Hist. de S. Paulo, págs. 56 e 57. ALMEIDA MORAES - Opúsc. cit. págs. 15 a 27. DR. JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - Obr. cit. pág. 92. MATTOSO MAIA - Obr. cit. pág. 83. FREI GASPAR - Obr. cit. págs. 204 a 213.

Está assim redigida na íntegra a segunda carta de Braz Cubas, a que se refere o texto: "Senhor - Por uma nau, que desta capitania de São Vicente partiu para esse reino o ano passado, escrevi a V. A. como, vindo a esta capitania o Governador Mem de Sá, lhe parecera vosso serviço que eu fosse por este sertão dentro, com um homem que V. A. de lá mandou, a buscar minas de oiro e prata; e como fora à minha custa a gente que levara comigo, e que andaria de jornada trezentas léguas; e por respeito das águas que se vinham, me tornei; e as amostras do que trouxe mandei a V. A. e ao Governador à Bahia para que por ambas as vias soubesse o que achara daquela viagem.

Por eu vir muito doente do campo, e não poder logo lá tornar, tornei logo a mandar o mineiro Luís Martins ao sertão em busca de oiro; e quis Nosso Senhor que o achou em seis partes, trinta léguas desta vila, tão bom como o da Mina (costa africana) e dos mesmos quilates; e a amostra que trouxe mando daqui ao Governador à Bahia, para assim o deixar mandado, e o mando chamar que venha dar ordem como se estas minas hão de beneficiar; para ele o deixar assim ordenado aqui, quando se foi, que se não bulisse em nenhuma coisa sem ele vir, o que faria logo em vendo meu recado; e a isso mando um bergantim à Bahia pelo qual lhe escrevo as novas deste oiro, para nisso ver o que lhe parece mais serviço de V.A. o prover ou me escrever que o faça.

Nas minhas terras achei umas pedras verdes que parecem esmeraldas muito formosas; não ousei mandá-las por este navio a V.A. por as não aventurar em tão fraca passagem; todavia mando-lhe amostra delas, e da pedra, em que nasce, e o mesmo mando ao Governador à Bahia, para que vá por duas vias a V. A. e vindo o Governador logo aqui, como creio que virá, e dando boa embarcação para o reino, mandarei a V. A. as maiores e de mais preço.

Mande V. A. olhar por esta terra; e mande-a prover de pólvora de bombarda, e de espingarda e pelouros e chumbo, e bombardeiros; porque tem muita necessidade disso e com brevidade; porque é muito a miúdo combatida dos contrários, e tenho grande receio que se perca se V. A. não provê logo, e não manda povoar o Rio de Janeiro, por que não haja franceses que favoreçam estes contrários, que são muito nossos vizinhos, porque os franceses lhes dão muitas armas de fogo e muita pólvora, com que lhes dão muito ânimo para cometerem o que quiserem como fazem.

Nosso Senhor acrescente a vida e Real Estado de V. A. por muitos anos a seu santo serviço, amem. Beijo as reais mãos de V. A. Desta Vila do Porto de Santos, hoje 25 de abril de 1562. - Do provedor da capitania de São Vicente - Braz Cubas."

[37] Original no Arquivo da Câmara de Santos.

[38] Idem.

[39] Opúsculo citado, págs. 43 a 47.

[40] Brasil Histórico (1867), pág. 39, cols. 1ª e 2ª.

[41] Atas da Câmara Municipal de S. Paulo, 1º v. pág. 501 e 2º v. págs. 40, 41, 59 e 60.

[42] ALMEIDA MORAES - Opúsculo citado, págs. 7 e 8.

[43] Volume VI, págs. 179 e 180.

[44] Pedro Cubas tinha uma irmã, Isabel Cubas, que não se sabe se era filha legítima, vinda do Porto com o pai, ou se aqui nascera, como seu irmão, de alguma união ilegítima. Nos documentos da época não há referência alguma à mulher de Braz Cubas (ALMEIDA MORAES, opúsc. cit. pág. 8).

[45] Também o sr. DAMASCENO VIEIRA, que viveu em Santos muitos anos, ainda quando existia a pedra tumular, adota o ano de 1597 como aquele em que faleceu Braz Cubas (Memórias brasileiras, Vol. 1º, página 148, nota). O ilustre e falecido escritor era empregado aduaneiro, e como nossa Alfândega ficava perto da Matriz hoje demolida, quem sabe se teve ele ocasião de ler o discutido epitáfio?

[46] Documentos interessantes, volume 44, páginas 79 a 96.

[47] Na 3ª edição das Memórias, página 364 ou no tomo 2º, páginas 427 a 446, da Revista do Instit. Hist. Brasileiro.

[48] FREI GASPAR - obr. cit. pág. 208.

[49] B. CALIXTO - Terceiro Centenário de Braz Cubas, pág. 42.

[50] Opúsculo citado, págs. 41 e 42.

[51] Presbitério é o recinto compreendido entre o altar-mor e a grade que o separa da nave principal. O lado da Epístola é a banda direita do altar, entrando-se pela Igreja.

[52] Opúsculo citado, pág. 41.


NOTA SUPLEMENTAR (N.E.: publicada no segundo volume, págs. 859 a 861)

EPITÁFIO DE BRAZ CUBAS (páginas 94 a 109) - O eminente historiador, sr. CAPISTRANO DE ABREU, em amável e honrosa carta com que nos distinguiu a 2 de outubro do ano passado, e que agradecemos, pede nossa atenção para o epitáfio de Braz Cubas, copiado por VARNHAGEN, numa viagem que fez a S. Paulo, logo depois da ascensão de d. Pedro 2º ao trono e reproduzido à pág. 453, do 1º volume de sua História Geral do Brasil (1ª edição). O epitáfio, de que o ilustre missivista no obsequiou com uma cópia, é este: "S.ª de Bras Cubas / Cavlr.º fidalgo da / Caza de sua Mg. Fù / dou efes esta vila / sendo capitão e caza da Mia o ano / de 1543. descobrio ou / ro e metais o ano de / 60 fes fortaleza / por mãdado del / rei dõ Joã 3.º faleceo / no ano de 1592As".

Ora, nós mostramos no primeiro volume que Frei Gaspar viu e copiou de duas formas bem diversas o epitáfio posto na campa sob a qual repousava o fundador de Santos. O rascunho autográfico, que encontramos no Arquivo Público de S. Paulo, de um trecho das Memórias para a História da Capitania de S. Vicente, difere, em pontos importantíssimos, como o demonstramos, daquele que estampou na edição impressa de sua excelente obra sobre os primeiros tempos do passado paulista.

A cópia de VARNHAGEN difere essencialmente de qualquer das cópias reproduzidas pelo erudito historiador santista - conforme verificará quem fizer os necessários confrontos. Assim como FREI GASPAR viu e copiou de duas formas diversas o mesmo epitáfio - o historiador sorocabano, meio século depois, viu-o e copiou-o de modo diferente do do seu ilustre antecessor; e ambos divergem da reprodução mandada fazer pela Municipalidade de Santos, em 1856, de ordem do Governo desta Província, em nome do Governo Geral, e cujo fac-simile estampamos em nosso primeiro volume, acompanhado de abundantes comentários a propósito.

Se dois historiadores de reputação viram, à distância de meio século, sob três aspectos diferentes, o mesmo epitáfio lapidário - não temos jeito de optar por qualquer deles preferencialmente, quando existe a cópia mandada desenhar pela Câmara santista de 1856, diretamente do original e que novamente damos aqui:


Fac-símile da inscrição existente na pedra do túmulo de Braz Cubas.
Reprodução fiel mandada executar pela Câmara de Santos, no ano de 1856
Imagem publicada com o texto

Não nos parece razoável supor que a pessoa incumbida de tal reprodução oficial se tenha dado ao singular capricho de fazer aqueles caracteres grosseiros e aquela pitoresca fusão de letras e de sílabas - trabalho no qual se patenteia o ingênuo esforço do gravador da época em dar ao epitáfio do poderoso fidalgo um certo cunho de beleza artística.

O DR. GENTIL DE MOURA, nos comentários de que acompanhou a publicação, na Revista do Brasil, nº 92, vol. XXIV, de três importantes documentos inéditos sobre Braz Cubas, assinala para a sua morte o ano de 1599, tal qual ALMEIDA MORAES. Por sinal que na nota apensa à carta de d. Pedro Leitão, bispo do Salvador, ao fundador de Santos, há um erro tipográfico que convém retificar. A carta é de 1570 e se Braz Cubas morreu 29 anos depois dela, segundo diz o comentador, o ano de sua morte é 1599 e não 1579, como se lê por engano à pág. 331, do fascículo nº 92 citado.

Pelos documentos publicados sabe-se que, por provisão do provedor-mor da Fazenda Real em toda a costa do Brasil, Christóvão de Barros, datada do Rio de Janeiro, em 9 de janeiro de 1579, e em virtude de sentença lavrada pelo mesmo, foi Braz Cubas suspenso por dois anos dos cargos de provedor da Capitania de S. Vicente e da de Santo Amaro, sendo nomeado para substituí-lo Simão Machado.

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