Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 15 — Dos
mamíferos marinhos e dos peixes do mar, camarões etc.
Capítulo
CXXXI
Que trata das propriedades dos meros, cavalas, pescadas e
xaréus.
Cunapu são uns peixes a que chamam em Portugal meros, os quais são mui grandes, e muitos morrem tamanhos que lhes caberia na boca um grande
leitão de seis meses; e por façanha se meteu já um negrinho de três anos dentro da boca de um destes peixes, os quais têm tamanhos fígados como um
carneiro, e sal-pimentados são muito bons; e têm o bucho tamanho como uma grande cidra, o qual cozido e recheado dos fígados tem muito bom sabor; o
couro deste peixe é tão grosso como um dedo e muito gordo, o qual se toma com qualquer anzol e linha, sem trabalharem por se soltarem dele, e no
tempo das águas vivas se tomam numas tapagens de pedras e de paus, a que os índios chamam camboas, onde morrem muitos, os quais salpresos são
muito bons.
Cupás são uns peixes a que os portugueses chamam pescadas bicudas, que são pontualmente da feição das das Ilhas Terceiras, mas muito
maiores e mais gostosas, as quais se tomam à linha; e salpresas de um dia para outro, fazem as postas folhas como as boas pescadas de Lisboa e em
extremo são saborosas.
Guarapecu são uns peixes a que os portugueses chamam cavalas, das quais há muitas que começam a entrar na Bahia no verão com os Nordestes,
e recolhem-se com eles, com a criação que desovaram na Bahia. São estes peixes maiores que as grandes pescadas, mas de feição e cor dos sáveis, os
quais não comem a isca estando queda; pelo que os pescadores vão andando sempre com as jangadas; e acodem então à isca, e pegam do anzol, que é
grande, por trabalhar muito como se sente preso.
Este peixe é muito saboroso, e quando está gordo sabem as suas ventrechas
[postas do peixe imediatas à cabeça] a sável, cujo rabo é gordíssimo, e tem grandes ovas, em extremo saborosas; os seus ossos do focinho se desfazem todos entre os dentes em
manteiga; e salpreso este peixe é muito gostoso, e se faz todo em folhas como pescada, mas é muito avantajado no sabor e levidão.
Chamam os índios guiará ao que os portugueses chamam xaréu, que é peixe largo, branco, prateado e teso, o qual quando é gordo é em extremo
saboroso; e tem nas pontas das espinhas, nas costas, uns ossos alvos atonelados, tão grossos no meio como avelãs, mas compridos; o qual peixe morre
à linha e em redes em todo o ano, e além de ser gostoso é muito sadio. |