Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 15 — Dos
mamíferos marinhos e dos peixes do mar, camarões etc.
Capítulo
CXXVIII
Que trata do peixe-serra, tubarões, toninhas e lixas.
Araguaguá é chamado pelos índios o peixe a que os portugueses chamam peixe-serra; os quais têm o couro e feição dos tubarões, mas têm no
focinho uma espinha de osso muito dura, com dentes de ambas as bandas mui grandes, uns de meio palmo, e outros de mais, e de menos; segundo o peixe,
é a espinha de seis, sete palmos de comprido, os quais se defendem com elas dos tubarões e de outros peixes.
Estes se tomam com anzóis de cadeia com arpoeiras compridas, que lhe largam para quebrar a fúria e se vazar do sangue. Este peixe naturalmente é
seco, e fazem-no em tassalhos para se secar, que serve a gente do serviço; e tem tamanhos fígados, que se tomam muitos de cujos fígados se tiram
trinta e quarenta canadas de azeite, que serve para a candeia e para consertar o breu para os barcos.
Uperu é o peixe a que os portugueses chamam tubarão, que há muita soma no mar da Bahia; estes comem gente, se lhe chegam a lanço, e andam
sempre à caça do peixe miúdo; aos quais matam com anzóis de cadeia com grandes arpoeiras, como o peixe-serra, nos quais acham pegados os peixes
romeiros, como nos do mar largo; cuja carne comem os índios, e em tassalhos secos se gasta com a gente dos engenhos, os quais têm tamanhos fígados
que se tira deles vinte e vinte e quatro canadas de azeite; cujos dentes aproveitam os índios, que os engastam nas pontas das flechas; e os que os
têm são muito estimados deles.
Por tempo de calma aparecem no mar da Bahia toninhas, a que os índios chamam pojoji, dos quais também foge o peixe miúdo para os
recôncavos; mas não se faz conta deles para os matarem em nenhum tempo.
No mar da Bahia se criam muitas lixas maiores que as da Espanha, que aparecem em certa monção do ano, as quais têm tamanhos fígados que se tira
deles quinze e vinte canadas de azeite, as quais andam ao longo da areia, onde há pouco fundo, e tomam-nas com arpéus, o que esperam bem; e secas e
escaladas servem para a gente dos engenhos, e para matalotagem da gente que há de passar o mar. |